Arquivo para Rubens Alves

O olhar do professor sobre o aluno pode construir ou determinar a sua trajetória escolar positiva ou negativa?

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By Luis Carlos “Rapper” Archanjo

1 – INTRODUÇÃO

Do trabalho como educador social na parceria escola pública e Organizações Não Governamentais (ONGs) no contra turno da educação básica foram muitas as vivências e experiências educativas não formais. Hoje, na condição de licenciando em Pedagogia, ainda, com muitas perguntas para o entendimento da relação cognição/afetividade (Brest, 2009; Ladson-Billings, 2008) como fator motivacional de políticas educacionais como os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN´s (Brasil, 1977) e literatura de autores referenciados para desenvolver hipótese com embasamento necessário a delinear, dar significado acadêmico, contribuir para o conjunto de reflexões do fazer pedagógico vivido por docentes e discentes não autores ou pesquisadores autores com referências pessoais comuns àqueles das classes populares na sala de aula de educação básica da escola pública marcada pelo fracasso escolar. O ponto de partida é fruto das considerações do fracasso escolar da Dissertação de Sirino (2002) sobre o discurso do aluno no olhar de mão dupla da relação pedagógica docente/discente traduzida em “enquete” ou “survey” levado às redes sociais relacionadas à educação. Portanto, fornecer informação relevante da sua condição para outros coletivos, ou suscitar outras representações sociais,[1] humanas e culturais que os toquem tão perto, obrigatoriamente provoca reflexões, posicionamentos e revisões de percurso nos aspectos metodológicos de planos, planejamento e avaliação com ênfase no currículo (Apple, 1982; Arroyo, 2011).

1.1 – Apresentações do tema

A observação do professor (a) na centralidade da ação pedagógica do ponto de vista de experiências socioeducativas identificadas na racionalidade contracultural de coletivos docentes com olhares diferenciados para cultura, classe, raça, conhecimento, faz do trabalho lócus para socializar fontes diversificadas de conhecimentos na contramão do projeto de sociedade definido em propostas segregadoras cultuadas nas escolas, redes, diretrizes e normas aceitas de forma acrítica. Reconhecer o currículo como território de disputa (Arroyo, 2004) entre o real pensado, conceitualizado, teorizado e o direito a entender o real vivido e seus múltiplos e tensos significados implica em demonstrar e discutir essa ausência na neutralidade de transposições didáticas para experiências tão humanas e desumanas de coletivos silenciados, pedagogicamente. Dialogar com autores para questões como: Até que ponto a dificuldade de “ver” e se “posicionar” perante as questões étnico-raciais está relacionada à formação do professor? Por que as características biológicas têm caráter central para olhares em autoclassificação e heteroclassificação racial, percepção, autopercepção e heteropercepção na relação docente/discente? Nesse sentido, autores pesquisadores da questão racial (Cavalleiro, 1988, 2000; Pinto, 1999; Oliveira, 2001; Santos, 2005) colaboram. Minayo, (1992) embasa as considerações sobre isenção científica e aproximações da condição humana e questões éticas na reflexão para o desenvolvimento de uma consciência crítico-reflexiva e transformadora, onde a alfabetização em valores humanos cria as habilidades sociais necessárias para trocas interpessoais sadias no intramuros da educação básica pública.

1.2 – Questões norteadoras 

Como as diferenças sociais e raciais são contempladas no currículo?

Que lugar os conhecimentos cotidianos dos professores, dos alunos ou de outros autores sociais vêm ocupando o contexto escolar?

 1.3 – Objetivos 

1.3.1 – Geral 

Compreender a afetividade entre professor e aluno a influenciar a qualidade da educação, cogitar outros olhares para concepções bipolares, hierarquizantes e segregadoras, colaborar com informações relevantes sobre a realidade social do aluno, tanto quanto exemplificar formas exitosas de gestão escolar (Lück, 2000; Coelho, 2008) para “escolas efetivas” e modos de articular o saber cotidiano e conhecimento sistematizado da escola (Arroyo, 2004). 

1.3.2 – Objetivos específicos

Identificar o quanto atitudes, expectativas e sentimentos derivados da história pessoal influenciam o modo como o ser humano interpreta e organiza as experiências, as pistas e os estímulos de trocas com o meio, com os outros e consigo mesmo (Cavalleiro, 2000).

1.4 – Justificativa 

A vulnerabilidade social como palavra de ordem não dá identidade às principais vítimas da vida precária e o desencontro com o ensino/aprendizagem: meninos negros nos anos iniciais (Carvalho, 2004). A coparticipação em afazeres domésticos ou no complemento da renda familiar em responsabilidades adultas por si só desmistifica a falta de vontade para a avaliação do juízo professoral desconhecedor desses fatores a afetar sua escolarização. 

1.5– Procedimentos metodológicos

A etnografia (Gutierrez, 2004) está relacionada com ir a algum lugar para observar, interagir, explorar. Diferentemente da etnografia tradicional, a netnografia não exige a presença física do pesquisador. Mediado por ferramentas, ambientes e prática construída no ciberespaço, a netnografia ou etnografia virtual faz uso de abordagem quantitativa e qualitativa para desenvolver a percepção do sentido da tecnologia e dos espaços culturais que são por ela estudados.  A tabulação de resultado obtido de enquete ou “survey” contribui qualitativa e quantitativamente para socializar e sugerir outras abordagens sobre o olhar positivo ou negativo do “juízo professoral bourdieano[2]” (Catani, 2002) na relação docente/discente para classes populares. Em anexo: quadro de acessos e tabulação de opções.

2 – VIVÊNCIAS E  EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS VIRTUAIS

2.1 – A formação reflexivo-investigatória.

O convívio na educação não formal e o estágio obrigatório na educação formal foi momento de perceber que contingências da vulnerabilidade social imbricadas em fatores múltiplos privam meninos (as) de situações emuladoras de aptidões motoras e cognitivas comuns de ambiente educador. O entendimento dessas carências como fator de desencontro com o saber sistematizado nas séries iniciais, entre elas a coparticipação já mencionada, e nos casos com histórico de violência doméstica retirando-os do convívio familiar e encaminhadas para instituições tuteladoras como os abrigos, por exemplo, por si só é um convite a mudar olhares. Nos desdobramentos da história pessoal destes está a integração, sem maiores questionamentos de seus saberes prévios, ao ensino regular pelos vários caminhos de proteção integral à criança e ao adolescente. Por que o imperativo da lei à frente da promoção de condicionamentos preparatórios comuns aos seus pares com histórico de trajetória escolar precoce não mobiliza opiniões contrárias? Como tirá-los da situação excludente de classes superlotadas e da insensibilidade porquanto da prioridade ao cumprimento de ordenamentos legais pelo sistema, a falta de atenção individualizada externada na desatenção do aluno (a) provocada pela sensação de não enquadramento externada na apatia ou na inconstância comportamental em desacordo com padrões conformados nos demais da classe, aborrecendo-os?

Reconhecer a pertinência da pesquisa de Cardoso (2004) e transformar tal dado em questão norteadora a motivar a busca de outras considerações teórico-metodológicas e conceituais instrumentalizando olhar com capacidade de ver além daquilo que lhe é dado para interpretar, interpelar e inferir sobre a relação pedagógica com os elementos aqui expostos. Nesse sentido, ao longo do desenvolvimento pesquisadores autores com recortes múltiplos na educação: afetivo-emocional e cognitivo, currículo, questões raciais contribuem. Mesmo que utilizando referenciais de pesquisas de campo que ensejam componentes raciais na subjetividade de proposições e estratégias do “currículo oculto”, não é objetivo desse trabalho monográfico o aprofundamento em estudos sobre raça ou preconceito racial. Mas, sim, investigar como o juízo professoral define o fazer docente que avalia e exclui em julgamento imparcial que penaliza apenas o aluno já excluído socialmente. Portanto, trazer a teoria e a prática exitosas para debater sobre tal contexto significa demonstrar a existência de modos de interpelar os seus saberes prévios em nome da criação de pontes tirando-os do fosso traduzido em devaneios da apatia ou posturas questionáveis da inconstância comportamental.

A Pedagogia como ciência da educação se auxilia de outras ciências para investigar a realidade educacional possibilitando criar interdisciplinaridade promotora de melhoras no processo ensino/aprendizagem. Para Macedo (2009), fomos concebidos como seres que objetivam pelo argumento, somos animais conceituais e agimos mediados por conceitos. Ser formando em proposta político, filosófico, didático-pedagógico, reflexivo-investigatório[3] com conhecimentos formativos necessários a explorar autores e textos referenciados por academicismo que os conforma como fonte de consulta bibliográfica é conferir credibilidade e clareza à intencionalidade de considerações argumentativas na consecução do propósitos em situar o leitor, justificar posicionamentos, expor objetivos, entre outras recomendações para a confecção de artigo acadêmico. Assim, pesquisar é compreender uma dada realidade e poder conferir nesta mesma realidade na condição de “ser da mesma natureza do objeto pesquisado e, ao mesmo tempo, uma parte de sua observação” (MINAYO, 1992), “pois nenhuma pesquisa é sempre sem valores iniciais, crenças, concepções e pressuposições condutoras a respeito da matéria que está em investigação” (Sirotnik, 1991, p. 241 apud LADSON-BILLINGGS, 2008, p. 165).

Quadro com quantitativo participante[4] mensal e anual de acessos e tabela com participação em survey ou enquete levado a internautas de redes sociais interessadas em socializar e debater assunto relacionado à educação em pesquisa netnográfica é exemplo de prática da educação virtual. Ao provocar mudanças no ambiente educativo com a entrada de ferramentas tecnológicas propiciando a flexibilidade de aulas tele transmitidas, formas síncronas e assíncronas de interações, busca de informações entre as muitas mudanças no método, na técnica e estratégias para apropriar, socializar, arquivar, tratar informações cria novos parâmetros de se conceber educação. Segundo Lévy, desde há muito tempo a escola perdeu a função de formar cidadãos críticos e, cada vez mais através das mídias somos informados do curso do mundo. De acordo com o filósofo:

Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da informática, pois a era da informática, com seus métodos e equipamentos capazes de processar e transmitir informações é um campo de novas tecnologias intelectuais, aberto, conflituoso e parcialmente indeterminado (PIERRE LÉVY, 1999, p. 7-9)..

Assim como Lévy, Silva (1995) aponta a necessidade de a escola rever posições para lidar com o novo cenário cultural representado pela difusão e generalização de novas mídias dando voz e vez para outros espaços de poder, que não os dominantes, para a afirmação e narrativas e discursos alternativos de grupos subjugados socialmente. Para Silva:

Tais transformações não podem ser interpretadas no registro conservador do pânico moral e da visão patologizante que vê a ampliação da influência da cultura popular e o predomínio de novos meios e conteúdos como uma ameaça a tradicionais valores e capacidades supostamente mais universais, humanos e superiores (SILVA, 1995, p. 198)..

A sociedade virtual, caracterizada pelo uso de sons e imagens como uma dos principais meios para se veicular mensagens, certamente abarca o audiovisual da narrativa fílmica se pensado como caminho de reflexão sobre o olhar na educação como variável importante do fenômeno educativo. “Na centralidade da cultura contemporânea por suas características plurais, a mídia, urde o tecido da vida cotidiana, modelando opiniões e comportamentos, fornecendo o material com que as pessoas forjam sua identidade” (Kellner, 2001, p. 9 apud TERUYA et al., 2011). Pela sua capacidade em agregar fontes diversas de conhecimento, essa forma de dialogar com a realidade pode fundamentar ações educativas comprometidas com a construção de uma educação em valores humanos. É apontada pelos Estudos Culturais[5] como perspectiva para o debate de questões sociais e, ao mesmo tempo, atender a diversidade cultural da escola e ajudar a romper as barreiras disciplinares.

2.2 – A Pedagogia do olhar.

O subtítulo é um fragmento do pensamento do escritor Rubens Alves nas suas considerações sobre o olhar na educação e a educação do olhar. O vídeo, com referências da importância do educador ensinar o aluno a olhar o mundo e interpretá-lo, sintetiza a amplitude dos estudos culturais em reconhecer modos híbridos na produção de conhecimento relevante conforme a transcrição a seguir: “Já li muitos livros sobre psicologia da educação, sociologia da educação, filosofia da educação, mas por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à educação do olhar ou à importância do olhar na educação” (RUBENS ALVES, 2011). O filme Prova de Fogo – Uma história de Vida serve como metáfora explicativa do  entrecruzamento de conhecimentos necessários a inserir o leitor no diálogo com os autores consultados para ratificar teor acadêmico ao trabalho. Como primeiro momento para focar o olhar como instrumento decisório no percurso discente fica a cena em que há o impasse entre o futuro orientador, professor com PhD em Literatura, com convicções pedagógicas embasadas em valores de afetividade, consciência social e étnico-racial versus o julgamento da professora quanto à aluna possuir ou não potencial para ir além da condição de vencedora no micro universo escolar. Mesmo externando competências intelectuais percebe-se a indecisão discente na representante da escola pública em exposição a nível nacional no concurso de “soletramento” e o possível confronto com pares herdeiros de capital cultural com referências em escolas que traduzem a excelência da educação americana. Superando os impeditivos de determinações sociais até transformar-se em representação emblemática de superação às determinações sociais há todo um simbolismo a ser apropriado por escolares que se veja espelhado na controversa educação popular. A citação de William E. B. Du Bois, primeiro afro-americano a possuir de título de PhD na Universidade de Harvard, é a contribuição do diretor no diálogo qual o mentor pede a protagonista que leia o pensamento do sociólogo sobe o medo e questões da autopercepção negativa, implícito na citação, demonstrando a importância do entendimento do poder das palavras e da importância de estudo do que escreveram homens que fizeram o uso das palavras para mudar o mundo, como Martin Luther King, Ghandi, John F. Kennedy e Nelson Mandela etc.

No enquadro da câmera em focar a participação e a contribuição direta ou indireta de todos do seu meio social em nome de valores de pertencimento até o final feliz e a consagração na soletração da palavra “amor”, há na produção cinematográfica elementos suficientes para o debate de quanto urge a educação formal desvencilhar-se de amarras e cristalizações traduzidas em maneiras de lhe dar identidade dominante. Utilizar tal recurso para demonstrar que escola persiste em caminhos que a inviabilizam em tocar mais profundamente na dimensão afetiva como lugar de força propulsora para mecanismos cognitivos que levam alunos das classes populares a outros patamares em conhecimentos, atitudes e aptidões atende objetivos que expressam o desejo de ultrapassagens de sua imagem associada ao desinteresse ou falta de vontade em se educar. Portanto, desencadear a intersubjetividade promovida pelo audiovisual na partilha de consensos sobre o olhar docente atuando negativa ou positivamente na trajetória discente popular cumpre objetivos do trabalho monográfico em fazer da realidade ficcional fonte de conhecimento relevante.

Cinelli (2003), na dissertação sobre o uso do vídeo no ensino busca considerações teórico-conceituais em autores que questionam a escola do século XXI que pretende educar as crianças com instrumentos e sistemas que tiveram validade  há 50 anos, porém suplantadas pela técnica contemporânea. A expressão é de McLuhan (1969, p. 120 apud CINELLI, 2003, p. 14): “a criança de hoje cresce sem parâmetros convencionais, porque vive em dois mundos, e nenhum dos dois a ajuda crescer”. Explica ele: […] substituirão na escola as lições, os braços  cruzados, as memorizações, os exercícios mortos, enquanto fora da escola haverá uma avalanche de imagens, ilustrações e de cinema. A interação de culturas em conflito provoca indecisão e angústia. Em acordo com o princípio freireano de educação como ato político Kellner (2003, p.127 apud TERUYA, p. 3059) propõe o modelo de diálogo do educador brasileiro no ensino de um alfabetismo crítico das narrativas midiáticas, como um excelente meio de fazer com que os/as estudantes se vejam em representações e simbolismos identificados nas múltiplas dimensões da linguagem fílmica criando pontes para que falem sobre sua cultura e experiência para articular e discutir a opressão e a dominação cultural.

2.3 – O binômio cognição e afetividade na educação.

Nas suas colocações, autores referenciados para o diálogo com o binômio em questão é possível elencar repertório de componentes relacionados à diversidade étnico-racial em articulação com objetivos e conteúdos a serem trabalhados em alguns Temas Transversais[6], especialmente Ética e Pluralidade Cultural (Pinto, 1999, p. 205). No texto da Introdução aos PCN´s consta que a comunicação propiciada nas atividades em grupo levará os alunos a perceberem a necessidade de dialogar, resolver mal-entendidos, ressaltar diferenças e semelhanças, explicar e exemplificar, apropriando-se de conhecimento. O estabelecimento de condições adequadas para a interação não pode estar pautado somente em questões cognitivas. Os PCN´s assinalam para aspectos emocionais e afetivos em igual relevância aos cognitivos, principalmente para os alunos prejudicados por fracassos escolares ou que não estejam interessados no que a escola pode oferecer. As questões étnico-raciais são contempladas no texto sobre interação e cooperação:

A afetividade, o grau de aceitação ou rejeição, a competitividade e o ritmo de produção estabelecido em grupo interferem diretamente na produção do trabalho. Ou seja, a disponibilidade cognitiva e emocional dos alunos para a aprendizagem é fator essencial para que haja interação cooperativa, sem depreciação do colega por sua eventual falta de informação ou incompreensão. Aprender a conviver em grupo supõe um domínio progressivo de procedimentos, valores, normas e atitudes (BRASIL, 1977, p. 64)..

Assim como há ambiente calmo e tranquilo mediado pelo bom entrosamento docente/discente favorecendo o ensino/aprendizado, também há aquele em que o tempo de permanência do estudante no interior da escola é pontuado por processos de interiorização de comportamentos de baixa estima por conviver cotidianamente com atitudes preconceituosas ou racistas de estereótipos vindo de colegas de classe ou até mesmo de professores insensíveis às consequências de tal desrespeito às diferenças raciais. A discussão sobre as relações étnicas representa uma questão necessária para a promoção de uma educação igualitária, compromissada com o desenvolvimento de todos os cidadãos.

O universo escolar de crianças afro-brasileiras e afro-americanas ambientado em literatura na perspectiva de intelectuais negros atentos á questão racial é a contribuição da Coleção Cultura Negra e Identidades, pela Editora Autêntica. Com Conselho Editorial constituído de eminentes representantes da intelectualidade negra brasileira, em cujo catálogo está o trabalho da escritora afro-americana Gloria Ladson-Billings sobre o ensino bem sucedido de crianças afro-americanas. Para a autora, tal estágio de qualidade no ensino perpassa por ações aparentemente não educacionais, tais como sorrir para o aluno ou mostrar desaprovação estão engajados em uma definição mais ampla de pedagogia. Ou seja, um olhar, um sorriso, um gesto, uma palavra, pode ter significação de ensino culturalmente relevante ou uma perspectiva assimilacionista[7]. De acordo com essa abordagem, o papel do professor é assegurar que os alunos se ajustem à sociedade.  “E se o professor tem baixas expectativas sobre os alunos, o lugar onde o professor acredita que os alunos devem “se encaixar” está nos patamares mais baixos da sociedade.” (LADSON-BILLINGS, 2008, p. 39-40). A colocação nessas faixas mais baixas tende a significar menos atenção e instrução individualizada pelo  professor. Numa espécie de profecia auto-realizável, esses alunos que tiveram pouca instrução atuam em níveis mais baixos.  Sua habilidade de ascender além desses níveis é prejudicada porque tem pouca atenção. “Dessa forma prosseguem um ciclo de desempenho escolar pobre iniciado por um preconceito e predisposição de um professor com respeito a eles” (Ibidem, p. 38). O foco na percepção que a criança tem de si e dos outros é especialmente importante porque os profissionais de educação muitas vezes apresentam sentimentos de baixa estima em relação ao seu próprio trabalho (Foster, 1986, p. 297-298 apud LADSON-BILLINGS, 2008).

Brust (2009), em seu trabalho monográfico sobre a afetividade no processo de aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental coloca o quanto a escola deve participar da construção da personalidade, e o professor deve conhecer cada um de seus alunos, tratando-os como seres humanos com limitações e dificuldades. Do mesmo modo que Antunes (2006, p. 5 apud BRUST, 2009, p. 24) reflete sobre a necessidade do “amor”, Maldonado (1994) aborda o medo e a desconfiança como fatores que dificultam o relacionamento interpessoal, assinalando que o amor pode estar escondido em camadas de mágoa medo, tristeza, ressentimento, decepção, vergonha e raiva.

O desencontro dos sujeitos da educação dá-se principalmente por desconhecimento ou conceitos formados sobre a procedência do aluno, a falta de habilidades emocionais impossibilitando a empatia na relação docente/discente e consciência crítica para buscar abordagens como a Ética da Alteridade, por exemplo, que orienta a aceitação da diferença como princípio capaz levar o ser humano a se ver no lugar do outro e, assim, reorientar concepção de educação como espaço de exclusão. Ou adotar como princípio educativo a ação transformadora, no sentido freireano, que exige-se daqueles que vivenciam o dia a dia da sala de aula uma revisão no olhar pelo que a prática nascida desse tipo de posicionamento, mesmo que inconsciente, contribui para reforçar permanências que impossibilitam grupos historicamente subjugados a ascenderem socialmente via educação.

Brust busca em Woolfolk (2000) a explicação para a incapacidade do professor em  reconhecer a dinâmica do comportamento humano e, por isso, faz interpretações equivocadas quanto aos seus alunos. Esses comportamentos internos (emoções, sentimentos, valores, pensamentos) e de movimento acabam sendo observados e interpretados como indisciplina. Essas situações provocam nos alunos atitudes controversas: Desse modo:

Os professores são a melhor fonte de ajuda par a os alunos que enfrentam problemas emocionais e interpessoais. Quando os alunos têm uma vida familiar caótica e imprevisível eles precisam de estruturas firmes e consistentes, apliquem as regras firme, mas não punitivamente, respeitem os alunos e mostrem uma preocupação genuína com o seu bem-estar. Como professor, você pode estar disponível para conversar sobre problemas pessoais sem exigir que seus alunos o façam (Woolfolk, 2000, p.47 apud BRUST, 2009, p. 25)..

Para a autora, pelo fato da escola não ser apenas um ambiente de aprendizagem cognitiva, Dias (2007 apud BRUST, 2009, p. 29) assinala que os currículos escolares brasileiros deveriam abordar a afetividade e defender uma educação compromissada com a formação de pessoas livres, autônomas, responsáveis e amorosas, porém o imaginário docente está em melhoria das salas de aula, bibliotecas, laboratórios, materiais pedagógicos, equipamentos de informática e audiovisuais. Ressalta que numa perspectiva piagetiana, o desenvolvimento da criança é inseparável do conjunto de relacionamentos afetivos sociais e morais que constituem a vida na escola. Portanto, a relação indissociável entre cognição e afetividade precisa ser reforçada diariamente, pois o aspecto afetivo além de influenciar o desenvolvimento intelectual, ele pode acelerar ou diminuir o ritmo de desenvolvimento da criança.

Reconhecer no trabalho de autores selecionados para refletir a inter-relação das tantas confirmações de que a escola é lugar para se problematizar a realidade em nome da promoção de outros olhares na relação pedagógica carente de se traduzir em ambiente seguro de alunos calmos e tranquilos que constroem uma autoimagem positiva, participam efetivamente das atividades propostas e contribuem para o atendimento de objetivos educativos é uma verdade a ser perseguida no saber fazer do educador da escola básica pública. Por falta de uma leitura atenta sobre o ambiente percorrido por antolhos de preconceitos, estereótipos e a falta de um olhar com maior acuidade para posturas arredias e promover mudanças comportamentais é comum o aluno rejeitar o professor e a disciplina por ele ministrada, perder o interesse em frequentar escola, entre outras motivações levando-o à evasão escolar. “O professor que possui a competência afetiva é humano, percebe o seu aluno em suas múltiplas dimensões, complexidade e totalidade.” (Ribeiro; Jutras, 2006 apud BRUST, 2009, p. 30). 

3 – O CURRÍCULO COMO TERRITÓRIO DE DISPUTA 

3.1 – A visão de aluno da escola básica pública no imaginário docente.

O discurso do aluno como ponto de partida para a busca de respostas à interrogação tema nos questiona se a presença deste é cada vez mais notada nas escolas por que nos obrigam a enxerga-los? A questão iniludível passa a ser se os vemos ou como os vemos. Em nome de outro olhar sobre os educandos a escola deve proporcionar um espaço de reflexão sobre a vida do aluno como um todo, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência crítica e transformadora? Prossegue Arroyo (2004): Reconhecer que como profissionais estávamos preocupados em conhecer conteúdos de nossa docência e seus métodos e processos de avaliação. Não deixaremos essas preocupações, mas se impõem outras: conhece melhor os educandos (as). Fomos formados para olhar os educandos? Todos e todas nos parecem iguais, mudam cada ano, mas nosso olhar pode ser genérico, distante e superficial. A estas observações de alguns docentes reagem outros: nem todos têm esse olhar distante e impreciso. Por que nosso olhar os reduz a alunos-problema, desatentos, carente e até violentos? Uma professora impressionada comentou: Por que com tanta rapidez adjetivamos nossos alunos? Houve consensos sobre visão tão negativa: esses nomes, adjetivos e classificações revelam que o imaginário escolar e docente paira uma visão bastante negativa dos alunos. A visão torna mais negativa quanto mais “carente”, mais pobre são as comunidades e as famílias. A visão tão negativa que as elites têm do povo teria moldado o imaginário escolar e docente? Esta pergunta resultou bastante incômoda. De fato ninguém do coletivo pertencia às elites. Muitos sabiam que eles mesmos vinham de famílias populares ou bem próximas. Aí que a pergunta resultava incômoda: como reproduzir um olhar tão negativo sobre os alunos estando tão próximos na origem e nos salários? Ao registrar falas de interações com coletivos preocupados como os alunos são representados, com que imagens são vistos na diversidade de olhares docente Arroyo diz:

Mapear, explicitar e sistematizar essa diversidade de olhares está sendo uma preocupação de muitas escolas: se falamos deles e o que falamos, se nosso olhar é “positivo” ou “negativo”, se os ignoramos ou se não podem ser ignorados, se os compreendemos ou condenamos etc. Vai se tornando necessário explicitar as diversas tendências pedagógicas que habitam nas escolas e que refletem a diversidade de olhares. Tendências que às vezes dialogam ou se ignoram, e que os alunos e suas condutas põem em confronto (ARROYO, 2004, p. 54-58).

Os diálogos transcritos de obra do autor nos leva naturalmente a conclusões de que o olhar idealizado, romântico, bondoso e dócil da infância adolescência tão presente nas metáforas da pedagogia não aparece nos nomes e adjetivos com que os alunos são identificados e chama a atenção é que as imagens da infância mudam dependendo dos grupos sociais e raciais a que as crianças pertencem. Assim sendo, pode-se concluir que o pensamento a respeito dessa infância popular é menos romântico, menos puro e angelical.

Das considerações de Marturano e Borges (2012) sobre a alfabetização em valores humanos como perspectiva pedagógica para temas tabus permeados pelo “currículo oculto” provocando conflitos e tensões nas trocas sociais vem o questionamento sobre considerar a entendimento de que atitudes, expectativas e sentimentos derivados da história pessoal influenciam o modo como o ser humano interpreta e organiza as experiências, as pistas e os estímulos ambientais? Entretanto, tal interrogação faz emergir o paradoxo de quanto à natureza humana com aproximações e a cientificidade da Pedagogia com a impessoalidade e neutralidade necessária de ciência que se auxilia de outras ciências para melhorar a qualidade do ensino aprendizagem faz análises para questões como: Até que ponto a dificuldade docente de “ver” e se “posicionar” perante as questões étnico-raciais produzindo  os fenômenos educacionais recortados está relacionado a vivencias e experiências pessoais das varias dimensões da condição humana do professor? Por que as características biológicas têm caráter central para olhares em autoclassificação e heteroclassificação racial, percepção, autopercepção e heteropercepção na relação docente/discente?

“Diante do outro deslizamos o olhar ou o vemos com antolhos. O olhar dicotômico é consequente da subjetividade expressa no rosto do outro, porque o rosto e o olhar do outro nos aborda e interpela eticamente, não suportamos a sua fome de justiça. Frente ao rosto do outro nos refugiamos na segurança de nossa morada” (MIRANDA, 2008, p. 17).

3.2 –  As questões étnico-raciais na sala de aula da educação básica pública brasileira.

Antes de tolerar, respeitar e admitir a diferença é preciso explicar como ela é ativamente produzida. A diversidade biológica pode ser um produto da natureza, o mesmo não se pode dizer da diversidade cultural. Uma pedagogia cuja matriz teórica seja a problematização da identidade e da diferença tem a obrigação de ir além de benevolentes ações de bondade. “Tem de colocar em seu centro uma teoria que permita não simplesmente reconhecer e celebrar a diferença e a identidade, mas questioná-la” (Silva, 2009, p. 100 apud TERUYA et al. 2011).

