Arquivo para Mandela

Vozes Reveladas – Sarafina

Posted in Cidadania, Cinema, Dança, Educação, Intervenção Social, Política & Políticos, Sociedade, Trilha Sonora, Violência Urbana with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 18, 2013 by projetomuquecababys

Invictus – A Alma Invencível

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , on maio 1, 2010 by projetomuquecababys


By Hiram Firmino

A gente sai do cinema não acreditando que ainda haja seres humanos assim. Após passar quase três décadas na prisão, humilhado, discriminado e segregado pelo apartheid, e antes de ser eleito presidente da África do Sul, quando milhões de negros esperavam que Nelson Mandela liderasse a vingança contra os brancos, ele os surpreende, dizendo: “Peguem suas facas, armas e facões e joguem tudo no mar. O dia pelo qual os sul africanos negros tanto lutaram finalmente chegou. Pela primeira vez, poderão exercer seu direito de voto junto com os brancos.”

E, na posse, os convida a sonhar um outro sonho juntos: “Eu, Nelson Rolihlahla Mandela, juro ser fiel à República da África do Sul. Nunca, nunca e nunca mais, essa linda terra experimentará de novo a opressão de um sobre o outro e sofrerá a indignidade de ser a escória do mundo”.

No seu primeiro dia como presidente, ao chegar a seu gabinete e perceber todos os funcionários brancos, contratados que foram pelo regime segregacionista anterior, ressabiados com o destino que os aguardava, Mandela convoca uma reunião informal. E os tranquiliza, com a humildade convocadora de um nobre: “É claro que se quiserem ir embora, vocês estão no seu direito. E se sentirem em seus corações que não poderão trabalhar com o novo governo, então será melhor irem imediatamente. Mas, se estiverem partindo por temer que a sua língua ou a cor de sua pele, ou se pensam que ter trabalhado para o regime anterior os desqualifica a continuar, estou aqui para dizer que não temam. O passado pertence ao passado. Estamos olhando o futuro, agora. E precisamos da ajuda de vocês. Queremos a sua ajuda. Se quiserem ficar, estarão prestando um grande serviço ao seu país. Tudo o que peço, é que façam seu trabalho com capacidade e boa vontade. Eu prometo fazer o mesmo”.

Momentos depois, ao ver que Mandela tinha mantido o serviço de segurança pessoal do governo anterior, só com  homens brancos, um de seus companheiros negros se revolta: “Mas… não faz muito tempo, senhor presidente, esses caras tentavam nos matar!”. Ao que Mandela responde, dizendo que todos tinham de trabalhar juntos e sem preconceito: “A reconciliação e o perdão também começam aqui. O perdão liberta a alma. Afasta o medo. Se conseguirmos isso, o nosso país será uma luz brilhante no mundo”.

Ao defender a tradição do jogo de rúgbi, esporte nobre trazido pelos ingleses, e ainda pedir para os seus compatriotas torcerem para o Springboks, que era o time dos brancos, Mandela explicou a razão maior que o inspirava ante o ódio generalizado da população negra: “Na Prisão Pollsmoor, em Robben Island, todos os meus carcereiros eram brancos, afrikaners. Durante 27 anos, eu os estudei. Aprendi seu idioma, li os seus livros, a sua poesia. Precisava conhecer o meu inimigo, antes de poder superá-lo, triunfar sobre ele. E nós triunfamos, não foi? Todos nós aqui triunfamos. O nosso inimigo não é mais afrikaner. Eles (os brancos) são nossos compatriotas, nossos parceiros na democracia. E eles prezam o rúgbi, o seu time Springboks. Retirando isso deles, iremos perdê-los. Provaremos ser aquilo que eles temiam que fôssemos. Temos de ser melhores que isso. Temos de surpreendê-los com compaixão, moderação e generosidade”.

Aos que ainda tiveram dificuldade de entendê-lo, Mandela acrescentou: “Eu sei tudo o que os brancos nos negaram. Mas não é a hora de celebrarmos uma vingança trivial. Essa é a hora de construirmos a nossa Nação, usando cada tijolo disponível, mesmo que venha embrulhado nas cores do time deles. Afinal, vocês me elegeram como seu líder. Deixem-me liderálos!”

Mandela acabou convencendo a Confederação SulAfricana de futebol a aceitar o jogo de rúgbi. Menos a sua secretária particular, que também era negra: “Desculpe, presidente, mas temos problemas em toda parte.  Habitação, comida, emprego, crimes… o senhor não pode interromper assuntos de Estado para contentar uma minoria revoltada com  a manutenção deste esporte!..” “Essa minoria”  respondeu Mandela  “ainda controla a polícia, o exército e a economia. É um jogo de cintura humano”. E se referindo novamente aos brancos completou: “Se retirarmos o que eles estimam, o seu time, o seu hino nacional, fortaleceremos o ciclo de medo entre nós. Farei o que for preciso para romper esse ciclo. Ou ele irá nos destruir.”

O segredo  Um dos pontos altos do filme é quando ele confidencia ao capitão do time dos brancos, interpretado pelo ator Matt Damon, como conseguiu passar 27 anos preso sem cair no desânimo, na depressão e desejar a morte. “Precisamos de inspiração para liderar os outros. Em Robben Island, quando as coisas ficavam ruins, eu encontrava inspiração em um poema. Um poema Vitoriano. Apenas palavras. Mas que me ajudaram a levantar quando tudo o que eu queria era me deitar”.

Este é o poema vitoriano “Invictus”, escrito em 1875 pelo inglês William Ernest Henley, que dá nome ao filme e  faz  a gente sair do cinema com ele ainda ecoando na memória:

“Pela minha alma inconquistável, nas garras das circunstâncias eu não recuei e nem gritei. Sob os golpes do acaso, minha cabeça está sangrando, mas não abaixada. Além deste lugar de ira e lágrimas, só surge o horror da sombra e ainda a ameaça dos anos. Encontra e me encontrará sem medo, não importa quão estreito seja o portão, como é cobrada a punição do que está escrito. Eu agradeço a qualquer Deus que exista pela minha alma inconquistável. Minha alma é invencível. Eu sou o capitão do meu destino. Eu sou o capitão da minha alma”.

http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?materia=MjM1&edicao_id=51

Diretor: Clint Eastwood
Elenco: Morgan Freeman, Matt Damon, Scott Eastwood, Langley Kirkwood, Robert Hobbs, Tony Kgoroge, Jason Tshabalala, Bonnie Henna, Grant Roberts, Patrick Holland, Patrick Mofokeng, Moonsamy
Produção: Clint Eastwood, Robert Lorenz, Lori McCreary, Mace Neufeld
Roteiro: Anthony Peckham
Fotografia: Tom Stern
Trilha Sonora: Kyle Eastwood , Michael Stevens
Duração: 133 min.
Ano: 2009
País: EUA
Gênero: Drama
Distribuidora: Warner Bros.
Classificação: 10 anos

Mãe África de todas as fomes

Posted in Fome with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 15, 2009 by projetomuquecababys

By Luis Carlos “Rapper” Archanjo

Em 15/08/2008, passado um ano exato, a EMERJ (Escola de Magistratura do Rio de Janeiro) abriu as portas do Auditório Antônio Carlos Amorim para a realização do Seminário: A JUSTIÇA QUE NÓS QUEREMOS. A mesa de abertura coube ao Desembargador Siro Darlan, o grande mentor do evento, seguido de quatro painéis moderados por outros Desembargadores, o Vice Presidente da OAB e os respectivos atores sociais e trajetórias de vida com caminhos distintos, que mesmo algumas vezes em conflito, sentados lado a lado em nome de objetivos comuns para um novo olhar da perspectiva do diálogo por um mundo melhor a partir dos valores que preceituam direitos e deveres dos processos democráticos que pactuam interesses diversos das relações sociais. Entre os participantes cito alguns como: Delegado Orlando Zaccone, a Diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, Julita Lengruber representando os operadores da lei e Ronaldo Monteiro da Incubadora de Projetos para Egressos representando o sistema prisional; João Luiz Duboc Pinaud, da Comissão Nacional de Direitos Humanos , representando nossos eminentes defensores dos Direitos Humanos, Movimentos Sociais e Ongs ligados aos temas; como também representantes da arte e da cultura. Segue abaixo a cronologia dos painéis:

1- Favela e Cidadania;
2- Nossa Casa, Nossa Terra;
3- Direito à Diferença;
4- Fora da Lei, Abaixo da Vida.

Como a proposta deste texto é a contextualização da questão da terra, o tema nos leva a evocar os pontos de vista de João Pedro Stédile, um dos escritores da publicação anual A Agenda Latina-Americana lançada desde 1991. Um dos livros mais difundido dentro e fora do continente, traduzido para 15 línguas. A publicação tem como principal objetivo a divulgação da causa latino americana e servir de livro de estudo para comunicadores, educadores professores, agentes de pastoral e lideranças dos movimentos sociais. Participam na Agenda, inúmeras outras personalidades do Brasil e da América Latina, entre eles Frei Betto, José Saramago, Carlos Masters, José Maria Vigil, Eduardo Galeano, José Comblin, François Houtart, Ivone Gebara, Clodovis Boff, Leonardo Boff, entre outros.

Participante da mesa de debate do painel – Nossa Casa, Nossa Terra, contundentemente faz a exposição do conhecimento amealhado ao longo da militância pela causa da terra na condição de unanimidade tupiniquim a respeito de verdades e mentiras envolvendo os sem terra, os latifúndios e as oligarquias, as transnacionais do agronegócio pelo que este representa em defesa do uso da terra para suprir as necessidades básicas em pequenas propriedades e os interesses da ocupação de grandes extensões para a agricultura que atende ao agronegócio. Persongem emblemática  nos desdobramentos do conflito pela posse, cultivo e preservação  da terra dentro e fora do país, questionador incansável  quando no papel de interlocutor  dos movimentos populares na defesa de interesses dos pequenos produtores no tocante aos negócios envolvendo as oligarquias do passado e as transnacionais do futuro em detrimento a agricultura de subsistência e outras questões da posse da terra por pequenos agricultores e quilombolas, por exemplo. Na sua exposição, o representante do MST (Movimento do Sem Terra), faz suas considerações a partir da Revolução Francesa e o povo insurgindo contra os valores burgueses do Feudalismo como marco para uma analogia para as causas da briga pela terra desde as Capitanias Hereditárias até a Lei do Latifúndio promulgada em 1850, estabelecendo que as terras só poderiam se adquiridas por compra e venda. Com o gesto, Portugal institui pela primeira vez na história do país a propriedade privada no campo e limita o acesso das camadas pobres à agricultura. Daí os desdobramentos que até o presente maculam as questões relativas à posse da terra e as ocupações irregulares com predominante presença de descendentes da mão-de-obra escrava libertada somente em 1888. Evidentemente não teriam dinheiro para comprar o seu pedaço de chão, assim como imigrantes pobres excluídos dos processos de modernização na Europa que por aqui aportaram. Portanto, vemos as propriedades dos grandes senhores de ontem e as oligarquias de hoje se multiplicando por todo país e o conseqüente desejo da ocupação dos espaços improdutivos das vastidões latifundiárias por aqueles sem terra.

Como porta-voz dessa massa de excluídos no campo, a militância do MST tremulando sua bandeira vermelha ganha espaço fora do campo até tornar-se referência nacional de articulação da sociedade civil organizada com os vários agentes dos processos democráticos necessários a avaliação dos pontos de vista dos direitos e deveres que se contrapõem quando da ação revindicatória do movimento sem terra. A Reforma Agrária é a grande bandeira que faz do MST presença obrigatória nas articulações e mobilizações dos movimentos sociais no campo ou nos grandes centros urbanos, principalmente aquelas que vão de encontro a toda uma conjuntura do Brasil arcaico e os vários recursos que mancham de sangue a história de resistência de grupos focais como a indígena, quilombolas e a nossa historicidade do direito a terra, desde as Capitanias Hereditárias, a partir da premissa da falta de sentido do campo ser propriedade privada de alguém. Assim como a água, o ar, a terra não pode ser vendida e que embora a Lei do Latifúndio tenha sofrido modificações por várias décadas, o atual contorno fundiário ainda tem suas origens ligada ao século passado, ainda na época da monarquia.

Sesmarias, nome tirado de um instituto português que normatizava a distribuição de terras destinadas à produção. Surgiu em Portugal durante o século XIV com a Lei das Sesmarias de 1375 para combater a crise agrícola e econômica que atingia o país e a Europa, e que a peste negra agravar. No além mar incorporado à coroa portuguesa, quando a conquista do território brasileiro se efetivou a partir de 1530, com algumas adaptações, foi legado a particulares ante a incapacidade do Estado recém-formado de organizar a produção de alimentos. Desde de que chegam ao Brasil os capitães-donatários, titulares das capitanias hereditárias, a distribuição de terras a sesmeiros passa a ser uma prioridade que vai garantir os vários ciclos de plantação.

