Voltando a viver
By João Luís de Almeida Machado (*)
Muitas vezes pensamos que as oportunidades de vencer na vida são restritas. Tantas outras nos sentimos infelizes por acharmos que não conseguimos aproveitar uma ou outra chance que tivemos. Na maior parte dos casos, as pessoas costumam a atribuir o fracasso a fatores externos, não relacionados diretamente a seu próprio desempenho, formação ou força de vontade. Será que já paramos para pensar que a cada novo dia que nasce temos a nossa frente novas possibilidades de êxito (ou de fracasso)?
“Voltando a Viver”, filme dirigido e estrelado pelo talentoso Denzel Washington (astro de “Tempo de Glória”, “Malcolm X”, “Um Grito de Liberdade”, “Filadélfia” e tantos outros sucessos) nos conta a história de um jovem que colocava como obstáculo a seu sucesso a infeliz história familiar durante sua infância.
Se refletirmos a respeito dessa situação, verificaremos que tanto psicólogos quanto psiquiatras, passando por psicopedagogos, educadores e outros estudiosos atentos às relações familiares e sua influência na formação de uma criança, dizem que essa etapa (a infância) sedimenta atitudes perante a vida, sentimentos em relação às outras pessoas, postura diante de problemas, caráter, predisposição para o trabalho e para o estudo,…
Isso poderia, sem sombra de dúvidas, justificar a revolta de muitas pessoas perante a vida, inclusive serve de explicação para todo o rancor do personagem central de “Voltando a Viver” (história verídica, diga-se de passagem). E daí? O que fazer?
Diagnosticado o problema, qual o encaminhamento a ser dado num caso como esses? Os educadores que se defrontam com situações em que determinados alunos têm rendimento abaixo do normal, atitudes agressivas em sala de aula, dificuldades de socialização ou mesmo que se recusam a participar das atividades e projetos propostos, devem simplesmente encaminhar o problema para orientadores educacionais, psicólogos ou psicopedagogos?
A princípio diria que esse apoio é fundamental. Psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos e orientadores educacionais são profissionais que estudaram e se especializaram nessa importante área de atuação, que conhecem casos semelhantes, que já realizaram trabalhos relevantes na recuperação da auto-estima e da confiança de outras crianças ou adolescentes.
Os professores, entretanto, não devem se esquivar desse trabalho, a ser realizado em parceria com outros profissionais. Mesmo porque a atuação clínica de terapeutas, mesmo que em bases regulares (2 ou 3 consultas por semana), tem que contar com o suporte e a colaboração de pais e professores para verdadeiramente se efetivar. Somente assim existe a possibilidade real de recuperação do paciente/aluno.
Pais e professores estão todos os dias vivendo os problemas, as realizações, as dificuldades ou as vitórias dessas crianças ou adolescentes. O acompanhamento dos passos trêmulos de uma criança que começa a andar se estende como responsabilidade na vida dos pais até a entrada na vida adulta de seus filhos. A formação educacional dada por professores tem que fornecer elementos que permitam a interpretação e inserção de seus alunos no mundo, mesmo daqueles que tem mais dificuldades ou problemas…
O FILME
Antwone Fisher (Derek Luke, do ótimo “Encontrando Forrester”) é um jovem e problemático marinheiro. De temperamento explosivo, parte freqüentemente para agressões a companheiros quando provocado. Por esse motivo acaba sendo enviado para tratamento com um psicólogo da marinha, Jerome Davenport (Denzel Washington).
A princípio, Fisher se mostra relutante em aceitar qualquer apoio por parte do terapeuta. Com o passar de alguns encontros, onde ficava durante todo o tempo calado, recusando-se a dar qualquer informação que pudesse ser analisada e estudada por Davenport, o jovem percebe que só poderá se livrar daquelas inconvenientes consultas caso se disponha a contribuir com o trabalho do psicólogo.
Não existe até esse momento a intenção de auxiliar a si mesmo por parte de Fisher. O tratamento lhe parece totalmente dispensável e inoportuno. Ao se decidir por falar e contar sua história de vida para o tenente Davenport, ele queria apenas se ver livre daquele compromisso.
A partir do momento em que o diálogo entre os dois passa a fluir, começamos a rastrear na infância os motivos de todo o rancor de Fisher. Davenport deixa de ser visto como apenas um psicólogo no exercício de sua função profissional e passa a ser encarado por seu paciente como conselheiro e autêntico pai.
A superação dos problemas, muito delicados, passa por etapas difíceis e somente o apoio, a consideração e a perseverança de Davenport podem vencer as resistências criadas pelo próprio Fisher a sua felicidade. Filme sensível, que comove as platéias sem apelar para sentimentalismos, “Voltando a Viver” chama a atenção para a necessidade de suporte, consideração e carinho pedidos diariamente a todos nós, de diferentes formas, por nossos alunos, pacientes, filhos,…
Aos Professores
1- Criar estereótipos para alunos é uma das mais freqüentes atitudes dos professores (e demais profissionais que atuam na educação). É comum ouvirmos professores se referindo a um determinado aluno como sendo um problema (entre tantas outras referências, como “melhor aluno”, “aluno falante”, “patricinha”,…). Tal atitude é digna de reprovação. Ao colarmos “etiquetas” alusivas a perfis em nossos alunos, estamos de certa maneira reforçando os tais estereótipos e tornando a resolução do problema mais difícil e distante. Não há situação que não possa ser resolvida. Temos que auxiliar nossos alunos em situações de maior dificuldade, inclusive tendo maturidade para encaminhar tais alunos a atendimentos por parte de especialistas (dentro ou fora da escola) ou alertando a família.