A Carta de Cavalleiro (2000) ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República Federativa Brasileira em data comemorativa do aniversário de morte de Zumbi dos Palmares trás elementos contundentes sobre a realidade de crianças negras inseridas no ensino brasileiro. Segundo a autora, nada justifica que o Estado colabore para fragilizar a vida emocional e psíquica de crianças negras, propiciando uma educação que enseja uma violência simbólica, quando não física, contra elas no cotidiano escolar. Sim, a violência diuturna sofrida pelas crianças negras no espaço escolar pode, metaforicamente, se comparada ao apedrejamento físico, visto que o racismo e seus derivados as amordaça. Assim, emocionalmente desprotegidas em sua pouca idade, as crianças passam a perseguir um ideal de “brancura” impossível de ser atingido, fazendo-as mergulhar em um estado latente, intenso e profundo de insatisfação e estranhamento quando em autopercepção.

Segundo Cavalleiro (1988), no tocante a educação infantil há um número reduzido de pesquisas que têm como preocupação a diversidade étnica na sociedade e, diante disso, as relações interpessoais estabelecidas nesse nível escolar. As pesquisas já realizadas confirmam a existência de problemas decorrentes do racismo, preconceito e discriminação étnica, destacando a existência destas nas trocas relacionadas entre os vários sujeitos da comunidade escolar. Desses relacionamentos foram selecionados aspectos importantes como, por exemplo: Expressão verbal – fala positivamente valorativa (elogios) ou negativamente valorativa (depreciativas) – explícita ou implicitamente sobre algum indivíduo,  sobre sua cultura ou sobre o grupo étnico. Prática não verbal – atitudes que demonstrassem aceitação ou rejeição do contato físico proposto pelas crianças e seus professores – através do abraço, beijo, ou olhar e comportamentos que evidenciassem as tentativas de proximidade ou afastamento entre indivíduos. Prática pedagógica das professoras – se positiva, negativa ou invisível, no que diz respeito aos materiais utilizados (cartazes, livros, revistas, desenhos,  ou outro meio qualquer) em relação á variedade étnica brasileira.

Na pesquisa de Santos (2005) sobre a relação racial entre negros e não negros em escolas públicas de Cáceres no Mato Grosso. Conforme Silva (2001 apud SANTOS, 2005), a povoação do Mato grosso do Sul se deu marcadamente pelos nativos (índios de várias etnias); migrantes vindos, principalmente, de Minas Gerais e São Paulo; negros africanos e mestiços (livres e escravos) trazidos pelos migrantes povoadores, segundo dados. A pesquisa revelou a existência de uma opinião generalizada, entre os alunos, sobre a inferioridade do negro e a superioridade do branco. ”Desde muito cedo o preconceito é incutido nas crianças, de tal forma que seu sistema ideológico racial, mesmo nas séries do Ensino Fundamental, é tão concatenado quanto o de um adolescente entre 17 e 18 anos.” (Figueira 1990, p. 67 apud SANTOS, 2005, p. 49). Após os resultados da pesquisa revelou-se que o preconceito racial demonstrado pelos alunos encontra respaldo no comportamento dos professores. Também observou que s professores mantinham e difundiam o preconceito racial entre os alunos, tanto por omissão como por manifestações racistas, ou ainda, “por desconsiderar a questão, tratando-a como um problema menor ou inexistente, na contramão da afetuosidade  mediando à relação discente/docente para a formação de personalidades sadias e capazes de aprender” (Capelatto, p. 14 apud BRUST, 200, p. 29),

Toda aprendizagem está impregnada de afetividade, num processo vinculador entre ensinante e aprendente. Corroborando com esta afirmação, Vygotsky (1991, p. 54 apud BRUST, 2009, p. 26) destaca a importância das interações sociais ressaltando a ideia da mediação e da internalização que ocorre de um intenso processo de interação entre pessoas. La Taille (2006. p. 108, apud MARTURANO; BORGES, 2012, p. 53) define seis sentimentos que ele chama de cimento afetivo que une as pessoas ao seu entorno social: empatia, amor e medo, confiança, indignação e culpa”.

A reflexão de Fleuri (2001) sobre a perspectiva intercultural nas práticas educacionais como caminho de proposições de novas estratégias relacionais entre sujeito e diferentes grupos, promovendo a construção de identidades sociais e o conhecimento das diferenças, ultrapassa a educação multicultural, na medida em que reconhece o valor intrínseco de cada cultura e defende o respeito recíproco e de interação entre diferentes grupos. Estas relações produzem mudanças em cada indivíduo, favorecendo a consciência de si e reforçando a própria identidade. Estereótipos e preconceitos de relações de sujeito ou de exclusão são questionados, e até mesmo superados, na medida em que sujeitos diferentes se reconhecem a partir de seus contextos, de suas histórias e de suas opções. A perspectiva intercultural de educação, enfim, implica em mudanças profundas na prática educativa, de modo particular na escola. “Pela necessidade de oferecer oportunidade educativa a todos, respeitando e integrando a diversidade de sujeitos e de seus pontos de vista” (Fleuri, 2001, p. 79 apud WELTER; TURRA, 2003, p. 186).

A Ética da Alteridade de Lévinas e questões subjetivas sobre se ver no olhar do outro segundo acepções da centralidade egoísta transformada em alteridade plural compondo princípios de educação em valores humanos poderia contribuir na desconstrução de barreiras constituídas no quadro de desencontros provocados pela não aceitação das diferenças sociais e raciais? A incorporação da alfabetização em valores humanos no currículo de formação como estratégia para reeducar a sensibilidade do juízo professoral quanto à centralidade da dimensão biológica da condição humana, certamente seria um instrumento poderoso de constituição de realidades educacionais? Portanto, lugar para acolher questionamentos e posicionamentos em torno da capacidade do olhar do professor em captar, prever, antecipar ou projetar situações, fatos, momentos que representam acolhimento à condição de ser em desenvolvimento na condição de criança, adolescentes e jovens nos mais diversos contextos da sua presença em processo de ensino e aprendizagem formal. Para Oliveira (2011:

[…] Embora saibamos que seja impossível uma escola igual para todos, acreditamos que seja possível à construção e uma escola que reconheça que os alunos são diferentes, que possuem uma cultura diversa e que repense o currículo, a partir da realidade existente dentro de uma lógica de igualdade e direitos sociais. Assim, podemos deduzir que a exclusão não é só econômica, ou seja, a origem pobre e a étnico-racial contam..

3.3 – Por um currículo com mais humanidade.

Algumas considerações da escola como espaço de exclusão provoca a análise do verbo conviver significando aceitar as diferenças qual a escola ainda não aprendeu a lidar por falta de autonomia educativa que ultrapasse o currículo como lugar que se configura as ações de conceber, selecionar, produzir, organizar, institucionalizar, implementar e dinamizar saberes e conhecimentos, valores constituídos na relação com o conhecimento eleito formativo do quadro de recortes acima elencados. Nesse sentido, Giroux questiona a função social do professor como um intelectual a serviço das escolas como locais econômicos, culturais e sociais inexoravelmente atrelados às questões de poder e controle. Isso significa que as escolas fazem mais do que repassar de maneira objetiva um conjunto comum de valores, formas de conhecimento, práticas de linguagens relações e valores sociais que são particulares da cultura mais ampla. Ou seja, ” introduzem e legitimam formas particulares de vida pessoal, pois no seu interior se disputa formas de autoridade, tipos de conhecimento e, formas de regulação moral e versões do passado e do futuro devem ser legitimadas e transmitidas aos estudantes” (GIROUX, 1997, p. 162).

Segundo Apple (2004) parte do seu livro tem base em uma crítica ao liberalismo como modelo para as políticas sociais e para a teoria e práticas educacionais, tanto nos Estados Unidos como em qualquer outro país, os resultados têm sido o desmantelamento das políticas da democracia social que vem geral beneficia trabalhadores, pessoas de cor e mulheres. […] “tentativas de cortar liberdades adquiridas têm sido associadas às necessidades, os medos e as esperanças de muitos grupos e pessoas que se sentem ameaçadas durante uma época de crise na economia, nas relações de autoridade, na família, na escola e em outros aspectos da vida social” (APPLE, 2004, p. 26). Apple questiona que um dos papéis da escola é, também, oferecer bases significativas para um trabalho “contra hegemônico”. Aprender como utilizar o conjunto de conceitos contra hegemônico é o primeiro passo se quisermos progredir no reconhecimento dos modos contraditórios pelos quais a educação funciona em nossa sociedade, “pois as palavras formam ideias e ideias são armas: espalhá-las em contexto autoritário é um ato subversivo, às vezes perigoso e ainda assim totalmente essencial” (APPLE, 2004, p.30). Para a escola cuja prática seletiva silencia sobre as diferenças sociais e raciais transformadas em diferenças escolares é preciso que repense o currículo e as considerações ideológicas de Apple a partir da realidade existente dentro de uma lógica de igualdade e de direitos sociais, pois há uma estreita relação entre a origem pobre, mas também pela origem étnico-racial de maioria de alunos da rede pública de educação.

Segundo Coelho (2008), pensar no estudo de autores que tomam como base nos resultados de aferições externas para avaliar a qualidade do ensino na educação básica do país, permitindo, assim, a proposição de políticas e práticas que aumentam a qualidade da educação, onde o construto “qualidade de ensino” é retomado como estando associado à qualidade do professor, definida principalmente pelas práticas pedagógicas, como mais relevantes que o nível de formação do professor ou o desempenho deste em exame de certificação. Os componentes de “boa escola” identificados no estudo “Aprova Brasil” são: boas práticas pedagógicas, professores comprometidos e qualificados, participação ativa dos alunos, gestão democrática e parcerias externas. O resultado confirma que bons professores tendem a ser efetivos para obter maior desempenho de estudantes de todos os níveis de habilidade e, embora a qualidade do professor pareça não se relacionar com os graus avançados de formação ou de certificação: “é a experiência que importa, principalmente no primeiro ano de trabalho docente” (COELHO, 2008, p. 247). Tão somente o enfrentamento dos desafios de um currículo com reconhecimento da diversidade; inserção de grupos excluídos; nascido da prática participativa do planejamento em acordo com as características necessárias a formação do comportamento crítico; consubstanciado no desenvolvimento das competências lógica, linguística e moral; e articulado entre elaboração de propostas curriculares no âmbito de políticas públicas e a realidade concreta da escola pode ensejar a ressignificação.

Os conteúdos e organizados nos cursos de formação tendem a ser descontextualizados, como se existissem por si próprios, em vista do que adquirem características artificiais. Não parecem referir-se a situações reais e concretas e, por isso, deixam de interessar aos gestores como algo referente à sua prática. Diante de tal situação, é muito difícil manter o interesse, a motivação e o envolvimento dos cursistas no desenvolvimento das aulas. Quando eles não se veem em relação ao objeto do curso, não veem a realidade concreta e objetiva da sua ação e não conseguem construir imagens em relação às questões tratadas, desligam-se de acompanhar as aulas e, portanto de aprender (LÜCK, 2000, p. 31).

Na leitura de Arroyo (2004) ou na acepção bourdieana de educação para as classes populares do nosso tempo marcado pelas propriedades mutantes do ambiente escolar o despreparo docente para criar situações pedagógicas com o quadro de expressões culturais que se confrontam na sala de aula tem seu entrave na falta de parâmetros em conteúdos com maior poder de mediação com os saberes trazidos de suas concretudes para uma realidade idealizada e cega para tantas carências humanas e materiais saltando aos olhos. A prática docente que não consegue contribuir em nome de perspectivas menos excludentes para tais depreciações gera frustração, sensação de incapacidade, e de certa forma o faz refém na impotência de sua própria prática e das necessidades do aluno.

No estágio obrigatório na Educação Infantil e Gestão Escolar realizado na Escola Municipal X, que atende alunos de entorno circunscrito pela “geografia da violência” foi possível vivenciar o desenvolvimento de experiência exitosa de articulação de conhecimentos e autonomia de gestão escolar pública. Ao analisar pontos fortes, oportunidades, fraquezas e ameaças na escola foram elencadas, principalmente, as situações que levam aos processos de evasão para estabelecer-se projetos para permanência do aluno. Para dar identidade ao Projeto Político Pedagógico (PPP) foi pensado planejamento em torno do tema: “Gentileza gera gentileza“. Ou seja, todos contribuindo a partir de uma nova consciência social e cultural marcada pela não violência, pela cooperação, pela sociedade sem defecção e pela convicção que outro mundo é possível. Essa cultura implica na introdução de elementos de justiça social, satisfação das necessidades básicas e dignidade para planejar sua vida e da sua família com liberdade e, sobretudo, com expectativa de poder concretizar o seu projeto de vida pela educação.

Tal identidade no PPP tem alicerce na justiça e na cooperação, pois atitudes de cooperação e tratamento pulam muros e chegam aos responsáveis. Se a equipe acredita que os alunos são capazes de produzir bons resultados eles avançam e, com isso, se motivam a aprender mais, se ninguém lhes der créditos, novos desafios, e, pelo contrário lhes oferecer somente as contradições da escola podem até desistir dela. É no cumprimento dele quando a imagem de uma escola se renova e a participação envolve toda comunidade escolar e, naturalmente, indicadores de aprendizagem melhoram, as notas de avaliação e as taxas de aprovação subam e os índices de evasão caiam. Colaborar no entendimento de que a educação é para todos sem discriminação, mesmo na complexidade do nosso tempo de incertezas, e que a afetividade é, amiúde, ignorada e não trabalhada, transformando-se em raiva, indisciplina e respeito, provoca a evasão escolar e o descompromisso com a aprendizagem. Conforme estudos da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPPIR/PR[8], no ano de 2010, 50% nas mortes por homicídio era de jovens com idade de 15 a 29 anos, com pouca escolaridade, e entre esses, 75% são negros.

Para Catani 2002, a escola, ao ignorar desigualdades culturais entre crianças de diferentes classes sociais ao transmitir os conteúdos que opera, bem como os seus métodos e técnicas e os critérios de avaliação que utiliza, favorece os mais favorecidos e desfavorece os mais desfavorecidos. “Em outras palavras, tratando os educandos, por mais desiguais que sejam eles de fato, como iguais em direitos e deveres, o sistema é levado a dar sua sanção às desigualdades diante da cultura” (Bourdieu, 1988, p. 53 apud CATANI, 2002).

Para Arroyo (2004), reconhecimento e identificação na educação tem uma força poderosa e incisiva, emancipatória ou discriminatória. Também pode ser compreendida em níveis variados e múltiplos: nível ideológico e político, institucional, estrutural e subcultural. Como docentes analfabetos digitais preparam situações didático-pedagógicas para discentes nativos digitais que seja uma leitura atualizada de mundo com capacidade de dialogar com as TICs? Como avaliar crianças saídas de realidades tão desumanas com os mesmos instrumentos avaliativos e métodos de pressupostos teórico-conceituais de estudiosos do desenvolvimento humano como foco nos eventos genéticos até os processos culturais, desde os fisiológicos até as interações sociais, com os padrões de adaptação sendo entendidos mediante interações dos níveis internos e externos dos indivíduos? Como avaliar com os saberes da cultura da escola estruturas levadas a exaustão de aprendizagens para mentes e vontades tão infantis em responsabilidade adulta na luta pela sobrevivência? As responsabilidades quais são expostas em suas vivências antecipadas da vida adulta por si só desmistifica as falas de falta de força de vontade.

A desconstrução da autoimagem da docência como lugar de transmissão do pensamento dominante em nome de olhares que contemplem formas de se estar no mundo, mais justo e igualitário, mais humano, e menos segregado coaduna com a percepção de Arroyo (2011, p. 62) quando diz: “Reeducar nosso olhar, nossa sensibilidade para com essas crianças-alunos pode ser de extrema relevância na formação de um docente-educador”.  Ou Arroyo (2011, p.128-129) quando escreve: “Falamos como se fosse um absurdo receber e cuidar de corpos famintos nas escolas.” Por que essas reações? Por que identificamos nossa função não com alimentar corpos, mas com alimentar mentes de crianças, adolescentes e jovens famintos de conhecimento. Num malabarismo imaginário cindimos o ser humano em corpo e mente, e nos reservamos o trato de mentes incorpóreas. Haveria ainda uma explicação para essa dificuldade de assumir a educação de seres corpóreos: a condição biológica dos alunos não resolvida se defronta com o cognitivismo e intelectualismo abstrato que vem dominando os currículos e a cultura escolar e docente nas últimas décadas. Portanto, urge levar ao currículo vozes dissonantes de coletivos preocupados com dimensões que contra argumentam com a cientificidade, a neutralidade e a, impessoalidade em nome da subjetividade e objetividade para a construção de intersubjetividade representativa de suas existências humanas, alimentação, teto, educação,  saúde, valores, lutas por terra, culturas, saberes, identidades, território, direitos.

Os currículos, sendo fiéis a critérios de validade e de racionalidade, têm de ignorar não apenas outros modos de pensar, outros saberes e leituras de mundo, mas têm de ignorar os sujeitos desses outros modos de pensar. Ignorar, ocultar, tratar como inexistentes para a história intelectual os coletivos populares (ARROYO, 2011, p. 141). 

3 – CONCLUSÕES FINAIS

Dialogar com pesquisadores autores instrumentalizados de teorias, conceitos e métodos das ciências sociais que auxiliam a pedagogia na sua condição de ciência capaz de problematizar a realidade educacional fornecendo o conjunto de saberes técnicos procedimentais para o trabalho exploratório/investigatório na busca de elementos para criar conhecimentos com coerência e relevância teórico-conceitual ou do aporte de pesquisa empírica na busca em perceber para além das obviedades de visões de mundo postas nas formas de dar identidade à escola cumpre objetivos pedagógicos e filosóficos de aprendizados cumulativos na condição de licenciando em Pedagogia.  A questão norteadora foi respondida ao longo de trajeto construído segundo parâmetros necessários a conformar o trabalho monográfico em artigo acadêmico com credibilidade e cientificidade proclamadas por normas técnicas, procedimentos, modelos e padrões em que exemplos de vivências e experiências elencadas da concretude de seus sujeitos com o devido embasamento teórico promoveram a compreensão de que o currículo ao dar identidade à escola e a ação educativa inviabiliza um olhar mais complacente para acomodar a realidade social do aluno interferindo na qualidade da sua vida acadêmica.

Para desvelar o olhar que influencia a percepção docente como uma variável capaz de explicitar fenômenos educacionais em que meninos negros são as principais vítimas de processos de desescolarização, certamente as constatações trazidas do trabalho de pesquisas de autores e pesquisadores debruçados sobre a relação pedagógica pelo ângulo da questão racial escolhidos contribuem em informações com a credibilidade necessária. Os dados coletadas com cientificidade e coerência aprovada pela comunidade acadêmica nos leva ao entendimento de que as questões étnico-raciais visíveis e/ou na subjetividade do currículo oculto precisa habitar a sala de aula em debates francos pelo que os estereótipos, os isolamentos, o imperativo da lei acima de questões humanas precisam de outros tratamentos na composição de objetivos, metas, programas, estratégias e metodologias que traduz a intencionalidade formativa de ser humano do   Projeto Pedagógico.

Com referencial de diferentes abordagens teórico-metodológicas explicativos da realidade escolar com suas transformações e adaptações influenciando o ser humano, onde crianças, adolescentes e jovens e a sua condição de ser em formação suscita a presença adulta para orientá-los, implica no entendimento de que a escola e a família conjuntamente são referenciais a municiá-los em alfabetização precoce em valores humanos pelo que a barbárie se impõe na indiferença ao outro do nosso tempo de tecnologias da informação e da comunicação virtualizando as relações e nos privando de sentimentos grupais.

Como a vida em sociedade é estabelecida por dinâmicas determinadas por questões que na maioria das vezes estão relacionadas ao lugar social, impossibilitando num primeiro momento outros horizontes diferentes da concretude instalada, as oportunidades oferecidas pela escola passam a ser cruciais em tal contexto. Como a segunda em importância, entre os vários espaços de trocas interpessoais, a escola pública precisa rever os alicerces da sua base afetivo-emocional quando avalia por ferramentas culturais de pertencimento. Portanto, os dados transcritos de pesquisas empíricas que se efetivam em falas sobre percepção, autopercepção, tanto quanto de autoclassificação e heteroclassificação racial buscou conhecer o quanto a relação cognição e afetividade sofre influencia direta ou indiretamente dessas variáveis, já que funcionam como força de aproximação ou defecção em nossa desigual sociedade de classes.

Concomitante a nossa formação social e a maior presença de população negra nos estratos ditos inferiores ou de grupos subjugados provocando determinações em formas de viver que impossibilita os de sonhar pela educação porquanto os objetivos educacionais da literatura formativa pertencer somente à transformação retórica. Espero que o material utilizado represente a totalidade da intencionalidade pretendida, onde textos de autores das diversas áreas do conhecimento dialogaram com os objetivos, as questões norteadoras e justificativas elencados, que podem compor o repertório de intelectuais orgânicos preocupados em debater, inferir, interferir, reconhecer ou investigar a nossa diversidade multicultural e plurirracial não configurada no currículo. Problematizar o currículo em nome de vozes dissonantes, no sentido contra hegemônico gramsciano, significa praticar princípio freireano de oposição a formas antipedagógicas de perpetuar identidades coletivas negativas e inferiorizadas.

Socializar a produção científica de pesquisadores autores com olhares próximos da concretude dos filhos das classes populares e com capacidade para transpor o currículo oculto e enxergar a subjetividade da relação pedagógica, assim como a experiência exitosa de Gestão Escolar com autonomia para pensar Projeto Pedagógico para acomodar manifestações culturais identitárias feitas por adolescentes e jovens sobre a vida comunitária e sobre a relação com a escola significa eleger novos formadores de opinião. Tais modos de demonstrações de nossas existências é lugar para encontrar interrogações seríssimas sobre nossa condição de seres humanos, como também é dizer que existe preocupação de coletivos orientados em ultrapassar transformações retóricas e dar voz para coletivos subjugados.

Assim sendo, o desejo de investigar e revelar situações cotidianas da relação pedagógica capazes de contribuir com novos conhecimentos sobre como se dá o “juízo professoral” que dirige o olhar negativo ou positivo do professor passa pela alfabetização em valores humanos em nome de outra identidade da escola, diferentemente daquela de professores com antolhos que adjetivam o imaginário intramuros escolar, transpõe muros e habitam o imaginário coletivo. Contextualizar o entendimento de que valores dominantes do currículo a criar a exclusão dentro e fora da escola e, de modo seletivo em meninos negros nas séries/anos iniciais da educação básica impedindo-os de sonhar outras narrativas de história de vida que não as dos desdobramentos de futuro com perfil em grupos estatísticos de vítimas da violência urbana,  por exemplo, é a contribuição maior desse trabalho monográfico.

ANEXO A

QUADRO 1

O quadro quantitativo, assim como a tabela com o registro de participação em enquete ou survey, foi gerado pelo registro visualizações de site[9] com referência internacional em profissionalismo e uso de recursos diferenciais no gerenciamento de conteúdo para web. Assim sendo, transcrever resultado mensal e anual de acessos de internautas e escolha de opções interrogativas de interessados em participar diretamente, socializar, se informar ou debater assuntos relacionados à educação e entre esses as causas do fracasso escolar instalado na educação básica da escola pública brasileira garante a credibilidade necessária para justificar a intencionalidade dos dados como suporte para escolha de título do Trabalho de Conclusão de Curso. Outra maneira de demonstrar que o tema mobiliza a atenção de internautas de redes sociais com interesses afins em educação, estudantes da modalidade on-line, etc., entendido aqui como fato a ser apenas mencionado, seriam os Termos do Motor de busca pelo que esta fermenta possibilita categorizar usuários com maior ou menor conhecimento de terminologias relacionadas à educação. Segue quadro demonstrativo:

 

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total
2010 193 153 54 91 165 157 212 91 1.116
2011 84 163 254 152 176 137 110 175 240 347 353 144 2.335
2012 81 137 472 372 369 323 215 190 261 269 282 88 3.059
2013 75 78 188 75 56 92 48 73 119 104 165 43 1.148
2014 49 53 187 191 153 75 36 872

 ANEXO B

TABELA 1

Interrogações extraídas de texto sobre as “As Causas do Fracasso Escolar” da Dissertação de Sirino (2002) sobre o fracasso escolar a partir do discurso do aluno transformada em postagem e levada às redes sociais relacionadas à educação, principalmente. Na tabela abaixo as doze (12) interrogações objetivas e subjetivas definidas como “ponto de partida” da monografia, pois o tema do Trabalho de Trabalho de Conclusão de Curso foi definido em acordo com a opção interrogativa com maior número de consensos.

AS CAUSAS DO FRACASSO ESCOLAR

1- O vínculo negativo entre a escola e a criança provoca reações de pavor e temor em se expor por medo de errar e ser humilhado?
2- Sobre a criança-aluno recaem olhares negativos, assim professores “vão empurrando” esses alunos ou então “deixando-os de mão”?
3- O olhar do professor sobre o aluno pode construir a sua trajetória escolar positiva ou negativa?
4- A falta de vínculo entre o professor e o aluno para facilitar a aprendizagem?
5- O que se cultiva no ambiente escolar é o medo e a insegurança?
6- As mães veem seus filhos como portadores de qualidades, vontades, curiosidades que a escola nem sempre leva em consideração?
7- A falta de diálogo entre os sujeitos do processo cultural por n motivos do distanciamento entre a escola, a família e a comunidade?
8- A baixa qualidade do ensino, as práticas educativas excludentes, o despreparo e as constantes trocas e falta de professores?
9- O desconhecimento do saber do aluno, as ideias preconcebidas quanto à proveniência social e de sua família produz uma experiência escolar pobre?
10- A falta de condições para contribuir com o conteúdo escolar do filho levando a família a assumir a culpa por sua exclusão, isentando a escola de suas responsabilidades sociais e educativas?
11- As dificuldades de relacionamento do professor com os alunos, com os pais dos alunos, com a instituição escolar e com as mudanças na política educacional?
12- As relações estabelecidas na escola manifestam sentimentos de inferioridade, inadequação, incompetência e não pertencimento que se mesclam com sentimentos de poder e querer?

Total: 241 (de uma a três opções de escolha por participante).

[1] A teoria das representações sociais centra-se na à análise da construção e transformação do conhecimento social e tenta elucidar como a ação e o pensamento se interliga na dinâmica social.

[2] Este relacionado à classificação ou desclassificação escolar, conforme a avaliação do sistema escolar estruturado em juízo de valor que pode valorizar, ou não, a intimidade do indivíduo (agente) com o saber. A forma que seus pensamentos e ações compactuam com a forma de pensar da instituição escolar, pode contribuir para as desigualdades sociais.

[3] O processo de formação deve dotar os professores de conhecimentos, habilidades e atitudes para desenvolver profissionais reflexivos ou investigadores. Nesta linha, o eixo fundamental do currículo de formação do professor é o desenvolvimento da capacidade de refletir sobre a própria prática docente, com o objetivo de aprender a interpretar, compreender e refletir sobre a realidade social da docência. […]. Mas o professor não deve refletir unicamente sobre a sua prática, mas sua reflexão atravessa as paredes da instituição para analisar todo Tipo de interesses subjacentes à educação, à realidade social com objetivo concreto de obter a emancipação das pessoas (IMBERNÓN, 2002, p. 39-40).

[4] Quadro e tabela com o acesso mensal e anual no endereço da web:
< https://projetomuquecababys.wordpress.com/2010/05/06/as-causas-do-fracasso-escolar/  >

[5] Os pesquisadores dessa área buscam compreender as intersecções entre cultura, indivíduo e sociedade. Alguns trabalhos questionam as fronteiras entre alta cultura e cultura de  massa ou comercial, investigam os processos de produção da cultura, abordam objetos culturais híbridos, configurações indenitárias de grupos socialmente marginalizados e trocas culturais que deles advêm. Enfatizam,  também, o rompimento das barreiras disciplinares que possibilitam transitar por diferentes áreas de conhecimento, tendo em vista que uma determinada disciplina não abarca todas as possibilidades de apreender um objeto a ser conhecido.

[6] Brasil, 1977ª, p. 65-71

[7] Cabe aqui esclarecer que a educação assimilacionista está relacionada ao estilo de ensino que funciona sem considerar as características culturais específicas do aluno.