Segundo João Pedro Stédile, ninguém pode arvora-se da terra como um  bem próprio de proprietários absolutos de um bem da natureza, já que este é um conceito de usufruto de um bem da natureza criado a partir da idéia de mercantilismo. Em recente entrevista falou dos 900 milhões de seres humanos que passam fome, todos os dias. Em especial, mulheres e crianças, que vivem no hemisfério sul do planeta. E seu contingente em vez de diminuir, como nos prometiam os governos, cada vez mais gordos, dos países ricos e seus organismos internacionais, ao contrário, aumenta a cada ano, 8 milhões de pessoas passam a ser famintos a cada ano. Todas as doutrinas e ensinamentos nos ensinam que um povo comente é livre, soberano e digno se tiver o direito e a capacidade de produzir seus próprios alimentos. Portanto, como imaginar uma comunidade, um povo, uma nação, que para se alimentar e sobreviver depende de outros. Ao longo da história da humanidade todos os povos e comunidades aplicaram esse princípio. Mas agora o capitalismo, a sanha monopólica das empresas transnacionais quer nos impor o controle sobre nossos alimentos para que o povo se torne escravo do lucro. Defendermos a soberania alimentar como um direito que cada povo e todos os povos têm que produzir seus próprios alimentos, de forma independente, sadios, com qualidade para atender toda sociedade. Os alimentos não são uma mercadoria e sua distribuição não deve se submeter à regras do mercado capitalista.

 O capitalismo está impondo falsos valores; prega e pratica o individualismo, o egoísmo e o consumismo como se fossem valores. Não são valores, são desvios burgueses de superindividualismo anti-social que impede o desenvolvimento harmônico de qualquer sociedade. Ppr isso. Trazem dentro de si a violência, a desigualdade, a injustiça, a revolta e o crime. As relações sociais em nossa sociedade devem ser baseadas no cultivo de valores, que a humanidade vem construindo ao longo de milênios, como a solidariedade, a justiça social e a igualdade. Esses valores não são apenas declarações de princípios universais, mas devem nortear nosso comportamento cotidiano, nos nossos movimentos, organizações, regimes políticos e Estados. A sociedade só terá futuro se cultivar os valores históricos, humanistas e socialistas. Todas as sociedades baseadas no individualismo estão condenadas ao fracasso. Cedo ou tarde!

Na publicação da Associação dos Juízes Para a Democracia, com o titulo: O Direitpo e os Quilombolas, por Aton Fon Filho, o autor cita a campanha da TV e grande imprensa veiculando como ameaça a Nação a premissa de que a terra é um bem da natureza conforme a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Assim, o Decreto 4.887/2003, da Presidência da Presidência da República, adequou o processo de titulação ordenado pelo art. 68 do ADCT às determinações da Convenção 169 da OIT. O art.68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias estabeleceu que

         “…aos remanescentes das comunidades quilombolas que estejam             ocupando suas terras, é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”. Em 2002 o Congresso Nacional ratificou a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que entrou em vigor em 2003, adotando conceito abrangente das populações tradicionais: “…cujas as condições sociais, culturais e econômicas os distingam de outros setores da coletividade nacional, e que estejam regidos total ou parcialmente por seus próprios costumes e tradições, ou por uma legislação especial”.

Convenção 169 da OIT – Artigo 14.1. Deverá reconhecer-se aos povos interessados o direito de propriedade e posse sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Ademais, nos casos apropriados, deverão tomar-se medidas para salvaguardar o direito dos povos interessados a utilizar terras que não estejam exclusivamente ocupadas por eles, mas às quais, tradicionalmente, tenham tido acesso para suas atividades tradicionais de subsistência. A este respeito, devera prestar-se particular atenção à situação dos povos nômades e dos agricultores itinerantes. Dispôs, conforme o art. 1º.2, da Convenção, que a consciência da identidade quilombola constitui o critério fundamental para o reconhecimento e proteção, e deu relevo à regra segundo a qual as áreas quilombolas devem ser consideradas atendendo seu objetivo de garantir a reprodução física, social, econômica e cultural da comunidade.

 A FOME COME A RAZÃO
http://www.cultureunplugged.com/play/1081/Chicken-a-la-Carte#videoDetail

O ideal Brizolista de cidadãos nutridos e com as capacidades intelectuais necessárias para se tornarem parte da cadeia produtiva, incluídos na sociedade, precisamos que a escola ocupe sua posição central e protagonista de qualquer, seja de uma pequena cidade, um bairro ou uma vila diante das recentes notícias envolvendo as vissitudes que gravitam entorno de verbas de merenda escolar nos dá ânimo para continuar a batalha por tempos mais dignos para a infância que vê na escola o seu último refúgio para a saída da circunscrição de intergeracionalidade para vidas precárias onde a fome come a razão e, conseqüentemente, a cognição. A escola pública deve se tornar um centro cívico para as atividades de ensino, esporte e cultura de toda comunidade, assim como de ajuda alimentícia para famílias necessitadas. Precisamos engajar toda a sociedade na luta que é desenvolver o país de forma sustentável, com ação, para alimentar as esperanças das novas gerações, não às condenando à ignorância e a prisão nas amarras do analfabetismo e os seus desdobramentos na vida de crianças e adolescentes na circunscrição do descaso das políticas públicas e na iminência das estatísticas da violência ceifando a vida de milhares desses jovens. Precisamos resgatar no Brasil, o papel protagonista que o professor exerce em qualquer sociedade desenvolvida e baseada no conhecimento e, exercendo sua vocação de servir a sociedade de forma mais completa e conquistando ainda mais o respeito que a sociedade lhe deve. A escola em parceria com as lideranças comunitárias passa a ter um corpo técnico-pedagógico de profissionais bem remunerados e outro de voluntários-facilitadores para gerir o sistema de ensino e as garantias dos processos de assistência à comunidade através de um conselho de cidadãos voluntários para ajudar na decisão sobre aplicação de recursos e fiscalização sobre a correta utilização do mesmo.

Em 18/julho/2009, o mundo voltou os olhos para a programação em comemoração aos seus 91 anos. Recebeu como presente de aniversário o show com presença de nomes consagrados do show business para a comemoração chamada Mandel Day 2009: 46664 Celebration, cujo objetivo é propagar os valores do ganhador do Prêmio Nobel da Paz pelo conjunto das ações de toda uma vida dedicada à luta contra a injustiça social e, coloca o dedo na ferida de um mundo agora globalizado e mais xenofóbico pelas inconstâncias regionais advindas da crise econômica e os seus efeitos nas economias locais a partir dos gráficos indicando desaceleração, estagnação ou déficit nos indicadores econômicos e projeções do crescimento que alavanca ou provoca quedas nas condições de vida dos seus habitantes. Conseqüente dessa influência mercadológica agindo nas políticas locais de enfrentamento a crise tem-se um mundo sem a polaridade do passado, mundo este, onde novos jogadores direta ou indiretamente podem participar das rodadas de negociações onde, outrora, o poder decisório estava restrito a um pequeno grupo de países ricos. Em contrapartida temos nesses mesmos países ricos as ações em nome do regionalismo que faz caça às bruxas aos iguais e desiguais inseridos no contexto da mão-de-obra imigrante ou da cor da pele diferente, principalmente. Tais fatos entre cidadãos “comunitários”, fere completamente o principio básico da União Européia, qual seja “unidade na diversidade” nos permite uma maior dimensão de um problema que a vida toda foi carregado por grupos focais.

Pela sua condição de cidadão do mundo nascida do combate à segregação racial é uma figura emblemática, principalmente, para aqueles dos grupos focais, pela capacidade de superação aos anos da violência racista sem sucumbir-se aos efeitos colaterais do revanchismo nascido do ódio racial fruto do ensaio de pensamentos nocivos de anos no encarceramento. O que se viu na África do Sul Pós Mandela foram os “Tribunais da Verdade e da Reconciliação”. Presidido pelo Bispo Desmond Tutu, também prêmio Nobel da Paz, porta-voz mundialmente respeitado da luta anti-racista e dos direitos civis e as liberdades democráticas, não apenas na África do Sul. Esse tribunal tinha o poder de anistiar todos aqueles que se apresentassem como perpetradores e confessassem seus crimes, desde de que esses crimes tivessem inspiração política e que houvesse alguma relação de proporção entre os fins desejados e os meios adotados. De outro lado, O Tribunal abriu espaço para que todas as vítimas compartilhassem sua dor, relatassem suas histórias e obtivessem alguma forma de reparação por parte do Estado. Esse episódio das brutalidades do preconceito racial na África do Sul foi levado às telas do cinema pelo diretor Jonh Boorman, que conta a história de um jornalista americano (Samuel L. Jackson) enviado para cobrir uma comissão que analisa depoimentos de crimes cometidos naquele país na época do apartheid.

Muitos são os caminhos para se olhar o continente africano como parte de uma condição messiânica dos caminhos da humanidade pelas várias teorias de ser o berço da humanidade, das veias abertas jorrando o sangue dos seus filhos pelos caminhos da “diáspora africana” desde as brumas de revoltos mares negreiros, da sua condição de terra-mãe alimentando eternamente a lógica mercantilista dos velhos e novos colonizador-exploradores. Um novo traçado se delineia no horizonte do que foi transformada a polaridade de antes, os Gs de agora e os primeiros passos do bloco emergente e as novas tecnologias de um mundo globalizado, porém, impelidos por necessidades que delineiam trajetórias no mesmo molde dos trilhos que escoam as riquezas das suas entranhas para a “metrópole” do discurso inflamado do “jazzman” Hugh Ramopolo Masekela, que fez da arte sua bandeira para mostrar ao mundo a dor dos filhos que não têm o direito a se alimentar na teta das suas riquezas vilipendiada pelas mazelas de seus governantes-ditadores e, ao mesmo tempo, nos dá um brinde de notas musicais jazzísticas que expressam a dor da sua africanidade no fruto da terra-mãe transformado em trumpet ou flugelhorn para o deleite de Coal Train (stimela), por exemplo.

Diante dos rumos da nova ordem econômica que vai tomando vulto e, pelo que ela trás de poder econômico, demográfico, escassez de terras férteis por motivos topográficos, degradação ambiental e maior consumo de alimento com o crescimento da renda per capita de seus habitantes. China e Índia, principalmente, necessitam expandir suas fronteiras por terras para agricultura. Tal contexto do mundo globalizado nos leva a questionar por quê as cifras que começam a ser destinadas ao agronegócio no solo africano não foram direcionadas à conter a tragédia da sua fome ceifando a vida de gerações e que, ao mesmo tempo, coloca abaixo o poder de coalizão dos organismos internacionais em nome de uma agenda global de ao combate aos vários infortúnios daqueles nas condições terceiro mundista da miséria que habita eternamente os dados estatísticos dos compêndios escolares, das metas não alcançadas das Organizações Unidas ante as projeções de agravamento do quadro de necessitados inseridos nas razões de morte por causa natural pela incapacidade de imputar responsabilidade, como se a morte diária pela abandono da fome fosse parte de uma dinâmica metafísica evidenciando o sofrimento daquela parte do mundo para a ação messiânica de uma lógica pseudo humanística de velhos e novos interessados, agora no solo e subsolo, em subverter a lógica de mercado em nome da auto-avaliação do passado e do futuro das ações por necessidades primárias de um mundo globalizado recorrendo a fraternidade como forma de fazer a expiação para com os contratempos das causas e efeitos do legado de ações passadas movidas pala ganância, corrupção, comércio-depósito de armas da guerra fria, doenças e tantas outras dívidas que povoam o inconsciente daqueles que direta ou indiretamente contribuíram para o quadro de instabilidade movido pelos conflitos étnicos, principalmente.

Se já não bastasse a conjuntura climática e econômica atuando nas estatísticas assombrosas para aqueles grupos dependentes das ações humanitárias do mundo globalizado cada vez mais nas particularidades dos blocos econômicos e as suas rodadas de negociações conotadas pela particularidade de projetos locais de governabilidade, quando o caminho deveria ser inverso, isto é, em nome do restabelecimento do diálogo de um mundo que não só se orienta pela importância das conformações socioeconômicas e das variações cambiais, mas, também, pela conformação nascida da alteridade de mercado que permita a troca que gera receita e, ao mesmo tempo, cumpra o papel social de um mundo com diferentes necessidades com a entrada dos jogadores do bloco emergente, principalmente. O que significa sair de anos de consenso na polaridade e no poder decisório de um pequeno grupo preocupado em blindar interesses locais em detrimento a um pensar mais globalizado do ponto de vista das relações afetivas entre povos. Pensar-se em conciliação, aceitação e renovação no quadro decisório das rodadas de negociações, onde a mediação na diferença vai dar o tom das conversações entre os chefes de Estado, é tarefa das novas lideranças para a perspectiva de um mundo em nome do combate às armas nucleares, a fome e do desenvolvimento que não comprometa o futuro da humanidade.

A violência perpetrada contra os grupos focais de um mundo globalizado faz-se de maneira sutil através de um dos seus agentes: o videogame. Questionar a violência direta ou indiretamente atuando na formação de crianças e adolescentes inseridas ou não em contextos da representação de grupos focais levados à ambientes virtuais ou da vida real que separa os “reféns do medo” e aqueles categorizados na acessibilidade das mídias de entretenimento não é só tarefa de especialistas do entendimento dos mecanismos que estimulam a violência para com o outro, pela sensibilidade que move o instinto de preservação da vida como princípio “sine qua non”, pois impede que a barbárie e o conseqüente extermínio dos grupos menos organizados pela imbecilidade do “darwinismo predatório” do poder das armas. A violência perpetrada contra os grupos focais em um mundo globalizado faz-se de maneira sutil através de um dos seus agentes: o videogame.