2- “Voltando a Viver” permite aos professores em trabalho com os alunos a apresentação de um caso notável de recuperação da auto-estima, da vontade de vencer e do respeito pelos outros. Todos temos oportunidades, elas nos são dadas a cada novo dia de nossas vidas. Como educadores devemos ressaltar que cada momento de nossa existência guarda chances que não teremos em outras ocasiões. Costumo dizer a meus alunos que o simples fato de estarmos juntos representa uma experiência única, que deve ser vivenciada de forma plena. Temos que dividir com nossos alunos, além de nossos conteúdos, a vontade de viver, o prazer em estar aqui.
3- No aspecto mais prático do trabalho com filmes, cabe ressaltar que “Voltando a Viver” pode ser utilizado como base para trabalhos em redação, sociologia e filosofia (entre outras possibilidades). Apresento abaixo alguns exemplos:
a) Poderíamos, por exemplo, antes de ver o filme, questionar o título dado a esse longa-metragem em português e, depois de tê-lo assistido, confrontar as respostas com a idéia trabalhada no filme.
b) O que significa “volta a viver” para o personagem central? Esse “renascimento” pode acontecer com qualquer pessoa? Vocês conhecem pessoas que já passaram por situações semelhantes? Fundamentalmente, o que significa “viver”?
c) De que forma as relações familiares influem nas escolhas e caminhos de vida das crianças e dos jovens? Que tal desenvolver esse tema numa redação?
Ficha Técnica
Voltando a Viver
(Antwone Fisher)
País/Ano de produção:- EUA, 2002
Duração/Gênero:- 113 min., Drama
Direção de Denzel Washington
Roteiro de Antwone Fisher
Elenco (vozes):- Denzel Washington, Derek Luke, Malcolm David Kelley, Cory Hodges, Joy Bryant, Salli Richardson, Kevin Connolly, Rainoldo Gooding
Ficha Técnica
(*) João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro “Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema” (Editora Intersubjetiva).
http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=206
This entry was posted on junho 4, 2009 at 11:29 pm and is filed under Cinema with tags atitudes agressivas, auto-estima, dificuldades de socialização, estereótipos, família, infância, orientador educacional, professores, psicólogo, psicopedagogo, rancor, relações afetivas, renascimento, vencer na vida. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.
outubro 18, 2011 às 2:36 pm
[…] Assim devemos assegurar-nos de que a nossa cooperação é livre e espontânea, em resumo, que não …. Destaque para as cenas da primeira lição quando este solicita que a menina leia a citação contida em um quadro na parede da sala do seu orientador, ensaio do sociólogo William Eduard Burghart Du Bois ou W.E.B. Du Bois, o primeiro afroamericano a receber o título de PhD da Universidade de Harvard, questionando-a da mensagem sobre o medo, implícita nas palavras do autor, e do quanto era importante o estudo do que escreveram homens que fizeram o uso das palavras para mudar o mundo, como: Martin Luther King, Ghandi, J.F.K e Nelson Mandela. O ensaio de W.E.B Du Bois: […]
CurtirCurtir
abril 22, 2014 às 7:16 pm
Pretty nice post. I just stumbled upon your blog and wished to say
that I’ve really enjoyed surfing around your blog posts.
In any case I will be subscribing to your rss feed and I hope you write again soon!
CurtirCurtir
maio 1, 2014 às 8:15 pm
Good day! Would you mind if I share your blog with my facebook
group? There’s a lot of people that I think would really enjoy
your content. Please let me know. Many thanks
CurtirCurtir
maio 1, 2014 às 11:04 pm
Hi,
My facebook: https://www.facebook.com/pages/Projeto-Muqueca-Babys-Blog/213718248802998
CurtirCurtir
maio 14, 2014 às 1:16 pm
Hello there! This article couldn’t be written much better!
Going through this post reminds me of my previous roommate!
He constantly kept preaching about this. I am going to
forward this article to him. Pretty sure he’ll have a very good read.
Thanks for sharing!
CurtirCurtir
setembro 4, 2014 às 11:00 pm
What i don’t understood is if truth be told how you are not actually much more smartly-appreciated than you may be right now.
You are very intelligent. You know thus considerably with regards to this subject,
produced me individually believe it from a lot of various angles.
Its like men and women aren’t interested unless it is
something to accomplish with Lady gaga! Your personal stuffs excellent.
Always maintain it up!
CurtirCurtir
setembro 6, 2014 às 12:38 am
Link exchange is nothing else except it is just placing the other person’s web site
link on your page at proper place and other person will also do same for you.
CurtirCurtir