[8] Pesquisa de opinião pública nacional sobre a violência contra a juventude negra no Brasil. Mais informações no endereço da web: < http://www.seppir.gov.br/arquivos-pdf/pesquisa-datasenado >

[9]  < https://projetomuquecababys.wordpress.com/  >

ESTATÍSTICAS do Projeto Muqueca Babys
< https://wordpress.com/my-stats/?view=table >

REFERÊNCIAS BIBLIOFRÁFICAS

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ARROYO, Miguel Gonzáles. Imagens quebradas – Trajetórias e tempos de alunos e mestres. 6ª Ed. Vozes, Petrópolis: 2004.     ISBN  978-85-326-3071-1

________________________. Currículo, território em disputa. Petrópolis: Vozes, 2011.        ISBN 978-85-326-4083-3

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CATANI, Afrânio Mendes. A sociologia de Pierre Bourdieu (ou como um autor se torna indispensável ao nosso regime de leituras). Educ. Soc. V. 23, n. 78, Campinas: abr./2002.          ISSN 0101-7330
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Acesso em: 30/03/2013 t

BLACK IS BEAUTIFUL – A importância da cor da pele

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By Luis Carlos “Rapper” Archanjo

Luis Carlos "Rapper" Archanjo

Luis Carlos “Rapper” Archanjo

Os grandes jornais da mídia nacional e internacional perdendo espaço para a notícia comentada e compartilhada por internautas preocupados em efetivar posicionamento a favor ou contra, curtidas por simpatizantes interligados por interesses afins em debates interativos socializando conteúdos de toda natureza; a promoção de mobilizações da militância via redes sociais como exemplos de uso da acessibilidade como instrumento a favor dos sem mídia diz por si só que é possível convergir atenções, pontos de vista diletantes, considerações mais embasadas de abordagens em pressupostos com o respaldo de estatuto de cientificidade capaz de promover dois temas bastante controversos do nosso tempo que ainda não provocaram a devida mobilização interativa: conflitos raciais e intolerância religiosa. Nesse sentido, os afro-americanos afirmam mais uma vez a vocação em ser modelo ou espelho para aqueles da diáspora africana ao eleger o seu primeiro presidente negro, cuja campanha pautou-se no uso do poder infocomunicacional da internet e da web 2.01 como fator decisivo para adentrar aos lares americanos de todas as cores. Segundo a Unesco, a defesa da educação digital deve ser parte da formação de qualquer cidadão, em qualquer nação, no sentido de fomentar o direito à informação e a liberdade de expressão como instrumentos de construção e sustentação democrática, e pela qual indivíduos e organizações estão sendo confrontados com a necessidade de empregar um conjunto de habilidades e competências requeridas para usar diferentes tipos de informação, serviços e produtos, bem como interagir socialmente através dos meios eletrônicos.

Contribuição atualizada da emblemática mobilização afro-americana do passado, quando na busca pelos direitos civis de ir e vir em solo americano, as recentes manifestações dos negros indo a ruas com gritos de ordem contrários aos casos de uso excessivo ou letal contra cidadãos desta etnia, principalmente, diz o quanto a luta pelo direito a outro tratamento diferentemente do vigor que acaba em morte para jovens ou adultos, por agentes do Estado quando no cumprimento da lei, se faz também pela motivação maior de ser parte de contexto vitimizado por tal discrepância no tratamento de situações sociais conflituosas. Lembrada pelos sete de artigos e de ter sofrido apenas 27 emendas desde a sua promulgação em 1787, há 227 anos, a Constituição Americana fixa somente princípios gerais, enquanto a brasileira, de 1988, com apenas 22 anos, é programática, e, por isso já foi emendada mais de 60 vezes. O que nos difere dos americanos é o tempo histórico de poucas conquista sociais, a não ser a luta para consolidar direitos civis e políticos. Promulgada na quarta geração de direitos (civis, políticos, sociais e difusos, como ambientais, do consumidor e as políticas afirmativas ou de quotas), a nossa Carta Magna exige uma melhor disciplina sobre uma série de direitos, especialmente os direitos humanos. Nesse sentido, as especificidades de interesses difusos se fazendo presente no exercício democrático de questionar e propor juridicamente mudanças no texto de lei seja porque ela contém desigualdades, ou não cumpre a contento a salvaguarda de direitos inalienáveis de pessoas e grupos marginalizados, cabe na busca de mudanças na legislação brasileira de modo a atender a falta de representatividade no legislativo e no judiciário. No Brasil, desde a Constituição Cidadã de 1988, a iniciativa popular está proclamada no Art. 61, parágrafo 2°, e é o instrumento pelo qual faculta, a qualquer cidadão, a feitura de lei, seja ela complementar, seja ela ordinária. Ou seja, o artigo diz respeito à representação política da população, por meio de entidades representativas da vontade de fração do eleitorado e, onde consta que a iniciativa popular como instrumento de democracia participativa pode desencadear ações em nome de um novo direito ao possibilitar o povo interferir diretamente na criação legislativa. Portanto, fazer desse instrumento jurídico poderosíssimo um caminho para corrigir as desigualdades perpetradas por interesses historicamente estabelecidos pela ideia reinante de uma minoria, tuteladores, que se autoproclama representantes das reivindicações de restante da população, de mundo pautado por transformações na sociedade e no Estado, traz a tona problema relacionado à concepção tradicional de democracia representativa e a tendência dos partidos políticos em monopolizar a ação política, favorecendo a formação de oligarquias a partir de comitês dirigentes altamente burocratizados. Some-se a isso a influência do poder econômico e de toda sorte de grupos particulares sobre os partidos políticos e estes aparecerão mais como bloqueadores do que como canalizadores da vontade popular. Resumindo: possuímos ferramentas jurídicas de mudanças, todavia falta utilizá-las com mais frequência, para o nosso próprio bem, o bem coletivo, imprescindíveis na construção se uma sociedade livre, justa e solidária; erradicação da pobreza, da marginalização de pessoas e grupos; redução das desigualdades sociais e regionais; e, por fim, sair do âmbito de uma minoria e promover o bem de todos, sem distinções de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.  “Especialmente a partir do século XIX, enveredamos pelo caminho dos partidos políticos. E chegamos a um ponto em que o partido não é mais um representante do povo, ele é um substituto do povo, e aquilo que se propunha como democracia degenerou em partidocracia.” (Bobbio, 1986, p. 61 apud RIBEIRO, 2007, p. 7).

A xenofobia para com o êxodo humanitário de africanos subsaarianos ou não, e/ou no próprio limite fronteiriço, assim como no período de formação dos Estados Europeus a partir do século XVI, com políticas anti-imigratória, ou a ação intimidatória por grupos racistas ancorados no legislativo e no judiciário como lugar para a ação de partidos da extrema-direita com práticas do nacionalismo chauvinista, o racismo, e o ódio aos imigrantes, sobretudo “extra-europeus” – e os ciganos (o povo mais velho da Europa), a islamofobia, a misoginia, o autoritarismo, o desprezo pela democracia, a euro fobia; os ataques terroristas fora ou dentro do solo europeu, entre outras informações que são exemplos de posicionamentos ideológicos movidos por sentimentos de amor aos iguais ou desprezo ao outro por causa da cor da pele e religião transformando cidadãos de qualquer parte do mundo em alvos fáceis de barbáries com maior ou menor crueldade. Causa e efeito de características que diferem e determinam genética, cultural e economicamente seres humanos e se faz fator relevante no constructo social na importância da cor da pele, o lugar social é exemplo de contra argumento do pensamento bourdieano de como parâmetros de maior ou menor valia para a condição humana em processos de locomoção, mobilidade social, exercício plena da cidadania, entre outras tantas variáveis de impedimentos para certos grupos humanos tem raiz nos desdobramentos do histórico de subjugação e escravidão do homem pelo homem quando na vitória sobre o inimigo, e a sua re-significação até o nosso tempo de distinções em inferioridade ou superioridade de classificação racial determinada pela exterioridade fenotípica e pelo acesso a educação. Num segundo plano a opção religiosa e depois as minorias sem aproximações com valores estabelecidos em acordo com os modismos de tempo imagético a inferir posicionamentos e/ou julgamentos no tabuleiro de xadrez das relações sociais e raciais, que por uma ordem natural entrecruza às controvérsias a questão religiosa como parte indissociável dos conflitos porquanto da estreita relação entre intolerância, educação, raça e religião. O direito a educação, a liberdade de expressão, entre as muitas maneiras do efetivo exercício pleno da cidadania passa pelo direito à informação.

Fazer uso da prática e da teoria apreendida no estudo das ciências sociais como caminho para o reconhecimento como sujeito com as competências e habilidades necessárias para a ação educadora é, também, aplicar tal conhecimento no sentido freireano de educar como ato político movido por convicções próprias da história pessoal em justificar direcionar, explicitar, contextualizar e questionar as bases de sustentação de posicionamento de neutralidade ou pró ao instituído nas relações raciais e os reflexos dessas polêmicas desdobrando-se em exercícios infantis da ignorância adulta no extra e no intramuros das salas de aula do nosso país. A partir de considerações em pesquisa bibliográfica referenciada por academicismo que lhe confira credibilidade e, ao mesmo tempo fazer uso de conteúdos com mediação interativa possibilitada pelas linguagens audiovisuais de mundo em que as dinâmicas por imagens e sons vêm substituição à estática de argumentos pautados somente na subjetividade de discursos saídos de observações ou imersões em contexto sem autorias próprias, verdadeiramente identificadas com o recorte da realidade objeto de estudo, espero que o texto cumpra a contento a intencionalidade pretendida. Exemplo de aplicabilidade desse tipo de narrativa é a  interessante experiência  documental sobre maquiagem para contextualizar a percepção de brancos e negros nas relações raciais rotineiras comuns à vida urbana. Realizada por programa da TV francesa, no ano de 2007, ‘Dans la peau d’un Noir” (Sob a pele de um negro), qual há a transformação de uma família negra em “branca” e outra branca em “negra”, com o objetivo em acompanhar o dia a dia de situações concretas de como se dá os processos de maior ou menor valia, subentendido em atitudes, posicionamentos, tratamentos vivenciado por voluntários transformados por uma segunda pele durante uma semana. A troca de identidade étnica para atividades como buscar um apartamento para alugar, ida a shoppings, lojas de artigos caros, comprar carro etc. Mais do que mostrar a incrível capacidade de modificação estética pela maquiagem, o experimento vislumbra mostrar o quanto a aparência (meramente superficial) pode influenciar nas interações sociais.

Questionar o legado positivista que ainda hoje contamina o olhar acadêmico para com outros saberes significa entender como mais significativo a articulação entre teoria e realidade na construção de narrativa sobre fenômenos humanos qual o observado se entenda como objeto do conhecimento, tanto quanto o observador compreenda as especificidades em ser da mesma natureza do objeto de estudo. Pensar concepções de entendimento do “outro”, que não somente aquelas fruto da capacidade de abstração para inferir sobre a diversidade humana produzindo verdades sem o contra argumento de experiências e vivências in natura com estruturação semântica e enunciação representativa da cosmovisão do diferente para a apreciação de iguais entre si, pode ser comparado a atitude etnocêntrica de  subvalorizar qualquer outro conhecimento que questiona a ordem de saber referenciado pelo diploma, que caracteriza os espaços de poder sem a diversidade indagada pela professora e pesquisadora Fúlvia Rosenberg ao falar da ausência afro-brasileira nos cursos de graduação e pós-graduação. Tais observações é exemplo do quanto urge a maior presença de intelectuais orgânicos com embasamento teórico-conceitual de programa educacional com capacidade de dar vez e voz via academicismo de cânones com poder de persuasão em contradizer verdades questionáveis, tanto quanto identificar métodos e práticas que propiciem às gerações trabalhadoras rotas de fuga da subalternidade intelectual tutelatória, com fins práticos, do sujeito cognoscente e questões relativas à individualidade e de vontade própria quando se tem o labirinto de complexidade do comportamento humano como objeto de análise.

Questionar o posto sobre as questões étnico-raciais a partir do entendimento da ideologia por trás do até então socializado e a reinante desinformação a respeito do refutado pelas ciências humanas do século XXI, traduz o quanto o processo de comunicação está inscrito numa teia de relações sociais onde se almeja sempre que ela seja instrumental para a reprodução social, fazendo com determinado saber possa ser ideologizado, reforçando-se assim a dominação de classe, gênero, etnia ou geração. Assumir o princípio freireano de educação transformadora significa buscar a franqueza de argumentos possíveis de convocar, provocar, contra argumentar e produzir conhecimento pedagógico para abordagens capazes de promover a reeducação de atitudes, valores, o diálogo, a negociação e interação entre diferentes culturas, e o tema não nos remeta a palavras como hipocrisia e covardia. Tais considerações interrogam-nos: Nós, brasileiros, somos ou não um povo racista?

O planejamento curricular como lócus de permanências para impedimentos à autonomia docente e a inviabilizar a aplicação do aprendido na formação da competência praxiológica do pedagogo em sua totalidade nos leva a interrogação de até quando o pensamento dos “herdeiros bourdieano”2 forjará corpos e mentes com conteúdos questionáveis de mudanças na insensibilidade para com a infância negra, principalmente. Assim sendo, pensar-se na formação ou na educação continuada de profissionais de educação segundo o acima exposto é propor alterações no quadro de palavras comuns ao repertório de esquivas do absenteísmo, na adjetivação explicitada por Arroyo (2011), na reinante visão acrítica, despolitizada com o tema em questão ou na postura míope quando na concretude do exercício docente e a existência ou não de preconceito ou discriminação entre os pares no nível básico de ensino público, primeiramente.

TICs – Informação versus conhecimento

Desde os anos 90, com a ascensão das ciências da vida, com destaque para a Genética, os estudos de mapeamento do Genoma Humano ocupa destaque nos principais debates científicos até os dias atuais, colocando novas questões que, para além das especificidades disciplinares, exigem o enfrentamento de tema tabu que é a questão racial, entre outros temas com implicações transversais às diferentes disciplinas. Assim como há o antagonismo racial preto versus branco por conta do legado teórico de cientificidade e do discurso descritivo da pseudocientificidade dos séculos passados ao estabelecer os pressupostos para definir raças superiores e inferiores, há, também, a questão racial motivada por fatores étnicos e místicos no antagonismo racial de negros versus negros. Por exemplo, em algumas regiões da África Subsaariana os casos de albinismo, consequente de ausência de pigmento na pele, nos cabelos e olhos devido a uma deficiência na produção de melanina pelo organismo, tem chamado a atenção do mundo para a “caçada” quais os portadores dessa doença congênita vêm sofrendo em países do leste africano, principalmente na Tanzânia. Em algumas regiões do interior são tidos como pessoas demoníacas e perigosas. Nestes países, alguns acreditam que poções feitas com o uso de partes do corpo dos albinos trariam sorte e riqueza, tanto quanto o uso em bruxarias é outra prática recorrente. Apesar das dificuldades em prender e condenar os culpados, os ativistas persistem na luta para combater o preconceito, a ignorância e na promoção dos direitos dos albinos para que não sejam dizimados por força do pensamento místico provocado pela cor da pele dos portadores da doença. O clássico “Hotel Ruanda” é a representação máxima de africanos dizimando africanos, em números catastróficos, em guerras étnicas. Os genocídios provocados em nome da “limpeza étnica” dizem o quanto a crise identitária configurada do legado do pós-colonialista, após décadas sob o jugo europeu e ações maniqueístas de privilegiar etnias, de tanto tempo alijado da liberdade e dignidade essenciais à construção identitária autônoma, o sujeito localizado na transição do regime colonial para o status de independente do neocolonialismo e fronteiras artificiais se veria em ferrenha luta com seus iguais, e sob a influência de novos impérios econômicos como instrumento de joguete político internacional, em um mundo polarizado entre as forças capitalistas e socialistas. Hoje,  fome, guerras civis provoca o massacre entre cristão e muçulmanos, epidemias, questões ambientais concomitante a exploração egoísta da riqueza do subsolo africano como petróleo, ouro, diamante e o coltan. Na centralidade do genocídio ruandense, o último mineral foi chamado de ouro negro nos anos 90. Mistura de dois minérios, a columbita e a tantalita, do primeiro é extraído o nióbio e do segundo o tântalo. Ambos com características únicas para a produção de materiais utilizados em dispositivos tecnológicos de vanguarda e portáteis, tais como telemóveis, laptops, GPS, televisores de plasma, satélites, entre outros.

Informação compartilhada nas mídias sociais e divulgada nos jornais de grande circulação mundo afora, a polêmica em torno do projeto artístico do norueguês-sudanês Mohamed Ali Fadlabi e o sueco Lars Cuzner, residentes em Oslo, na Noruega. A proposta dos artistas é discutir o racismo e seus desdobramentos até o século XXI a partir de uma vila que, há exatos cem anos, expôs um grupo de oitenta senegaleses. Criada em 1914, na Noruega, chamada de Kongolandsbyen (Vila do Congo), fez parte da programação para comemorar o centenário da Constituição (1814) do país. É oportuno, também, fazer o registro da reprodução de uma tribo congolesa no pavilhão da Bélgica, durante a feira Mundial ou Expo 58, em Bruxelas, em 1958. No mesmo molde dos zoológicos convencionais para espécies animais, os zoos humanos do século XIX e XX travestidos de “exposições étnicas” trataram seres humanas como se fossem atrações, e desse modo legitimar a presença europeia em suas colônias. Nos Estados Unidos fica lembrança da história de enjaulamento do pigmeu Mbuti congolês Oto Benga, e sua polêmica exibição no Zoológico do Bronx, Nova York, em 1906, como parte da mostra projetada para demostrar os conceitos da evolução humana e racismo científico ou racialismo.

Ao reviver essas páginas não viradas da história da humanidade, o trabalho dos artistas suscita, principalmente, aos profissionais de educação menos neutralidade no tocante aos conflitos infanto-juvenis em torno das relações raciais, já que no papel do educador está a mediação/transmissão de conhecimentos, não só do recorte de relevância dos historiadores, do histórico da humanidade às gerações vindouras. Nesse sentido, as ferramentas informacionais oferecido pelas mídias educativas pode ser um grande fator de aproximação de gerações, construção de contextos imagéticos de modo a criar  pontes necessárias a conceituar o pensamento abstrato de identidade, raça ou etnia, racismo, preconceitos. Ou seja, atualmente as pessoas aprendem e tomam conhecimento do que está acontecendo no mundo através das mídias oferecidas pelas tecnologias da comunicação e da informação – TIC´s, que transforma a acessibilidade na busca de informações em um problema para educadores despreparados em transformar informação em conteúdos significativos com o uso imagens e sons antenados com formas de se estar em mundo de gerações de nativos digitais a espera de mediação docente possuidora de academicismo pedagógico com domínio das ferramentas multimídias síncronas ou assíncronas; fazer uso da plurilinearidade e da multimodalidade comuns ao hipertexto como elemento potencializador do ato de ler e escrever, compor estratégias e recursos didáticos-pedagógicos de maneira a acomodar  avanços, recuos, transversalidade e multidisciplinaridade; para ilustrar conteúdos teóricos-conceituais de difícil entendimento. A incorporação das novas tecnologias no dia dia da sala de aula de escola do século XIX e professores do século XX é imprescindível para educação em sincronia com os modos de produção, exposição ou transmissão de conteúdos comuns às gerações sintonizados com a  acessibilidade  como meio de conceber educação no século em curso. Portanto, a escola precisa se descolonizar de suas origens para representar a história e a potencialidade da cultura e  populações brasileira, conforme afirmação do professor Cesar Nunes da Unicamp em debate sobre a Formação Humana Integral  na Contemporaneidade, durante o 2° Seminário Internacional de Educação Integral em Jornada Ampliada,em Brasília (DF), em 2013.

A polêmica performance artística com atores negros em um “zoológico humano” foi cancelada em Londres depois de protestos realizados na noite de abertura. No evento chamado Exhibit B, os atores apareciam em jaulas, presos a correntes ou portando aparatos para

exhibit-bdomesticar a “fera africana”. Ou seja, um quadro atualizado das “repugnantes atitudes” referentes à raça negra durante a era colonial. Assim, planejar e conceber e avaliar conteúdos educativos interativos facilitadores na construção, desconstrução e reconstrução de conceitos abstratos de difícil entendimento, de exemplificação de conhecimentos da história da humanidade produzidos pelas ciências sociais é um caminho a ser perseguido pelos profissionais de educação ainda não familiarizados com a aplicabilidade de procedimentos didático-pedagógicos sintonizados com paradigmas formativos possibilitados pelas tecnologias infocomunicacionais complementando habilidades e competências quando necessário for: confrontar, convocar, provocar, refutar, socializar, contextualizar e debater no plano das ideias, pressupostos, hipóteses, capazes de contribuir com aproximações, até que sejam mínimos os pontos discordantes que inviabilizam historicamente a promoção de relações raciais sadias, por exemplo. Ao dimensionar o papel e o alcance ideológico das mídias fica a pergunta de quanto a realidade virtual, e a capacidade de nos levar a um espaço digital paralelo, pode ser usada para fins de estímulo a uma paz universal ou instigar o instinto selvagem latente em cada ser humano ao fomentar criações imagéticas cinematográficas de jogos interativos inferindo a vida real em confronto virtual consumado em barbáries para com pseudo-inimigos representativos de grupos na “escuridão econômica” alardeada por Mandela, entre outros pensadores de renome preocupados com futuro da economia globalizada e processos comunicativos entre povos e nações, no livro “No final do século – Os principais pensadores do nosso tempo”.

Um caminho para o docente contribuir em nome de crenças pessoais na contramão do discurso dominante ou de produzir debates que não levem às tergiversações de sempre seria este se apropriar de conteúdos divulgados no campo da sociobiologia3 e das pesquisas biológicas da genética molecular, por exemplo, a produzir dados capazes de refutar a, ainda, persistente crença de que as raças humanas possuem diferenças biológicas substanciais o profissional de educação sai da zona de conforto que a não discussão do tema racial provoca na ação docente insensível aos estigmas sofridos pelos alunos negros em vivências e experiências diárias com os estereótipos afetando o processo de construção de identidade, autoestima. Ao pesquisar a sequenciação do genoma humano, a biologia molecular permite um exame detalhado da correlação entre a variação genômica humana, a ancestralidade biogeográfica4 e a aparência física das pessoas. Os estudos em questão corroboram em confirmar “o quanto as teorias racialistas, com maior ou menor cientificidade, foram usadas para justificar discriminação, exploração e atrocidades ao privilegiar culturas, línguas, crenças e diferenciar grupos estética e economicamente” (Azevedo, 1991 apud PERNA; BIRCHAL, 2005/2006).

PEDAGOGIA EAD – vivências e experiências com educação ONLINE

A formação em Pedagogia e sua condição de ciência da educação que se apropria de conhecimentos das várias ciências para auxiliá-la em fundamentar seu estatuto de cientificidade promoveu-me o discernimento que o educador pode conformá-la promotora de processos de formação de ser humano que melhor atenda as especificações laborais, sociais e emocionais de determinado tempo, constituindo sujeitos e gerações com os conhecimentos técnico-científicos, políticos, filosóficos essenciais ou com relevância de percurso formativo expressivo de interesses ocultos ou explícitos de transmissão do pensamento dominante ou torna-la instrumento de transformação social para grupos subjugados. Consoante aos conhecimentos adquiridos no curso de formação em pedagogia, acenar com referências relevantes para o trato dessa temática tão importante na formação teórica e prática docente e, assim, chamar a atenção para uma maior suscetibilidade para com os casos que afetam o emocional da criança negra, e o constrangimento com estereótipos não seja visto como coisa corriqueira do cotidiano escolar e não necessite de outro tratamento que não seja o medo de abordagem mais consciente de existência de preconceito racial na sala de aula. Portanto, a pertinência do tema racial na grade curricular, em acordo com as Diretrizes Curriculares nacionais – DCN´s, os Parâmetros Curriculares nacionais – PCN´s, a Lei 10.639/03 entre os documentos oficiais que orientam e procuram dar visibilidade para os mecanismos de permanência de certos grupos na base da pirâmide social. Portanto, no quadro de desigualdades sociais instituídas em acordo com regras de relações étnico-raciais assimétricas de nossa formação pluriétnica significa enfoques da existência e o consequente debate na formação e na prática docente, de suas causas e efeitos no desempenho educacional de crianças negras em face de naturalização do racismo: “Munanga (2005), Gomes (2005), Cavalleiro (2001), Guimarães (1999 e 2008)” (SILVA; FALCÃO; MOURA, 2005).

Entre essas ciências está a psicologia para explicar motivações, compulsões e fracassos, entre os muitos fatores da história pessoal a determinar a maior ou menor valia do ser humano. Pensar na condição humana segundo maior ou menor valoração consoante a cor da pele significa um olhar aprofundado de como foi estabelecido tal distinção. Segundo fontes bibliográficas, para entender como ainda no terceiro milênio o privilégio da cor se sustenta é preciso debruçar sobre os pressupostos de homem, de ser humano e de sociedade em que tal distinção valorativa da cor da pele fundou-se. A história do racismo através dos séculos pode ser conferida no documentário Racismo – Uma história, da BBC de Londres. Descobertas recentes na área da neurobiologia, que segundo o sociólogo Antônio Damásio “não só pode nos ajudar na compreensão da condição humana, mas que, ao fazê-lo, pode nos ajudar a compreender os conflitos sociais e contribuir para sua diminuição” (Damásio, 1998 apud PENA; BIRCHAL. 2005/2006, p. 18), e da genética humana confirmaram não haver geneticamente raça humana distinguível. Portanto, extraído o pretexto pseudocientífico para permanência do status quo dominante, todo e qualquer embate da questão étnico-racial limita-se ao terreno ideológico. As considerações pertinentes à importância da cor da pele como condição meritocrática para as benesses de qualidade de vida sem os imprevistos quais sofrem aqueles classificados fora de padrão de racionalidade que cria as condições desfavoráveis ou obstruem processos de mobilidade e justiça social para certos grupos, impedindo-os do exercício pleno das várias dimensões da vida humana em sociedade.  A inspiração para dar vida ao aqui exposto tem ponto de partida na postagem levada às redes sociais em Junho/2009, quando postei sinopse sobre a curta metragem “O xadrez das cores”, de Marcos Schiavon, com patrocínio da Petrobras, onde faço menção, an passant, do livro Preto e Branco: a importância da cor da pele, do jornalista e ex-professor Marco Frenette, porém na ocasião da publicação no Projeto Muqueca Babys Blog não vislumbrava a necessidade de fazer uso da narrativa fílmica em abordar como privilégios ou condições de vida desfavoráveis distinguem-se pela cor da pele e, dessa maneira chamar a atenção do leitor e, ao mesmo tempo, convidá-lo a sair da superficialidade insensível para um maior aprofundamento do debate sobre os percalços e reflexos na vida escolar da criança-aluno (a) marcado (a) por estigmas sociais imputados historicamente à raça negra, inclusive levando-as a não aceitação dos traços negroides, por exemplo.

A desqualificação ou despersonalização midiática como mais um recurso de construção e desconstrução estética, geralmente para atender interesses de uma minoria, com poder econômico, pode veicular a ideologia do projeto de sociedade que mais atenda a objetivos para manutenção do status quo posto como modelo a ser seguido, onde quem não corresponde às especificidades é circunscritos em aspectos hediondos, desumanizados ou demonizados. Porém, por um processo natural tais adjetivações acabam por provocar a visibilidade de grupos sociais insurgentes para com a ordem estabelecida quando estes na busca de igualdade de tratamento se utilizam de recursos comuns àqueles dos tantos registros de mudanças na dinâmica social provocada pela falta de justiça social e equanimidade fruto da ganância aliada a atitude etnocêntrica como causas principais de permanência da desigualdade entre os homens em conflitos raciais.

A centralidade da cor da pele como objeto de conhecimento é um campo de estudo bastante controverso, e, por se tratar de fatos da condição humana trás em si a incompletude do homem como no princípio freireano que questiona a coisificação do homem pelo homem. A mídia quando deixa de cumprir o seu papel de informar em nome de uma educação planetária para a paz e construtora de identidade sem qualquer tipo de distinção, baseada na liberdade, no diálogo nascido de relações dialéticas consciência-mundo alimenta o que o casal de psicólogos afro-americanos Kenneth Brancroft Clark e Mamie Clark5, conhecidos pelos estudos, com bonecas, sobre as atitudes das crianças relativamente à raça, denominaram auto-ódio. Assim como Piaget, as teorias de foram em grande parte baseadas em estudos e observações de seus filhos ao lado de sua esposa. O casal Clark, a partir do interesse da esposa pela psicologia do desenvolvimento e trabalho em creche, e para onde levou os filhos após conhecer o trabalho dos psicólogos Ruth e Gene Horowitz sobre a auto identificação em crianças pequenas, teve como consequente desta experiência  a inspiração da esposa para a sua tese. Da parceria do casal na condução das pesquisas com os filhos, na creche, Mamie concluiu sua dissertação, com o título “Mudanças nas habilidades mentais primárias com a idade”. O grande feito do primeiro negro e negra a obter o doutoramento em psicologia naquele país foi a participação do marido no caso Brown versus Board of Education of Topeka, traduzido como Negros versus Conselho de Educação, quando pela primeira vez num tribunal americano estudos de ciência social, nomeadamente o relatório de 1950 sobre discriminação racial escrito por Clark, foi admitido como forte prova num julgamento onde este testemunhou como perito em casos de desagregação social em várias escolas.

Vídeos correlatos: CNN – Teste das bonecas e as relações raciais

Da percepção de que a avaliação do Estado não estava correta ao analisar os problemas educacionais de crianças afro-americanas, rotulando-as como possuidoras de retardo mental, Clark buscou provar através de experimentos com bonecas de que essas crianças tinham QI acima dessa classificação, pois este entendia a segregação social como causa para a guerra de gangue, pobreza e baixo desempenho acadêmico das minorias. Este foi o pontapé inicial para o trabalho de sua vida e deixa para os nossos dias contribuições significativas da psicologia do desenvolvimento. Segundo  teorias do psicólogo a partir de estudos baseados em que a segregação das crianças negras influenciava no seu psicológico, concluiu que o convívio com tais dilemas provocava uma espécie de auto-ódio porquanto da desqualificação estética, da demonização, da desumanização induzindo-as a não se olharem como bonitas, bondosas ou inteligentes. Para o sociólogo, o racismo ocular, como mostrar pessoas brancas adjetivadas ao contrário das pessoas negras e o consequente sucesso pessoal na vida adulta induz aos negros tornarem-se adultos com baixa estima e recusar o pertencimento à etnia negra. Ou seja, o racismo ocular e auditivo com que as crianças negras crescem, diuturnamente, no mundo todo, faz com que adoeçam psicologicamente e, desse adoecimento psicológico que habita o corpo negro temos a “negação” de si mesmo e de seus iguais. Dos trabalhos publicados destacam-se Prejudice your Child (1955), Dark Ghetto (1965), A Possible Reality (1972), Pathos of Power (1974).