Em 1988, ano da publicação do livro No Final do Século – Reflexões dos Maiores Pensadores do Nosso Tempo, Mandela escrevera: Hoje, os países ricos estão vivendo em um círculo glorioso de permanente luz econômica. Em torno dessa margem iluminada encontra-se um grupo secundário de países, vivendo numa espécie de penumbra econômica. Mais afastado, além do circulo de luz e da penumbra, o grande número de países e povos do mundo vivem em trevas econômicas. Embora cruas essas imagens não bastam para captar a miséria que essas categorizações significam para os bilhões de pobres do planeta. Um mundo em que grande parte da população está fadada à exclusão, ocultos nas sombras porque são pobres, jamais poderá ter paz. Para que o mundo tenha paz é preciso alargar o anel de luz. Hoje, vinte e um anos depois, ainda ressentidos do estágio no olho do furacão econômico, não temos os países ricos vivendo em um círculo glorioso de permanente luz econômica como descrevera Mandela. Numa conjuntura em que os sistemas democráticos capitalistas ou neoliberais, que um dia foram considerados exemplos do desempenho das economias dos ditos países ricos, são considerados inadequados para conter a crise econômica que gera as relações de conflito retromencionadas, aumentando o temor generalizado dos novos desdobramentos da falta de perspectivas no quadro de entraves às políticas mundiais para conter a chegada de milhões de pessoas cruzando a linha da escuridão.

A ONU quer apostar em pelo menos parte do modelo brasileiro no uso de US$ 20 bilhões para oferecidos pelo G-20 para acabar com assistencialismo no combate à fome e promover uma mudança radical na estratégia para alimentar milhões de pessoas. A ONU ainda tem mirado em projetos brasileiros – como Bolsa Família – por exemplo, para seus futuros programas. O objetivo é não apenas entregar alimentos importados às populações na África, Ásia ou América Latina, mas também criar condições para que as pessoas possam começar a produzir e incentivar a produção local. Segundo Staffan De Mistura, representantes do Programa Mundial de Alimentação, o tempo da ajuda alimentar está acabando. Temos de desenvolver novos programas. A falta de programas claros acaba criando situações paradoxais. Em um país, a produção agrícola, aumentou em 300%, enquanto no mesmo período a fome aumentou em 38%, exemplifica.

Mesmo diante das promessas, já feitas em outras ocasiões e nunca cumpridas, a ONU deposita todas suas fichas nessa promessa, enquanto tenta desenvolver projetos para garantir que esses recursos tenham um impacto real. A ONU tem a responsabilidade de alimentar em 2009 cerca de 103 milhões de pessoas, principalmente na África, mas até semana passada só tinha 25% do valor necessário para garantir que os alimentos cheguem aos mais vulneráveis. Segundo o representante do PAM, programas como o Bolsa Família têm “efeitos multiplicadores” e vai na linha que a ONU quer adotar. A idéia é criar redes de ajuda social para permitir que os famintos possam não apenas ter alimentos, mas uma saída da pobreza. Uma das idéias é alimentar 20 milhões de crianças em escolas. Outro projeto que já está sendo viabilizado é o de garantir alimento vinculados com a criação de trabalho. Outra iniciativa já em andamento é o uso de US$ 1 bilhão para comprar alimentos nos próprios países onde há fome. Dessa forma, o mercado local fica aquecido e a produção local ganha incentivo. Grande parte dos 20 bilhões dos países ricos será usada para o desenvolvimento agrícola. Mesmo diante do quadro altruísta da ação dos países dos Gs, as mesmas indagações das posturas anteriores deixam no ar mais uma jogada de marketing para desviar a verdadeira intenção de um passado de pesar do colonizador que oferece umas poucas migalhas de ajuda para encobrir o unilateralismo do jugo pelas mais perversas formas e para as mais infames das trocas perpetuadas com o continente africano: a sua fome. Fome esta, que até a pouco grande parte dos recursos era usada para comparar alimentos produzidos por ricos fazendeiros americanos e distribuir na África. Os mais beneficiados eram os fazendeiros, que tinham venda garantida. A atual corrida para o subsolo e o solo africano nos dá uma dimensão do seu papel eterno nos rumos da humanidade.

A história da humanidade e os recursos naturais nos levam aos primeiros colonizadores que assumiram o controle dos países e comunidades para expropriar seus recursos, depois os conservacionistas vieram e fizeram exatamente a mesma coisa – desta vez, em nome da salvação do meio ambiente. Dezenas de milhares de pessoas foram expulsas para a criação de parques naturais e outras áreas de proteção nos países em desenvolvimento. Muitas pessoas foram proibidas de caçar, cortar árvores, explorar pedreiras, introduzir novas plantas ou, de alguma maneira ameaçar os animais ou o ecossistema. A terra em que eles viveram por séculos é, de repente, retomada como um santuário idílico de vida selvagem, com nenhum cuidado com a realidade das vidas de quem vive lá. Em recente notícia o tablóide britânico The Guardian cita casos de compra de terras em países africanos e na América do Sul, por ONGs milionárias e pelo empresário americano Ted Turner, que é hoje dono de dois milhões de acres na Patagônia, sendo o maior proprietário de terras na Argentina. Segundo o jornal, as terras de Turner se encontram sobre um dos maiores reservatórios subterrâneo de água do mundo, e ele é acusado pela imprensa local de tentar obter o controle do suprimento de água e prejudicar os fazendeiros argentinos, o que ele nega. Por fim, a reportagem comenta o projeto de compra de emissões de carbono, em que países ricos pagariam aos países em desenvolvimento para manter suas florestas e reservas, em troca de créditos de carbonos. Pelo método, os países ricos poderiam continuar poluindo e os países em desenvolvimento, ou comunidades, receberiam dinheiro para manter as reservas naturais. Mas o jornal afirma que esta fórmula também deve causar problemas, principalmente no campo legal.

 As operações de compra e venda de terras entre países não têm nada de ilegal, evidentemente, mas é um assunto polêmico. Segundo estudos recentes da FAO (Fundo das Nações Unidas Para Agricultura), vastos territórios da África estão sendo concedidos, quase de graça, para uso pó 50 e até 99 anos. As poucas vantagens consistem em promessas de vagas de emprego e infraestrutura. Ainda sobram críticas para os acordos em países africanos cuja própria população sofre com a fome. Para o Diretor-Geral da FAO, Jacques Diouf, já afirmou que há um risco grande de a prática se tornar uma forma nova de colonialismo, ao transformar países pobres em fornecedores de alimentos para nações ricas em detrimento de sua própria população. Algumas das negociações têm levado a relações internacionais desiguais e a uma agricultura mercantilista de curto prazo, disse ele numa recente entrevista.

Um dos negócios mais criticados ocorreu em 11/08, entre o conglomerado sul-coreano Daewoo e o governo da ilha africana de Madagascar. O acordo previa o arrendamento gratuito, por 99 anos, de 1,3 milhão de hectares na ilha – mais da metade da terra arável de Madagascar – a Daewoo, que usaria a terra para produzir grãos para a Coréia do Sul. Em troca, Madagascar ficaria com a oportunidade de emprego gerada pela empreitada, além de se beneficiar dos possíveis investimentos asiáticos em estrada e irrigação. A negociação mereceu um ácido editorial no jornal inglês Financial Times, um notório defensor da livre iniciativa. A população se revoltou e o fato foi um dos causadores da onda de protestos que culminou na renúncia do presidente Marc Ravalomanana, em março deste ano. Logo ao tomar posse, o novo líder do país, cancelou o contrato.

O Sudão tem a maior quantidade de terras de cultivo africanas em mãos de estrangeiros, neste caso um grupo de Estados do Golfo. No ano de 2008, os Emirados Árabes Unidos conseguiram vários acordos com o Paquistão. O Catar tem terras agrícolas em Bahrein, Birmânia, Filipinas, Indonésia e Kwait. Mesmo em meio a um continente onde problemas como a miséria e os conflitos civis fazem parte do cotidiano de várias nações, o Sudão consegue se destacar negativamente. O país, de 41 milhões de habitantes, tem uma das menores rendas per capita do mundo e enfrenta desde 2003 o acirramento da crise na região de Darfur, que já deixou como saldo um total de cinco milhões de refugiados. Apesar das tragédias, o Sudão tem recebido nos últimos anos um fluxo crescente de investimentos estrangeiros. Quase a totalidade do dinheiro que entra no país tem a mesma finalidade: comprar ou arrendar terras para o cultivo de produtos agrícolas. Mais de um milhão de hectares de terra, o equivalente á metade da área do Sergipe, encontra-se nas mãos de países como a Arábia Saudita e Coréia do Sul, que viram no Sudão uma oportunidade de expandir suas escassas áreas disponíveis para a produção de alimentos. Os investimentos agrícolas representam atualmente quase 20% de todo o dinheiro aplicado no Sudão. Se o ritmo atual de negócios for mantido, essa taxa pode chegar a 50% em 2010.

O fenômeno registrado no Sudão tem ocorrido em várias regiões do mundo. De acordo com um relatório divulgado em abril grupo de análise Internacional Food Policy Research Institute, de Washington, cerca de 20 bilhões de hectares de terra foram arrendados ou vendidos em mais de 40 transações desde 2006. A maior parte das propriedades adquiridas está em países pobres da África e da Ásia. Carentes de dinheiro e de investimentos, mais ricos em solos férteis, eles aceitam vender ou arrendar nacos substanciais de seu território em troca de capital ou promessas de geração de emprego e de investimento em infraestrutura. Os compradores mais interessados são os países desérticos do norte da África e do Oriente Médio. Com escassos solos aráveis, eles têm uma reduzida capacidade de produção e, em alguns casos, importam até 90% dos alimentos consumidos no mercado interno. Os pises pobres têm a terra e a água, e nós temos o dinheiro, disse em entrevista ao The New York Times um funcionário graduado do Ministério de Agricultura do Bahrein, que prefiriu não se identificar. O país já comprou 10 000 hectares de propriedade nas Filipinas.

Se já não bastasse o acordo sino-africano de bilhões de dólares para a prospecção de petróleo, há cerca de 10 anos a China começou arrendar terras para produzir alimentos em outros países, como Cuba e México. Também adquiriu propriedades na África, onde possui negócios de milhões de hectares na República Democrática do Congo, Tanzânia, Uganda, Zâmbia e Zimbábue, alem de vários milhares de trabalhadores chineses “importados” para trabalhar nessas terras. Com 20% da população mundial e apenas 7% de terras aráveis e 7% da água doce, o país não tem outra opção senão buscar no exterior seu abastecimento. Tem feito isto importando alimento de outros países exportadores, ação que torna o país vulnerável à variação dos preços no mercado internacional, ou cultivando em solos estrangeiros por meio de empresas privadas chinesas e do governo. Gradualmente, o país tem deslocado parte de sua produção de alimentos para a África. Ali, a maior parte dos cultivos é de arroz, soja, e milho, além de produtos para biocombustíveis. Em uma das maiores transações, o governo chinês comprou 2,8 milhões de hectares para o cultivo de palma para a produção de biocombustível ma República Democrática do Congo. Outros cinco milhões de hectares de terras africanas estão sendo negociados com a China.

O Diretor do Instituto Internacional de Pesquisa Sobre Políticas Alimentares (IFPRI), Joachim Von Braum, que com a escritora Ruth Meizen-Dick, escreveu o livro Expropriação de Terras Por Parte de Investidores Estarngeiros em Países em Desenvolvimento, vê um grande potencial nesses negócios, porque levam capitais muito necessários a setores agrícolas dos países pobres, impulsionando a infra-estrutura e a pesquisa. A China está criando várias estações de pesquisa na África para estimular o rendimento do arroz e dos grãos, disse. Ninguém revisa esses negócios agrários privados, disse Dvelin Kuyek, pesquisador da ONG Grain, dedicada às questões agrícolas, localizada na cidade espanhola de Barcelona. Kuyek discorda. Para ela, esses investimentos nada têm a ver com o desenvolvimento agrícola. Trata-se de fazer dinheiro e despachar alimentos para o mercado de origem. As empresas processadoras, e inclusive vendedores varejistas de alimentos estão envolvidos no negócio porque lhes interessa garantir a “segurança de fornecimento” do modo mais eficiente possível, disse Janice Jiggins, do Instituto Internacional Para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, em Londres. Um dos maiores bandos do mundo, o Rabobank da Holanda, é um dos principais financiadores desse tipo de acordo segundo Janice Diggins. O último informe do relator especial sobre o Direito à Alimentação da Organização das Nações Unidas, Olivier de Shcutter, detalhou as implicações legais desses negócios e alertou que violam os direitos adquiridos, consagrados por leis, constituições e tradições, afirmou Jiggins.

