Arquivo para Darcy Ribeiro

Antonio Cândido indica 10 livros para conhecer o Brasil

Posted in Cidadania, Educação, Intervenção Social, Sociedade with tags , , , , , , , , , , , , , , , on maio 18, 2013 by projetomuquecababys

By Antonio Candido

13-05-17_antonio-candido_10-livros-para-conhecer-o-brasilQuando nos pedem para indicar um número muito limitado de livros importantes para conhecer o Brasil, oscilamos entre dois extremos possíveis: de um lado, tentar uma lista dos melhores, os que no consenso geral se situam acima dos demais; de outro lado, indicar os que nos agradam e, por isso, dependem sobretudo do nosso arbítrio e das nossas limitações. Ficarei mais perto da segunda hipótese.

Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos.

Por isso, é sempre complicado propor listas reduzidas de leituras fundamentais. Na elaboração da que vou sugerir (a pedido) adotei um critério simples: já que é impossível enumerar todos os livros importantes no caso, e já que as avaliações variam muito, indicarei alguns que abordam pontos a meu ver fundamentais, segundo o meu limitado ângulo de visão. Imagino que esses pontos fundamentais correspondem à curiosidade de um jovem que pretende adquirir boa informação a fim de poder fazer reflexões pertinentes, mas sabendo que se trata de amostra e que, portanto, muita coisa boa fica de fora.

São fundamentais tópicos como os seguintes: os europeus que fundaram o Brasil; os povos que encontraram aqui; os escravos importados sobre os quais recaiu o peso maior do trabalho; o tipo de sociedade que se organizou nos séculos de formação; a natureza da independência que nos separou da metrópole; o funcionamento do regime estabelecido pela independência; o isolamento de muitas populações, geralmente mestiças; o funcionamento da oligarquia republicana; a natureza da burguesia que domina o país. É claro que estes tópicos não esgotam a matéria, e basta enunciar um deles para ver surgirem ao seu lado muitos outros. Mas penso que, tomados no conjunto, servem para dar uma ideia básica.

Entre parênteses: desobedeço o limite de dez obras que me foi proposto para incluir de contrabando mais uma, porque acho indispensável uma introdução geral, que não se concentre em nenhum dos tópicos enumerados acima, mas abranja em síntese todos eles, ou quase. E como introdução geral não vejo nenhum melhor do que O povo brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro, livro trepidante, cheio de ideias originais, que esclarece num estilo movimentado e atraente o objetivo expresso no subtítulo: “A formação e o sentido do Brasil”.

Quanto à caracterização do português, parece-me adequado o clássico Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, análise inspirada e profunda do que se poderia chamar a natureza do brasileiro e da sociedade brasileira a partir da herança portuguesa, indo desde o traçado das cidades e a atitude em face do trabalho até a organização política e o modo de ser. Nele, temos um estudo de transfusão social e cultural, mostrando como o colonizador esteve presente em nosso destino e não esquecendo a transformação que fez do Brasil contemporâneo uma realidade não mais luso-brasileira, mas, como diz ele, “americana”.

Em relação às populações autóctones, ponho de lado qualquer clássico para indicar uma obra recente que me parece exemplar como concepção e execução: História dos índios do Brasil (1992), organizada por Manuela Carneiro da Cunha e redigida por numerosos especialistas, que nos iniciam no passado remoto por meio da arqueologia, discriminam os grupos linguísticos, mostram o índio ao longo da sua história e em nossos dias, resultando uma introdução sólida e abrangente.