PALAVRAS-CHAVE: arma contra o racismo?

A leitura do livro também me levou a rememorar momentos idos da adolescência quando o agora escrito transcreve um pouco das vivências e experiências como discente e educador social alheio à questão racial nas relações da sala de aula, porém consciente das características em que se dá a nossa divisão social de classes. Estar atento em contextos marcados por atitudes e procedimentos que denotam haver uma linha divisória porquanto da cor da pele a definir econômica, estética e socialmente posturas relacionais que resultam em risos e lágrimas para crianças e adolescentes é fazer da percepção de mundo fonte inesgotável de compreensão sociológica sem as tergiversações comuns a pontos de vistas inflamados de defensores politizados por discursos acadêmicos entre iguais, ou mesmo por dissidentes defensores da causa negra representando-os na luta emblemática por reconhecimento segundo a simbologia abolicionista daqueles na luta contra a opressão qual sofrem os descendentes de africanos trazidos ao novo mundo e o transmitido nos livros sobre a trajetória e o papel social do negro desde o Brasil Colônia até os dias atuais.

Período marcado pela passagem da infância em escola pública em bairro periférico, Muqueca, para a adolescência em escola particular situada em rua representativa do poder local de cidade do interior do Rio de Janeiro. Portanto, espaço de convivência com parcela de filhos da elite e, também, lugar para os primeiros aprendizados de que uma proposta educativa integradora perpassa por n fatores de objetivos, missão, filosofia do planejamento do grupo gestor. No meu caso específico, fica presença de uma Diretora representando a tradição familiar para a condução do percurso educativo de parte de herdeiros dos postos chave em continuidades de valores que caracterizam a relação social e cultural herdada do ciclo do café. O convívio pacífico com as diferenças produzidas pela separação natural de adolescentes saídos de mundos distintos, porquanto da condição econômica de bolsista pelo “Sistema S”, da cor da pele, de ser filho de operário da indústria, do lugar social, criou a ambiência necessária de relação pedagógica sem interferência de variáveis características do conflito de classes produzindo desatenção, desmotivação, desequilíbrio emocional ao longo dos anos dessa etapa da educação básica. Na contramão do que ora questiono para o dia a dia de crianças e adolescentes estigmatizadas pelas estereotipias do racismo sofrido diuturnamente, recebi a aquiescência de Diretora sensível e fiel a princípios humanizadores e o consequente trabalho de reforço da autoestima de um bolsista para o enfrentamento às adversidades postas às crianças-adolescentes negros em argumentos como: peito erguido, olhos nos olhos, atitude cortês, usar a melhor roupa, regras de etiqueta, como educação complementar para representar a escola em proposta tecnicista de empregabilidade para menor – aprendiz. Como, também, até tal estágio da adolescência ficaram as coisas da fé e palavras-chave de lições diárias de mãe, que mesmo sem diplomas da educação formal conseguia transmitir a sapiência de aprendizado das regras da vida necessários ao convívio harmonioso com o lado bom ou o ruim do mundo, sem, entretanto, deixar de acreditar nas coisas do coração mesmo nos momentos mais difíceis.

A segunda etapa da educação básica foi momento de colocar em prática as lições da vida familiar e o apreendido da visão transcendental da Diretora na primeira etapa. Período de colocar em prática, por exemplo, estratégias de superação frente ao ruído de questões étnico-raciais interferindo em objetivos pessoais e a necessidade de não perder o foco e superar a insensibilidade humana para com um adolescente negro, de 15 anos, em ambiente corporativo de multinacional com presença de estrangeiros e entre estes aquele que me despertou para as diferenças da cor da pele e de quanto o assimilado de lições dos níveis  de educação anteriores contribuiu em respostas para o futuro do agora Pedagogo e o propósito em abordar na primeira pessoa tema tão relevante e, ao mesmo tempo, fora das pautas de deliberações mais profundas de causas e efeitos do valor da cor da pele no emocional de crianças e adolescentes afro-brasileiros em face do tema ainda ser tratado como tabu na educação como um todo.

Notícias dos Estados Unidos sobre a mobilização da população negra em protestos contra a morte de jovens afro-americanos; o genocídio da juventude negra brasileira; as leis anti-imigratórias na Europa; as questões de gênero da mulher negra mundo afora são alguns dos temas em que a descendência africana é colocada em cheque quanto à possibilidade do exercício da verdadeira cidadania; ou seja, o direito de ir e vir sem constrangimento, igualdade de condições nas várias dimensões da vida social, afetiva e laboral entre os muitos exemplos de impedimentos a uma qualidade de vida que não seja aquela abaixo da média quais passam aqueles fora do padrão referenciado pela mídia. Portanto, podem ser alocados nos casos emblemáticos de menos valia qual sofre o cidadão cuja epiderme não apresenta o padrão midiático simbólico de poder econômico, cultural e estético, mesmo com as devidas exceções. Logicamente que mudanças na lógica excludente reinante significam a busca de diálogo baseado em trocas relacionais sem qualquer tipo de distinção, ensejada na liberdade, dialogicidade e conscientização de teoria do conhecimento nascida de relações dialéticas consciência-mundo. Como reverter o quadro de invisibilidade de discurso orgânico com academicismo representativo de falas de grupos subjugados capazes de embate no plano das ideias, onde acontecem as verdadeiras mudanças? Assim sendo, mudanças nos espaços de poder apontam naturalmente ao legado de Paulo Freire, dado o seu caráter de relevante importância na atualidade, como referência para processos humanizadores de ser humano na sua incompletude e diz o quanto o diálogo é condição obrigatória da gênese do processo educativo; ou seja, “através de uma relação dialógica o ser humano se descobre e toma consciência de sua objetividade diante da vida” (AZEVEDO, 2010, p. 38).

Para Azevedo, a gênese ideológica de Paulo Freire, isto é, a percepção das fontes filosóficas que o grande educador Brasileiro bebeu, como por exemplo: Tristão de Atayde, Jaques Maritan e o neotomismo, o personalismo de Mounier, o existencialismo de Kierkegaard, a existência concreta de Marcel, a incompletude do ser humano de Heidegger, a relação dialógica de Karl Jasper, o neomarxismo de Eric Fromm e a educação como política, de Gramsci.  Os conceitos de Freire representam a busca de uma educação que visa a construção do conhecimento a partir da liberdade e da própria pessoa, provoca e convoca a todos para o caráter emergencial do diálogo das raças em nome de outro amanhã para as gerações vindouras.  Para Freire a educação é o caminho para libertar o homem oprimido dessa realidade desumanizante, desta coisificação, dessa situação de objetos, de menos para ser mais, isto é, adquirir a própria dignidade humana perdida, realizar a sua vocação histórica tornou-se o objeto principal e o ideal de luta (Jorge, 1999, p. 24 apud AZEVEDO, 2010, p. 38).palavras-chave2

Com certeza esse histórico de experiência e vivências com a educação não formal, informal e formal como educador social em projetos sociais e a licenciatura em Pedagogia orientou consciente e/ou inconscientemente a busca de conceitos e teorias de abordagens que determinaram modos de proceder buscando a aplicabilidade do conhecimento amealhado de informações das várias ciências que a auxilia. Assim como a compilação de dados de observações empíricas de pesquisadores debruçados sobre as questões étnico-raciais, contribuiu para responder muitas perguntas ao longo dos períodos de formação. Pensar na referência bibliográfica para perguntas já respondidas e na educação continuada para responder antigas e novas interrogações traduz de quanto o auxílio das ciências sociais em práxis fundada no estudo,  compreensão e aplicação teórico-conceitual  pode contribuir no entendimento e resolução de conflitos para interações sociais marcadas por fatores identitários como cor, raça, gênero, principalmente quando estas se dão em ambientes onde existe a falta de sensibilidade dissidente para atitudes adultocêntricas no tratamento com a criança-aluno negro.

Ao longo de anos e períodos de aprendizagens cumulativas na busca de respostas para muitas indagações a licenciatura em Pedagogia foi lugar de encontro com pressupostos teórico-conceituais imprescindíveis ao entendimento de fatos observáveis ou da complexidade biológica do ser humano produzido pelas ciências humanas para responder indagações sobre se estar no mundo e, nesse sentido a vasta leitura de material bibliográfico produziu respostas, tanto quanto perguntas novas como a transcrita de texto sobre dificuldades didático-pedagógicas no ensino de ciências sociais: A paixão pela busca de conhecimento não seria a melhor herança que a universidade poderia oferecer aos seus alunos?  A menção dessa interrogação se faz relevante porque representa o meu desejo de escrever na primeira pessoa sobre os motivos de buscar o embasamento do curso para responder as muitas perguntas em torno da educação de crianças e adolescentes egressos das classes operárias e as causas e feitos do fracasso escolar instalado na relação pedagógica destes. O encontro prazeroso com disciplinas que foram reveladoras na consecução de intencionalidade formativa para compreender, contextualizar, explicitar, exemplificar, aproximar teoria e prática em argumentação capaz de traduzir  objetivos em contribuir direta ou indiretamente em outras dinâmicas dessa relação por si só dizem de quanto o binômio cognição/emoção é fator preponderante para uma melhor qualidade na educação dessas crianças-adolescentes alunos da educação básica pública do país.

Como disciplina que instrumentaliza o aluno universitário para o entendimento de um projeto de pesquisa, a disciplina Pesquisa e Prática em Educação – PPE proporciona a acessibilidade às ferramentas para a análise da realidade concreta dos sujeitos da educação, por exemplo, e, assim, possibilita-nos vê-los segundo parâmetros do legado de observações fornecido pela consulta bibliográfica de pesquisadores consagrados como ponto de partida na compreensão de possíveis pormenores identificados na coleta de dados quando da ação para refutar, confirmar ou conformar novos conhecimentos sobre o objeto de conhecimento. Ter como princípio norteador dimensões humanas negativas ou positivas advindas de conhecimentos, já existentes, no histórico da humanidade significa estar no mundo constantemente em autoquestionamento para uma análise com as isenções necessárias a um exame imparcial da realidade recortada como objeto de estudo. O autor do texto em questão faz considerações sobre a Universidade proporcionar o desenvolvimento, pelos alunos, de ciências sociais, de um conjunto de habilidades intelectuais: aperfeiçoar a capacidade de leitura, de análise e síntese, de abstração, de imaginação e criatividade sociológica, de trabalhar em equipe, de compreender as razões dos outros, de reflexão e de disciplina intelectual etc. O autor, também, considera como efeitos quase inevitáveis desse processo de desenvolvimento de habilidades intelectuais, emocionais e sociais: a consciência crítica, o desenvolvimento da cidadania, visão humanística, a postura ética, o desenvolvimento da personalidade. Portanto, a pedagogia construtivista propõe que a educação consiste em fazer criadores, inventores, inovadores, não conformistas. O conhecimento é produzido pelo próprio sujeito que vai desenvolvendo a capacidade de compreender e reelaborar as ideias existentes. É na ação prática sobre o objeto do conhecimento que o indivíduo aprende a verdade.

RACIALISMO: O racismo científico

Buscar no livro de Frenette o seu entendimento de que o mundo é constituído por diferentes raças merece uma reflexão do trabalho de pesquisa sobre o histórico da humanidade a partir da gênese do racionalismo no século XVI, com a formação dos Estados Nacionais Europeus coaduna com o acima exposto de que cada um pode ser sujeito do seu conhecimento e, desse modo contribuir para a sua verdade e a verdade de outros. Para ele, é o momento em que começam a enfatizar as diferenças linguísticas e históricas internas até a expansão para terras ultramares das conquistas europeias. Uma corrente de historiadores entende as teorias iluministas como ponto de partida em que as doutrinas racialistas beberam na fonte e, assim, criaram as bases para as hipóteses raciais e construção do preconceito para com outras raças consideradas inferiores. Entre os enunciados iluministas da base fundante de correntes de pensadores que estabeleceram as teorias científicas que marcaram o século XVIII como o momento que definiu a diferença entre os homens como justificativa para as atrocidades e extermínio para com aqueles com características fenotípicas fora do padrão estético europeu, estabelecido como parâmetro classificatório homens e subespécies de homens. Entre os pensadores iluministas que consubstanciaram as inverdades refutadas pela biologia genética sobre o determinismo biológico está a adoção do pensamento de Voltaire, pelos racialistas, ao optarem pela tese poligenista como explicativa da submissão humana, 34 anos antes de Lineu dividir a humanidade em raças superiores e inferiores ao reforçar e legitimar o estatuto de cientificidade das considerações raciais do pensador iluminista e, assim, fornecer um modelo científico para a sua reificação. Modelo que pregava haver diferentes origens para o ser humano, dividindo-os em inferiores que não progridem, não desenvolvem talentos, nem sociedades; e superiores que consideram que as características intelectuais e morais de um dado grupo, são consequências diretas de suas características físicas ou biológicas.

A ideologia iluminista, interpretada segundo correntes na direção para concretização das promessas de igualdade com a efetivação dos direitos naturais e universais de todos  e na outra mão da via dupla do iluminismo o posicionamento daqueles que rejeitavam os princípios iluministas e propiciou o surgimento das teorias racialistas, divididas entre “poligenistas”6 e monogenistas pra explicar o surgimento da raça humana. Até então o racialismo não era ainda racismo, pois as diferenças biológicas ainda não eram consideradas definitivas para a evolução humana, pois o objetivo dos iluministas era encontrar um sistema de valores universais, que pudesse ser estabelecido para todas as raças. Foi na França do século XVIII que surgiram as traduções de pensamento que influenciaram a definição classificatória das raças em inferiores e superiores.

Com bases fundadas na argumentação em defesa da melhor explicação para a divergência quanto à origem do homem, os desdobramentos na busca de explicação plausível é onde pesquisadores da corrente evolucionista buscavam entender a história humana através de critérios físicos e biológicos, assim como o meio e a raça. A sua teoria baseava-se em dois modelos de pensamento: o lógico, do civilizado; e o pré-lógico, do primitivo. No entanto, mesmos os mais ferrenhos é capaz de admitir erros em sua ciência interpretativa tal como quando o observador é enganado pelo estilo do cabelo do sujeito, por exemplo, realizando então um procedimento inteiramente subjetivo, influenciado pelos preconceitos do interpretador, conhecimento prévio sobre o examinado etc. Carlos Lineu (1707-1776) buscou formular uma teoria científica sobre a divisão da humanidade em raças. Considerando o “pai da taxonomia genética”7, sugeria a divisão da humanidade em quatro raças, como um sistema de classificação humana. Para Silva (2006), o racionalismo, com os iluministas, definia raça como um grupo humano cujos membros possuíam características físicas comuns. Tal teoria voltou-se para a crença de que a raça não era apenas definida física, mas moralmente, bem como as diferenças psíquicas acarretavam diferenças mentais hereditárias. Assim a distinção do mundo em raças correspondia à divisão do mundo em culturas e o comportamento do indivíduo era definido pelo grupo social ao qual ele pertencia. . Entre as tradições que influenciaram a definição de raça como um sistema de classificação estava a Historia Natural, que daria origem no século XIX, a Antropologia Física, ciência responsável pelas teorias racialistas.

Criada, ainda no final do século XVIII, a frenologia influenciou muitos pensadores sociais, entre os quais o criador do Positivismo, Auguste Comte. Hoje, porém, desacreditada, pretendia as características psicológicas de cada raça com ba nas medidas e no tamanho do cérebro. Forneceu os fundamentos que influenciaram as teorias eugênicas sobre raças superiores nos séculos XIX e XX, assim como a medicina e a criminologia, que tem na obra do italiano Cesare Lombroso (1835-1909), por exemplo, sua maior influência. Lombroso, criador da Antropologia Criminal, defendia que a criminalidade era uma questão biológica e hereditária, e poderia ser identificada pela utilização da frenologia. Sucessora da frenologia, a craniologia, foi influente durante a era vitoriana para justificar o racismo, a colonização e a dominação de raças inferiores, tais como os “irlandeses” e tribos negras da África.  Classificados de acordo com o grau de prognatismo (um avanço relativo anterior do maxilar em relação à mandíbula) ou ortognatismo. Tipos raciais com tais características eram ditos prognáticos, tal como os macacos e chipanzés, de modo que eles eram considerados como sendo mais próximos a estes animais do que aos demais europeus com características físicas do anglo-saxão como parâmetro. O antropólogo britânico John Beddoe, por volta de 1885, desenvolveu o “Índice de Negrescência”, baseado no qual ele estudou os irlandeses como um tipo de raça branca africanóide ao comparar a similaridade crânia irlandesa ao do homem pré-histórico cro-magnon.

A antropometria institui a documentação das características de criminosos para propósito de identificação, a qual está em uso até os nossos dias. Entretanto, elas não foram usadas para a avaliação psicológica do criminoso. Na década de 30 a antropologia criminal do italiano Lombroso caracteriza maxilares, tamanho das mãos, detalhes faciais e muitos juízes ordenavam a realização de análises antropométricas lombrosinas dos réus em processos criminais, que posteriormente eram usados pela acusação em julgamentos. Outro parente da frenologia foi a tipologia inventada no século XX pelo psiquiatra alemão Ernest Kretschmer. Seu esquema para a classificação da personalidade era baseado no tipo físico e como eles eram correlacionados com características psicológicas básicas. Um uso infame bem conhecido da antropometria foi feito pelos antropólogos e médicos nazistas, os quais, no Ministério do Interior e no Burô para o Esclarecimento da Política Populacional e Bem-Estar Racial, propuseram a do crânio. “Nesse período a certificação craniométrica oficial tornou-se obrigatória por lei e era realizada por centenas de institutos e especialistas na Alemanha” (SEBBATINI, 1977).

Em meados do século XIX, o conceito de raça migrou das ciências naturais para as ciências sociais e humanas, Com a publicação de Charles Darwin, em 1859, o desenvolvimento da teoria evolucionista a partir daí o racionalismo ganha novas perspectivas como chamado “darwinismo social8 que lastreado nas novas teorias da evolução das espécies e na seleção natural armava não só a diferença de raça humana, mas a superioridade de umas sobre as outras. Período em que seres humanos eram e expostos à visita pública em zoológicos humanos. No final do século XX, estudos biológicos cada vez mais aderiram à hipótese de que não existem raças na espécie humana. Geneticistas de todo o mundo têm derrubado a crença de que se podem definir geneticamente as diferenças raciais na humanidade. Nas ciências sociais demoram mais para contestar esse conceito. Ou seja, rala existe como um discurso social e não como realidade psicológica. Para Silva (2006), essa percepção leva ao entendimento de que raça pode ser entendida como um qualitativo de desigualdade social ou de identidade cultural. A desqualificação dos critérios biológicos para a compreensão das diferenças entre os diversos grupos humanos historicamente separados por parâmetros naturais e biológicos representam a base explicativa de superioridade e inferioridade entre nações e grupos humanos.

Ao escrever a obra Descent of Man, and Selection in Relation (A descendência do homem e a seleção em relação ao sexo), em 1871, Charles Darwin, procurou estender também aos seres humanos os mesmos princípios da seleção natural tratados em sua obra origem das espécies (1859). Contudo, pensar que o ser humano pudesse descender de um animal inferior era geralmente considerado um abuso par a visão de mundo de uma Inglaterra vitoriana (Mayr, 1988, p. 691; Bowler, 1989, p. 22 apud DEL CONTI, 2008). Com o propósito de aplicar pressupostos da teoria de deu primo ao ser humano, Francis Galton (1822-1911), em 1833, reunindo expressões gregas cunhou o termo “eugenia” ou “bem nascido” (Black, 2003, p. 56 apud DEL CONTI, 2008). A partir deste momento, eugenia passou a indicar as pretensões galtianas de desenvolver uma ciência genuína sobre a hereditariedade humana que pudesse, através de instrumentação matemática e biológica, identificar os melhores membros – como se faria com cavalos, cães, porcos ou qualquer outro animal – portadores de melhores características, e estimular a sua reprodução, bem como encontrar os que representavam características degenerativas e, da mesma forma, evitar que reproduzissem (Stepan, 1991, p. 1 apud DEL CONTI, 2008). Como ciência da hereditariedade, a eugenia no final do século XIX ainda carecia de elementos mais sólidos, visto que as próprias teorias correntes até o final do século eram totalmente especulativas (Kevles, 2002, p. 3 apud DEL CONTI, 2008).

Influenciado pelo trabalho do “primo”, Charles Darwin, em seus estudos sobre pangênese, aceita até o século XIX para explicar a hereditariedade dos caracteres – inclusive dos adquiridos -, os conhecimentos produzidos da parceria entre os primos influenciou um grupo de indivíduos conhecidos como “biometristas”, preocupados em encontrar regularidades estáticas que pudessem indicar a prevalência de certas características em um dado conjunto populacional a partir das características que os progenitores e os seus ancestrais transmitiram à prole (Cowan, 1972, p. 512 apud DEL CONTI, 2008). Porém, somente com a chegada de outras duas teorias foi que a teoria da herança galtiana ofereceu um procedimento objetivo que, pela utilização de instrumental laboral e matemático/estatístico, pudesse identificar as unidades responsáveis por determinadas características e criar procedimentos de controle reprodutivo selecionadores das características que representariam o melhoramento genético do ser humano. A primeira contribuição veio do pensamento do inglês Herbert Spencer (1820-1903), que contribuiu com as noções de existência de um processo evolutivo teleológico, no sentido de uma direção progressiva a que tudo no universo estaria submetido, e de existência de unidades fisiológicas que registrariam as modificações, transmitindo-as às próximas gerações (Homes, 2000, p. 6-7 apud DEL CONTI, 2008). E, depois o reforço do trabalho do biólogo alemão August Wieman (1834-1915), ao diferenciar as células somáticas das células germinativas, contribuiu no sentido de reservar somente aos processos biológicos a possibilidade de transmissão de características. As mudanças ocorriam no soma (corpo) e não incorporadas ao material genético não poderiam ser transmitidas à nova geração (Bowler, 1989, p. 251 apud DEL CONTI, 2008). Para Galton, a união regulamentada cientificamente, assim como a seleção do preconceito dos nossos dias, seria o aspecto da vida social através do qual se poderia estabelecer uma linha demarcatória em relação aos diferentes tipos de pessoas. Com isso, poder-se-ia não somente discriminar espaços sociais, mas também estabelecer um programa de intervenção como propósito se estabelecer quis características seriam científica e politicamente favorecidas. 

FULVIA ROSENBERG: É preciso mais negros na universidade para ampliar seu espaço social 

A professora e pesquisadora Fúlvia Rosenberg em entrevista sobre a falta de negros nas universidades, e como ações afirmativas contribuem em desvelar alunos com maior mérito acadêmico para assentar os cursos de pós-graduação, por exemplo. Ao questionar o “racismo institucional” da sociedade brasileira em entrevista concedida ao Jornal Opção, após participar de mesa-redonda no segundo Simpósio de Ciências Sociais, promovido pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás, em resposta a uma questão sobre cotas e ações afirmativas cita, por exemplo, a falta de mecanismos para a permanência daqueles que conseguem terminar a escola pública e passar pelo filtro da universidade e a ausência da diversidade de suas experiências de vida e olhar de sua formação nos movimentos sociais e que é um desafio para a universidade, por conta das experiências de vida e de olhar que têm para as questões sociais e políticas. Para Fúlvia, a ação afirmativa não é sobre a cor da pele, mas, sim de uma universidade de experiência de vida que trás novidades para este espaço de poder. Diz ela: é muito fácil ser competente entre quatro paredes, sem desafios. Mas a minha competência aumenta consideravelmente se eu balanço os conhecimentos estabelecidos. Logicamente que o posicionamento da pesquisadora está atento à oposição natural para colocações que ferem a ordem natural estabelecida de tratamento acadêmico para temas polêmicos, mesmo que por caminhos com a necessária consistência acadêmica em sustentar contraposições pautadas em academicismo capaz de abordagens que possibilitam aproximações mais realísticas na observação de aspectos do fenômeno em estudo pelo que a mesma natureza do observador pode inferir se descontado o rigor científico e a isenção metodológica, diferentemente do produzido segundo fontes abstratas de referente bibliográfico ou deduções nascidas fora da concretude sobre a qual se está produzindo conhecimento.

Para Rubens Alves, a primeira tarefa da educação é ensinar a ver.  Ou seja, desenvolver habilidade e sensibilidade sobre o sentido das palavras e nos ensinar a ver melhor o mundo e as questões da ideologia dominante no oculto e no explícito em técnicas e procedimentos envolvidos nas situações didático-pedagógicas, filosóficas e políticas de planejamento curricular, onde se cumpre a base comum e se elege o que é relevante ou o que deve ficar fora da parte diversificada, como instrumento poderoso de constituição de realidades educacionais ao conceber, selecionar, produzir, organizar, institucionalizar, implementar, dinamizar saberes, crenças, atitudes, conhecimentos, atividades, competências e valores configurados por processos e construções constituídos na relação com o conhecimento eleito como formativo, ideologicamente organizados, orientados e, ao mesmo tempo, ferramenta de empoderamento político-social. Nesse sentido, educação é um conceito amplo que se refere ao processo de desenvolvimento omnilateral da personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas, físicas, morais, intelectuais, “estéticas”, tendo em vista a orientação da atividade humana na sua relação com o meio social, num determinado contexto de relações sociais.

Na disciplina de PPE, aprendi que toda pesquisa não é um fim em si mesmo ou nas considerações finais. Assim sendo, o trabalho de pesquisa, mesmo que cumprido todos os passos necessários reafirmar ou estabelecer um novo paradigma, deixa em aberto espaço para outros questionamentos e respostas não percebidos ou explícitos para estudos posteriores devido a questões técnicas que cercam a construção de um trabalho de pesquisa acadêmico, como: respeito ao número de laudas impossibilitando o desenvolvimento a contento de posicionamento sobre determinada característica do objeto do conhecimento. Quando nas primeiras correções de construção da Monografia ou Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, – “O olhar do professor sobre o aluno pode construir e determinar a sua trajetória escolar negativa ou positiva?” -, ao fazer referência sobre possível causa do fracasso escolar, a professora orientadora solicitou mais  clareza sobre o escrito do entendimento de como se dá o fracasso escolar consequente de interferências da questão racial na psique da criança negra, principalmente para meninos negros nos primeiros anos da educação básica pública. Como exemplo citei “Carta da pesquisadora afro-brasileira Eliane Cavalleiro“, endereçada ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República Brasileira, sobre a mão do Estado a fragilizar a vida emocional e psíquica da criança negra, propiciando uma educação que enseja uma violência simbólica, quando não física, contra elas no ambiente escolar. Trazer, a posteriori,  referências de responsabilidades à privá-los de uma maior dedicação aos estudos pode ser entendido pelas  lentes de Arroyo (2011), quando o autor descreve fatos do cotidiano comunitário fora do alcance do olhar professoral incapaz de superar os limites estabelecidos pela relação pedagógica a negligenciar a possibilidade de traduzir em potencialidades intelectual os recursos cognitivos engendrados por crianças e adolescentes “na luta diária  por sobrevivência, que por si só desmistificam a falta de vontade e não cabem na imagem infantilizada sobre suas vivências e experiências antecipadas em afazeres da vida adulta para mentes e vontades tão infantis fora da relação pedagógica na educação básica da escola pública”.  Certamente o livro Imagens Quebradas – Trajetórias e tempos de alunos e mestres, de Miguel Arroyo, poderá ser esclarecedora a leitura do Capítulo 2, com o subtítulo “Outro olhar sobre o educando”, entre outros subtítulos e títulos de como se dá a relação pedagógica docente versus discente nos dias atuais e os muitos relatos da atitude agressiva de aluno para com o professor.

Para Arroyo (2011), se os professores exigem que os alunos respeitem a imagem dos mestres, estes também terão de começar por rever a imagem que se fazem dos alunos educando. Como os vemos? Que sabemos de suas trajetórias humanas? Como vivem os seus tempos? Se reconhecermos que os alunos (as) não são os mesmos teremos de perguntar-nos como são, como os sentimos. As respostas a estas questões não são de cada professor (a), são dos coletivos profissionais. Dessas respostas dependerá como interpretaremos suas condutas, como equacionaremos nossa docência. A seguir algumas interrogações transcritas da obra de Arroyo (2011, p. 58) a partir de menção de material escrito em seus cadernos de anotações com depoimentos obtidos em interações diversas com grupos de professores: Um grupo constatou que recentemente que recentemente o olhar é menos escolar e mais social, até mais moral. Os nomes mais frequentes são: alunos violentos, marginais, drogados….Uma imagem que reflete uma inferioridade social e moral. Uma professora impressionada comentou: “que visão tão negativa!”. Houve consenso: esses nomes, adjetivos e classificações revelam que no imaginário escolar e docente paira uma visão bastante negativa dos alunos. Perguntei se alguém lecionava na escola privada, se a visão dos alunos era a mesma. O debate foi bem acalorado. A visão é proporcional ao grau de carência do discente, isto é, quanto mais pobres são as comunidades e as famílias, maior é a negatividade do olhar docente. A visão tão negativa que as elites têm do povo teria moldado o imaginário escolar e docente? Essa pergunta resultou bastante incomoda. De fato ninguém do coletivo pertencia às elites. Muitos (as) sabiam que eles mesmos vinham de famílias populares ou bem próximas. Aí que a pergunta resultava incomoda: como reproduzir um olhar tão negativo sobre os alunos populares estando tão próximos na sua origem e nos seus salários? Compartindo com muitos deles a condição social? Apenas reproduzimos uma visão negativa que faz parte da cultura escolar e docente? Talvez, mas as consequências podem ser desastrosas para nós e, sobretudo, para as crianças, adolescentes, jovens e adultos populares com que lidamos.