Portanto, a tarefa do videogame precisa ser questionada em nome da conscientização sobre as dificuldades do mundo e as formas de ajuda devem fazer parte dos programas educativos ou não? Ao contrário dos tradicionais games, o Food Force representa uma alternativa de entretenimento saudável para crianças e jovens e, ao mesmo tempo em que mostra, de modo interativo, o que se faz e o que é necessário fazer para erradicar a fome do mundo. Criado pela italiana Deepend especialmente para o PAM (Programa Alimentar Mundial), a Agência de Combate à Fome das Organizações Unidas. No Brasil o jogo chega pelas mãos da Positivo Informática no endereço http://www.foodforce.com.br para download e gratuitamente nos computadores Positivo.

PAM é a principal agência da ONU na luta contra a fome global e também a maior agência humanitária do mundo. Fundado em 1963, o PAM, já alimentou mais de 1,4 bilhões das pessoas mais pobres do planeta. As principais atuações estão apoiadas em três vértices: emergência, longo prazo e recuperação, e programas de desenvolvimento articulando entre si no trabalho do fornecimento de alimentos e recursos para a construção de comunidades autossuficientes nos lugares mais carentes e desfavoráveis. Agindo em 191 Estados membros da ONU, obteve pleno sucesso nas suas funções de salvar vidas em situações críticas, apoiar a nutrição melhorada e a posição da saúde nas crianças, mães e outras pessoas vulneráveis, fortalecer países e a capacidade das regiões para estabelecer e dirigir a ajuda alimentar e a redução da fome, etc. Na América Latina, o PAM, auxilia lugares em situações críticas como: Equador, Guatemala, El Salvador, Cuba, Peru, Bolívia, Panamá, Barbados, Haiti, Costa Rica, Venezuela e Brasil, cuja principal ajuda foi relatada em Minas Gerais devido à ancilostomíase, uma doença que ocasiona anemia e desnutrição. Com base no Panamá, usa suas alianças estratégicas administradas por 12 escritórios e 33 sub-escritórios espalhados pelo mundo para sua política com grandes instituições para desenvolvimento de políticas públicas com ênfase no desenvolvimento da capacidade institucional regional ou nacional, áreas de excelência e prontidão de segurança alimentar e sistemas de vigilância nutritivos, mapeamento de riscos, planejamento de contingência, gerência de logística e coordenação.

O jogo é ambientado na Ilha de Sheilan, no oceano índico, que foi declarado oficialmente zona de desastre. A guerra civil destruiu vilas e estradas e há minas espalhadas por toda parte, prontas para explodir. Além disso, alterações climáticas afetaram drasticamente o meio ambiente e o país enfrenta a pior seca da história. Grande parte da população não tem sequer o que comer e sua esperança é o PAM (Programa Alimenta Mundial), a agência de combate a fome da Organização das Nações Unidas. Um avião sobrevoa a zona da crise. Há guerra, sede e as pessoas passam fome. A aeronave sobe um pouco antes de lançar seu primeiro estoque de comida. Um caminhão luta encalhado na lama, a estrada traiçoeira e os rebeldes se revoltam. A população está ansiosa esperando numa calamidade com a escassez de comida. Este é o cenário fictício de FOOD FORCE.

Diante de tantas questões a serem exploradas pelos benefícios sociais e de negócio, o jogo mostra aos executivos desse nicho de mercado que as iniciativas tecnológicas na web 3.0 pode trazer dividendos para a empresa e para uma mentalidade mais humanitária entre os povos. No cenário mundial, as empresas não serão avaliadas não só por suas ofertas, mas também pelo que estas estão realizando de ações efetivas por um mundo melhor para todos. Mundo este que começa nas brincadeiras inocentes entre quatro paredes das várias configurações familiares, com número mínimo de filhos, do mundo dos ditos da acessibilidade, resultante da perda dos vínculos parentescos de irmãos e parentes para as brincadeiras da primeira infância e os conflitos necessários à aprendizagem nascida do partilhamento de laços afetivos, riso, choro e confraternização espontânea em outros espaços fora do sistema de apoio, hoje, relegado a um segundo plano num mundo onde o entretenimento da interatividade virtual substitui o companheiro de travessuras ante aos questionamentos limitantes das demandas da urbanidade e os arranjos de lazer que atenda as especificações dos locais de consumo para crianças e adolescentes nas grandes metrópoles.

Matéria publicada em 02/08/2009 no jornal “O Estado de São Paulo”, fala sobre a notificação expedida pelo Ministério da Cultura da China proibindo jogos na internet que retratem chefões da máfia chinesa ou gangs criminosas. O decreto promete punição severa para infratores, pois tais jogos, segundo o ministério, personificam comportamentos antissociais como assassinatos, espancamentos, saques e estupros, representando uma grave ameaça ao distorcer a ordem social e os critérios morais, não mencionando o incitamento do ódio aos grupos focais comuns dos jogos ocidentais, tornando-se com facilidade uma má influência para os jovens. Tal resolução, mesmo para uma fonte de lucro na China, não causou grande preocupação entre algumas pessoas que trabalham para este nicho de mercado, que em 2008 trouxe uma receita de US$ 2,64 bilhões, um aumento de 77% em relação a 2007.

BIBLIOGRAFIA

Expropriação das terras por parte de investidores estrangeiros em países em desenvolvimento
Von Braun e Ruth Meizen -Dick
http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/estrangeiros-a-caca-de-propriedades-agrarias/

http://food-force.educacional.com.br/

No Final do Século – Reflexão dos maiores escritores do nosso tempo. Ediouro Publicações S.A:
Rio de Janeiro, 1998

No Future Without Forgiveness -Sem Perdão Não Há Futuro-
Desmond Tutu
Doubleday
New York, 1999

O Direito e os Quilombolas
Aton Fon Filho
Publicação da Associação dos Juízes Para a Democracia
Ano 11 – nº 43 – Setembro/Novembro
Rio de Janeiro, 2007

Revista Exame – 01/07/2009
A Volta dos Colonizadores
Tatiana Gianini
Editora Abrial S.A.

 Terra, Sociedade e Agricultura – Propostas para um outro mundo possível http://www.unicamp.br/fea/ortega/NEO/JoaoPedroStedile.pdf

Título em Português: Em Minha Terra
Direção: John Boorman
Elenco: Samuel L. Jackson, Juliette Binoche
Produção: África do Sul, Inglaterra, Irlanda
Ano: 2004
Gênero: Drama

O velho, o novo e o diferente

Posted in Educação, Intervenção Social with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on maio 22, 2009 by projetomuquecababys

By Luis Carlos “Rapper” Archanjo

O porvir midiático de retratações hollywoodianas futurísticas, quase sempre segundo padrões de caos terceiro mundista para a condição humana, nos leve a meditar da ação do homem para com a qualidade de vida no nosso planeta face ao descaso de alguns em atitudes preventivas em nome da sobrevivência  do homem no seu sentido mais amplo, porquanto de questões do legado de hoje para as gerações vindouras. Abstrair em tal contexto imagético nos leva a questionamentos de quanto a favela representa o lado desconhecido no que se tornaria o planeta terra em um ano qualquer de um catastrófico terceiro milênio, por exemplo.

O parágrafo anterior chamaria de uma leitura cinematográfica do que preconizam alguns intelectuais preocupados com o destino da ação do homem em detrimento ao próprio homem na falta de consenso nas negociações para protocolar-se o compromisso de todos por um mundo melhor. Exemplo dessas agendas de negociações é o Tratado de Kioto, cujo objetivo é conseguir reduzir as emissões de gases de efeito estufa globais, sobre os níveis de 1990, para o período de 2008-2012. Cada país terá objetivos concretos em função de diferentes graus de contaminação, tomando com referência para todos o ano de 1990. O principal problema da Rodada Doha, ou seja, do comércio mundial, é a preocupação de cada país na sua própria economia, esquecendo que o maior propósito de tudo isso é o combate à fome e o desenvolvimento dos países pobres nas desigualdades sociais do mundo globalizado.

No livro “No Final do Século” – Reflexões dos maiores pensadores do nosso tempo – lê-se o pensamento de Mandela, que usa a luz no seu eufemismo a respeito do antagonismo entre o norte e o sul, diferentemente da categorização americana de bem e mal, onde os países ricos estão em um círculo glorioso de permanente luz econômica. Em torno dessa margem iluminada ,encontra-se um grupo secundário de países vivendo numa espécie de penumbra econômica, e, mais afastados, além do círculo de luz e da penumbra, o grande número de países e povos vivem em trevas econômicas. Para Mandela, a comunidade internacional não pode ver essa situação com equanimidade. Um mundo em que grande parte da população está fadada à exclusão porque são diferentes, ocultos nas sombras e regidos sabe-se Deus por qual instinto de busca nos cenários além divisórios, jamais poderá ter paz. Para que o mundo tenha em paz é preciso alargar o anel de luz. Por esse e outros motivos a tirania daqueles que traçam o espaço geopolítico se tornou um tema comum entender porque os Estados caíram em 1990.

O questionamento do velho e do novo do “modus operandi” para a permanência do antagonismo social daqueles dos vários núcleos da nossa dramaturgia, suscitando aos construtores de arquétipo humano novos caminhos para explicar o status quo da violência que se alimenta na letalidade da autodefesa; na defesa do público/privado; dos interesses mais econômicos que sociais; nas orientações por bússolas obsoletas na busca por soluções com cunho higienista travestido de prevenção; onde o instinto de territorialidade segundo fetiches do design socioeconômico é o grande norteador das ações de restabelecimento de anomalias sociais saídas de práticas segregacionistas do poder monetário e sua capilaridade nos mecanismos da intergeracionalidade e o ciclo vitalício de vidas precárias.

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender a odiar, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”.
Nelson Mandela

“Quem está na contracultura, na contramão do modus vivendi “enlatado”, geralmente é tido como chato,  extraterrestre, outsider, mas o grande barato desse exercício é o repertório alternativo de nos desvincularmos de qualquer rotulação e nos colocarmos como e aonde a nossa capacidade de leitura do mundo assim o desejar”. Para fundamentar a relação entre sociedade e mídia em nome de uma “pedagogia social” busquei alguns artigos de Artur da Távola (in memorium) na sua coluna do jornal “O Dia”, onde por inúmeras vezes senti-me personagem nos meandros da dicotomia  bem e mal, virtude e psicopatia, ser menos valia e potencial humano de externações saídas de pessoa iluminada pela luz da erudição e da sapiência necessárias àqueles que nos enredam pelas vias do mais profundo da psique humana, em linguagem acessível, sem o quase imperceptível sofisma de intelectuais que por toda vida usaram-se da dialética em nome da permanência das suas vaidosas elucubrações para o silêncio de uma plateia de alienados pela  incapacidade de análise do discurso das várias linguagens em uso, fruto de uma educação com alto déficit na interpretação de textos, consequente de falhas na alfabetização funcional, classificada segundo níveis  de alfabetização rudimentar, básica e plena. A reinante impossibilidade de alta porcentagem da população com vivência de leitura capaz ler um texto e fazer inferências,  externação de pontos de vistas  a partir do explícito ou ou na entrelinhas  do conjunto de ideias organizadas e relacionadas por questões tempo/espaço perpassada por fatores de ordem  ideológicas na formação de um todo significativo capaz de produzir interação comunicativa (capacidade de codificar e decodificar).

Olhando a trajetória de meninos e meninas ao longo dos projetos sociais remeto-me às acolhidas providenciais de fatalidades do destino orientando feito bússola de Deus ao encontro à sabedoria de seres amigos e intérpretes da sua magnitude. Mestres na ressignificação de vivências sensíveis do repertório de experiências do ensino/aprendizagem nascido da dialética do discípulo com os ensinamentos saídos da conivência com as primeiras demonstrações de não conformidade  à padrões reinantes; a plasticidade diante da insensibilidade dos sensitivos nas primeiras demonstrações do “feed back de antolhos”; na ação de multiplicadores de rebeldia, tão necessária à construção do caráter movido pela voz do coração e, bem como, criar o respaldo necessário à estima ante a insensibilidade e a imprevisibilidade do caráter humano. Porque portadores de amor próprio por natureza acima da média dos seus, carregam o DNA do enfrentamento, na maioria das vezes, interpretado como sinônimo de sequelas do histórico de vida; mesmo que desprovidos dos pré-requisitos da matemática de causas e efeitos dos pressupostos contidos na literatura das necessidades a serem supridas para um desenvolvimento segundo padrões eurocêntricos para esta fase da vida. Por que não outros argumentos da visão pragmática, por exemplo, onde o imponderável substitui o preconceito determinista contrapondo a ideia de compartilhamento de conhecimento e experiências por um mundo melhor, onde a capacidade de  reinventar a própria história segundo argumentação de soluções egressas de vivências sensíveis, que mesmo na aplicabilidade do conhecimento intuitivo faz o glossário reflexivo para a deliberação entre forma própria da capacidade de escolha com as escolhas presididas por  propósitos “cognitivos”  do mundo letrado. A criança elabora, segundo Ferreiro e Teberosky, hipóteses a partir das quais ela reconstrói a língua escrita, superando os conflitos gerados durante suas tentativas de relacionar letras e fonemas. isso aponta para o fato de que a criança não precisa de um alfabetizador, posto que é ela que se alfabetiza. Sua necessidade é a de um ambiente letrado que permita a construção de hipóteses que a façam passar pelas fases que a conduzem à escrita alfabética. E quem cria esse ambiente é  o adulto, pai, professor entre outros. O tempo e os espaço do conhecimento “não cognitivos” são variáveis em consideração com os processos seletivos naturais e das novas formas de aprendizagem; onde pode emergir um leitor ativo, que ultrapassa a condição de espectador que aceita  passivamente o que é transmitido para a condição de sujeito operativo, participativo e criativo. Em face dessa informação, da mensagem, ele pode alterar, mudar, produzir e compartilhar aprendizado, ampliando os múltiplos pontos de vista (SILVA, 2000, p. 14).