Seria bom se houvesse obra semelhante sobre o negro, e espero que ela apareça quanto antes. Os estudos específicos sobre ele começaram pela etnografia e o folclore, o que é importante, mas limitado. Surgiram depois estudos de valor sobre a escravidão e seus vários aspectos, e só mais recentemente se vem destacando algo essencial: o estudo do negro como agente ativo do processo histórico, inclusive do ângulo da resistência e da rebeldia, ignorado quase sempre pela historiografia tradicional. Nesse tópico resisto à tentação de indicar o clássico O abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco, e deixo de lado alguns estudos contemporâneos, para ficar com a síntese penetrante e clara de Kátia de Queirós Mattoso, Ser escravo no Brasil (1982), publicado originariamente em francês. Feito para público estrangeiro, é uma excelente visão geral desprovida de aparato erudito, que começa pela raiz africana, passa à escravização e ao tráfico para terminar pelas reações do escravo, desde as tentativas de alforria até a fuga e a rebelião. Naturalmente valeria a pena acrescentar estudos mais especializados, como A escravidão africana no Brasil (1949), de Maurício Goulart ou A integração do negro na sociedade de classes  (1964), de Florestan Fernandes, que estuda em profundidade a exclusão social e econômica do antigo escravo depois da Abolição, o que constitui um dos maiores dramas da história brasileira e um fator permanente de desequilíbrio em nossa sociedade.

Esses três elementos formadores (português, índio, negro) aparecem inter-relacionados em obras que abordam o tópico seguinte, isto é, quais foram as características da sociedade que eles constituíram no Brasil, sob a liderança absoluta do português. A primeira que indicarei é Casa grande e senzala (1933), de Gilberto Freyre. O tempo passou (quase setenta anos), as críticas se acumularam, as pesquisas se renovaram e este livro continua vivíssimo, com os seus golpes de gênio e a sua escrita admirável – livre, sem vínculos acadêmicos, inspirada como a de um romance  de alto voo. Verdadeiro acontecimento na história da cultura brasileira, ele veio revolucionar a visão predominante, completando a noção de raça (que vinha norteando até então os estudos sobre a nossa sociedade) pela de cultura; mostrando o papel do negro no tecido mais íntimo da vida familiar e do caráter do brasileiro; dissecando o relacionamento das três raças e dando ao fato da mestiçagem uma significação inédita. Cheio de pontos de vista originais, sugeriu entre outras coisas que o Brasil é uma espécie de prefiguração do mundo futuro, que será marcado pela fusão inevitável de raças e culturas.

Sobre o mesmo tópico (a sociedade colonial fundadora) é preciso ler também Formação do Brasil contemporâneo, Colônia (1942), de Caio Prado Júnior, que focaliza a realidade de um ângulo mais econômico do que cultural. É admirável, neste outro clássico, o estudo da expansão demográfica que foi configurando o perfil do território – estudo feito com percepção de geógrafo, que serve de base física para a análise das atividades econômicas (regidas pelo fornecimento de gêneros requeridos pela Europa), sobre as quais Caio Prado Júnior engasta a organização política e social, com articulação muito coerente, que privilegia a dimensão material.

Caracterizada a sociedade colonial, o tema imediato é a independência política, que leva a pensar em dois livros de Oliveira Lima: D. João VI no Brasil (1909) eO movimento da Independência (1922), sendo que o primeiro é das maiores obras da nossa historiografia. No entanto, prefiro indicar um outro, aparentemente fora do assunto: A América Latina, Males de origem (1905), de Manuel Bonfim. Nele a independência é de fato o eixo, porque, depois de analisar a brutalidade das classes dominantes, parasitas do trabalho escravo, mostra como elas promoveram a separação política para conservar as coisas como eram e prolongar o seu domínio. Daí (é a maior contribuição do livro) decorre o conservadorismo, marca da política e do pensamento brasileiro, que se multiplica insidiosamente de várias formas e impede a marcha da justiça social. Manuel Bonfim não tinha a envergadura de Oliveira Lima, monarquista e conservador, mas tinha pendores socialistas que lhe permitiram desmascarar o panorama da desigualdade e da opressão no Brasil (e em toda a América Latina).