Nesse sentido Arroyo (2004, 2011) é fonte inesgotável de experiências sociais identificadas com a racionalidade contra cultural de coletivos docentes com olhares diferenciados para cultura, classe, raça, conhecimento. Ao escrever esta postagem posso fazer a complementariedade explicativa impossibilitada por normas textuais, mas que a condição do trabalho de pesquisa não ser um fim em si mesmo permite partilhar, a posteriori, supressão do texto de pensamento transcrito de leitura do livro Preto e branco, a importância da cor da pele. A contribuição de Frenette (2000), tem prefácio do cantor Lobão, que ao falar sobre a obra escreve: […] o autor golpeia uma cultura sub-réptica e velada, e chega, assim, à raiz de um racismo amornado por séculos de miscigenação através da subjugação e da violência. Esse trabalho de arqueologia emocional e psicológica é o fio condutor do livro, e evidencia, de forma dolorosa e contundente, que todos nós – de uma maneira ou de outra – fazemos parte dessa história vergonhosa. “O que vem a tona é um sentimento de que ninguém é totalmente inocente.” Na narrativa do livro, o autor relata o aprendizado da primeira infância, que chama de curso básico de racismo e o desenvolvimento da limitação mental a impedir de ver seus colegas negros além da cor de suas epidermes. Assim, ao mesmo tempo em que se tornava prisioneiro da própria mediocridade, a qual era diariamente insuflada pelos adultos que deveriam estar lhe educando para a paz e para a solidariedade. “Forçava as crianças negras a minha volta a se aprisionarem em seu mundo de incompreensão”. “Gostávamos de ter sempre um pretinho por perto para nos sentirmos melhor do que ele”.Mais de uma vez, em minha duvidosa inocência infantil fiquei contente em perceber que tinha ferido a autoestima de uma criança negra”. Inconscientemente mostrava aos adultos que estava aprendendo direito a arte da discriminação. Arte que eles dominavam à perfeição, e que se esforçavam magnificamente para passa-la a contento para suas crianças (FRENETTE, 2000, 22-23).

Assim como a citação de carta endereçada ao Excelentíssimo Presidente no corpo do texto, a menção, a posteriori, de trecho do livro de Arroyo (2011), outra possível resposta suscitada no trabalho monográfico seria a do subtítulo “Vidas Brancas” a respeito de como acontece “a devastação psicológica que leva às crianças negras ao autoquestionamento e rejeição das características negroides devido aos séculos de imposição de padrões de beleza europeu”.  Também na concepção de Frenette, a beleza, a despeito de sua relatividade, é um instrumento de comparação; um valor fundamental em qualquer cultura. A beleza confere uma inquestionável dignidade ao seu portador. Por isso, desde tempos remotos, sabe-se que toda dominação de uma raça ou etnia deve trazer, no meio de seu aparato repressivo um processo de aviltamento do subjugado que passa, necessariamente pela depreciação estética. Foi da utilidade prática dessa constatação que surgiu, a partir do período dos “grandes descobrimentos”, a necessidade de o mundo branco europeu afirmar ostensivamente a “feiura” física e moral do negro. Tornado peça fundamental de uma economia alicerçada no comércio e tráfico de escravos, foi vetada ao negro a possibilidade de ser considerado belo. Enquanto, por outro lado, os eclesiásticos afirmavam que preto não tinha alma, impedindo-o de alcançar essa coisa altamente questionável chamada “beleza interior”, por outro, a sociedade laica europeia completava o trabalho desmerecendo a cor da pele e os traços físicos dos escravos, suas manifestações culturais, religiosa e artística. Esse discurso de estereotipia aportou em nossas terras quatro décadas após nosso descobrimento; época do início da estruturação civil e econômica do Brasil. Em todo esse período colonial, essa desestruturação emocional do subjugado se fez tão necessária como a repressão física e o controle social, pois ela aliviava a consciência do dominador, na medida em que se convencia de estar oprimindo seres inferiores em cultura, inteligência, espiritualidade e em beleza. ‘Era o “belo europeu” dominando a “fera africana”’ (Ibidem, p. 59-60).

PERCEPÇÃO DA DIFERENÇA – Negros versus brancos na escola

A relação entre negros e brancos da nossa pseudodemocracia racial é o tema na coleção Percepção da Diferença. Negros e Brancos na Escola, composta dos seguintes volumes:

1 – Percepções da Diferença – Autora: Gislene Aparecida dos Santos Neste volume são discutidos aspectos teóricos gerais sobre a forma como percebemos o outro. Para além de todas as diretrizes pedagógicas, lidar com as diferenças implica uma predisposição interna para repensarmos nossos valores e possíveis preconceitos. Implica o desejo de refletir sobre a especificidade das relações entre negros e brancos e sobre as dificuldades que podem marcar essa aproximação. Por isso é importante saber como, ao longo da história da humanidade, construiu-se a ideologia de que ser diferente pode ser igual a ser inferior.

2 – Maternagem. Quando o bebê pelo colo – Autoras: Maria Aparecida Miranda e Marilza de Souza Martins Esse volume discute o conceito de maternagem e mostra a sua importância para a construção da identidade positiva do bebê e das crianças negras. Esse processo iniciado na família, continua na escola por meio da forma como a professora e educadores da educação tratam as crianças negras, oferecendo-lhes carinho e atenção.

3 – Moreninho, neguinho, pretinho. Autor: Luiz Silva – Cuti Esse volume mostra como os nomes são importantes e fundamentais no processo de construção e apropriação da identidade de cada um. Discute como as alcunhas e os xingamentos são tentativas de “desconstrução/desqualificação” do outro, e apresenta razões pelas quais os professores devem “decorar” os nomes de seus alunos.

4 – Cabelo bom. Cabelo Ruim: Autora: Rosangela Malachias Muitas vezes, no cotidiano escolar, as crianças negras são discriminadas negativamente por causa do seu cabelo. Chamamentos pejorativos como “cabeça de fuá”, “cabelo pixaim”, carapinha, são naturalmente proferidos pelos próprios educadores, que também assimilaram estereótipos relativos à beleza. Neste volume discute-se a estética negra, principalmente no que se refere ao cabelo e às formas como os professores podem descobrir e assumir a diversidade étnico-cultural das crianças brasileiras, principalmente s negras.

5Professora, não quero brincar com aquela neguinha! Autoras: Roseli Figueiredo Martins e Maria Letícia Puglisi Munhoz Esse volume trata das maneiras como os professores podem lidar com o preconceito das crianças que se isolam e se afastam das outras por causa da cor/raça.

6 – Por que riem da África? Autora: Dilma Melo Silva Muitas vezes crianças bem pequenas já demonstraram preconceito em relação a tudo que é associado à África: música, literatura, ciência, indumentária, culinária, arte…culturas. Neste volume discute-se o que pode haver de preconceituoso em rir desses conteúdos. Apresentam=se ainda elementos que permitem uma nova abordagem do tema arte e africanidades em sala de aula.

7 – Tímidos ou indisciplinados? Autor: Lúcio Oliveira Alguns professores estabelecem uma verdadeira díade no que diz respeito á forma como enxergam seus alunos negros. Ora os consideram tímidos demais, ora indisciplinados demais. Neste volume discute-se o que há por trás da suposta timidez e da pretensa indisciplina das crianças negras.

8 – Professora, existem santos negros. Histórias de identidade religiosa negra. Autora: Antônia Aparecida Quentão Neste volume se discutem aspectos do universo religioso dos africanos da diáspora mostrando a forma como a religião negra, transportada para a América, foi reconstituída de modo a estabelecer conexões entre a identidade negra de origem e a sociedade à qual esse povo deveria se adaptar. São apresentadas as formas como a população negra incorporou os padrões do catolicismo à sua cultura e como, por meio deles, construiu estratégias de resistência e de manifestação de sua religiosidade.

9 – Brincando e ouvindo histórias. Autora: Sandra Santos Este volume apresenta sugestões de atividades, brincadeiras e histórias que podem ser narradas às crianças da educação infantil e também aspectos da história da diáspora africana em território brasileiro, numa visão diferente da abordagem realizada pelos livros didáticos tradicionais. Mostra o quanto de contribuição africana existe em cada gesto da na população nacional multiétnica como exemplos de ações, pensamentos, formas de agir e de observar o mundo. Serve não só aos educadores no ambiente escolar, Mas também ao lazer doméstico, no auxílio de pais e familiares interessados em ampliar conhecimentos e tornar mais natural as reações das crianças que começam perceber a sociedade e o seu papel dentro dela.

10 – Eles têm a cara preta. Vários autores Esse exemplar apresenta práticas de ensino que foram partilhadas com aproximadamente 300 professores, gestores e agentes escolares da rede municipal de educação de São Paulo. Trata-se da Formação de Professores intitulada “Negras Imagens”. Educação, mídia e arte: alternativas à implementação da lei 10.639/03, elaborada e coordenada por pesquisadores do NEINB/USP simultânea e complementarmente ao projeto Percepções da Diferença. Negros e brancos na Escola.

DEMOCRACIA RACIAL: Racismo à brasileira?

Em concordância com as palavras de Frenette, o abordado na coleção acontecerá quando a criança deixar a proteção do interior de sua casa e de sua família, para ir se socializar em escolas em que a maioria das crianças e do corpo docente – quando não a totalidade – é branca. E, por serem brancos, além de despreparados, seus professores acabam sendo insensíveis aos problemas de ordem racial que esperam pelo (a) pretinho (a) no ambiente escolar. Esses condutores do saber veem o mundo ao seu redor a moda do sistema óptico da rã, que só capta imagens daquilo que está em movimento ostensivo diante de seu campo visual. “Para as rãs, imobilidade significa inexistência” (Ibidem, p. 62). E caso a criança vitimada resolva desabafar, ao voltar indignada e magoada das injúrias do recreio, esbarrará de novo na implacável figura do “professor rã”: sujeito estatutário, míope às matizes epidérmicas, armado de perigosos livros didáticos e, totalmente alheios aos problemas das cores. Das suas rememorações como profissional de educação, o jornalista narra fatos que agravam ainda mais o quadro da madorra moral e intelectual do professor alienado e entra no terreno minado que é o período de florescimento da sexualidade da criança corresponder ao período escolar. É justamente nesse ambiente que a criança-adolescente negra vai querer exercitar seus novos sentimentos. Ela vai perceber, então, que sua cor também é um empecilho para a vida amorosa e o primeiro beijo. Consequente da intrínseca relação beleza, cor da pele, autoestima, o autor cita, e ao mesmo tempo responde a justificativa, já mencionada, do TCC quanto aos danos psicológicos na psique da criança negra quando relata o desabafo de meninos (as) ofendidos que dariam tudo para mudar a cor da pele, assim como meninas choram histericamente ao ouvir, em tom de conciliação, a afirmação de que ela é mesmo preta, e não branca. “Tinha uma menina que adorava colocar um pano na cabeça, prendê-lo atrás das orelhas, e fazer aquele movimento característico de quem está jogando os cabelos para trás” (Ibidem, p. 63).

Por tudo isso, vê-se que o discurso de“fealdade negra”10  dentro da questão racial brasileira não é uma invenção acadêmica, fruto de um exercício intelectual estéril, mas uma realidade muito desagradável e perniciosa que dificulta o surgimento, nos negros atingidos, de um elemento fundamental para uma vida emocional sadia: amor por si próprio. Nesse sentido, fica a lição do orgulho afro-americano, nos Estados Unidos da década de 60, onde surge a nova ideia de que negro também é belo – Black is Beautiful -, contrariando os modelos propostos pelos filmes de Hollywood, começa a ser propagada pelo país através de um estilo próprio dos negros se vestirem e se pentearem e, sobretudo, no mundo das artes. Uma das ações emblemáticas desse movimento foi a transformação de garotas de rua em artistas para o Dance Theater of Harlem, por Arthur Mitchell ao fundir os passos do balé europeu ao som de tambores africanos. Jovens afro-americanos adotaram nomes de origem africana e vestiram um tipo de indumentária chamada “dashiki” ou bata africana. Tornou-se popular um estilo de cabelo chamado “afro” ou “black power”, que foi usado até por jovens brancos, encantados pela novidade exótica. De repente, o slogan mais ouvido nos EUA foi “black is beautiful”.

Todo povo elege os temas de sua história que são especialmente comprometedores e complexos e, após esta eleição, os transforma em tabus, desenvolvendo mecanismos de defesa contra indivíduos e grupos minoritários que queiram arrancar – para efeito de pesquisa e compreensão do problema, e busca de possíveis soluções – os encardidos curativos que tampam as feridas do passado. O corpo social, na ânsia de paz e tranquilidade, reorganiza e revaloriza suas experiências coletivas (e também suas esperanças) a partir de um encobertamento das realidades mais desagradáveis. É por isso que o Brasil, o último país do mundo a abolir a escravidão, ainda nega a questão racial o status de questão nacional. No plano individual essa operação psíquica de fuga é denominada pela psicanálise de “Unterdrückung”; “forçar para baixo”, “empurrar para o subsolo”. No entanto, segundo Frenette, o custo do alívio psicológico de empurrar o problema para debaixo do tapete é ter de distorcer violentamente a nossa própria percepção de realidade. Ao fazer vista grossa para o racismo, e ao formular as mirabolantes explicações pseudo-sociológicas para permanências na crueza do preconceito racial, a sociedade brasileira está apenas retardando o reconhecimento de uma verdade inquestionável: a existência de muitos milhões de brasileiros brancos que detestam os negros e que preferem um negro morto de que conviver com a presença negra fazendo parte da brancura de suas famílias.

Por trás dessas ideias, meados do século XIX (1853), o Conde francês Joseph Arthur de Gobineau, Em sua obra Essai sur linégalité de races, (Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças Humanas), publicada em quatro volumes, em 1853, considerada a “bíblia do racismo moderno”, e que deflagrou a era do chamado racialismo ou racismo científico. Ele elaborou uma teoria classificatória da humanidade, onde a raça ariana ocupava o topo da hierarquia social. Os miscigenados, por não serem puros de sangue não teriam ordenação na sua teoria, eles seriam inclassificáveis pela ambivalência. Assim sendo, não havia como criar critérios para se classificar, nomear e ordenar com cientificidade a mestiçagem.  Ministro da França no Brasil e “conselheiro” de D. Pedro II, Gobineau via o Brasil como um país sem futuro devido a grande quantidade de pretos e miscigenados. Defendia que o país precisava branquear (se livrar dos negros). Brancura perseguida como caminho para disfarçar o complexo de pertencimento aos povos do mundo novo e, portanto, classificado segundo o racialismo ou racismo científico em estágio civilizatório pré-lógico. As ideias racistas do conde francês culminaram com a eugenia e a tese nazista/facista de superioridade ariana, e influenciaram a nossa intelectualidade nacional do século XX. Da articulação entre intelectuais racistas e aliados políticos criou-se as bases que conduziram a “Política Nacional de Embranquecimento”, com a imigração europeia, japonesa e uma abolição da escravidão feita de forma a empurrar a população negra para às margens das estradas, mantendo-a em condições de extrema pobreza até que se extinguissem devido à mortalidade infantil, desnutrição, doenças, mazelas sociais e também através de sucessivas miscigenações (Fernandes, 1978ª, p. 255-256 apud TAVOLARO, 2013, p. 22).

Será que os eventos da pós-abolição da escravidão em 1888 representou realmente um avanço rumo a uma democracia racial, ou foi apenas um ato da manobra política para tirar a população negra liberta do ônus do Estado brasileiro, pois a doutrina da democracia racial isentava a política do estado ou o racismo informal de qualquer responsabilidade adicional pela situação de abandono deste contingente populacional, e até mesmo colocava esta responsabilidade diretamente nos ombros dos próprios afro-brasileiros. Se os negros fracassaram em sua ascensão social, isso evidentemente foi por sua própria culpa, pois essa sociedade não reprimiu ou obstruiu de modo algum o seu progresso. Ou seja, a realidade de pobreza e marginalidade dos negros não era vista como uma refutação da ideia de democracia racial, mas sim como uma confirmação da preguiça, da ignorância, da estupidez, da incapacidade etc., o que impedia ao negro de aproveitar as oportunidades a ele oferecidas pela sociedade brasileira. Em suma, “o restabelecimento da ideologia da vadiagem” (Andrews, 1988, p. 209-210 apud TAVOLARO, 2013). O autor contra argumenta o pensamento de Florestan Fernandes sobre a democracia racial pós-abolição ao questionar o pensamento de que com esse feito o Brasil passou a ser uma terra sem impedimentos legais e institucionais para a ascensão social do negro porquanto da igualdade racial, onde o preconceito e as discriminações são reduzidos. Sustenta-se que há igualdade de oportunidades, podendo o negro disputar de iguais condições com os demais cidadãos o ingresso aos bens sociais e matérias (essa enunciação da democracia racial por Florestan Fernandes, O mito da democracia racial, citado por George R. Andrews, Negros e Brancos em São Paulo (1888-1988), Bauru, EDUSC, 1988, p. 203).

Para consubstanciar o seu entendimento Andrews busca explicação no posicionamento de intelectuais como Sergio Buarque de Holanda e Francisco Weffort e o argumento de que tal política racial é uma integração aos equívocos da própria experiência republicana. A partir da leitura de obra do historiador brasileiro, após a queda da República, o mesmo resumiu a experiência republicana da democracia racial no Brasil como sendo sempre um lamentável mal-entendido, por entender esse movimento como uma tentativa da aristocracia rural e semifeudal, ao importar as teses racistas do século XIX, em acomodar, onde fosse possível, os seus direitos e privilégios. A essa tentativa de acomodação o cientista político Francisco Weffort descreve como um “legado de equívocos”, em que a hierarquia e o privilégio eram defendidos em nome da democracia e da igualdade. O conceito de democracia racial reflete ao mesmo tempo esse legado de equívocos e é parte integral dele. Resumindo: A República tanto estabeleceu o ideal de participação política democrática quanto negou na prática; a democracia racial desempenhou um papel similar a hierarquia racial, justificando e defendendo a realidade da desigualdade social ao invocar o oposto. Estava claro para todos que os negros continuavam a ocupar uma posição rebaixada e subordinada na sociedade brasileira.

Florestan Fernandes elenca as três formas da utilidade prática do mito: Primeiro Mito: atribui a incapacidade ou a irresponsabilidade do negro os seus dramas humanos entendidos pelos dois pensadores como caminho para justificar os índices insofismáveis de desigualdade econômica, social e política na ordenação das relações sociais. Segundo Mito: isenta o branco de qualquer obrigação, responsabilidade ou solidariedade moral de alcance social ou de natureza coletiva perante os efeitos sociopáticos da espoliação abolicionista do negro e do mulato. Na interpretação de Andrews a nossa democracia racial é um arranjo para a perpetuação da desigualdade racial e social. Terceiro Mito: Revitaliza a técnica de focalizar e avaliar as relações sociais entre negros e brancos através de exterioridades ou aparências dos ajustamentos raciais, formando uma consciência falsa da realidade racial brasileira. Essa técnica não teve apenas utilidade imediata, pois as condições necessárias para sua exploração prática foi implantou de tal maneira que se configurou como elo em duas épocas sucessivas da história cultural das relações étnico-raciais na cidade. Em consequência também concorreu para difundir e generalizar a consciência falsa da realidade racial, suscitando todo um elenco de convicções etnocêntricas. O pensamento reinante sobre o negro e a não existência de problemas de justiça social, excetuando-se o que foi resolvido pela revogação do estado servil e pela universalização da cidadania “pressupõe que o corolário segundo o qual a miséria, a prostituição, a vagabundagem, a desorganização da família etc., seriam efeitos residuais transitórios a serem tratados pelos meios tradicionais e superados por mudanças qualitativas espontâneas” (Torres, 1956, op. cit. P. 96 apud TAVOLARO, 2013).

“Essa situação de abandono condenara o negro a eliminação no mercado competitivo de trabalho ou, no mínimo, ao aviltamento de sua condição conduziu-o ao desajustamento econômico, à regressão ocupacional e ao desequilíbrio social.” (Fernandes, 1978ª, p. 42-32 apud TAVOLARO, 2013, p. 21). Tal pensamento sobre a presença negra na sociedade brasileira manteve-se hegemônico até os anos 30. Mesmo com os pressupostos do discurso intercultural, o reflexo de tais ideias racistas continua influenciando políticas oficiais discriminatórias por um bom tempo. No Decreto-Lei 7967/1945, cuidando da política migratória, dispôs que o ingresso de imigrantes dar-se-á tendo em vista a necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as características mais convenientes de sua ascendência europeia. Prova cabal dos reflexos dessa política de embranquecimento da população no passado, com desdobramentos na relação social nos nossos dias, é o resultado do trabalho de pesquisa junto às penitenciárias brasileiras, e notícia veiculada no jornal Causa Operária, coluna Opinião, em 23/11/2014. A matéria assinada por Luiz Carlos Valois Juiz de Direito, Mestre e Doutorando em Direito Penal pela Universidade de São Paulo – USP, membro da Associação Juízes para a Democracia e da Law Enforcement Against Prohibition – LEAP, Associação de Agentes da Lei Contra a proibição das Drogas, ao pesquisar processos por tráfico de drogas pelos fóruns do país, recentemente esteve em Porto Alegre e duas coisas o deixaram bastante intrigado. A primeira é a posição dos promotores de justiça no exercício da atividade de acusação aos narrar o fato criminoso na denuncia. Chamou-lhe a atenção o costume estranho de anexar as fotos dos acusados em todas as denúncias. Segundo o juiz, estranho porque o que se deveria julgar é apenas o ato e não a pessoa, sendo que a figura daquele cidadão a ser julgado pode exercer influência desnecessária no processo. Como exemplo cita o professor Salomão Shecaira, da USP, conta em seu livro Criminologia, que um juiz napolitano conhecido como conhecido como Marquês de Moscardi, julgava os seus réus com base na aparência e, assim, teria criado a regra de que “na dúvida entre dois presumidos culpados, condena-se o mais feio”. Porém, a segunda coisa que o intrigou se apresenta mais séria.

O Rio Grande do Sul é conhecido pela predominância de pessoas brancas, algumas louras de olhos claros, sejam pela imagem exposta pela mídia, numa simples busca no Google, e é esta a impressão também quando chegamos ao Fórum ao prestar atenção no entra e sai de advogados. Ate ai tudo bem, pois a nossa colonização se deu de forma realmente diferenciada, mas ao olhar as fotos juntadas nos processos pelos promotores tive um susto: a maioria esmagadora dos acusados é negra. Prossegue ele: O racismo no Brasil sempre foi de intricada definição, encoberto por muitos e dissimulado por grande parte da população, e eu precisaria ir à Porto Alegre para constatar que q guerra ás drogas e o Direito Penal como um todo tem servido como forma de “apartheid”. Basta entrar em qualquer penitenciária brasileira para se perceber o contraste entre a cor da pele dos encarcerados e a cor da pele dos que estão nos shoppings. Contudo, nunca é fácil comprovar isso com estatísticas. Muitos são fichados, catalogados como brancos, mas são morenos, mulatos. Nos processos que pesquisei isso acontecia também, pois alguns eram visivelmente negros e constavam na denúncia como brancos. Posso até estar sendo injusto com os promotores gaúchos, porque eles podem muito bem estar querendo mostrar justamente o racismo dos policiais que prendem mais negros do que brancos, certamente com maioria negra, como traficantes de droga, embora nada leve à conclusão da existência dessa crítica sócia nas denúncias. De qualquer forma, o péssimo hábito do Ministério Público de Porto Alegre acabou ajudando em minha pesquisa, porque cada vez fica mais claro que a guerra às drogas está a permitir uma discricionariedade enorme ao poder de polícia, ao poder da polícia da rua. “A guerra às drogas é racista”. Talvez não precisemos de mais estatísticas. Negros pobres são traficantes. Enquanto brancos ricos são soltos como usuários, tudo com base no julgamento feito na rua e ratificado pelo Poder Judiciário.

Para finalizar fica a reflexão de quanto ainda prevalecem as técnicas do passado escravocrata, engendradas para que os afro-brasileiros libertos permaneçam sob a égide das fatalidades do destino e suas amarras impossibilitando-o de apropriar-se do modelo diaspórico afro-americano como espelho de ideal de luta para pretensões libertas em sentido amplo da palavra ou, reconhecer verdades nas palavras de Florestam Fernandes quando diz: Os efeitos culturais e psicossociais do abandono pós-abolição foi totalmente desfavorável ao negro porque uma vez destituídos da autonomia social os negros teriam continuado a se perceber através das lentes e expectativas dos brancos. Além disso, o fato dos padrões de relações raciais elaborados sob a égide da escravidão e da dominação senhorial terem se perpetuado na sociedade de classes, sem que esta última trouxesse qualquer ameaça à posição do branco na estrutura de poder, impediu o florescimento de uma modalidade de resistência aberta, consciente e organizada, que colocasse negros, brancos e mulatos em posições de luta (Fernandes, 1978a, p, 250 apud TOVOLATO, 2013, p. 21). Ademais, a persistência da extrema desigualdade social (própria do regime escravocrata) em sua sociedade republicana (formalmente pautada na igualdade jurídica) engendrou um dos mais poderosos mitos modernos: o mito da democracia racial. Fazendo uso prático da ideologia da democracia racial e seus mecanismos de despolitização da massa negra, a permanência destes na base da pirâmide se sustenta no discurso que dá às desigualdades raciais uma roupagem de diferença de classe e quando não desmobilizar, a de isolar os negros politicamente. Ao se referir aos movimentos de protesto negro do início dos anos trinta como caso ilustrativo de tal isolamento, Hasenbalg, afirma que: “Esses movimentos ou se defrontavam com a indiferença dos brancos ou então eram condenados como expressões de ‘intolerância e racismo negro que ameaçavam a paz e a ordem social’” (Hasenbalg, 1979, p. 244 apud TOVOLARO, 2013, p. 23).

É, também, de Lilia Gonçalves Magalhães Tavolaro, para a Revista Pesquisas e Debates em Ciências Sociais, da Universidade Federal de Goiás – Sociedade e Cultura -, com o título: Raça, classe e cultura no contexto das políticas de ação afirmativa: um esforço teórico-prático a respeito da raça, o texto em que a autora se propõe a discutir três questões caras ao debate sociológico em torno das chamadas “questões raciais” e, de algum modo, retomadas no contexto da implementação das políticas de cotas no Brasil: a relação entre raça e classe; a interface de raça com cultura/etnia; e o status de raça como categoria social e conceito analítico. Nesse sentido, em suas considerações finais, a socióloga afirma que qualquer experiência fenomenológica é capaz de atestar a força do racismo na sociedade brasileira contemporânea, experiência esta que se confirma a cada dado estatístico referente à enorme desvantagem dos negros no que tange à sua posição socioeconômica, bem como o seu acesso à educação, saúde, emprego etc. Trata-se de uma ordem racista pautada na ideia de que pessoas com uma determinada aparência, fenótipo, ou herança genética, são naturalmente inferiores. A digressão sobre as três questões caras ao pensamento teórico social relativo à chamada questão racial, é o esforço da PhD em sociologia em elaborar um discurso teórico crítico da raça que cumpra com o seu objetivo de interpretar e explicar o fenômeno da raça sem que se reproduza a respeito dela concepções de senso comum. Contudo, ressalta que a elaboração de um discurso teórico crítico da raça em um contexto marcado pela urgência da elaboração e implementação de políticas capazes de combater o racismo de forma eficaz e duradoura constituí uma tarefa das mais difíceis, já que implica também em desconstruir, ao menos do ponto de vista analítico, aquele que constituí consequência e principal pilar de sustentação do racismo e das identidades raciais dentro da ordem racista, ou seja, a raça.

[1] Web 2.0 – Em 2004, a empresa O´Reilly designou o termo Web 2.0 para uma segunda geração de comunidades e serviços na plataforma Web, onde a ideia é que o ambiente online se torne mais dinâmico e que os usuários colaborem para a organização de conteúdo. Ou seja, tem essencialmente a ver com ambientes propícios à criação e manutenção de redes sociais abertas ou fechadas, públicas ou privadas.  (O´REILLY, 2005, p.3).