Desde muito tempo a escola perdeu a função de formar cidadãos críticos e, cada vez mais através da mídia somos informados do curso do mundo. Assim, as redes sociais cumprem o papel de ensinar aqueles que se complementam das suas informações, como também sensibilizar aqueles dos vários níveis de conhecimento que partilham interesses afins em torno de temas que deveriam estar no epicentro do fluxo e refluxo do micro universo escolar e o seu papel de mediar as interações sociais dos tantos segmentos ali representados na diversidade de futuros adultos cidadãos, no exercício das possibilidades de questionar, refutar, de mudar suas próprias decisões e de tomar distância em relação às autoridades instituições quando embasados dos conhecimentos de deveres e direitos sistematizados ao longo da construção e reconstrução da trajetória histórico social da humanidade. Tão necessários à convivência segundo valores que não se sobreponha à barbárie. Não são poucos os que defendem que a escola deve manter uma postura neutra e ensinar o que deve ser ensinado sem pender para discursos políticos. mas será que a neutralidade na educação,  questionada por Paulo Freira, é atingível ou, até desejável? Dermeval Saviani também descarta a possibilidade de uma educação em que a questão ideológica não esteja presente. “Não existe conhecimento desinteressado. A ideologia é um elemento integrante da vida humana. O homem age sobre a natureza para transformá-la no interesse de sua própria sobrevivência. Ele reconhece para dominar, conhecimento é poder.” Tais considerações sobre valores que não se sobreponha à barbárie nos remete às questões da Filosofia Essencialista  nas trevas da Idade Média  e a fundamentação na essência humana, predeterminada, como justificativa para as diferenças que leva a injustiça entre os homens (SAVIANI, 2008, p. 31-33). Sobre a pretensa neutralidade da educação, o  professor da USP, José Leon Crochik  alerta que “quando a educação se pretende neutra, equidistante, como se fosse possível abrir mão de si mesma e assumir um lugar imaginário sobre todo o mundo, aí se esposa talvez uma das piores ideologias”. Os problemas de preparo desses professores acabam colocando na sala de aula profissionais acríticos ou doutrinários, o que, evidentemente, não é nada vantajoso para qualquer modelo de educação que se pretenda plural. Complementa ele: “Não sou favorável a defender doutrinas na escola, mas sim que se passem as ideias dos pensadores de cada doutrina. Sou partidário da leitura do movimento da sociedade e das contradições visíveis nela.

Desde a virada do milênio os intelectuais das várias áreas das ciências humanas debruçam sobre práticas e teorias que atravessaram os tempos. Falar das perspectivas atuais da educação é também falar, discutir, identificar formas de adequação entre o social e o educacional na formação com os atributos educacionais que atendam as necessidades de um mundo cada vez mais regido pela comunicação e pela informação. Portanto, suscita intervenções no campo das ideias, dos valores e das práticas educacionais que perpassam marcando o passado, caracterizando o presente e abrindo possibilidades para o futuro. Quais teorias e práticas possuem a práxis necessária para fixar um ethos educacional que atue sobre os processos de alienação do homem, fragmentando-o entre corpo e mente, frente as demandas educacionais da web 2.0 e 3.0, por exemplo? Para entender o futuro é preciso revisar o passado. Assim sendo, no cenário da educação atual podemos destacar alguns marcos, algumas pegadas, que persistem e poderão persistir na educação do futuro. Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade Antiga, destinada a uma pequena minoria, a educação tradicional iniciou o seu declínio já no movimento renascentista, mas ela sobrevive até hoje, apesar da extensão média da escolaridade trazida pela educação burguesa. A educação nova, que surge de forma mais clara a partir da obra de Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois séculos e trouxe consigo numerosas conquistas, sobretudo no campo das ciências da educação e das metodologias de ensino. O conceito de “aprender fazendo” de John Dewey e as técnicas de Freinet, por exemplo, são aquisições definitivas na história da pedagogia. Tanto a concepção tradicional de educação quanto a nova, amplamente consolidada, terão um lugar garantido na educação do futuro. Concepção de educação como processo de desenvolvimento individual caracterizam educação tradicional e a nova. Todavia, o traço mais original da educação do século XX foi o deslocamento de enfoque, do individual para o social, para o político e para o ideológico.

Os enfoques clássicos e a sobrevalorização do macroestrutural, os sistema, onde tudo é função ou efeito das superestruturas socioeconômicas ou epistêmicas, linguísticas e psíquicas; que são lidas com simpatia nos dias atuais quando na busca de ancoragem em perspectivas holísticas da educação a partir de uma leitura que os holomônicos sustentam de que o imaginário e a utopia são os grandes fatores instituintes da sociedade. Recusam uma ordem que aniquila o desejo, a paixão, o olhar, a escuta. Sob diversas formas e com diferentes significados, encontramos essas categorias em muitos intelectuais, filósofos e educadores, de ontem e de hoje: “o sentido do outro”, a “curiosidade” (Paulo freire), a “tolerância” (Karl Jasper), a “estrutura da acolhida” (Paul Ricoeur), o “diálogo” (Martin Buber), a “autogestão” (Celstin Freinet, Michel Lebrot), a “desordem” (Edgar Morin), a “ação comunicativa”, o “mundo vivido” (Jügem Habermas), a “radicalidade” (Agnes Heller), a “empatia” (Carl Rogers), “a questão de gênero” (Moema Viezzer), Nelly Stromquist), o “cuidado” (Leonardo Boff), a “esperança” (Ernest Bloch), a “alegria” (George Snyder), a unidade do homem contra as “unidimensionalizações” (Herbert Marcuse), etc.

No início da segunda metade do século XX, educadores e políticos imaginaram uma educação internacionalizada, confiada a uma grande organização, a Unesco. Os países desenvolvidos já  haviam universalizado o ensino fundamental e eliminado o analfabetismo. Os sistemas nacionais de educação trouxeram um grande impulso, desde o século passado, possibilitando numerosos planos de educação, que diminuíram custos e elevaram os benefícios; porém com recursos tradicionais que têm pouco apelo para crianças e jovens. Na sociedade da informação a escola deve servir de bússola para navegar nesse mar do conhecimento, superando a visão utilitarista de só oferecer informações “úteis” para a competitividade, para obter resultados. Ela deve oferecer uma formação geral na direção de uma educação integral onde servir de bússola significa orientar criticamente, sobretudo as crianças e jovens na busca de uma informação que os faça crescer e não embrutecer. As consequências das novas tecnologias do novo milênio são centradas na cooperação, na comunicação de massa, na difusão do conhecimento na aprendizagem a distância, no paradigma da autoformação ou autodidaxia como contra-argumento em defesa da informatização da educação. Sustentam que é preciso mudar profundamente os métodos de ensino para reservar ao cérebro humano o que lhe é peculiar, a capacidade de pensar, em vez de desenvolver a memória. Para esses pensadores, a função da escola é, cada vez mais, a de ensinar a pensar criticamente (GADOTTI, 2006,  p. 9/13).

Hoje vale tudo para aprender. Isso vai além da “reciclagem” e da atualização do conhecimento, e muito mais além da “assimilação” do conhecimento. A sociedade do conhecimento é uma sociedade de múltiplas oportunidades de aprendizagem: parcerias entre o público e o privado (família, empresas, associações…), avaliações permanentes, debate público, autonomia da escola e para educação em geral são enormes: ensinar a pensar; saber comunicar-se; saber pesquisar; ter raciocínio lógico formal; fazer síntese e elaboração teóricas; saber organizar o próprio trabalho; ter disciplina para o trabalho; ser independente e autônomo; saber articular o conhecimento com prática; ser aprendiz autônomo e a distância. Nesse contexto, o educador é o agente de inovação e mediador do conhecimento diante do aluno que é o sujeito da sua própria educação, além de ser o agente de memória do histórico social de perpetuação da  vida social pela emancipação e para a liberdade. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz. Para isso o professor precisa ser um investigador, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o seu fazer didático-pedagógico. Como diz Georges Snyders no livro A alegria na escola, precisamos da “alegria cultural”. O mundo de hoje é favorável à satisfação e a escola também pode sê-lo.

Uma das principais diferenças entre os seres humanos e os outros animais é a nossa capacidade de utilizar a linguagem não só para estabelecer uma interlocução com nossos semelhantes, mas também para refletir sobre nós mesmos e sobre o mundo que vivemos. Por meio das línguas que falamos, um tipo particular de linguagem, expressamos valores abstratos, definimos o que é bom ou mau, justo e injusto (ABAURRE; PONTANA, 2006, p. 1). Como seres humanos, recorremos á linguagem para expressar nossos sentimentos opiniões, desejos. É por meio dela que interpretamos a realidade que nos cerca. Essa interpretação, porém, não é totalmente livre, ela é construída historicamente a partir de uma série de filtros ideológicos que todos nós temos, mesmo sem nos darmos conta de sua existência. Esses filtros constituem uma formação ideológica, ou seja, um conjunto de valores e crenças a partir dos quais julgamos a realidade na qual estamos inseridos. A linguagem, portanto, é a materialização de nossa ideologia. Como membros de uma sociedade, tomamos contato com a formação discursiva própria do nosso grupo social. Ela se torna a base dos discursos que construímos, mesmo que não tenhamos consciência disso. Por refletir a perspectiva ideológica de um grupo, o discurso é social. Assim, falamos, por exenplo, no discurso dos oprimidos ou no discurso da classe dominante (ABAURRE; PONTANA, 2007, p. 5/10).

No artigo da “Revista Mente, Cérebro e Filosofia” com o título: Indivíduo e Sociedade, o filósofo Denilson Luís Werle faz a análise da influência, nas concepções de Jürgem Habermas, da filosofia social do pensador americano George Hebert Mead, vista como a única tentativa promissora de compreender plenamente o sentido do processo moderno de formação do indivíduo por meio da socialização, pois ambos veem na individualização um processo de socialização e  de constituição de uma história de vida autoconsciente medida pela linguagem. Pois á medida que essa racionalização cultural e social se estende da eticidade das formas de vida tradicionais, o que se reflete na decomposição de cosmovisões religiosas, das ordens estratificadas de funções, que outrora abarcavam a sociedade como um todo. Habermas descreve esse último processo por meio do  conceito de mundo da vida racionalizada. Este caracteriza-se por uma relação crítica e reflexiva com tradições que perde a sua autoridade natural; pela universalização de normas e generalização de valores, permitindo um leque maior de opções para o desenvolvimento da ação comunicativa; e por modelos de socialização marcados por por uma crescente individualização e sua forma de identidades do “eu” cada vez mais abstratas.

Em outro artigo com o título: Reconhecimento e Emancipação, o filósofo Werle apresenta os fundamentos das críticas de Axel Honneth, da terceira geração da Escola de Frankfurt, a diferentes versões da Teoria Crítica – de Horkheimer e Adorno e Habermas, chegando até Foucault – e a concepção de teoria crítica desenvolvida pelo autor. Seus escritos se concentram na área da filosofia social. Política e moral, formando um ambicioso programa de pesquisa voltado tanto para a explicação teórica quanto para a compreensão crítico normativa das relações de poder, reconhecimento e respeito nas sociedades capitalistas modernas. A noção hegeliana de luta pelo reconhecimento, vista como chave para a compreensão da dinâmica das relações e dos conflitos pessoais. Para os indivíduos socializados nas sociedades modernas, o processo de racionalização da vida social é vivenciado de forma ambígua, como libertação dos sujeitos diante das dependências naturais, mas também, com a perda de apoios convencionais do aconchego de proteções oferecidas pela comunidade integrada  como um todo ético; ou seja, uma libertação ambígua de dependência tanto orientadoras e protetoras com também prejudiciais e opressoras. Essa liberação ambivalente é porque, à primeira vista expressa um alargamento de espaços de ação para indivíduos, possibilita o exercício da autonomia pessoal, da liberdade de escolha. Porém, ao mesmo tempo que o indivíduo se vê senhor de seu destino, ele fica despojado da segurança de uma identidade que outrora estava assegurada pela eticidade tradicional. Por um lado,  à medida que os indivíduos se autocompreendem como seres livres, descobrem-se também como pessoas sem definição, sem contornos, sem conteúdos objetivos predefinidos. Certamente, com isso, a pessoa obtém algo angustiante: se, como a ruptura do mundo da vida tradicional, a ampliação dos graus de liberdade pode ser visto como emancipação das experiências de comportamentos estereotipados, ela também impõe aos indivíduos uma multiplicidade de situações de vida e expectativas de comportamento conflitantes, que os sobrecarrega com novas realizações de coordenação e de integração social, fontes de inquietação e angústia.