Instalada a monarquia pelos conservadores, desdobra-se o período imperial, que faz pensar no grande clássico de Joaquim Nabuco: Um estadista do Império(1897). No entanto, este livro gira demais em torno de um só personagem, o pai do autor, de maneira que prefiro indicar outro que tem inclusive a vantagem de traçar o caminho que levou à mudança de regime: Do Império à República(1972), de Sérgio Buarque de Holanda, volume que faz parte da História geral da civilização brasileira, dirigida por ele. Abrangendo a fase 1868-1889, expõe o funcionamento da administração e da vida política, com os dilemas do poder e a natureza peculiar do parlamentarismo brasileiro, regido pela figura-chave de Pedro II.

A seguir, abre-se ante o leitor o período republicano, que tem sido estudado sob diversos aspectos, tornando mais difícil a escolha restrita. Mas penso que três livros são importantes no caso, inclusive como ponto de partida para alargar as leituras. Um tópico de grande relevo é o isolamento geográfico e cultural que segregava boa parte das populações sertanejas, separando-as da civilização urbana ao ponto de se poder falar em “dois Brasis”, quase alheios um ao outro. As consequências podiam ser dramáticas, traduzindo-se em exclusão econômico-social, com agravamento da miséria, podendo gerar a violência e o conflito. O estudo dessa situação lamentável foi feito a propósito do extermínio do arraial de Canudos por Euclides da Cunha n’Os sertões (1902), livro que se impôs desde a publicação e revelou ao homem das cidades um Brasil desconhecido, que Euclides tornou presente à consciência do leitor graças à ênfase do seu estilo e à imaginação ardente com que acentuou os traços da realidade, lendo-a, por assim dizer, na craveira da tragédia. Misturando observação e indignação social, ele deu um exemplo duradouro de estudo que não evita as avaliações morais e abre caminho para as reivindicações políticas.

Da Proclamação da República até 1930 nas zonas adiantadas, e praticamente até hoje em algumas mais distantes, reinou a oligarquia dos proprietários rurais, assentada sobre a manipulação da política municipal de acordo com as diretrizes de um governo feito para atender aos seus interesses. A velha hipertrofia da ordem privada, de origem colonial, pesava sobre a esfera do interesse coletivo, definindo uma sociedade de privilégio e favor que tinha expressão nítida na atuação dos chefes políticos locais, os “coronéis”. Um livro que se recomenda por estudar esse estado de coisas (inclusive analisando o lado positivo da atuação dos líderes municipais, à luz do que era possível no estado do país) é Coronelismo, enxada e voto (1949), de Vitor Nunes Leal, análise e interpretação muito segura dos mecanismos políticos da chamada República Velha (1889-1930).

O último tópico é decisivo para nós, hoje em dia, porque se refere à modernização do Brasil, mediante a transferência de liderança da oligarquia de base rural para a burguesia de base industrial, o que corresponde à industrialização e tem como eixo a Revolução de 1930. A partir desta viu-se o operariado assumir a iniciativa política em ritmo cada vez mais intenso (embora tutelado em grande parte pelo governo) e o empresário vir a primeiro plano, mas de modo especial, porque a sua ação se misturou à mentalidade e às práticas da oligarquia. A bibliografia a respeito é vasta e engloba o problema do populismo como mecanismo de ajustamento entre arcaísmo e modernidade. Mas já que é preciso fazer uma escolha, opto pelo livro fundamental de Florestan Fernandes,A revolução burguesa no Brasil (1974). É uma obra de escrita densa e raciocínio cerrado, construída sobre o cruzamento da dimensão histórica com os tipos sociais, para caracterizar uma nova modalidade de liderança econômica e política.