[2] Herdeiros bourdieanos – Segundo estudos etnográficos de Bourdieu e Passeron, no livro Os Herdeiros, a escola transforma as desigualdades sociais (culturais) em desigualdades escolares. Isto é: “Os estudantes mais favorecidos, não só devem ao meio de origem os hábitos, o treino e as atitudes que lhes são mais úteis nas tarefas escolares, mas herdam também saberes, gostos, cuja credibilidade escolar, embora indireta, não deixa de pautar-se sobre esses conhecimentos, desfavorecendo aqueles não possuidores desse capital cultural.” Para alguns a cultura escolar é idêntica à cultura da família enquanto que para outros representa uma aculturação.

[3] Sociobiologia – Essa disciplina científica propõe que comportamentos e sentimentos animais, também existentes nos seres  humanos, como o altruísmo e a agressividade, são em parte derivados da genética e não são apenas culturais ou socialmente adquiridos. Esse tipo de afirmação causou grande controvérsia no cenário intelectual, e até hoje divide os pesquisadores. Entretanto, boa parte das críticas são interpretações errôneas da teoria, muito confundida com o darwinismo social.

[4] Ancestralidade biogeográfica – Baseia-se no estudo d informação de 190 marcadores do DNA, selecionados para distinguir entre cinco populações de referências ancestrais: Europa, leste Asiático, África Ocidental. América Nativa e Subcontinente Indiano. Esses marcadores estão distribuídos pelos 22 pares de cromossômicos. Através da aplicação desse tipo de teste permite-se saber qual a percentagem genética que o DNA de uma pessoa possui de cada uma das populações ancestrais, traçando o seu perfil genético.

[5] Kenneth Brancroft Clark e Mamie Clark – Pioneiros em estudos psicológicos com o uso de bonecas, The Experiment Clarck Boneca (1939), onde pediram crianças negras para escolher entre um a boneca preta e uma boneca branca depois de uma determinada pergunta. As bonecas eram iguais, exceto para sua cor de pele. O estudo levou a conclusão que a maioria das crianças negras associava características positivas à boneca branca.

[6] Poligenistas – Vem do segundo o livro do Gênese, na Bíblia, sobre os filhos de Noé: Cam (raça negra), Sem (raça amarela) e Jafé (raça branca). Em Cam está a explicação para a raça negra quando este viu Noé nu e bêbado e contou para seus irmãos, zombando do pai. Ao saber disso, Noé amaldiçoou Cam e o condenou, assim como toda a sua descendência, à servidão. Os escravocratas, avidamente adotaram uma identificação dos africanos com os descendentes de Cam, uma cômoda justificativa religiosa para a escravidão, embora na própria Bíblia não haja nenhuma referência à cor de Cam ou qualquer descrição de seus descendentes.

[7] Taxonomia ou Zoologia Sistemática – É a ciência que classifica os seres vivos. A primeira tentativa de se classificar milhões de espécies de seres vivos do planeta aconteceu há três séculos antes de Cristo quando Aristóteles classificou os animais “com sangue vermelho” e “sem sangue vermelho”. No século XVII surge o conceito de espécie introduzido pelo naturalista John Ray, considerado o pai da história natural inglesa. No século seguinte, os seres vivos começaram a ser classificados de acordo com sua história evolutiva e desenvolvimento embriológico até que, em 1735, Carl Von Linné (1707-1778), mais conhecido como Lineu, publica Systema Naturae, onde trata dos reinos animal, mineral e vegetal agrupando os seres vivos (plantas e animais) em classes, ordens, gêneros e espécies. Para classificar plantas e animais, Lineu adotou um primeiro nome em latim para indicar o gênero e um segundo para indicar a espécie.

[8] Darwinismo social – Baseado aplicação da teoria de Darwin nas sociedades humanas. Descreve o uso dos conceitos de  luta pela existência e sobrevivência dos mais aptos para justificar políticas que não fazem distinção entre aqueles capazes de sustentar a si mesmo e aqueles incapazes de se sustentar. Conceito adotado no contexto de competitivo do capitalismo Laissez-faire; como também motivou, de forma similar, as ideias de eugenia, racismo, o autoritarismo facinazista e na luta entre grupos e etnias nacionais.  O termo foi popularizado em 1944 pelo historiador americano Richard Hofstadter, mas atualmente, por causa das conotações negativas da teoria do darwinismo social, especialmente após as atrocidades da Segunda Guerra Mundial.

 [9] Fealdade negra – Feiura ou fealdade é uma característica de um ser vivo, cuja aparência é desagradável à vista e resulta numa avaliação altamente desfavorável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, José André de. Fundamentos Filosóficos da Pedagogia de Freire. Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 1, p. 34-37, Jan/Mar, 2010. Disponível em: <http://revistas.unipar.br/akropolis/article/viewFile/3115/2209&gt; GIAROLA, Flavio Raimundo. Racismo e teorias do século XX – principais noções e balanço histórico. Disponível em: <http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=313&gt; Acesso em: 08/01/2015. MANDELA, Nelson et al. No final do século – Reflexão dos maiores escritores do nosso tempo. Ediouro Publicações S.A, Rio de Janeiro, 1998. PENA, Sergio D. J.; BIRCHAL, Telma S. A inexistência biológica versus a existência social de raças humanas: pode a ciência instruir o etos social. Revista USP, São Paulo, n. 68, p. 10-21, Dezembro/Fevereiro 2005/2006. Disponível em: <http://www.usp.br/revistausp/68/02-sergio-telma.pdf&gt; Acesso em: 05/01/2015. RIBEIRO, Helcio. A iniciativa popular como instrumento da democracia. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. 2007. Disponível em:          <http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/FDir/Artigos/helcioribeiro.pdf&gt; Acesso em: 21/01/2015. RIOS, Roger Raupp. A política brasileira de embranquecimento – uma visão jurídica. Juiz da 10ª Vara, Rio grande do Sul, 16/12/2001. (Retirado dos autos de sentença judicial referente a crime de racismo). Disponível em: <http://movimentoafro.amazonida.com/branqueamento.htm&gt; Acesso em: 02/01/2015. SABBATINI, Renato M. E. Frenologia: a história da localização cerebral. Cérebro & mente, Março/1977. Disponível em: <http://www.cerebromente.org.br/n01/frenolog/frenologia_port.htm&gt; Acesso em: 08/01/2015. SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. Editora Contexto, São Paulo: 2006. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/benjoinohistoria/dicionrio-de-conceitos-histricos&gt; Acesso em 12/01/2015. SANTOS, Gislene Aparecida dos. Percepções da Diferença. Coleção Percepção da Diferença – Negros e Brancos na Escola. Vol. 1. 2007. Disponível em: < http://www.usp.br/neinb/wp-content/uploads/NEINB-USP-VOL-1.pdf&gt; Acesso em: 18/01/2015.  _____________________________ A invenção do ser negro. Editora da Pontifícia Universidade católica de São Paulo – EDUC, São Paulo: 2002. Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/1764631/-a-invencao-do-ser-negro- > Acesso em: 20/01/2015.  TAVOLARO, Lília Gonçalves Magalhães; Sergio Barreiro de Faria. Raça e a “Tese da excepcionalidade brasileira”: uma reflexão à luz das ações afirmativas. Revista de estudos e Pesquisas sobre as Américas, vol. 7, n.° 1/2013. Disponível em: < http://periodicos.unb.br/index.php/repam/article/view/9590 > Acesso em: 12/01/2015. ____________________________ Raça, classe e cultura no contexto das políticas de ação afirmativa: um esforço teórico-prático a respeito da raça. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 13, n. 2, p. 287-298, jul./dez. 2010. Disponível em: < http://www.revistas.ufg.br/index.php/fchf/article/view/13432/8670&gt; Acesso em:09/01/2015.

As causas do Fracasso Escolar

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Luis Carlos “Rapper” Archanjo

O tema fracasso escolar encontra-se constantemente em pauta nas discussões dos órgãos oficiais e dos especialistas responsáveis pela educação. Medidas político-administrativas e pedagógicas são debatidas, elaboradas, adotadas e, da mesma forma, pesquisas e exames nacionais vêm sendo realizados com o intuito de solucionar problemas referentes ao grande número de crianças em idade escolar fora da escola, seja porque nela nunca ingressaram ou porque sofreram o processo de evasão ou repetência. Esses estudos e medidas, quase sempre, são elaborados a partir de uma perspectiva calcada nos interesses da classe dominante, baseado num modelo liberal e colocam a escola e a educação formal como redentores e equalizadores das desigualdades sociais. Segundo Patto (1996) foram teorias baseadas num discurso pedagógico liberal  [1] que serviram de pano de fundo às explicações do fracasso escolar durante o percurso da pesquisa da política educacional no país. (SIRINO, 2002)

Em princípio marcadas por um discurso biológico em que as causas do fracasso escolar estavam relacionadas a fatores genéticos, raciais e hereditários dos indivíduos. Nos anos 70 um novo discurso passa a ser buscado na proveniência cultural dos alunos, dando origem histórias de carência cultural. Recentemente pesquisas como as de Patto (1996, apud GRACIANO, 2007: 4, 50-60); Cruz (1987), Machado (1994); Souza, M (1991) e outros procuram mudar o eixo da discussão sobre o fracasso escolar, buscando contextuar o problema dentro de um pensamento histórico brasileiro, empenhando-se em desvelar como se constroem as idéias de desvalorização e os preconceitos em relação aos indivíduos da classe trabalhadora e, muitas vezes legitimados sob um discurso cientificista. Essas pesquisas recentes revelam que a escola se constitui como reprodutora das desigualdades sociais e da dominação, por outro lado revelam que no interior da escola, assim como na sociedade, surgem contradições que favorecem um embate de idéias e atitudes que poderão provocar rupturas nos discursos e práticas cristalizadas que ali se processam.

Como o dito popular que diz: “A corda sempre arrebenta para o lado mais fraco”, continua persistindo a tendência em vincular o fracasso escolar, muitas vezes, às crianças; que tratadas como incompetentes, não tendo direito de se expressarem, cabendo ao professor incutir-lhes o saber “conta bancária”. A não adaptação a esse saber é um problema da criança-aluno, quer por razões pessoais, emocionais, culturais, familiares, biológicas, etc., não consegue ter aproveitamento a contento. Duas conseqüências, no plano pedagógico, decorrem desse papel dominador da escola: a submissão ou a agressividade. Ambas dificultam a aprendizagem porque atingem a autoestima da criança. Dessa forma a escola assume uma função estigmatizadora, criando o estereótipo do aluno marginalizado, que é, na maioria das vezes aquele proveniente das camadas populares.

A sociologia da educação de Bourdieu nos dá uma síntese dos clássicos da sociologia quanto a relação histórico-dialética entre condutas individuais propelidas por disposições socialmente adquiridas e integradas em um habitus, de um lado, e estruturas objetivas ou “campos”  de relação entre agentes diferencialmente posicionados e empoderados de outro e, assim, nos dá a explicação dos simbolismos que permeiam o acordo tácito entre antagônicos para que não se instale uma anomia hobbesiana, mesmo que no caos das nossas desigualdades sociais, onde a escola cumpre o seu papel ideológico quando seleciona os conteúdos escolares em função dos conhecimentos, dos valores, e dos interesses das classes dominantes e se dissimula aos questionamentos ao inculcar o objetivismo das teorias estruturalistas, criticadas  por Bourdieu pelo que estas descreveriam a experiência subjetiva como diretamente subordinada às relações objetivas (normalmente, de natureza linguística e econômica).  A transmissão dos conhecimentos seguiria o que Bourdieu chama de “pedagogia do implícito”, o pleno aproveitamento da mensagem pedagógica suporia implicitamente, a posse de uma capital cultural anterior que apenas os alunos provenientes das classes dominantes apresentam. Bourdieu afirma, em primeiro lugar, que a ação das estruturas sociais sobre o comportamento do individuo se dá de dentro para fora e não o inverso. A partir de sua formação inicial em um ambiente social e familiar que corresponde a uma posição específica na estrutura social, os indivíduos incorporam um conjunto de disposições para a ação típica dessa posição (“habitus” familiar ou de classe) e que passaria a conduzi-los ao longo do tempo e nos mais variados ambientes de ação. A escola e o processo de representação das desigualdades apontam para um mesmo princípio de inteligibilidade: o “das relações entre o sistema de ensino e a estrutura das relações simbólicas”.

O  ponto de partida do raciocínio de Bourdieu talvez se encontre na noção de arbitrário cultural, ou seja, nenhuma cultura pode ser objetivamente definida como superior a nenhuma outra, portanto a cultura escolar socialmente reconhecida como cultura legítima, como única universalmente válida, seria arbitrária ou uma violência simbólica imposta pelas classes dominantes. A partir dos processos alienantes da autoridade pedagógica, isto é, a legitimidade da instituição escolar e da ação pedagógica que nela se exerce, só pode ser garantida na mediada em que o caráter arbitrário e socialmente imposto da cultura e dissimulado quando esta se omite na neutralidade de conteúdos proporcionais à sua capacidade de se apresentar como não arbitrária e não vinculada a nenhuma classe social através do discurso da equidade formal entre todos os alunos, mesmo nas questões do domínio prévio de um conjunto de habilidades e referências culturais  e linguísticas da vitaliciedade da bagagem cultural de professores na busca daqueles com instrumentos decodificadores para realidades afins, pelo que estes receberam de herança cultural desde muito cedo e de modo difuso, insensível, teriam dificuldade de se reconhecer como “herdeiros“. O autor observa que o efeito de legitimação provocado pela dissimulação das bases sociais do sucesso escolar é duplo: manifestar-se em relação tanto aos filho  das camadas dominantes quanto dominadas. Os primeiros, suas disposições e aptidões culturais e linguísticas pareceriam ser naturais, fazer parte de sua própria personalidade. O segundo grupo, por outro lado, sendo incapaz de perceber o caráter arbitrário e impositivo da violência simbólica da cultura escolar, tenderia a atribuir suas dificuldades escolares a uma inferioridade que lhe seria inerente, definidas em termos intelectuais (falta de inteligência) ou morais (fraqueza de vontade) (NOGUEIRA, 2002, p. 26-30)

“Atribui-se ao próprio sujeito marginalizado a culpa pela sua exclusão.” (TEIXEIRA, 1992). Apesar do volume de pesquisas sobre o tema investigado, poucos abordam o problema a partir da ótica da criança-aluno e sua família. Investigar o fracasso escolar a partir do ponto de vista do excluído é, a nosso ver relevante, por explicar através da fala dos próprios alunos os efeitos produzidos pelo rótulo de fracassado escolar, ao considerar as diferentes versões que elas produzem sobre sua condição escolar e, os efeitos na imputação do estigma de fracasso em sua subjetividade. Todas essas questões envolvem preconceito, estereótipo, formação de identidade e processos de diferenciação enquanto construção social e cultural. Avaliações de senso comum sobre os alunos da escola pública são uma forma em que nomes, justificativas e rótulos usados para os números altamente elevados de retenção, exclusão e encaminhamentos de alunos nos meios escolares do tipo: não presta atenção em nada, não aprendia porque tinha algum comprometimento cognitivo, imaturo, vítima de família desestruturada, fome, falta de estímulo, trabalho infantildificuldades de aprendizagem entre outros de um vasto repertório de transferência da problematização para a não valorização dos saberes e interesse da criança-aluno [2].

Autonomia, empreendedorismo, tecnologia , competitividade, abstração  na empregabilidade, autodidaxia, raciocínio lógico-formal são algumas das palavras-chave de um novo princípio educativo para atender as demandas de complexidade da realidade social do nosso tempo; onde a sociologia compreensiva, pela intrínseca relação entre ação social, gestão e estudos qualitativas e quantificativos, pode auxiliar na compreensão dos fenômenos sociais surgidos de trocas interpessoais entre os atores contemporâneos dos processos reflexivo-investigatórios em que o universo educativo é  cena e  seio do dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela transbordantes. Essa mesma realidade é mais rica que qualquer teoria, qualquer pensamento e qualquer discurso que possamos elaborar sobre ela. Portanto, os códigos das ciências que por  sua natureza são sempre referidos, recortados e   incapazes de conter a totalidade da vida social.  No entanto, possuem instrumentos e teorias capazes de fazer uma aproximação da suntuosidade da existência dos seres humanos em sociedade, ainda que de forma incompleta, imperfeita e insatisfatória. Para isso, elas abordam o conjunto de expressões humanas constantes nas estruturas, nos processos, nas representações sociais, nas expressões da subjetividade, nos símbolos e significados. Entre as teorias qualitativas  para  investigação dos fenômenos sociais  segue algumas considerações  sobre a influência da  Sociologia Compreensiva  de Max Weber  em pesquisas qualitativas pelo que esta corrente sociológica coloca como tarefa mais importante das Ciências Sociais a compreensão da realidade humana com suas transformações e mudanças na forma de vida, nas formas de existência segundo rupturas emergentes com as novas tradições científicas. Em suas diferentes manifestações – fenomenologia, etnometodologia, interacionismo simbólico – significado é o conceito central da investigação. Num embate direto com o positivismo, a Sociologia Compreensiva  propõe a subjetividade como fundamento do sentido da vida social e defende-a como constitutiva do social inerente à construção da objetividade na Ciências Sociais. Os autores compreensivistas não se preocupam em quantificar e em explicar, e sim em compreender: este é o verbo da pesquisa qualitativa. Compreender relações, valores, atitudes, crenças, hábitos e representações a partir desses conjuntos de fenômenos humanos gerados socialmente, compreender e interpretar a realidade.   “O pesquisador que trabalha com estratégias qualitativas atua com matéria-prima das vivências, das experiências, da cotidianeidade e também analisa as estruturas, instituições, mas entendem-nas como ação humana objetivada” X(MINAYO; GOMES, 2010, p. 14-24).  Ou seja, para esses pensadores e pesquisadores, a linguagem, os símbolos, as práticas, as relações e as coisas são inseparáveis [3]. Se partimos de um desses elementos, temos temos que chegar aos outros, mas todos passam pela subjetividade humana.

O filósofo Edgar Morin critica, por exemplo, que nas escolas e nas universidades não existe um ensino sobre o próprio saber, ou seja, sobre os enganos,  ilusões e erros que partem do próprio conhecimento, defendendo a necessidade de criar cursos de conhecimento sobre o próprio conhecimento. O autor de “Os Sete  saberes para a Educação do Futuro, Educar para a Era Planetária lamenta, igualmente, que a condição humana está totalmente ausente do ensino: Perguntas como o que significa ser humano? Não são ensinadas, critica. Por outro lado, Morin acredita que a “excessiva especialização” no ensino e nas profissões produz um conhecimento incapaz de gerar uma visão global da realidade, uma inteligência cega. “Conhecer apenas fragmentos desagregados da realidade faz de nós cegos e impede-nos de enfrentar e compreender problemas fundamentais do nosso mundo enquanto  humanos e cidadãos, e isto é uma ameaça para a nossa sobrevivência, defende”. O que proponho é fornecer aos alunos as ferramentas de conhecimento para serem capazes de ligar os saberes dispersos, explica.  Souza (2008, apud SUANNO 2010) apresenta seis aspectos que contribuem para construírem práticas pedagógicas inovadoras e emancipadoras e saberes docentes, sendo eles: considerar os conhecimentos prévios dos alunos; aprendizagem cooperativa; metacognição; motivação; autonomia; criticidade e criatividade como atitudes interdependentes e relações dialéticas entre pensamento e emoção.

“Situados em categoria limitrofe da escala Stanford-Binet, ou ‘deficiente circunstancial’, para alunos que apresentam distúrbios de aprendizagem, mas não deficientes, e que também são excluídos, rotulados e encaminhados para a educação especial” (MANTOAN, 1996). Essas crianças apresentam problemas de aprendizagem não vinculados a uma causa orgânica específica, mas sim, em consequência de inúmeros determinantes secundários como a intergeracionalidade de vidas precárias, a violência urbana e o déficit cultural, por exemplo. A versão do déficit cultural baseia-se na ideia de que o ambiente carente gera deficiências pessoais, motoras, perceptivas, afetivo-emocionais ou de linguagem. Segundo alguns estudiosos o fracasso escolar pode ser analisado a partir de quatro eixos principais:

1-     O fracasso escolar como um problema psíquico: culpabilização das crianças e dos pais; 2-     O fracasso escolar como um problema técnico: não se localiza nos problemas individuais dos alunos, mas na técnica de ensino do professor. O ser humano relaciona-se com o outro, com o mundo e com ele mesmo através do movimento. Ou seja, somos seres de relação que, agindo, entramos em contato com o mundo. “É a partir das referências do corpo que os seres humanos fazem cultura.” (Tiriba, 2001 apud CRUZ, 2005); 3-     O fracasso escolar como uma questão institucional : A lógica excludente da educação escolar parte do princípio que o fracasso escolar é um fenômeno presente desde o início da instituição da rede de ensino público no Brasil; 4-     O fracasso escolar como uma questão política: a escola é um modelo em miniatura regido pela mesma lógica constitutiva da sociedade de classes.

Pais inferiorizados pelo mal-desempenho escolar de seus filhos, conseqüente do não enquadramento nos padrões determinados pela escola, acabam se sentindo como os grandes culpados pelo mau rendimento do aluno. A frustração, diante das dificuldades dos filhos na escola, leva as famílias a procurarem explicação nas próprias crianças. As explicações mais comuns são de natureza médica, falta de interesse. Os pais introjetam a culpa pelo fracasso do filho e este é naturalizado como se fosse uma doença ou um problema próprio do caráter da criança. Mas os mesmos pais trazem também outras opiniões a respeito das dificuldades escolares dos filhos. A enquete a seguir tem o objetivo de buscar algumas respostas para o fracasso escolar. Foram enumeradas algumas interrogações do repertório das queixas de práticas de ensino-aprendizado que não conseguem cumprir o papel da escolarização como intermediador da emancipação pessoal para uma parcela da população e, pelo contrário, deixa que ao fracasso escolar conforme a geografia da desescolarização e a conseqüente exclusão dos processos de cidadania, nascida desde a precoce introjeção da naturalização das mazelas do dia a dia da criança-aluno no espaço intra e extra-muro da escola pública com suas diretrizes e resultados em constante questionamento pela pedagogia crítico-reprodutivistas e a sua orientação para uma práxis educativa voltada para a compreensão da nossa realidade histórico-social, por exemplo, já que não existe educação neutra  [4], já que toda educação não se isola do contexto social e político e, por isso, os pólos educação e política são complementares e indissociáveis.

Num mundo de discurso entre iguais da educação fica o registro de que o que identifica o outro é o seu rosto, e é muitas vezes no rosto do outro que eu encontro a minha própria identificação. Cada rosto é diferente, mas me dá o sentido do respeito, face a face, olho no olho, eu me vejo no outro, pois há uma interpelação quando estamos diante do rosto do outro. Quando o professor aprender a olhar no rosto de seus alunos e não apenas no diário de classe, quando permitir o ser olhado, o senso de respeito ao outro e ao que é diferente, surgirá. Este senso surge quando identificamos o rosto e permitimos ser identificados. Aprender o sentido e o infinito no rosto do outro é a “ética da alteridade”. O ensinar deve traduzir o respeito ao outro, como linguagem do seu modo de ser, sem possuí-lo. Muitas vezes para ver o rosto do outro é preciso olhar com outras lentes, que não sejam as dos míopes, de preferência com a lente do outro, e procurar ver como o outro vê. Isso nos provoca e convoca a análise dos discursos que nos levam à princípios de verdades que são excludentes, ou seja, que não promovem a solidariedade e o respeito ao diferente, ao outro.

 “Já li muitos livros sobre psicologia da educação, sociologia da educação, filosofia da educação – mas, por mais que eu me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à educação do olhar ou à importância  do olhar na educação, em qualquer um deles.” (Rubens Alves)

MARQUE ATÉ (3) TRÊS OPÇÕES que mais contribuem para o fracasso escolar e, depois clique em VOTE para computar a participação.

OBS: O voto é secreto.

 

OBS: Votação em aberto, PARTICIPE    [5]         Participantes (View Results – compartilhar/curtir)

[1] – Conhecimentos e competências no trabalho e na escola – Enfim, adentramos no campo movediço das ideologias, onde a  concepção de competência fundada no trabalho concreto vai se tornando anacrônica do ponto de vista da produção do valor, passando a assumir um novo significado a partir da ampliação  do trabalho abstrato e do trabalho não material, embora a lógica da reestruturação produtiva no regime de acumulação flexível repouse sobre a integração de todas as formas de trabalho, das mais precárias às mais qualificadas, nas cadeias produtivas, do que depende a competitividade. Reforça-se, por este argumento, a afirmação feita acima, sobre o caráter parcial do novo conceito de competência, uma vez que, embora apresentado como universal, inclusive no discurso pedagógico oficial, refere-se a uma modalidade específica de trabalho: o reestruturado, que demanda forte articulação entre as dimensões psicomotora, cognitiva e afetiva ( fazer, saber e ser ), para o que o domínio dos conhecimentos científico-tecnológicos e sócio-históricos, adquirido através de extensa, continuada e bem qualificada escolaridade é fundamental.

[2] – Pro Dia Nascer Feliz – É um documentário que tenta traçar o que pensam os adolescentes de hoje sem uma visão preconceituosa, seja contra alunos de colégios públicos ou particulares ou entre moradores da capital e do interior. Sem generalizar e tentando manter a parcialidade, o filme revela as semelhanças e diferenças entre os jovens, mostrando suas expectativas de futuro.

Pro dia Nascer Feliz – Part 1.2 Pro dia Nascer Feliz – Part 04 Pro dia Nascer Feliz – Part 03 Pro dia Nascer Feliz

[3] Princípio da contextualização: Contribuição de Paulo Freire (1996, p. 33-34), Pedagogia do Oprimido (1) (2), e orientação na formação de um professor crítico, reflexivo-investigador da e na sua práxis, no sentido de uma intervenção na realidade contribuindo para a mudança de valores e atitudes dos alunos, e não apenas no sentido de lhes mostrar o que se passa a sua volta, tanto quanto questões deterministas do lugar social desses alunos suscitam posturas de educação como ato político, como no princípio freireano, para realidade tão desfavorável.  Portanto, a construção de uma sociedade justa, equânime, igualitária passa pela formação de professores pautada na ética, na sensibilidade afetiva e na estética, que se materializa no fortalecimento da comunicação entre as pessoas, do entendimento das subjetividades e do respeito à verdade do outro. Ou seja, a contextualização de temas da realidade concreta do aluno na sala de aula  como caminho para a construção de um conhecimento pessoal significativo e relevante.

Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida?

Por que não estabelecer uma necessária “intimidade” entre os saberes curriculares fundamental aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos?

Por que não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas dos pobres da cidade?

Para Ivani Fazenda (1999, p. 17), a interdisciplinaridade é entendida, como uma nova racionalidade: “O que com isso queremos dizer é que o pensar interdisciplinar parte do princípio de que nenhuma forma de conhecimento é em si mesma racional.” Tenta, pois, o diálogo com outras formas de conhecimento, deixando-se inter-penetrar-se por elas. Aceita o conhecimento do senso comum como válido, pois é através do cotidiano que damos sentido às nossas vidas. Ampliando através do diálogo com o conhecimento científico, tende a uma dimensão utópica e libertadora, porque permite enriquecer nossa relação com o outro e com o mundo. E ainda: “No projeto interdisciplinar não se ensina, nem se aprende: vive-se, exerce-se”.

A desconstrução da autoimagem da docência como lugar de transmissão do pensamento dominante em nome de olhares que contemplem formas de se estar no mundo, mais justo e igualitário, mais humano, menos segregadores dos coletivos que chegam na diversidade dos processos de universalização da educação básica pública seria uma alternativa para superar racionalidade científico-técnica imposta de forma acrítica aos profissionais da educação. Para Arroyo (2011, p. 58), a presença de coletivos docentes preocupados com as dimensões que contra argumentam com a cientificidade, a neutralidade e a impessoalidade em nome da subjetividade e objetividade necessárias a dialogicidade de intersubjetividade representativa de suas existências humanas, seus valores, saberes, culturas, saberes, identidades, lutas por terra, teto, território, saúde, educação, direitos, provoca intencionalidades educacionais universalizantes em nome de formação superior capaz de articular princípios como o do pensamento contra  hegemônico gramsciano, por exemplo, materializado em projeto pedagógico com missão de formar intelectuais orgânicos com sustentação em bases teóricas e pressupostos conceituais  comprometidos em dar vez e voz às  minorias. Ou seja, embasar formadores de opinião capazes de exigir suas condições de sujeito de história, memórias, modos de pensar.

Para que possamos caminhar no enfrentamento dos desafios inerentes à pluralidade cultural presente na escola, o primeiro passo será olhar para nossas próprias identidades culturais. “Esse processo de conscientização do que somos, este mergulho pessoal nas culturas que nos constituíram como sujeitos, é um ponto de partida importante para nos conectarmos com os processos socioculturais do contexto em que vivemos, da história do nosso país” (CANDAU, 2008). A autora sugere que este exercício de reconhecimento de identidade seja feito tanto nos processos de formação docente, para que os professores entrem em contato com suas origens culturais, como com os alunos, desde os anos iniciais do ensino fundamental. Porém, para uma ultrapassagem da “visão romântica” ao estágio de reconhecimento de nossas identidades, Candau evidencia a necessidade de uma nova postura na relação pedagógica.  A “nova postura” proposta pela autora envolve a superação de um “daltonismo cultural“, que impede que se enxergue a diversidade de “matizes” culturais presentes na sala de aula, no contexto sociocultural dos alunos, fechando nossos olhos não só para as diferenças, mas para reconhecer a importância de discuti-las, de problematizá-las, de não naturalizá-las. “Isto implica um olhar mais acurado para as evidências empíricas ao investigar-se a riqueza cultural dos alunos e de seu grupo social, como também da dificuldade de se  lidar nas práticas educativas com diversas manifestações da diferença: de gênero, étnicas, de orientação sexual, ritmo de aprendizagem,  geracional, sensório-motoras, cognitivas, entre outras” (CANDAU, 2008, p. 248).