Diante de espaços de opção alargados, cresce o leque de decisões que os indivíduos precisam tomar: Qual profissão escolher? Que relações assumir? Que escola frequentar? Casar? Ter filhos? Quantos? Todas essas decisões, por sua vez, têm que ser tomadas sob condições que os indivíduos não podem escolher, o que acaba, o que acaba enredando-os numa outra rede de dependência, só que agora em relação aos sistemas sociais diferenciados funcionalmente, e pelos meios dinheiro e poder. Para Habermas, Mead tem o mérito de ter apontado para o fato de que a individualização não é e não pode ser representada como a autorrealização de um sujeito isolado e solto, mais como um processo de socialização e de constituição de uma história de vida autoconsciente que é mediada linguisticamente, isto é, por meio de um processo intersubjetivo de reconhecimento mútuo o sujeito não é antes individual para depois tornar-se social. Ele surge da comunicação com os outros (WERLE, p. 40/44).

Baseado na noção hegeliana de luta por reconhecimento é, mesmo que no espaço-tempo de diferentes gerações da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, vista como chave para a compreensão da dinâmica das relações e dos conflitos sociais. As lutas mediadas por dinheiro e poder são processos sociais nos quais determinados grupos contestam os padrões determinantes que atribuem a diferentes membros da sociedade certas características, papéis e status que colocam como cidadãos de “segunda classe” ou numa posição inferior em relação a cultura dominante. Podemos pensar tanto em formas de tratamento desigual oficialmente sancionados (apartheid) quando  em formas mais informais de ausência ou de “falso reconhecimento” (democracia racial) nas interações cotidianas referentes a culturas e etnias minoritárias, relações de gênero e assim por diante. O modelo de Teoria Crítica” de Honneth está orientado para explicar e compreender a gramática moral dos conflitos sociais que põem em cheque  essas formas de não reconhecimento. Num primeiro momento da teoria crítica clássica e o erro de que não ocorre somente pelo cumprimento cego dos imperativos de valorização do capital, mas também por meio de geração e justificativa de normas e valores comuns a indivíduos e grupos. Assim, o “déficit sociológico” de Adorno e Horkheimer reside no fato de não levarem em conta a lógica independente da autocompreensão normativa, ético cultural e política dos sujeitos na investigação dos paradoxos da sociedade capitalista. Em relação a Habermas, a crítica é diferente. A teoria crítica da sociedade elaborada por ele parte justamente dos potenciais emancipatórios da racionalidade comunicativa do mundo da vida social estruturada linguisticamente e que se reproduz por meio da ação comunicativa (p.49/57).

Quem nos traz elementos da busca sociológica por reconhecimento é o escritor Marcos Bagno (2003), no seu livro “ A Norma Oculta – língua e poder na sociedade brasileira”, dá uma compreensão das questões de maior ou menor valoração pelo que o domínio da palavra pode inferir nas relações, pelo que a língua constrói de ideia de poder no indivíduo. Por conseguinte, mexe com valores, mobiliza crenças, institui e reforça poderes (ANTUNES, 2007, p. 22). O papel da escola no tocante a língua materna nos vários contextos dos seus alunos é o de ampliar o dialeto da sua bagagem cultural até a competência e habilidades no uso da língua antes de limitá-lo com as amarras da normatividade e do silêncio. Segundo Bagno, a norma oculta aprofunda o estudo das relações entre língua e poder no Brasil e avança para a afirmação de que o preconceito linguístico na sociedade brasileira é, na verdade, um profundo e entranhado preconceito racial. Bagno lança um olhar inquiridor sobre a história da constituição das línguas para desvendar nossa realidade sociolinguística. Seu recurso à história se funde com a pesquisa sociolinguística e a crítica corajosa do rótulo de “erro”, sempre aplicado com rigor, mas segundo critérios bem relativos, por aqueles que se consideram sacerdotes da classe letrada, incumbida de defender a pureza estática da língua. Exemplo disso são as relações de expoentes da imprensa nacional ao modo de se expressar do primeiro operário nordestino eleito para a presidência da República.É ilustrativo enxergar, seguindo a análise do autor, o peso do preconceito social travestido de aniquilamento da língua do outro, quando não se enxerga este outro como interlocutor válido.

A norma oculta desvenda o jogo ideológico por trás da defesa de um conjunto padronizado de regras linguísticas, retira o disfarce linguístico de uma discriminação que é, de fato social, ao demonstrar que a própria negação da existência do preconceito linguístico é a prova mais do que eloquente de que as coisas não podem ficar como estão. Para entender nossa língua temos de assumir a concretude histórica, cultural, a condição de atividade social da língua, sempre sujeita às circunstâncias, às instabilidades, às flutuações de sentido, à própria opacidade da experiência humana. Trata-se aquí, mais uma vez, de expor e de reafirmar as bases do imperativo de incorporar à educação em língua materna uma concepção dinâmica que nos leve a abandonar a inútil busca de estabilidade e de homogeneidade típica do modo tradicional de encarar as relações dos seres humanos entre si e consigo mesmo por meio da linguagem. A história das línguas e das sociedades nos revela que para haver alguma mudança nos conceitos de língua “certa” e “errada” é preciso que também haja, ao mesmo tempo, uma grande e radical transformação das relações sociais. O autor  volta mais uma vez seus olhos para a maneira como as pessoas veem a norma culta. Algo intransponível, de difícil acesso. É garantia suficiente para a inserção do indivíduo na categoria dos que podem falar; dos que sabem falar, dos que têm direito a palavra (p. 191). Enquanto, na verdade, sabe-se que a discriminação, de fato, é social. Mesmo que professem que o domínio da língua significa ter poder, não basta domínio da norma padrão para ser aceito na sociedade e não ser discriminado na sociedade, e não der discriminado, pois as variantes da cor da pele, sexo, modo vestir, etc. são mais importantes que qualquer diploma. No campo linguístico, transformação significativa será o estabelecimento de uma possível gramática do português brasileiro, a ser preparada pelos pesquisadores que há bem mais de trinta anos estão engajados na investigação criteriosa da nossa realidade linguística.

A visão pragmática do desenvolvimento da criatividade e da consciência crítica em detrimento a educação “conta bancária” e a com ênfase nos resultados qual Kaplún chama de manipuladora, pois se fundamenta na psicologia condutista, baseada no mecanismo de estímulo e resposta e, mesmo que seja  o modelo que mais utiliza os meios massivos de comunicação, porém sem enfocá-los numa perspectiva crítica. Segundo linha de ação fundada no pragmatismo,  com enfoque aberto  às indagações, à curiosidade, às perguntas dos educandos surge o modelo de educação com ênfase no processo. É crítico e reflexivo, e sua tarefa é ensinar, não transferir conhecimento. Esse modelo teve como principal inspirador Paulo Freire, e é conhecida como “educação libertadora” ou “transformadora”. Não se trata de educação para informar, e sim para formar o educando, a fim de que transforme sua realidade. Assim, este não é mais paciente das questões da ação educativa tutelatória, mas co participante, crítico, epistemologicamente curioso, participando da construção do conhecimento por meio de processos cognitivos complexos. A “educação transformadora” pode utilizar em seus  contextos as novas tecnologias, onde a função do professor é ser um agente de inovação e do histórico social da humanidade, que leva em conta que a simples exposição ao meio eletrônico não proporcionará, automaticamente, a aprendizagem, nem se quer a do tipo incidental, e talvez nem instrua. O debate atual centra-se, fundamentalmente, no seu papel como ferramenta cognitiva para propósito de aprendizagem, já que o processo de aprendizagem é complexo e implica contexto com mais abrangência. Como afirma Freire (apud Kaplún, 1998, p. 54), “conocer no es adivinar y la información es un momento fundamental del acto del conhecimiento”. No campo da educação, essas mudanças já se fazem sentir. O hipertexto proporciona meios eficientes para obter classes interdisciplinares, para integrar a matéria de um curso ao outro, além de possibilitar atender ás diferenças individuais, ajustando, em uma mesma classe, alunos mais lentos com os mais rápidos, deixando que o educando siga segundo ritmo pessoal, autoformação ou autodidaxia.

Ser letrado é participar de um conjunto de práticas sociais nas quais significados e sentidos de certos conteúdos codificados culturalmente (tradicionalmente, mas não exclusivamente, textos escritos) são gerados, disputados, negociados e transformados. Letramento são diversos, de modo que as atividade interativas/interpretativas que os constituem envolvem propósitos, valores, atitudes, códigos e dispositivos tecnológicos variados. Os efeitos cognitivos e sociais desses letramentos variam em função dos fatores citados, entre outros, não sendo totalmente previsíveis, embora se possa investir institucionalmente em certos tipos de letramentos em certos contextos, visando certos efeitos. Pode-se dizer que o letramentos são sempre situados, para tanto, é preciso esclarecer o sentido de “situado”. Não se trata apenas de que eles existem e circulam em domínios e contextos geográficos, culturais, institucionais e históricos específicos, mas também de que esses contextos são por sua vez produzidos por letramentos específicos. Os novos letramentos/letramentos digitais são particularmente importante para pensarmos em apropriação tecnológica visando a transformações sociais, porque habilitam contingencialmente aquilo que autores como Lankshear e Knobel (2007) qualificam como um novo ethos, uma nova mentalidade, que enfatiza a participação, em detrimento da publicação editorial, o conhecimento (técnico) distribuído em lugar do conhecimento (técnico) centralizado, a partilha de conteúdos em vez da propriedade intelectual privada, a experimentação em oposição à normatização, enfim, a troca colaborativa, a quebra de regras criativa e o hibridismo em lugar da difusão de conteúdos, do policiamento e da pureza.

De fato, os novos letramentos são produtos e produtores de hibridização, no sentido bakhtiniano, de justaposições de vozes/consciências num mesmo ato enunciativo, e essas hibridizações têm um potencial centrípeto, renovador. Entre elas, podemos citar as que se dão entre espaços/tempos, mídias, sistemas de representação ( a escrita alfanumérica, as diversas linguagens imagéticas, os diversos tipos de cartografia e infografia, a música, a matemática, etc.), gêneros vinculados a diferentes esferas de atividade social e diferentes tradições culturais e lugares geográficos que podem ser atravessados por um mesmo percurso interpretativo, atitudes ou disposições frente ao conteúdo codificado – procurar informação, criticar, se divertir, pedir ajuda, etc. (BUZATO, 2009). Ao mesmo tempo em que evidenciam uma certa instabilidade, e, portanto, a possibilidade de mudança social  e educacional, tais hibridização também são resultados de processos de dominação e manipulação gerenciados à distância (globais, nesse sentido), processos que, no mais das vezes, são movidos adiante por nossa própria agentividade. Dito de outra forma, conforme nos apropriamos das novas tecnologias para fazer caminhar um outro ethos, o qual consideramos mais propício a uma educação voltada para a liberdade, a autonomia, a democracia, a solidariedade, etc., não podemos perder de vista o fato de que alguém está fornecendo templates, alguém também se apropria de nossa atividade e lhe confere significados sobre os quais talvez não tenhamos consciência (LATOUR, 2000; 2005). Os novos letramentos/letramentos digitais são, portanto, ao mesmo tempo produtores de resultado de apropriações culturais (mas também institucionais, sociais e pessoais) das tecnologias digitais. Essas apropriações põem em evidência processos e conflitos socioculturais que sempre existiram, e que não deixarão de existir, mas também abrem a possibilidade de transformações ( inovações, aberturas de sentido, instabilidades estruturais, etc.) que ações e/ou políticas educacionais e de inclusão social (digital) deveriam aproveitar, ou ao menos não ignorar (RIBEIRO et al., p. 53/54)

Uma das funções da escola é preparar para a vida, já que a vida contemporânea exige o contante exercício da leitura e da escrita. Imersos num mundo centrado na informação e na comunicação, estamos cercados por palavras e textos, imagens e por tantos outros conjuntos de signos. Assim é que se caracteriza uma sociedade letrada, ou seja, verificamos um cotidiano marcado pela necessidade de leitura: desde as orientações presentes nas telas dos caixas eletrônicos, sem as quais estaríamos condenados a longas e intermináveis filas nos bancos, até os rótulos das embalagens dos produtos que consumimos. Mas é preciso ressaltar que a leitura a que estamos nos refretindo não é a leitura de longos textos, mas sim de breves mensagens que cumprem a funções específicas dentro da rotina de atividades da vida atual. Desde que Bakhtin fez a quebra da concepção canônica acerca das produções textuais que poderiam ser estudadas na escola a título de exemplos do “bem escrever” aos alunos a partir da confluência do conceito de letramento e da concepção pragmática, já que as produções textuais variam conforme as demandas sociais. Se um indivíduo frequenta muitos ambientes marcados pelo letramento, ele precisará dominar os gêneros utilizados por tais ambientes. Em se tratando de competência linguística, então, é o estudo dos gêneros que permitirá um maior número de possibilidades comunicativas. daí ser importante compreender tais gêneros como resultantes de demandas de nossa sociedade letrada  (FERNANDES, 2010, p. 36/49)

É necessário que acesso linguístico aos textos some-se o acesso pragmático através da proposição de atividades que envolvam a percepção dos diferentes papéis sociais desempenhados por todos nós nos diferentes contextos comunicativos aos quais temos acesso. Assim sendo, a apreensão do texto é uma ação marcada pela subjetividade, gerando possibilidades de desenvolvimento de diferentes leituras de um mesmo texto.  Como norteador na fomentação de um capital cultural, de modo a tornar o aluno cada vez mais apto a significar e ressignificar textos de diferentes gêneros para uma leitura de mundo atualizada foram elaboradas as orientações Curriculares para o Ensino Médio (antes PCN´s) e os temas transversais do ensino fundamental contido na concepção filosófica e pedagógica da escola brasileira. Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do Ensino Fundamental que os alunos sejam capazes de:

  • compreender a cidadania como participação social e política, assim como, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia  -dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito;
  •  posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;
  • conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País;
  •  conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais;
  • perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;
  • desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania;
  • conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva;
  • utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal — como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação;
  • questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação.