Chegando aqui, verifico que essas sugestões sofrem a limitação das minhas limitações. E verifico, sobretudo, a ausência grave de um tópico: o imigrante. De fato, dei atenção aos três elementos formadores (português, índio, negro), mas não mencionei esse grande elemento transformador, responsável em grande parte pela inflexão que Sérgio Buarque de Holanda denominou “americana” da nossa história contemporânea. Mas não conheço obra geral sobre o assunto, se é que existe, e não as há sobre todos os contingentes. Seria possível mencionar, quanto a dois deles, A aculturação dos alemães no Brasil (1946), de Emílio Willems; Italianos no Brasil (1959), de Franco Cenni, ou Do outro lado do Atlântico (1989), de Ângelo Trento – mas isso ultrapassaria o limite que me foi dado.

No fim de tudo, fica o remorso, não apenas por ter excluído entre os autores do passado Oliveira Viana, Alcântara Machado, Fernando de Azevedo, Nestor Duarte e outros, mas também por não ter podido mencionar gente mais nova, como Raimundo Faoro, Celso Furtado, Fernando Novais, José Murilo de Carvalho, Evaldo Cabral de Melo etc. etc. etc. etc.

Antonio Candido é sociólogo, crítico literário e ensaísta. * Artigo publicado na edição 41 da revista Teoria e Debate – em 30/09/2000. Disponíve em: http://blogdaboitempo.com.br/2013/05/17/antonio-candido-indica-10-livros-para-conhecer-o-brasil/ Acesso em: 18/05/2013.

O Educador Social que Salva Vidas

Posted in Cidadania, Educação, Sociedade with tags , , , , , , , , , , , , , on março 27, 2010 by projetomuquecababys

By Luis Carlos “Rapper” Archanjo

Não há mais dúvida que a edificação de uma sociedade, efetivamente democrática, perpassa pela superação das desigualdades sociais e raciais. Pela superação do antagonismo de classes formadoras da nossa pluralidade étnica, onde a transmissão no cenário das oportunidades ainda se faz nos moldes da transferência aos “herdeiros” (Bordieu, 1998 apud GRACIANO, 2007, p. 78-83) diretos ou indiretos, onde as minorias étnicas são os legatários dos valores culturais enquanto no âmbito de suas comunidades e muitas outras colocações para essa versão pós-moderna do Brasil colônia. Segundo alguns sociólogos, a edificação de uma Nação justa, efetivamente democrática, necessita do compromisso das administrações públicas em parceria com as instituições e sociedade civil, hoje representada pelo segundo e terceiro setores. Estruturar uma sociedade democrática exige a democratização do espaço escolar, do trabalho socioeducativo do segundo e terceiro setores, o que não resume na disponibilização destes espaços condição de espaços de intervenção urbana envolvendo crianças e adolescentes para que estes não “escorreguem”  para uma conduta tida como delituosa. Por isso aquelas famílias preocupada com o assédio do tráfico  interessam-se em que seus filhos participem nas organizações não governamentais, associações de moradores, paróquias de igrejas e ministérios protestantes ou pentecostais como via  de acesso para promover atividades culturais e laborais. As melhorias nas condições sociais, econômicas e educacionais dessas crianças e suas famílias visam produzir a satisfação da comunidade diante da sua condição de moradia em determinado bairro ou região, mesmo que, diferentemente, da intervenção do Estado com projetos de reforma urbana, recuperação de prédios e praças, saneamento básico e urbanização de favelas.