Nas suas considerações sobre o papel do currículo como um dos mecanismos para a permanência de determinações e relações  sociais injustas que caracteriza a nossa sociedade de classes e, ao mesmo tempo, lugar para ascultar o que há de mais positivo, de ético e para reagir ao que não é ético, Arroyo (Ibidem, p. 77-78) cita, por exemplo, os livros de textos que ainda chegam às escolas carregados de preconceitos sexistas, racistas, inferiorizante. Ou seja, currículos e livros são pensados como espaços de saberes, de conhecimentos e de concepções descoladas de vivências da concretude social e política. Estes aparecem em um vazio social, produzidos e reproduzidos, ensinados e aprendidos sem referência a sujeitos, contextos e experiências concretas. Consequentemente as didáticas de seu ensino/aprendizagem são abstratas, válidas para todo conhecimento e para todo aluno ou coletivo. Portanto, sem distinção de vivências e experiências tão humanas e tão desumanas que convergem aos processos de universalização da educação básica pública, primeiramente. Esse caráter  abstrato,  geral, único do conhecimento curricular de alguma forma está consagrado na clássica dicotomia que estrutura o ordenamento curricular de educação básica: núcleo comum e parte diversificada.

O núcleo comum ou aquelas verdades, conhecimentos que não trazem marcas das diversidades regionais ou da diversidade de contextos concretos de lugar, classe, raça, gênero, etnia. Comum a um suposto ser humano, cidadão, genérico, universal, por cima dos sujeitos concretos, “contextualizados”, diversos. A parte diversificada é o outro, os outros, não universal. Consequentemente os saberes, conhecimentos, valores, culturas dos outros, dos diversos não são componentes do núcleo comum, não são obrigatórios. Nesta lógica serão secundarizados. Por essa lógica, conclui-se que toda a produção cultural, intelectual, ética, estética dos coletivos diversos em região, gênero, raça, etnia, classe, campo, periferia seja desconhecida no sistema escolar, nos currículos, desde a educação da infância à universidade. A parte diversificada é optativa às escolas, logo não direito do ser humano universal. Um lógica segregadora estruturante dos ordenamentos, das diretrizes e dos conhecimentos curriculares. Esses  critérios de definição do conhecimento se enreda com o padrão de poder, de dominação/subordinação nas sociedades.

A sociologia crítica dos currículos avançou explicitando as relações políticas entre currículo/conhecimento/poder. Não apenas de apropriação/negação do saber, mas de legitimação de um saber e deslegitimação/negação de outros saberes nos currículos. A luta contra a injustiça cognitiva nos leva para além da distribuição mais equitativa do saber científico e reconhecer que toda experiência produz conhecimento. Que todos os conhecimentos sustentam práticas e constituem sujeitos. Quando as experiências sociais são ignoradas se ignora o trabalho humano, a experiência mais determinante do conhecimento. Enquanto as experiências sociais, humanas, de vida e trabalho não forem reconhecidas como conformantes do conhecimento, das ciências e dos saberes e dos processos de ensino/aprendizagem não serão reconhecidas e valorizadas as experiências sociais, humanas, de luta, de trabalho e de vida dos profissionais do conhecimento e dos seus aprendizes. “Boaventura de Souza Santos nos adverte que a injustiça social assenta na injustiça cognitiva” (Ibidem, p. 117).

Portanto, pensar em educação transformadora no quadro de práticas e rituais coercitivos, antidemocráticos, instituídos e reproduzidos como rotinas escolares e docentes assumidos acriticamente; nos processos de desescolarização produzidos pela retenção, reprovação, não adaptação consequente da naturalização de desigualdades culturais na contramão do conhecimento e respeito ao princípio de igualdade, significa o questionamento de modelos fechados e abstratos que não incorporam as diferenças, não superam as formas de classificação, segregação e  todos os resquícios de crença nas desigualdades comuns à relação pedagógica,  consubstanciada em teorias da aprendizagem, para com os filhos (as) das classes populares ao não reconhecer que todo educando (a) são iguais na capacidade pensar, raciocinar e aprender. Nesse sentido, Arroyo (2011, p. 360) sugere provocar nas redes e nas escolas intervenções corajosas nos critérios e práticas de agrupar os educandos na busca de formas mais radicais e mais duradouras de inovar estilos e concepções, culturas e valores democráticos e igualitários como caminho para mexer nos velhos critérios classificatórios e, consequentemente nas bases democráticas ou antidemocráticas. Ou seja, mexer fundo nas crenças, valores e culturas em nome de outra lógica temporal  para a aprendizagem de cada um e da diversidade dos educandos. O Brasil fez a opção de um sistema escolar inclusivo ao concordar com a Declaração Mundial de Educação para Todos, firmada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, e ao mostrar consonância com os postulados produzidos em Salamanca, na Espanha, em 1994, na Conferência Mundial Sobre Necessidades Educacionais Especiais (NEE): Acesso e Qualidade, conforme  texto transcrito do documento: “[…] cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhes são próprios.”

Transformações retóricas evidenciam que o discurso democrático vem sendo negado a milhões de cidadãos, por décadas, em nome dessa lógica temporal. Tais considerações nos convocam e provocam  a correlação entre as Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN´s para o curso de de Pedagogia e o currículo a partir de considerações de Apple quanto o ato subversivo das ideias, por exemplo. No seu Art. 5º consta que  o egresso da Pedagogia quando em atividade docente, com vistas à ultrapassagens ao repertório de exclusões sofridos pelos filhos das classes populares, por exemplo, nas suas relações individuais e coletivas, necessita estar apto em reconhecer e respeitar as  manifestações e necessidades físicas, cognitivas, emocionais, afetivas dos educandos; relacionar as linguagens dos meios de comunicação à educação, nos processos didático-pedagógicos, demonstrando domínio das tecnologias de informação e comunicação adequadas ao desenvolvimento de aprendizagens significativas; relacionar e identificar problemas socioculturais e educacionais com postura investigativa, integrativa e propositiva em face de realidades complexas que, naturalmente, nos leva à concretude de experiências e vivências produzidas pelo processo de  universalização da educação básica e o desencontro com a educação formal, transformado em fracasso escolar, para certos grupos. “O  respeito às especificidades  dos tempos dos educandos tem que ser pensado como uma precondição para o respeito a seu direito ao conhecimento, à cultura e á formação plena” (Ibidem, p. 378-379).

[4] O velho, o novo e o diferente – Desde muito tempo a escola perdeu a função de formar cidadãos críticos e, cada vez mais através da mídia somos informados do curso do mundo. Assim, as redes sociais cumprem o papel de ensinar aqueles que se complementam das suas informações, como também sensibilizar aqueles dos vários níveis de conhecimento que partilham interesses afins em torno de temas que deveriam estar no epicentro do fluxo e refluxo do micro universo escolar e o seu papel de mediar as interações sociais dos tantos segmentos ali representados na diversidade de futuros adultos cidadãos, no exercício da possibilidade de questionar, refutar, de mudar suas próprias decisões e de tomar distância em relação às autoridades institucionais, quando embasados dos conhecimentos de deveres e direitos sistematizados ao longo da construção e reconstrução da trajetória histórico-social da humanidade.

Brasil sem Grades – Escola do Crime

Diversos

A escola serve pra que? Binho Freitas – Racismo! Observar e Absorver – Eduardo Marinho

[5] Monografia ou Trabalho de Conclusão de Curso – TCC (*)
Tabulação e quadro com o quantitativo de acesso anual e mensal de usuários com interesses afins em educação que  fizeram a escolha de até três interrogações que direta ou indiretamente atuam na produção do fracasso escolar, principalmente para meninos negros nos anos iniciais do ensino fundamental. Ao longo de aprendizagens cumulativas transcritas à postagem e o necessário reordenamento  do texto, espero ter cumprido os caminhos a dar a credibilidade acadêmica necessária às considerações desenvolvidas para justificar, problematizar, compreender, evidenciar, aproximar, contextualizar, convocar, provocar outros olhares para as questões étnico-raciais, na injustiça cognitiva, na formação de professores; na desqualificação e despersonalização midiática que provoca polarizações e defecções no tecido social; na garantia de direitos da criança e do adolescente; nas políticas para a juventude; nos coletivos docentes com históricos correlatos, nas políticas afirmativas. Ter como principal objetivo  suscitar outros olhares para os desdobramentos da desescolarização na qualidade de vida desses meninos, sempre à eminência da violência gratuita ou torpe, como também sensibilizar outros atores sociais conscientes de que mudanças só acontecem no plano das ideias, é me sentir parte da inteligência coletiva por experiências e vivências representativas da contra hegemonia de formadores de opinião sustentados em estatuto de cientificidade capaz de transitar nos espaços de proposições educativas incorporando o vivido e o teórico do ponto de vista do “outro”.  Espero ter conseguido dar minha contribuição social quando na escolha da problemática e a sua consecução segundo normas, procedimentos, metodologias que dão credibilidade necessária a abordagem de realidade tão humana e desumana quais são submetidos. Assim sendo, a pergunta 3: O OLHAR DO PROFESSOR SOBRE O ALUNO PODE CONSTRUIR OU DETERMINAR A SUA TRAJETÓRIA ESCOLAR POSITIVA OU NEGATIVA?, é o ponto de partida para dar título ao texto monográfico e, ao mesmo tempo, lugar de agradecimento a todos que abriram está página por qualquer que seja o motivo. O registro de acessos da pesquisa netnográfica, ao longo dos anos e períodos, transcritos aos Anexos da Monografia ou Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia modalidade EAD, por si só dizem de quanto um trabalho de pesquisa não é um fim em si mesmo ou nas considerações finais porquanto respostas e explicações de estudos relacionados à condição humana ser sempre um tema inconcluso.

(* ) Aguardando assinaturas para disponibilizá-lo.


Acesso em:
  02/12/2014

[5] Stats for: As causas do Fracasso Escolar

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jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Total
2010 193 153 54 91 165 157 212 91 1.116
2011 84 163 254 152 176 137 110 175 240  347 353 144 2.335
2012 81 137 472 372 369 323 215 190 261  269 282 88 3.059
2013 75 78 188 75 56 92  48 73 119  104 165 43 1.148
2014 49 53 187 191 153 128 75 92 150 118 117 5 1.318

MÉDIA POR DIA

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Comtudo
2010 7 5 2 3 6 5 7 3

5

2011 3 6 8 5 6 5 4 6 8   11    12     5

6

2012 3 5 15 12 12 11  7  6 9  9  9  3

8

2013 2 3  6 3 2  3  2  2  4  3  6  2

3

2014  2  2 6 6  5 4  2   3  5  4  4  2 4

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  LEITURA COMPLEMENTAR

ANDI e Instituto Alana. Infância e Consumo: estudos no campo da comunicação. Informação – Programa de Cooperação para Qualificação de Estudantes de Jornalismo, 4ª edição, 07 artigos. RedeGife Online. Brasil: 17 de dezembro/2010. Disponível em < http://www.alana.org.br/banco_arquivos/Arquivos/downloads/ebooks/infancia-&-consumo-2010.pdf   >

ARROYO, Miguel Gonzáles. Currículo, território em disputa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.        ISBN   978-85-326-4083-3

_________________. Imagens quebradas – Trajetórias e tempos de alunos e mestres. 6ª Ed. Vozes, Petrópolis: 2011.
ISBN 978-85-326-3071-1

BELLONI, Maria Luiza e GOMES, Nilza Godoy. Infância, mídias e aprendizagem: autodidaxia e colaboração Educ. Soc. , Campinas, vol. 29, n. 104 – Especial, p. 717-746, out. 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/es/v29n104/a0529104.pdf >

BOLETIM FAMALIÁ –  O Boletim Famaliá é uma iniciativa da Famaliá Produções LTDA. que objetiva divulgar as principais notícias relativas ao universo das culturas populares e dos povos e comunidades tradicionais. As notícias são captadas através de uma grande rede de informantes e serão atualizadas frequentemente no sítio < http://www.famalia.com.br/?cat=3 >Informações poderão ser obtidas e colaborações poderão ser feitas através do endereço famalia@terra.com.br.

BRAGA, Alexandre Francisco. Educação Afro Indígena: caminhos para a construção de uma sociedade igualitária. Revista FACED,  n. 15, Salvador, jan,/jul. 2009, p. 127-141.  Disponível em < http://www.portalseer.ufba.br/index.php/entreideias/article/view/3257/3523%C2%A0&gt >

CANDAU, Vera Maria Ferrão. Diferenças culturais, cotidiano escolar e práticas pedagógicas. Currículo sem fronteiras, v. 11, n. 2, p. 240-255, Jul/Dez 2011.
Disponível em: <http://www.curriculosemfronteiras.org/vol11iss2articles/candau.pdf&gt;:
Acesso em: 15/07/2013.

CAMARGO, José Jorge Guedes de. Império e benevolência: Duas faces do egoísmo a partir de Emmanuel Lévinas. Primeira Versão, ano VII, nº 237, Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho – Jan/Abril: 2009. Disponível em: < http://www.primeiraversao.unir.br/artigos_volumes/volume_xxiv.pdf  >    Acesso em: 14/06/2012.

CAVALLEIRO, Eliane. Por um Estado que proteja as crianças negras do apedrejamento moral no cotidiano escolar. Geledes Instituto da Mulher Negra, Portal Geledes. Disponível em: < http://www.geledes.org.br/em-debate/dia-da-consciencia-negra-por-um-estado-que-proteja-as-criancas-negras-do-apedrejamento-moral-no-cotidiano-escolar-20/11/2010.html >

CINELLI, Nair Pereira Figueiredo. A influência do vídeo no processo de aprendizagem. Florianópolis, 2003. 74 f  Dissertação, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção.  Universidade de Santa Catarina, UFSC, Florianópolis,  2003.   Disponível em < http://www.ufsm.br/tielletcab/Nusi/HiperV/Biblio/PDF/8160.pdf  >

COLLUCI, Maria da Glória e  TONIN, Marta Marília. Direito Humano à Alimentação Adequada e a Segurança Alimentar e Nutricional da Criança e do Adolescente. Publicação do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito, Curitiba. Disponível em: < http://www.bvsde.paho.org/texcom/nutricion/tonin.pdf >

COSTA, Marina Morena. Mau preparo do professor atrapalha o ensino de Literatura Afro. Portal Ig – São Paulo: 20/11/2010. Disponível em: < https://projetomuquecababys.wordpress.com/2010/12/08/mau-preparo-de-professor-atrapalha-ensino-de-literatura-afro/ >

CRUZ, Cristiane Bonfim. Discussões Sobre a Relação Professor/Aluno. PUC, Rio de Janeiro: 2005.

FAZENDA, Ivani. Práticas Interdisciplinares na Escola. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 1999.

FOLENA, Jorge.  As crianças e a guerra declaradaRio de Janeiro: Tribuna da Imprensa Online, em 4 dezembro/2010. Disponível em < http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=13680 >

FREIRE, Paulo. Pedagogia dell’ Autonomia –  Saperi Necessari per la Pratica Educativa. Torino EGA: 2004. Obra digitalizada: UFMG – Coletivo Sabotagem: 2002. (www.sabotage.revolt.org)
Disponível em:  <http://www.letras.ufmg.br/espanhol/pdf%5Cpedagogia_da_autonomia_-_paulofreire.pdf&gt;
Acesso em: 10/10/2014.

_____________________. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio deJaneiro: Paz e Terra, 1987.
Disponível em: <http://paulofreirefinland.org/wp-content/uploads/2007/02/pedagogia_do_oprimido.pdf&gt;
Acesso em: 10/10/2014.

GRACIANO, Sueli Cristina. Condições de (NÃO) Aprendizagem na Escola: Uma Discussão à Luz da Perspectiva Histórico-Cultural. Dissertação –  Universidade São francisco, Itatiba: 2007. Disponível em < http://webp.usf.edu.br/itatiba/mestrado/educacao/uploadAddress/Dissertacao_Sueli_Graciano%5B1557%5D.pdf >

JUNIOR, Leo Rodrigues. Karl Mannheim e os problemas epistemológicos da sociologia do conhecimento: É possível uma solução construtivista? Revista Episteme, nº 14, p. 115-138, Porto Alegre: jan./jul. 2002. Disponível em:  <http://epistemologia0910.files.wordpress.com/2010/01/problemas-epistemologicos-da-sociologia-paulo-campos-13-1-2010.pdf&gt;  Acesso em: 01/09/2014.

MARSIGLIA, Ana Carolina Galvão e OLIVEIRA, Celso Socorro. Aproximações Históricas e Teóricas com a Pedagogia Histórico-Crítica e sua Proposta Metodológica. Revista Educere/PUCPR: 2008. Disponível em: < http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/486_560.pdf &gt;     Acesso em: 21/09/2010

MEIRA, Marisa Eugênio Milillo. A medicalização e a produção da exclusão na educação brasileira à luz da Psicologia Histórico-Cultural. XV Encontro Nacional  da ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia Social) ,  Maceió: 2009. Disponível em: < http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/index.php?option=com_content&task=view&id=342&Itemid=96 >  Acesso em: 04/10/2011

MINAYO, Maria Cecília de Souza; GOMES, Suely Ferreira Deslandes. Pesquisa Social – Teoria, método e criatividade. Editora Vozes: Petrópolis – RJ, 2010.

MORIN, Edgar. Os Sete  saberes para a Educação do Futuro, Educar para a Era Planetária. São Paulo: UNESCO/Cortez 2000.

NOGUEIRA, Claudio M. Martins e Maria Alice. A Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu: Limites e Contribuições. Educação & Sociedade, ano XXIII, nº 78, Abril/2002. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/es/v23n78/a03v2378.pdf >    Acesso em: 14/09/2011.

OLIVEIRA, Eliana. Identidade, intolerância e as diferenças no espaço escolar: questões para debate, Revista Espaço Acadêmico, Ano I,  nº 07, Dezembro/2001. Disponível em < http://www.espacoacademico.com.br/007/07oliveira.htm >

OZAÍ,  Antonio  (*) A escola como uma organização complexa – Por Maurício Tragtenberg Disponível em < https://projetomuquecababys.wordpress.com/2009/07/01/a-escola-como-organizacao-complexa-por-mauricio-tragtenberg/ > (*) < http://www.blogger.com/profile/02416965999815066511 >

_______________________________. Mauricio Tragtenberg e a Pedagogia Libertária. Disponível em:
<https://projetomuquecababys.wordpress.com/2009/05/30/pedagogia-libertaria/ >

REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. Proposta Metodológica para o Ensino de História da África na Educação Básica (Ensino Fundamental Maior). Disponível em: < http://www.redem.org/boletin/boletin310110g.php >

SUANNO, Marilza VanessaRosa e MONTAGNINI, Marilza Luzia. Formação Pedagógica de professores Universitários: ressignificação da Ação Docente. IV EDIPE – Encontro Estadual de Didática e práticade Ensino, Goiás: 2011.

SIRINO, Marisa de Fátima.  Repensando o fracasso escolar: reflexões a partir dos discurso do aluno. Mestrado, Biblioteca Virtual/CDI/FAPESP, São Paulo: 2002.
Disponível em:  < http://www.bv.fapesp.br/pt/pesquisador/42744/marisa-de-fatima-sirino/ >    Acesso em: 26/06/2012

Unicef/UERJ (Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro) – morte de 33 mil jovens de 2006 até 2012 por conta da violência urbana. Enquete sobre as possíveis causas da violência que tem como alvo principal   jovens afrodecescendentes com baixa escolaridade, moradores em comunidades carentes com idade entre 15 e 24 anos. Disponível em < https://projetomuquecababys.wordpress.com/2009/07/28/o-silencio-dos-justos/ >

YAMAUTI, Nilson Nobuaki. Algumas questões didático-pedagógicas envolvidas no ensino das Ciências Sociais. Revista Espaço Acadêmico, nº 23, abril/2003.
http://espacoacademico.wordpress.com/2010/04/10/algumas-questoes-didatico-pedagogicas-envolvidas-no-ensino-de-ciencias-sociais/ >  Acesso em: 01/09/2010.

Projeto de Lei nº 455/2007 do deputado Alessandro MolonDispõe sobre medidas para identificação e tratamento da dislexia na rede estadual de educação e dá outras providências.Disponível em < http://www.apad-dislexia.org.br/projetos.shtml  >

 Art.1º – O Estado adotará medidas para Identificação e Tratamento da Dislexia na Rede Estadual de Educação, objetivando a detecção precoce e acompanhamento dos estudantes com o distúrbio. Parágrafo único – A efetivação do previsto no caput deste artigo refere-se à realização de exame nos alunos matriculados no 1º ano do Ensino Fundamental, em alunos já matriculados na rede, com o advento desta Lei, e em estudantes de qualquer série admitidos por transferência de outras escolas que não pertençam à rede pública estadual. Art. 2º – As medidas previstas por esta Lei deverão abranger a capacitação permanente dos educadores para que tenham condições de identificar os sinais da dislexia e de outros distúrbios nos estudantes. Art.3º – Caberá ao Estado, através de seus órgãos de atuação setorial competentes, a formulação de diretrizes para viabilizar a plena execução das medidas ora asseguradas, criando equipes multidisciplinares com profissionais necessários à perfeita execução do trabalho de prevenção e tratamento. Parágrafo único – As equipes multidisciplinares responsáveis pelos diagnósticos deverão possuir em sua composição profissionais das áreas de Psicologia, Fonoaudiologia e Psicopedagogia. Art. 4º – As medidas de que trata esta Lei terão caráter preventivo e também promoverão o tratamento dos estudantes. Art. 5º – Caberá ao Poder Executivo regulamentar o disposto nesta Lei. Art. 6º – Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação. JUSTIFICATIVA
A presente proposição baseia-se na Lei estadual nº 12.524, de 02 de janeiro de 2007, em vigor no estado de São Paulo, originada de iniciativa de semelhante teor de autoria da Deputada Maria Lucia Prandi, com a seguinte justificativa: Dislexia é derivada de dis = distúrbio e lexia que significa linguagem (grego) ou leitura (latim). Portanto, dislexia é um distúrbio da linguagem e/ou leitura. Talvez por soar como nomenclatura de uma doença, o termo dislexia causa medo especialmente entre os pais que, por falta de informações, muitas vezes acreditam ser o fim do mundo ter um filho disléxico. Pesquisas realizadas em vários países mostram que cerca de 10 a 15% da população mundial é disléxica. Ao contrário do que muitos acreditam, a dislexia não é o resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição sócio-econômica ou baixa inteligência. É uma condição hereditária com alterações genéticas, apresentando ainda mudanças no padrão neurológico. Por tudo isso, a dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe multidisciplinar. Esse tipo de avaliação dá condições de um acompanhamento pós-diagnóstico mais efetivo, direcionado às particularidades de cada indivíduo. Os sintomas que podem identificar a dislexia, antes de um diagnóstico multidisciplinar, só indicam um distúrbio de aprendizagem.

Identificado o problema de rendimento escolar ou sintomas isolados, que podem ser percebidos na escola ou mesmo em casa, deve-se procurar ajuda especializada. Cabe à uma equipe multidisciplinar, formada por psicóloga, fonoaudióloga e psicopedagoga clínica, iniciar uma minuciosa investigação. Essa equipe deve garantir maior abrangência do processo de avaliação, verificando a necessidade do parecer de outros profissionais, como oftalmologista e neurologista. A identificação do distúrbio não parte da dislexia. Ao contrário, chega-se a ela a partir da exclusão de qualquer outra possibilidade. Caso outro problema seja detectado, deve haver o encaminhamento para o tratamento adequado. Quando a dislexia é identificada começa, então, um acompanhamento cujos métodos irão variar de acordo com os diferentes graus do distúrbio (leve, moderado e severo), podendo levar até cinco anos. Crianças disléxicas que têm o distúrbio identificado precocemente e dão início ao tratamento, apresentam menor dificuldade ao aprender a ler. Isto evita problemas no rendimento escolar, que levam meninos e meninas a desgostarem de estudar, terem comportamento inadequado e atrasos na relação idade/série. Apesar do Poder Público permanecer de olhos fechados para esta realidade, a dislexia está diretamente relacionada à evasão escolar e à sensação de fracasso pessoal.

Atualmente, a imensa maioria da rede educacional pública e particular não está capacitada para este desafio. Daí a importância de criarmos em nossas escolas um programa efetivo, que capacite professores a identificar estes distúrbios, crie equipes multidisciplinares para realizar uma avaliação precisa e garanta o acompanhamento profissional necessário. Dessa forma, estaremos garantindo que milhões de crianças e jovens em idade escolar tenham condições de corrigir um distúrbio, que restringe sua capacidade de aprendizado. Estaremos abrindo as portas para que eles tenham um futuro sem traumas, de sucesso profissional e com qualidade de vida.

A Educação, o Movimento e o Corpo Repetente

Posted in Educação with tags , , , , , , , , , , , on fevereiro 5, 2010 by projetomuquecababys

By Luis Carlos “Rapper” Archanjo

Lendo a postagem do professor Rudá Ricci[1]: O Conceito de Qualidade na Educação, onde questiona as mesas de debates, debates e debates; como se a saída para a educação fosse questão circunscrita à disputa de opinião pública, de mera formação de opinião. Segundo ele, Hannah Arendet sugeria que a função da educação é a humanização. Ou seja, a inserção dos educandos na humanidade, conformada por experiências plasmadas na linguagem, na escrita, na música, nas artes, já que o processo educativo envolve muito mais que avaliações meramente quantitativas focadas no educando. Envolve um consórcio de professores e educadores que contribuem para a formação cotidiana do educando. Envolve o impacto de pais que se têm hábito de leitura ou práticas esportivas estimulam que seu filho acolha o exercício de leitura e o esporte. Algo que se estudou e comprovou desde os anos 30 do século passado. Ao comentar a postagem de um membro do grupo a respeito em sua postagem, comenta:

Nossos cursos universitários não sabem ensinar a ser professor, pelo simples fato de que as universidades estão muito longe do espaço escolar. A universidade se transformou num espaço fechado, autorreferente em que um jovem termina a sua graduação e já ingressa no mestrado, saltando para o doutorado e prestando concurso para dar aula na universidade. Torna-se professor sem nunca ter entrado numa sala de aula de ensino fundamental ou médio. Conhece apenas pesquisa e livros. Esta cultura livresca não tem relação alguma com a dinâmica de um espaço escolar, absolutamente dinâmico, marcado por sub culturas (na linguagem dos estudos recentes), onde há um evidente confronto entre intenção escolar e hábitos comunitários e familiares (aliás, de famílias cada vez mais monoparentais).

 A lição de casa (ou tarefa, ou para casa, ou do Estado) e aulas de reforço é uma prova de como a receita é absolutamente anacrônica para uma realidade social que não comporta este resquício do início do século passado. A relação educação-trabalho não envolve apenas a visão empresarial. A educação é um processo auto reflexivo, que lança mão da experiência humana. Por este motivo é que é um ato de escuta e reflexão. Lemos e estudamos para saber o que outros pensaram, criando uma cadeia que envolve o indivíduo com a sua espécie. Educar é um ato humanístico, portanto.

Num cenário de reféns do medo, terreno fértil para a parafernália de Big Brother diuturnamente observando o cidadão comum, e, da legião de crianças sedentárias na aparente segurança e conectividade com o mundo exterior proporcionado pela comodidade da acessibilidade ao universo web, quando não, nos poucos movimentos programados de shoppings, playground e escola. Por outro lado  o fenômeno da violência direta ou indiretamente acaba interferindo na liberdade de movimento dos espaços comunitários, ainda no conflito de poderes, provocando as preocupações diárias que assolam o imaginário de mães zelosas no seu papel de provedora de lares na carência de qualificação profissional ou na descontinuidade de boa vontade do poder público e da rede de ajuda que não se faz presente integral ou efetiva para a ausência ou complemento de um quadro em que se pode deslumbrar estatísticas. Onde as marcas da violência são a referência na ponta de desdobramentos do tempo de estudo mínimo para um mercado de trabalho exigente e excludente apontando o caminho da informalidade nas funções do tráfico de drogas como uma das opções na atual realidade de filhos oriundos de famílias monoparentais, e o contexto social necessário a transmissão intergeracional de vidas precárias, por exemplo. Muitos são os projetos sociais que dimensionam a educação como parte integrante do potencial comunitário, emulando em suas crianças o precoce gosto por atitudes cidadãs através de atividades corporais e culturais que não fazem parte do repertório da favela, mas que direta ou indiretamente pode se beneficia,  mesmo que na excepcionalidade de talentos revelados para a circunscrição de uma nova realidade com os estímulos necessários aos processos cognitivos na cosstrução de  habilidades e competências para a leitura de um mundo tecnológico, principalmente.