Nesse sentido, é possível destacar alguns pontos: alfabetização e letramento, interdisciplinaridade; análise de discurso; análise linguística;  semiótica; tecnologia de comunicação; multimodalidade e a formação do cidadão como parte integrante de uma educação fundada na práxis educativa pragmática e sociointeracionista para responder as demandas de uma educação que atenda os pré-requisitos para a empregabilidade do nosso tempo de intertextualidade. Os avanços hipertextuais repercutem em diferentes campos segundo parente (1999 p. 80): ciência da computação, sistema da informação, cibernética, teorias das redes, teorias e sistemas de comunicação, ciências da linguagem e da cognição, história do livro e da escrita, dentre outros. É importante observar que em cada um desses campos o conceito de hipertexto tem aspectos distintos, abrindo possibilidades de pesquisa sobre os processos de informação, aprendizagem e de cognição. O que precisa ser passado com clareza para os alunos é que é através do domínio da língua que se domina e transforma o mundo. O hipertexto pode estar contido em ambiente de ensino/aprendizagem nos quais o aprendiz elabora seu próprio conhecimento por meio da construção coletiva de um aprendizado cooperativo. Ele permite ao educando ter maior número de conexões, navegar em diversos nexos e interagir com diversos meios e contextos, resultando num aprendizado via diferentes meios de  assimilação, enfim, o aluno pode utilizar vários recursos simultaneamente. É no campo da aprendizagem informal, sobretudo, e com os fatores de ordem motivacional que o hipertexto oferece vantagens. Como educação informal, pode-se considerar aquelas ações e influências exercidas pelo ambiente sociocultural, dos quais resultam conhecimento, experiências e práticas não intencionais e não organizadas, adquiridas fora de uma instituição mas que cumprem as questões do contato do aluno com os diferentes tipos de textos, quer sejam oriundos da esfera social do exercício de letramento na trocas socializantes de mundo conectado pelas redes sociais, quer sejam provenientes de uma esfera pública e mais complexa de interação verbal (discurso científico, teatro, romance…) maior será a sua capacidade de identificar e refletir sobre os mecanismos linguísticos e extra linguísticos que constituem o processo comunicativo. O futuro está aí, não tem mais retorno. Espera-se que os alunos sejam leitores, quando entrarem em contato com as informações; autores, quando produzirem seus conhecimentos; e colaboradores, cooperadores e/ou co autores, quando em interação com diversos autores, professores, demais colegas e consigo mesmos e, assim, reconfigurando novos parâmetros para explicar a não adequação ao comportamento idealizada mesmo que na subtração maléfica de privações na infância, por exemplo? (RIBEIRO et al., p. 28/38)

Deixo a interrogação acima para a analogia dos estudiosos dos mecanismos de auto superação daqueles que vencem a própria história através de todo um repertório alternativo de caminhos, esquemas mentais, envolvidos na construção da autoestima saída de perdas que geram a motivação que molda a plasticidade mental que imuniza à lavagem cerebral do imediatismo; da não canalização da raiva em autodestruição, da aleatoriedade efêmera dos modismos, do academismo que formula os pré julgamentos; da falsa modéstia que camufla orgulho aos olhos da compulsividade segregacionista, que se faz tolo aos cuidados tutelatórios da soberba da agenda de pseudo-facilitadores ou inibidores dos mecanismos da autonomia do outro em nome de objetivos que nem sempre cumprem as expectativas sociais pré concebidas, pois tal projeto de vida exige a disponibilidade e o desprendimento que não enrijece a mutabilidade necessária à sabedoria que não alcança os sentimentos mais profundos da não conformidade; que não se apoiam nos ressentimentos externados em argumentos ditos justos para aqueles desavisados do direito ao existir, disseminar vivências sensíveis e mostrar quem são, mesmo que na subcultura do “apartheid” da percepção míope de seus tutores. Portanto, tão somente a vivência diária feita através do consenso entre os sujeitos  e reais possibilidades dialéticas nascida do confronto de valores da lógica liberal e as questões da emancipação e da liberdade nos espaços de saber em nome de construções sociais que são eternamente analisadas pela ótica da dinâmica de formulações do academismo do subjugador por falta de literatura do subjugado como ser humano com histórias de encontro, desencontro e as causas e efeitos no processo de formação do caráter. Das suas simbologias, subjugador e subjugado cumprem o seu papel porque lhes foi ensinado ou apreendido por tradição, cabendo àqueles portadores da sabedoria que o faz “o diferente” porque transforma a alteridade no seu campo de batalha para a multiplicação de ações desconstrutivas de dicotomias que, sempre, são imputadas aos seus pares  na negatividade do caráter humano cabendo a este fazer ou não o seu caminho na diferença do arbítrio de escolha segundo princípios do olhar mais atento às possibilidades do partilhamento ético com o outro, e não à subjugação maniqueista por valores questionáveis de erudição.

Penso nos seres “cobras e lagartos” ao longo do caminho de meninos e meninas, com suas bússolas do diferente, pelos labirintos da experiência humana na busca de mentores para os ensinamentos necessários à ascensão espiritual para objetivos maiores dos desígnios de Deus, ou não, na sua passagem terrena, já que o mundo a sua volta não aprendeu a lidar com seres diferentes dentro e fora da média. Média esta que não significa atender as exigências dos testes de inteligência, se chegar ao mais alto grau da espiritualidade transcendental ou qualquer outro quesito do repertório das cobranças para equacionar as experiências do conhecimento próprio dos seres cobras e lagartos travestidos de perfil vencedor no materialismo místico da exigência reinante, esquecidos do equilíbrio necessário nas virtudes e nos deveres concomitantes ao processo da evolução humana segundo uma concepção holística. Evoluir, que não significa autoflagelação pelas pancadas do mundo, pela inércia do perdedor, pelo complexo da vítima e, sim pela busca de um estágio de paz interior que se fortalece na mutabilidade das percepções e sensações de um mundo em constante transformação, que se enobrece na permanência de valores éticos, que se faz universal quando não perde o significado de identidade nos princípios que moldam a ação cidadã do mundo globalizado das relações virtuais, portanto, misantropo na sua jornada inspirada nas coisas do coração, da cabeça, da fé.

Ainda bem que a arte é parte do processo de aprendizagem daqueles abençoados pela sua força motriz. É algo indescritível acompanhar um pouco da trajetória de meninos que nas primeiras brincadeiras vão incorporando o jeito de ser da nova geração de malandros carioca (no bom sentido), mesmo que capengas das regras gramaticais, sem as pérolas do vernáculo, o abuso de gírias que já dominam os jargões do meio de comunicação direcionado ao público jovem apesar das correntes de pró e contra do espaço escolar que ao receber as crianças de sociolinguístico diverso, a escola despreparada acaba caindo no erro do preconceito linguístico sem lhes dar chance de reconhecer as diferenças linguísticas e de saber utilizar as várias linguagens em situações socializantes diversas dos vários contextos sociais qual transita. Mesmo com todas as pesquisas e estudos feitos no decorrer do século XX, ainda são tímidas as contribuições dentro das escolas do Ensino Fundamental e Médio. Para Alguns autores as pesquisas sobre oralidade dentro de um mesmo país, abalaram o ensino tradicional, causando contradições e suspeitas em muitas aplicações pedagógicas. Fica então a interrogação: O que ensinar? Ensinar a Gramática Tradicional com suas regras cristalizadas fora do contexto dos educando não mais combina com o ensino atual? Porém, legitimar todos os dialetos com suas formas estigmatizadas, ouça Negro Drama dos RACIONAIS, poderia fragmentar ainda mais o conhecimento da Língua Portuguesa.

Para Luft (1985, p. 79) o ensino tradicional foi mais teórico do que prático, mais normativo do que descritivo, e distante da realidade. Ora, isso se liga intimamente ao tema do saber. Por que ensinar Teoria Gramatical ao aluno, se ela é o pressuposto de qualquer ato da fala, por simples que seja?

(…) o profissional do ensino deveria estar tecnicamente capacitado a detectar os contrastes entre as regras da língua culta, à qual a escola pretende fazer o aluno ascender, e as regras dos outros níveis gramaticais.Em termos técnicos, deveria ter bons conhecimentos da Gramática Contrastiva. Esta o instrumentaria muito melhor para o seu ofício do que mil detalhes preconceituosos da Gramática Normativa. (LUFT, 1985,  p. 76).

Prova cabal dessa nova cultura gramatical é o Hip Hop e os seus elementos construtivos revolucionando valores quando coopta adeptos nas fileiras de uma classe média desinteressada de influência estrangeira, dos seus pares de décadas passadas, para se afirmar na multifacetada formação cultural tupiniquim e cumprir o papel social da arte, onde os espaços de intervenção artística da periferia faz do “microfone aberto”  veículo das suas reivindicações, retratação da sua condição social e se fazer sujeito com expressão no Ghetto Globalizado, indiferente aos caminhos na capilaridade necessária a estes no processo para a afirmação da capacidade humana de se reinventar e se cumprir na liberdade de expressão através das conexões evolutivas para se fazer objeto das Teses e Dissertações para as explanações antropológicas das manifestações saídas das camadas populares e transformadas em conhecimento acadêmico do olhar no outro. Quando se fala dos elementos da cultura Hip Hop temos todo um repertório de expressão na dança, na poesia, nos DJ´s e grafite, sendo que este último é hoje objeto de controvérsias pelo que representou de ponte no passado do movimento “Neo Expressionista” da década de 80, tendo em Basquiat o seu ícone. Pelo que este pode representar na ligação entre o morro e asfalto; compensados e galerias; pobre e ricos; arte das camadas populares e arte conceitual no seu colóquio de arte como expressão do homem no seu tempo e na sua realidade, e não apenas na formalidade do contemplativo vazio de significados. O nosso cotidiano escolar está impregnado do mito da democracia racial – um dos aspectos da cultura da classe dominante que a escola transmite -, pois representa as classes privilegiadas e não a totalidade da população, embora haja contradições no interior da escola que possibilitam problematizar essa cultura hegemônica, não desprezando as diversidades culturais trazidas pelos alunos. Assim, apesar de a escola inculcar o saber dominante, essa educação problematizadora poderia tornar mais evidente a cultura popular. A proposta de uma educação voltada para a diversidade coloca a todos nós, educadores, o grande desafio de estar atentos às diferenças econômicas, sociais e raciais e de buscar o domínio de um saber crítico que permita interpretá-las. Nessa proposta educacional será preciso rever o saber escolar e também investir na formação do educador, possibilitando-lhe uma formação teórica diferenciada da eurocêntrica. O currículo monocultural até hoje divulgado deverá ser revisado e a escola precisa mostrar aos alunos que existem outras culturas. E a escola terá o dever de dialogar com tais culturas e reconhecer o pluralismo cultural brasileiro.

Talvez o multiculturalismo fosse um dos caminhos para combater os preconceitos e discriminações ligadas a raça, gênero, às deficiências, à idade e à cultura, constituindo assim uma nova ideologia para uma sociedade como a nossa que é composta por diversas etnias, nas quais as marcas identitárias, como cor da pele, modos de falar, diversidade religiosa, fazem a diferença em nossa sociedade. E essas marcas são definidoras de mobilidade e posição social na nossa sociedade. Nós, como educadores, temos a obrigação não só de conhecer os mecanismos da dominação cultural, econômica, social e política, ampliando os nossos conhecimentos antropológicos, mas também de perceber as diferenças étnico culturais sobre essa realidade cruel e desumana. Olhar a especificidade da diferença é instigá-la e vê-la no plano da coletividade. Pensar numa escola pública de qualidade é pensar na perspectiva de uma educação inclusiva. É questionar o cotidiano escolar, compreender e respeitar o jeito de ser negro, estudar a história do negro e assumir que a nossa sociedade é racista. Construir um currículo multicultural é respeitar as diferenças raciais, culturais, étnicas, de gêneros e outros. Pensar num currículo multicultural é opor-se ao etnocentrismo e preservar valores básicos de nossa sociedade. Se a educação está centrada na dominação cultural da elite branca, onde a leitura e a escrita significa poder, o multiculturalismo – por ser uma estratégia de orientação educacional para os problemas das diferenças culturais na instituição escolar – reconhece a alteridade e o direito à diferença dos grupos minoritários, como negros, índios, homossexuais, mulheres, deficientes físicos e outros, que se sentem excluídos do processo social. Portanto, deve ser uma teoria a ser propagada, abrindo-se novas fronteiras para a incorporação da arte de grafite no repertório de expressão artística através da transversalidade escolar, por exemplo.

A arte de grafite com suas interpretações de territorialidade, assinatura, estética urbana da periferia para muros esquecidos e compensados de obras, arte periférica dos espaços alternativos engajados com o social, ora ensejando os primeiros passos no universo de arte conceitual dos estetas pelo seu reconhecimento como forma de expressão do homem para a sua época, que mesmo assim fica na eterna defasagem das mentalidades excludentes pelo que este tipo de arte foi no passado do jovem afro-descendente americano de ascendência porto riquenha por parte de mãe e haitiana por parte do pai, também com biografia de cimos e baixos, com referências de família abastada do miserável Haiti às ruas da Nova York dos anos 80 até a ladeira das drogas e a mendicância. A passagem meteórica desse ícone saído das vielas do vício para os ateliês e depois para o mundo do glamour dos curadores mostra o quanto à história de vida de Jean-Michel BASQUIAT (1960-1988) serve de ponte para trajetórias de vida em que a arte faz o seu papel de transformar-se num canal de expressão pela comunicação não verbal das coisas da alma, da cabeça e do coração. Um pouco da arte neo expressionista de Basquiat pode ser vista no filme do diretor Julian Schnable (1966), onde temos um artista de rua saindo da mendicância e das drogas para o glamour do circuito de artes da mais alta roda da Nova York dos anos 80.

A pequena biografia deste ícone de grafite nos diz do quanto os valores burgueses não são verdades imutáveis diante do talento que dissipa temores, mudam percepções; independente do grupo cultural a que pertença quando alguém formula valores estéticos da sua expressão como tomada de consciência de que pode tornar palpável a sua visão de mundo através da exploração de múltiplos sentidos e significados pela lente da arte ante ao anacronismo e o conservadorismo selvagem daqueles ditos educados.

Por mais que os intelectuais queiram entender o fenômeno, analisar o olhar crítico e até realizar uma semiologia do processo do Ghetto Globalizado e a proposta midiática de levar os valores comunitários a novos públicos o psicodrama dessa realidade na distância socioeconômica e aparentemente tão próximo das suas mazelas no olhar de quem olha pela lente com a mente na vida real e faz o seu discurso de realidade e nos adentra ao seu mundo como um ilusionista para uma plateia ávida da turbulência de novas fronteiras da vida real do Brasil diferente do mimetismo burguês do Brasil colonial nos vários níveis de retratação para o olhar clínico à fidelidade dos fatos nas narrativas das relações de subalternidade, na condição do outro como sujeito no mano a mano da desconstrução da percepção segundo valores niilistas baseados na total descrença da condição humana ou na aparente anomia de valores societários próprios são os ingredientes do seu show para mexer-se com percepções e sensações entorpecidas por práticas sociais geradoras do baixíssimo índice de desenvolvimento humano e as causas e efeitos nos produtos e subprodutos como a ignorância e a violência pela exclusão social.

Os arquétipos nascidos dessa realidade, por mais anódino, inverossímil que pareça, retrata a cara da pobreza com os seus mitos conflitando nas relações religiosas, raciais e estéticas roteirizadas de histórias de vida saídas da fé, do medo, do colorido interracial e do riso fácil necessário ao colóquio das tribulações citadinas de “reféns do medo” e as fobias do imaginário coletivo a partir de narrativas individuais ou coletivas que subvertem a condição de ser social pelo que a modernidade da barbárie, ao contrário, não sensibiliza, aguça mais e mais a belicosidade do caos urbano aproximando morro e asfalto pelas capilaridades da deterioração de trocas interpessoais retratando vidas opostas pelos caminhos da ostentação de poder separados pela linha tênue entre realidade e ficção de papéis pela estreita ligação da vida real se personificando dos espaços comunitários para filhos da classe média e, se fazendo objeto da grandiosidade da pedagogia social que pode realizar a televisão do horário nobre das nossas salas, pelo que representa de busca, no olhar para o outro desnudado de piedade ou beligerância, na leitura de lentes em busca de novos paradigmas da relação morro/asfalto, pobre/rico, norte/sul, bem/mal e a equalização de culpados ou inocentes do processo de não valorização da vida no temor generalizado da nossa tão conturbada modernidade na barbárie empobrecendo as relações da cidade maravilhosa pela histeria coletiva advinda dos temores da insegurança, maculando o seu passado poético dos verdadeiros malandros, de varandas, cadeiras na calçada, do “chopp” no bar da esquina, do sorriso alegre dos bandos de crianças no jogo de bola e na pipa pelas ruas do subúrbio a espera do resgate de sua capacidade de oferecer as primeiras lições do “cuidar e do brincar” para uma formação integral.

Logicamente aos olhos críticos do pragmatismo calcado nos cânones eurocêntricos soa como algo do “diferente” nos trâmites do conhecimento a sobreposição de uma fala periférica argumentativa, mesmo que trôpega nas redundâncias da gramática, suscitando questionamentos da sua capacidade de colocar abaixo conceitos calcados em teses, pressupostos que não dimensionam na totalidade das conclusões das pesquisas do passado da capacidade do ser humano aliado às novas tecnologias no seu compromisso da exposição de direito e de fatos do seu cotidiano por linguagem próprias aos seus sujeitos para o conservadorismo pragmático e os seus postulados de verdades imutáveis no “darwinismo selvagem” e sua engrenagem socioeconômica na busca eterna de valores contemplativos do status quo dominante e ao mesmo tempo vivenciando os temores da dissidência bebendo nesta fonte de inspiração inesgotável e a consequente troca social agregando novos valores societários, tão necessários à construção de um novo ethos. Sejam bem-vindos os avanços da ciência nas novas formas comunicacionais onde  a palavra  cumpra o  papel de disseminar parâmetros para vivências sadias, mesmo que na dicotomia virtualidade/concretude, e, pela estreita ligação que a ciência da computação, inteligência artificial, faz com os procedimentos lógicos da combinação de bit e bytes  na tentativa de chegar-se ao mais próximo da estrutura neural de um modelo simplificado do funcionamento do cérebro humano e, consequentemente,  avançar no entendimento do pensamento lógico e  desvendar segredos do simbólico na sua capacidade de abstração; o que nos leva a analogia da dicotomia concretude/virtualidade ao conceito do linguista Ferdinando Sausurre. Segundo Sausurre, o signo é formado pelo significado, a que corresponde um conceito e, pelo significante, a que corresponde uma imagem acústica ou gráfica do conceito. Deste modo, podemos dizer que o signo é uma entidade de duas faces, o significado e o significante, intimamente ligadas, que se reclamam reciprocamente quando comunicamos.

Rousseau, no Opúsculo – A Origem da Desigualdade Entre os Homens -, pela experiência de menino órfão de mãe e abandonado pelo pai aos 10 anos e quando adulto fez da sua história de vida seu cabedal de vivências para torna-se um dos homens que influenciou de modo marcante a “Revolução Francesa” de 1789, acontecimento que haveria de mudar os rumos da Europa e de outras partes do mundo nos séculos seguintes. Para Rousseau, o chamado mundo civilizado em sua caminhada através dos séculos e milênios, criou profundas desigualdades entre os homens, deixando marcas indeléveis e deletérias não somente em si, mas também em seu modo atual de ser e agir. Segundo ele, o homem é naturalmente bom, nasceu bom e livre, mas a sua maldade ou sua letalidade adveio da sociedade que, em sua pretensa organização, não só permitiu, mas impôs a servidão, a escravidão, a tirania e inúmeras leis que privilegiam uma classe dominante em detrimento da grande maioria, instaurando a desigualdade em todos os segmentos da humanidade. O opúsculo de Rousseau é uma crítica feroz e contundente contra a sociedade moderna, é um grito de alerta sobre a exploração do homem pelo homem, sobre degradação de valores éticos, e uma sátira contra a sociedade hipócrita e vazia que privilegia o ter, o dominar, o conquistar, mas que nunca soube o que é o ser. A partir daí usa inadequadamente os instrumentos de que dispõe para organizar como grupo social, desrespeitando a liberdade individual, a bondade e a inocência inata no ser humano e desconhecendo que a igualdade entre os seres se manifesta de todas as formas da natureza, desde de que se saiba ver com isenção de vícios e maldades que acabaram se sobrepondo na sociedade moderna.Essa pequena obra teve grande impacto na época de sua publicação. Hoje, talvez leve algumas pessoas a restaurar a sua tese pelo que ela trás de paralelo da condição humana no mundo globalizado e sem a inspiração de pensadores carismáticos e atualizados nas questões da liberdade, igualdade, fraternidade e alteridade.

Para Artur da Távola, o diferente é um ser sempre mais próximo da perfeição, nunca um chato. Mas sempre confundido com ele por pessoas menos sensíveis e avisadas, que supondo encontrar um chato onde está o diferente: talentos são rechaçados; vitórias são adiadas, esperanças são mortas. Um diferente medroso, este sim, acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou.

O diferente começa a sofrer cedo, desde a pré-escola, onde todos os demais, de mãos dadas, e até mesmo alguns professores por omissão (principalmente os mais grossos) se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial, em aleijão e caricatura. O que é percepção aguçada: “Poxa, fulano, como você é complicado”. O que é embrião de um estilo próprio em “Você não está vendo como é que todo mundo faz?” O diferente carrega desde cedo apelidos e carimbos nos quais acaba se transformando. Já os diferentes mais fortes do que o mundo à sua volta se transformaram (e se transformam) nos seus grandes modificadores.

Diferente é o que chora onde os outros xingam; quer, onde os outros cansam; espera, de onde já não vem; sonha, entre idealistas; concretiza, entre sonhadores; fala de leite em reunião de bêbados; cria, onde o hábito rotiniza; perde horas em coisas que só ele sabe importantes; diz sempre na hora de calar; cala sempre nas horas erradas; fala de amor no meio da guerra; deixa o adversário fazer o gol porque gosta mais de jogar que a ganhar; aprendeu a superar o riso, o deboche, o escárnio e a consciência dolorosa de que a média é má porque é igual; vê mais longe que o consenso; sente antes dos demais começarem a perceber; emociona-se enquanto todos em torno agridem e gargalham. A alma dos diferentes é feita de uma luz além. A estrela dos diferentes tem morado deslumbrantes que eles guardam para poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão os maiores tesouros da ternura humana, de que só os diferentes são capazes. Jamais mexam com o sentimento de um diferente. Ele é sensível demais para ser conquistado, sem que haja consequência no ato de conquistá-lo.

Segundo Roland Barthes (1993, p. 150-152), a função do mito é transformar a história em natureza; essa naturalização do conceito é que faz com que o mito seja vivido como uma fala inocente e somente a linguagem tem poder de desnaturalizá-la. Desta forma, ao mesmo tempo em que Bagno taxonomiza a mitologia do preconceito linguístico, ou descortina a possibilidade de combatê-lo. As pessoas quando pensam que falam e escrevem “errado” sua língua estão naturalizando uma ideia preconcebida e, em consequência disso, silenciam-se ou aceitam passivamente a sua estigmatização social, alimentando todo um processo que impede a reflexão criteriosa e a consequente mudança do comportamento linguístico. A estreita ligação entre as questões da fala nos vários contextos sociais e processos seletivos segundo valores, de critérios questionáveis, do “preconceito linguístico” nos dá a dimensão do discurso marcadamente político de Carlos Bagno quanto ao papel dos novos formadores de opinião, futuros formandos, quanto aos rumos do ensino da língua portuguesa para um mundo regido pela linguagem multissemiótica, principalmente, mas que ao mesmo tempo precisa incentivar ou motivar a escrita, mas principalmente ressignificar a escrita para os alunos, isto é, as crianças e jovens sob nossa responsabilidade precisam compreender a língua escrita (e isso serve para a modalidade oral porque, afinal, as palavras podem libertar e oprimir, alegrar e entristecer, fazer viver e fazer morrer, incentivar ou esmorecer, aliviar e angustiar, amar e odiar, e, assim, tantas outras coisas mais. Ela é parte da nossa essência: com ela nos acercamos do outro, nos entregamos ou nos negamos, apaziguamos, ferimos, matamos e liquidamos negócios, amores) enquanto um instrumento de poder, capaz de transformar um indivíduo em cidadão através desse domínio simbólico que caracteriza a competência linguística; onde os gêneros textuais é a tônica do trabalho da língua portuguesa, hoje, desde que, no passado, Bakhtin fez a quebra da concepção canônica acerca das produções textuais que poderiam ser estudadas na escola a título de exemplos do “bem escrever” aos alunos. Assim sendo, temos um ensino da língua portuguesa com confluência do conceito de letramento, concepção pragmática e sociointeracionista, já que as produções textuais variam conforme demandas sociais. Se um indivíduo frequenta muitos ambientes marcados por letramento, ele precisa dominar os gêneros utilizados por tais ambientes, o que possibilitará um número maior de possibilidades comunicativas no domínio dos gêneros resultantes de demandas de nossa sociedade letrada (FERNANDES, 2010, p. 36).

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