A Teoria Sociocultural procura explicar o crescimento do conhecimento, do desenvolvimento e das qualificações individuais em termos de orientação, do suporte e da estrutura que a sociedade oferece. A modificação social no decorrer do tempo resulta de efeitos cumulativos das escolhas individuais. Observe a influência bidirecional da cultura e das pessoas: as pessoas são afetadas pela sociedade, mas eleas também modificam a sociedade. A tese básica da Teoria sociocultural é que o desenvolvimento humano é resultante da interação dinâmica entre as pessoas em desenvolvimento e a cultura em que vivem. Os teóricos socioculturais mencionam as muitas pelas quais as crianças aprendem com os pais, os mestres e os colegas, no lar, na escola e em seu bairro. Mas também olham além disso, para os modos como a educação e a aprendizagem são modeladas pelas crenças e metas da comunidade. E olham ainda mais adiante, para os meios pelos quais essa aprendizagem afeta continuamente todo o desenvolvimento – dos indivíduos de todas as idades, da família em cada coorte e do grupo étnico em cada local (BERGER, Kathleen Stassen. O Desenvolvimento da Pessoa Humana – da Infância à Terceira idade, Rio de Janeiro/Petrópolis, 2003 LTC Editora, p.33)

O aprendizado acima diz sobre o aprendizado nascido da interação social e não de um estudante obtendo conhecimento por si mesmo ou de um professor pondo no papel aquilo que ele sabe. Nem o estudante nem o professor são passivos; uma pessoa sempre aprende com outra, por meio de palavras e atividades em que  se envolvem juntas, ou seja, os adultos

 aprendem com as crianças e vice-versa, e todos aprendem tanto com seus iguais como com indivíduos mais velhos ou mais novos, como acontece nas sociedades tecnológicas em que as gerações mais velhas muitas vezes têm de aprender a partir das inovações de uma coorte mais jovem (Ibidem p. 33, 34). O que nos dá uma dimensão das troca sociointeracionistas para o quadro da aprendizagem nascida das realidades dos bolsões de pobreza, em que o tempo passa e poucas mudanças sociais ocorrem, onde maioria da lições aprendidas na infância vale por toda vida, e deixando a comunidade em patamares de sociedades tradicionais pela pouca rotatividade e diversidade cultural, social e econômica e todo o repertório que molda o contexto cultural, que por n fatores da falta de investimento em políticas públicas que poderia gerar talentos exponenciais e desmistificar a lógica de excepcionalidade vigente, já que esta é uma prova cabal de que o futuro da nação será o grande beneficiário se dados os estímulos necessários ao afloramento de potencialidades em jovens egressos da comunidade, em qualquer área de excelência pessoal, pelo que esta tem de material humano a espera do passaporte para os projetos de governantes que almejem novas posições no ranking de economias representativas de uma nova ordem das  sociedades tecnológicas com fortes influências multiculturais, indiferente às avaliações de pseudo verdades do pensamento livresco versus sub cultura da nossa eterna formação sociocultural e os seus artifícios para manter a verticalidade do conhecimento no cenário de vidas precárias que se perpetua e realimenta os velhos temores para o uso dos instrumentos coercitivos necessários ao establishment.

Muitos são os caminhos para uma nova consciência do valor das manifestações culturais nascidas do universo comunitário que, por miopia daqueles que ditam as regras do que é cultural ou não continuamos a conceber valores do que é cultural como aquilo que é importado do primeiro mundo, enquanto os estrangeiros deste primeiro mundo vêm beber nas águas do nosso multiculturalismo para o constante aquecimento de modismos que nos retornam travestidos com um toque imperceptível de brasilidade para olhos insensíveis a riqueza tupiniquim camuflada que desce na verticalidade livresca para consumidores menos vorazes de um mundo que aos pouco descobre o seu braço dissidente antenado na fala e escrita de  novos formadores de opinião para o “junto e misturados” das manifestações culturais populares e de movimentos sociais que contribuem-se mutuamente na problematização das mazelas sociais imperceptíveis a antolhos do pragmatismo que desconhece do quanto os processos conectivos trazem de novos paradigmas a partir da horizontalização da acessibilidade aos equipamentos culturais necessários ao movimento ascendente na linha das estatísticas de violência que estampam a primeira página dos jornais ou ao vivo e em cores para enquadramento de mães chorosas da e na realidade  nua e crua de nossos telejornais diuturnamente.

Rio de Janeiro é o que é pelos símbolos que são a cara da cidade maravilhosa, tanto para o bem quanto para o mal, dependendo da lógica do observador. Quando se pensa em carnaval nos vem a maior festa do planeta. Mas nos bastidores dessa grande festa, muitos são os questionamentos do quanto pode ser feito pelo profissionalismo e participação no lucro daqueles na informalidade da industria do carnaval e suas cifras em retorno para aqueles nos processos organizados da cadeia produtiva e do quanto não há reconhecimento dessa manifestação cultural com a vida comunitária, ou seja, são as crias do morro os verdadeiros donos da festa: passistas, portas-bandeira, mestres-salas, ritmistas, comissões-de-frente movidos pelo amor à agremiação, enquanto o retorno fica na interrogação de ações pontuais de menor vulto direta ou indiretamente revertido para a comunidade em termos de compromisso pessoal, responsabilidade social de uma organicidade onde a filosofia do lucro pelo lucro impera na contabilidade final do que foi arrecadado ou os anfitriões da avenida não são merecedores da participação no lucro da Industria do Carnaval S. A?

 A princípio soube a respeito através da boca miúda, mas agora na certeza da notícia veiculada pela imprensa local posso linkar a matéria sobre a louvável iniciativa do Prefeito Eduardo Paes em criar um espaço na Praça XI, onde está localizado o Terreirão do Samba; nos moldes do Espaço Cultural para a Tradição Nordestina, a famosa Feira de São Cristóvão, só que voltado para as tradições do mundo do samba. Portanto, é preciso um novo olhar para a contribuição da comunidade pelo que ele evidência do uníssono de milhares de vozes cantando o samba-enredo e ao mesmo tempo celebrando a sua condição parte integrante da “cidade maravilhosa”; é quando o asfalto e a favela travestem-se nas cores da escola de samba do coração como se num armistício com hora e data para iniciar e terminar segundo os dias de folia, que encanta pelo que a avenida faz com a rotina de medo do dia a dia, ora transformado no grande palco da passarela do samba na riqueza de personagens para cidadãos comuns ao longo dos cenários que se desenvolvem pela avenida ao som da trilha sonora na cadência de surdos, agogôs, tamborins e cuícas conduzidos, não pela batuta, pelo apito e a regência do Mestre de Bateria para o deleite daqueles do turismo interno e de gringos desengonçados, mesmo aqueles que buscaram as academias, principalmente aquelas voltadas para os passos coreografados da  Dança de Salão (dezembro) e do samba de gafieira, diferentemente do show de mulatas seminuas para gringo ver, reduto do que há de melhor do samba no pé e do bailado de passistas orgulhosos em representar a academia de dança do morro para olhos extasiados diante de movimentos desconcertantes, passos sincopados de homem ou mulher, indiferente à tradição das grandes companhias de dança dos seus países de origem pelo que o samba do Rio de Janeiro tem com a população negra e os mitos da religião de matriz africana quando associa o jeito estiloso de Zé Pelintra à imagem do malandro carioca em mostras coreográficas nos palcos daqui e do exterior. Com idades da criança até a terceira idade no ofício de perpetuar a tradição passada por gerações daqueles que são os guardiões dessa cultura que é a cara do Rio de Janeiro, o morro dá  sua contribuição para uma comunhão pacífica com o asfalto, diferentemente da imagem que é vendida por aqueles que visam o lucro pelo lucro de uma cidade apartada por asfalto e favela.

As cifras por trás do carnaval dimensionam do quanto esse bem imaterial pode reverter em benesses da relação trabalho-renda associado à responsabilidade social para amenizar a ausência do Estado como principal ator na vida comunitária, com reflexos em outros espaços da cidade por falta de políticas públicas vocacionais para atender esse segmento do conjunto da cadeia produtiva nos bastidores da grande festa, que já dá noções de empreendedorismo na qualificação de mão-de-obra local para atender as demandas da estrutura que resulta no produto final do que reluz ao longo da Marques de Sapucaí para os quatro cantos do globo. A aposta da Prefeitura do Rio de Janeiro em um espaço voltado para o mundo do samba serve para confirmar mais ainda a condição de cidade maravilhosa pelo que o samba representa para a carioquice, pelo que tem de acolhedora na multiplicidade do conjunto de seus habitantes e da sua beleza natural estimulando o turismo interno, fora do período carnavalesco, bem como o fortalecimento do sentimento que os valores societários da comunidade é parte integrante do processo econômico e sociocultural do Rio, que após as etapas de quem acreditou desde a candidatura, vestiu-se de verde e amarelo, foi às ruas, comemorou a vitória e, que agora, renova as esperanças na capacidade de realização da união das três esferas de governo e de empresários empenhados no “Projeto Olímpico”, coloca a nossa cidade na condição de capital-vitrine pelo que já podemos oferecer em termos de beleza no conjunto dos bens materiais e imateriais somando-se aos ajustes nascidos dos questionamentos técnicos para as demandas de infraestrutura que ainda não atende as especificações para comportar um megaevento como a olimpíada por exemplo. Que venham as medalhas e o legado para a qualidade de vida dos seus habitantes e dos que por aqui aportam para partilhar da sua condição de “Cidade Maravilhosa”.

A tradição do samba como um dos valores formadores da sinergia de quem vestiu a camisa da escola desde do primeiro aniversário serve como ponto de partida para a observação num mundo em que o sentido de beleza é variável de acordo com a etnia, idade, nível social, história pessoal, sociedade, culturas e infinitos outros grupos para a analise de representantes do corpo técnico-pedagógico carentes da observação diária no grande laboratório da prática do sacerdócio de transmissão do conhecimento e, ao mesmo tempo, apreender lições nascidas do olhar curioso em entender o porque de realidades em conflito para o que se apresenta como fora do padrão ao repertório de vivências em universos abismais se, porém, “juntos e misturados” no compromisso em fazer da educação a ponte que liga os mundos. Mundo este onde o ato corporal, o movimento para além do puro cinetismo transforma o espaço, o corpo e a percepção de si mesmo. A imagem corporal é um complexo fenômeno humano que envolve aspectos cognitivos, afetivos, socioculturais e motores. Está associado intrinsecamente com o conceito de si próprio e é influenciável pelas dinâmicas entre o ser e o meio em que vive. O seu processo de construção/desenvolvimento está associado, nas diversas fases da existência humana, às concepções determinantes da cultura e sociedade. Quando o professor aprender a olhar no rosto de seus alunos e não apenas no diário de classe, quando permitir o ser olhado, o senso de respeito ao outro e ao que é diferente, surgirá. Este senso surge quando identificamos o rosto e permitimos ser identificados. Aprender o sentido e o infinito no rosto do outro é a “ética da alteridade” de Lévinas. O ensinar deve traduzir o respeito ao outro, como linguagem do seu modo de ser, sem possuí-lo. Muitas vezes para ver o rosto do outro é preciso olhar com outras lentes, que não sejam as dos míopes, de preferência com a lente do outro, e procurar ver como o outro vê. Isso nos provoca e convoca a análise dos discursos que nos levam a princípios de verdades que são excludentes, ou seja, que não promovem a solidariedade e o respeito ao diferente, ao outro.

Cinestesia: É o sentido do movimento corporal e da tensão muscular provocada pelas forças mecânicas que influenciam os receptores nos músculos, nos tendões e nas articulações. Literalmente “sensibilidade ao movimento”, é um dos nossos sentidos fundamentais. Dá informações a respeito dos movimentos das estruturas físicas, do levantamento dos braços, das rotações do globo ocular, o ato de engolir; informa, em suma, a respeito de todas as ações motoras. Além disso, é responsável pela sensação de tensão e de esforço muscular. Os estímulos físicos para as sensações cinestésicas são forças mecânicas que atuam dobre os receptores localizados nos músculos, nos tendões e nas articulações do corpo. À medida que os músculos funcionam, modificando as posições das partes do corpo. Diversos padrões de pressões, nesses receptores, fornecem a informação essencial para a orientação da aça motora. Há uma grande interação entre essas sensações cinestésicas e outros aspectos de nossa experiência perceptual. A percepção visual da distância, por exemplo, inclui entre outras coisas, uma síntese completa de informação das retinas e do movimento dos músculos dos globos oculares. Normalmente, não nos damos conta do papel das sensações cinestésicas em nosso comportamento. Sua importância se revela, porém, e de modo dramático, nos casos em que vêm a falhar. Certas pessoas podem apresentar doenças em que perdem, em caráter permanente, as sensações sinestésicas de certas partes do corpo – as pernas, por exemplo – em conseqüência da destruição dos nervos sensoriais essenciais. Pode-se então observar que essas pessoas ao caminhar arrastam com dificuldade os pés e olham continuamente para eles. Sem essa orientação visual, não seriam sequer capazes de se locomover, pois não dispõem de uma informação sinestésica direta sobre o que está ocorrendo com os músculos da perna. Estreitamente ligadas às sensações cinestésicas estão as “sensações vestibulares”, responsáveis pela percepção do movimento espacial e da orientação do corpo como um todo, ou seja, as sensações relacionadas com o sentido do equilíbrio.

Junto a hipocinesia[3], provocadas pelo uso da tecnologia e novas formas de produção de relação homem-trabalho, o século XX transformou profundamente a manifestação do movimento como parte integrante da própria essência humana. A inatividade física se tornou problema de saúde pública – as doenças crônico-degenerativas passaram a se a causa principal da morte na sociedade atual, deixando para trás as doenças infecto-contagiosas (Nahas, 2001). Além disso, o corpo foi cada vez mais explorado pelo comercio, moda e meios de comunicação. Tais fatos permeados por algumas concepções de ser humano/sociedade; o indivíduo passou a ser visto mais holística e também como instrumento de rendimento, de mercado. A cultura corporal, incluindo imagem e movimento, passou, dessa forma, a pertencer a dois universos, que apesar de parecerem idênticos, são muitas vezes antagônicos. Nesse sentido, há a vertente de saúde, onde a imagem é prática corporal convergem para um objetivo de congregação de valores nos quais o ser humano possui maior possibilidade de explorar seus potenciais somático-fisiológicos, psicomotores, intelectivos e até sociais. A interação homem/meio ambiente não se torna uma flagelação para o indivíduo.

A seguir as considerações do professor de Psicologia, Ênio Pinto[2] (Viver Psicologia, 1995) com o título: O corpo em Educação:

Toda a ênfase dada ao corpo nos primeiros anos de vida escolar vai se perdendo ao longo do tempo. Aos pouco, o foco vai sendo transferido para as abstrações do conhecimento e o corpo vai sendo reprimido e ignorado. Temos desprezado o fato de que o prazer de aprender e a liberdade criativa são coisas que nascem e se manifestam exatamente no corpo. Se lançarmos um breve olhar histórico para a escola, logo perceberemos que, em nossa cultura, o conhecimento está geralmente associado à mente, ao intelecto, em detrimento ao corpo. Desde muito tempo até os dias de hoje as teorias sobre educação falam prioritariamente sobre a aprendizagem intelectiva, quase como se ela fizesse se dar apesar do corpo, e não no corpo.

Ao pretendermos entender e se adaptar ao mundo a nossa volta aprendemos principalmente a lidar com símbolos: quanto mais uma pessoa avança no processo de aprendizagem, com menos coisas concretas esta pessoa lida mais abstrato se torna o seu conhecimento. Na escola, mormente nas mais modernas e mais apoiadas em métodos renovadores de ensino, podemos observar que, nos primeiros anos de estudo, até que alguma atenção é dada ao corpo da criança, notadamente no que concerne ao lidar com coisas concretas. A medida em que a criança vai caminhando em sua escolaridade e ampliando a capacidade de abstração, o corpo vai sendo deixado de lado, como se fosse necessário apenas nos primeiros anos escolares. Assim, nos primeiros anos de vida escolar, é visível alguma preocupação da escola em lidar com o corpo, até em fazer do corpo instrumento da aprendizagem. Passados os primeiros anos, é como se colocássemos os alunos em uma escada e suas mentes foram galgando os degraus com, maior velocidade que seus corpos de forma que quando a pessoa alcançasse a pós-graduação, seu corpo ainda estivesse, eterno repetente, nos primeiros anos do primeiro grau. E as teorias sobre educação, de uma forma geral, privilegiam a mente como, de maneira geral, um professor privilegia aquele aluno que melhor repete o que ouviu. O corpo e a criatividade ficam sem importância?

Sim, pois a criatividade não é filha apenas da mente, e sim cria de um organismo integrado por corpo e mente, um todo indissolúvel que nossa cultura dicotomiza. Ao descuidar do papel corpo na aprendizagem. A escola descuida também do papel da criatividade no desempenho das pessoas, diminuindo as possibilidades de alcançarem a competência existencial, tão necessária à luta por uma vida mais digna e mais responsável. A maioria das escolas se torna mais mecanicista e menos humanista, com efeitos perigosos sobre o processo de aprendizagem. Formam pessoas que têm imensa capacidade de repetir o conhecido e muito pouca coragem para experimentar novos caminhos, para ousar, para criar. E este caminho tão cruel começa pelo desleixo para com o corpo no processo educacional. O corpo é a base do prazer, pois, pois é a partir do corpo que começamos a perceber a noção do eu, e é através do corpo que continuamos este processo pela vida afora. Percebemos o mundo através do corpo, exploramos o mundo através do corpo, damo-nos conta de quem somos e do que queremos através do contato do corpo, somente existimos corporalmente. E, ainda assim, na escola ele não tem vez.

O corpo é a base do prazer, pois todo prazer é corporal [4]. Não como não sentirmos prazer se não temos um bom contato com nosso corpo. O prazer traz liberdade, criatividade, consciência, assertividade, excitação, coisas com certeza assustadoras dentro de uma escola. Porque alunos que têm prazer em estudar são alunos inquietos, questionadores, curiosos e atentos, exigentes ao que recebem de seus professores e da escola. Melhor, então, cala-los, melhor deixar seus corpos eternos repetentes no primário, para que suas mentes não se desviem das trilhas já conhecidas, decoradas e, anos após ano, enfadonhamente repetidas por enfadonhos professores, gerando nos alunos um enorme desprazer ao ir para a escola. Estudar neste contexto vira obrigação, coisa chata que se faz o ano a ano em busca de uma felicidade que nunca será alcançada um dia, lá no futuro, quando a pessoa resolver que não precisa mais estudar, pois já sabe pisar exatamente sobre os passos daqueles que antes deixaram bem marcado o caminho certo a seguir sem criatividade, Narcisos que não tiram os olhos do lago, diferentemente daqueles dos processos criativos necessários ao mundo em que as idéias são o grande capital humano. Portanto, potenciais observadores dos processos geradores de conteúdo de um mundo que se faz na velocidade vertiginosa da web, ora saindo da condição incipiente de educar para se firmar como caminho forma da educação através da aprendizagem síncrona e, ou assíncrona nos primeiros estágios dos vários processos interativos de um mundo cada vez mais carente de mão de obra capacitada para o campo ilimitado das abstrações audiovisuais, principalmente, já que este nicho de mercado é o do verdadeiro encontro com o saber que liberta as amarras mentais que não deixam a mente expandir. Matrix e Avatar são exemplos de possibilidades do encontro da imaginação com a nova geração de tecnologia para criar cenários factíveis de um novo mundo, por exemplo.

E como fazer isto? Como facilitar à criança abandonar-se ao corpo, ao prazer, à curiosidade, à criatividade?

Observe como uma criança tem uma energia corporal quase ilimitada; perceba como ela se entrega completamente a cada atividade corporal. Insistentemente, ela busca o prazer corporal, mesmo que isto implique em repetir e repetir atividades até encontrar o tesouro que necessita. Isto, até certo ponto da infância, quando começa a acontecer alguma coisa que bloqueia este processo da busca obstinada do prazer. A competição, tão estimulada pelas escolas, começa a entrar em cena, aparecem as críticas com relação à busca do prazer, tentativas desajeitadas de procura do prazer sarcasticamente desestimuladas, a desaprovação, ao gozo do prazer aparece fazendo com que a criança restrinja-se, a fim de conseguir corresponder às expectativas dos outros e conquistar o tão necessário amor no mundo.

Ela aprende a contrair sua musculatura, a reprimir sua raiva, a deixar sempre enovelado em sua garganta o choro. Ela funda-se em seus ombros, protegendo-se de palavra e de censuras, escondendo seu corpo em desenvolvimento. Perde o senso de si própria, bem com grande parte de sua energia vital ao de se desligar de seu corpo para conquistar um espaço social. O corpo encolhido e assustado diminui seu limiar de percepção, por conseguinte seu limiar de contato com o mundo real, mesmo num mundo das relações virtuais de uma sociedade em redes sociais, e o indivíduo vê diminuída a sua capacidade de influenciar este mundo como o faz o verdadeiro lider. Abre mão do seu processo interior, busca viver a experiência de outra pessoa, aliena-se, busca a saída do Narciso. Não a ansiedade ontológica, tão importante nas busca do significado do estar vivendo, mas a ansiedade patológica, paralisante e castradora de excitação.

A pessoa ansiosa limita sua respiração, diminui a quantidade de oxigênio ingerido em cada inspiração, desinspiração, tende a evitar o novo e a não ser criativa. Não se excita, pois a excitação requer oxigênio, requer energia, que não está disponível no corpo contido. A ansiedade ao contrário da excitação alimenta a curiosidade, matéria-prima da aprendizagem. Madalena Freire diz que “o educador educa a dor da falta, cognitiva e afetiva, para a construção do prazer. É da falta que nasce o desejo. Educa a aflição da tensão da angústia de desejar. Educa a fome do desejo”. Atentemos para esta reflexão de Madalena Freire, observemos os termos que ela usa quando se refere ao educador. “Dor” a gente sente no corpo. “Prazer” só pode ser percebido no corpo. “Desejo” depende de percepção sinestésica. “Aflição”, “angústia”, “fome” são sensações corporais. Aprender demanda ver, ouvir, falar, sentir; demanda o corpo presente e vivo. É este corpo de devemos buscar levar para a escola, o corpo vivo, o corpo excitado e curioso com o saber, o corpo envolvido, presente, participante e inquieto. “Ensinar e aprender são movidos pelo desejo e pela paixão”, completa Madalena Freire.

Penso que é importante que a escola esteja atenta ás potencialidade que o cuidado com o corpo traz para a educação. Não basta que o corpo apreça nas preocupações escolares apenas no que diga respeito a como controla-lo na busca de uma suposta disciplina, útil apenas par formar pessoas obedientes e passivas. Não basta penas olhar para o corpo do aluno que padece de uma disfunção. Não basta estudar-se o corpo em surrealistas aulas de anatomia. Não basta tentar modelar o corpo por exaustivas aulas de educação física. Não podemos mais olhar o corpo como se a abstração fosse possível sem ele. È interessante quando se fala de educação de deficientes, nunca se deixe de lado o aspecto corporal. São diversas as técnicas, são muitos os exercícios, são várias as teorias que procuram facilitar ao deficiente o máximo de aprendizagem possível, todas passando por cuidados corporais, por aumento do limiar de percepção. Na educação das pessoas normais, o corpo é deixado de lado, como se bastasse ele não ter problema anatômico ou fisiológico, então esqueça o corpo ou aliene-se do corpo. Com o deficiente, cuida-se do corpo, porque ele já tem os limites que sua deficiência lhe impõe. Mas não tomemos proficiente quem é eficiente. Qual a palavra, então, para mudar este quadro de desleixo para com o corpo? Penso que não é uma, mas são duas as palavras: encorajamento e respeito.

Encorajamento para que o aluno mantenha sempre acesa dentro de si mesmo a chama da curiosidade. Encorajamento para que ele descubra que a curiosidade exige tenacidade e pesquisa. Encorajamento para que ele não perca de vista o prazer de aprender.

Respeito para com suas tentativas ainda que desengonçadas. Respeito para com o que ele já sabe. Respeito para com a sua excitação e para com a sua vivacidade. Respeito para com o seu desejo.

Segundo pesquisas de motivações que levam a prática do bullying no ambiente escolar, as questões relacionadas à imagem corpórea, onde o ponto de partida é uma piadinha ou uma brincadeira de mau gosto aparentemente inofensiva relacionada ao corpo que evolui até para maus-tratos físicos. E, com o passar do tempo e a repetição irritante da agressão, o tormento leva a vítima a um processo gradativo de isolamento, baixo rendimento escolar, tristeza e depressão. Sentimentos que abalam a autoestima dos jovens e deixam pais e professores de mãos atadas diante do problema. O bullying é um conjunto de comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos, adotados por um ou mais alunos contra colegas, sem motivação evidente. A agressão moral, verbal e até corporal sofrida pelos alunos provoca dor, angústia e sofrimento na vítima da brincadeira, que pode ter um fim trágico para jovens que sofrem o preconceito, o assédio e a intimidação dos colegas e em alguns casos até dos professores. Recente pesquisa do IBGE constatou que três em cada dez estudantes brasileiros matriculados no último ano do ensino fundamental relatam ter sido vítimas dessa humilhação. Uma pesquisa constatou que Brasília, com 35,6% e depois belo Horizonte com 35,3% dos casos são as capitais que ocupam o primeiro e o segundo lugar com esse tipo de registro.

Sinais em vítimas:

  • Apresentam com freqüência desculpas para faltar às aulas ou indisposições como dores de cabeça, de estômago, diarréias e vômitos, antes de ir à escola.
  • Pedem para mudar de sala ou de escola, sem apresentar motivos convincentes;
  • Apresentam-se desmotivadas com os estudos, queda do rendimento escolar e dificuldades de concentração e aprendizagem;
  • Voltam das escolas irritadas, tristes, machucadas, com as roupas ou materiais sujos ou danificados;
  • Apresentam aspecto contrariado, deprimido, aflito ou têm medo de voltar sozinho da escola;
  • Têm dificuldade de relacionar-se e fazer amizades com os colegas;
  • Vivem isoladas em seu mundo e não querem contato com outras pessoas que não façam parte da família.

O que fazer:

  • Observe qualquer mudança no comportamento;
  • Estimule para que fale sobre o seu dia-a-dia na escola;
  • Não o culpe pela vitimização sofrida;
  • Ajude a criança ou adolescente a expressar-se com confiança;
  • Transforme o seu lar num local de refúgio e segurança;
  • Valorize os seus aspectos positivos e converse sobre suas dificuldades pessoais e escolares;
  • Procure ajuda psicológica e profissionais especializados;
  • Procure a direção da escola ou ajuda de um conselho tutelar.

Penso que para o adolescente é mais que nunca importante um cuidado com o corpo. É na adolescência que o corpo mais se modifica, trazendo neste processo mudanças cognitivas do que significativas. É justo neste momento que a capacidade de abstração se realça e, por isto, justo neste momento é que o cuidado com o corpo se torna essencial. O adolescente está capaz de apartar-se de si mesmo, de ser sujeito e objeto de si mesmo. Ele está num momento fundamental para a consolidação de sua identidade, um momento de rápidas e definitivas mudanças corporais. Ele será tão mais saudável quanto melhor for seu contato com o próprio corpo. Ele será tão mais responsável socialmente quanto mais responsável for para com os seus sentimentos e com suas sensações. Fazer a descoberta de si mesmo a medida em que tiver maior liberdade para conhecer e explorar sua corporeidade. Aprenderá mais é melhor se souber lidar prazerosamente com o estudo. E prazer depende de se entrar de corpo e alma numa atividade. Assim como a criança, também o adolescente e o adulto precisam de afeto para aprender. Afeto requer contato entre o professor e aluno. Requer que um veja (e não apenas olhe para) o outro. Requer que um ouça (sem ouvidos moucos) o outro. Requer que um se emocione com o outro. Que ambos se modifiquem e cresçam no contato. Requer disponibilidade, discorponibilidade e exige confiança.

Aprender é inCORPOrar depois de digerir. Aprender não é decorar e repetir, mas criar, a partir do ensinado, uma atitude nova diante da vida.

 [1]Sociólogo, Doutor em Ciências do Fórum Brasil de Orçamento, Consultor do Sindicato dos trabalhadores na Educação de Minas Gerais e Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal de São Paulo.

[2]Psicólogo, “gestalt”-terapeuta e professor universitário
Fontes Bibliográficas: 1-  Grossi, E. P. e Bordin. Paixão de Aprender.  Editora Vozes:  Rio de Janeiro, 1992.
2-   Oaklander, V. Descobrindo Crianças.   Editora Summus,  São Paulo,  1980.

[3]http://www.efdeportes.com/efd83/imagem.htm

Filme Preciosa          http://www.youtube.com/watch?v=GQxwlyyZPis
Original: Precious: Based on the novel push by Sapphire
Direção: Lee daniels
Atores: Gabourey Sidibe, Mo´Nique, Rodney Jackson, Paula Paton, Mariah Carey, Lenny Kravitz
Gênero: Drama
Duração: 110 min
Ano: 2009

[4] DJ BATATA
Mas uma aula da criatividade da juventude negra brasileira reunindo os passos do samba de gafieira, charm e hip hop ao som da trilha sonora desse cara respeitadíssimo no mundo do Funk e com sensibilidade para ultrapassar fronteiras dos ritmos e criar algo tão belo para os olhos e ouvidos do Brasil e do mundo.

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