Essas intervenções no campo assistencial, educacional e  de planejamento urbanístico tem como objetivo dissuadir os moradores, principalmente jovens, de cometer incivilidades, oferecendo alternativas  para vida em bairros considerados de risco que podem, um dia, tornarem-se seguros quando todos colaborarem. Por erssa razão, para ser uma política criminal, essas intervenções  sociais devem estar lado a lado com o policiamento local efetivo para o bem da cidade, da comunidade  e dos seus habitantes. Assim uma série de projetos asistenciais e revitalização urbana que se multiplicam , voltados, direta ou indirtetamente, para o combate a violência, tomam explícita ou  implicitamente, as teses da “ecologia criminal”, atualizando o antigo sentido de polícia, analisado por Foucault (2007), como política social (AUGUSTO, 2010, p.266-268). Como bem colocou o mais que brasileiro professor Darcy Ribeiro, tão somente o investimento em pessoas psicologicamente fortalecidas, socializadas a atitudes sociais positivas e cognitivamente favorecidas pode-se ter efeito positivos no combate a violência, a ignorância e em todas as condições adversas a uma sociedade justa. Todos envolvidos no trabalho socioeducativo de meninos e meninas em vulnerabilidade social têm a responsabilidade de formar cidadãos e cidadãs e, por extensão, respeita-los, levando em consideração a diversidade cultural, racial e religiosa dos mesmos.

Todos envolvidos no processo da leitura, da escrita, da transmissão de valores humanos e, enquanto seus tutores no período das atividades socioeducativas ou banco escolar, devem coibir as práticas discriminatórias ou racistas e, principalmente, devem manter a chama da possibilidade de construirmos uma sociedade que garanta visibilidade a população afro-brasileira (maioria das famílias de nossas comunidades) e promova a cidadania e a igualdade racial, alcançável por meio de uma pedagogia multicultural e interétnica.

A escola, os agentes socioeducativos devem fazer de seus ensinamentos os primeiros exercícios de construção e sedimentação da cidadania, do respeito à valorização da dignidade humana a partir de ações como:

1-    Colocar em evidência programas educacionais que valorizem a contribuição de afrodescendentes na construção da sociedade brasileira.
2-    Incentivar grupos de reflexão sobre as práticas docentes em interface com a temática do racismo e da discriminação racial, tendo em vista a edificação de uma pedagogia efetivamente democrática.
3-    Tomar medidas necessárias para trabalhar-se os mecanismos que encadeiam as crianças das comunidades ao fracasso escolar através de ações que os tire do embotamento para a aprendizagem.
4-    Apoiar esforços para materiais didáticos com conteúdos não discriminatórios e, que promovam a igualdade e a cidadania.
5-    Produzir materiais didáticos pedagógicos que contenham afrodescendentes e que os ajude na formulação de uma autopercepção menos fragmentada.
6-    Apoiar atividades artísticas e culturais que envolvam a valorização da identidade afro-brasileira e da contribuição africana no mosaico cultural brasileiro.
7-    Promover espaços de reflexão sobre os critérios de avaliação escolar e sobre suas conseqüências na reprodução das desigualdades sociais e econômicas observadas entre brancos e não-brancos pela sua ingerência nos gráficos das oportunidades no mercado de trabalho excludente e suas respectivas diferenças quanto à condição étnica.
8-     Promover espaços de discussão e núcleos de estudo, que produzam projetos para o desenvolvimento social dos (as) alunos (as) afro brasileiros da rede municipal de ensino.
9-    Apoiar as organizações não governamentais (Ongs) que trabalhem com projetos educacionais e culturais, que promovam a permanência do (a) aluno (a) afro-brasileiro no espaço escolar. Incentivar a formação de redes de debate e discussão, onde haja a circulação de informes e dados acerca da situação econômica, social e psicológica dos (as) alunos (as) afro-brasileiros da rede municipal de ensino.
10- Incentivar a formação de redes de debate e discussão, onde, haja a circulação de informe e dados acerca da situação econômica, social e psicológica dos (as) alunos (as) afro-brasileiros da rede municipal de ensino.

Desde a muito  fala-se muito do quanto os projetos sociais podem contribuir com os ensinamentos de cooperação e solidariedade para com os que estão inseridos no contexto de ações socioeducativas de uma equipe multidisciplinar com profissionais das várias áreas da interação humana a partir de uma visão das particularidades do público alvo de seu foco, levando-se em conta a parte interpretativa (particular, subjetiva, plural, experiência) para um levantamento das suas reais possibilidades, adaptando-se as realidades locais e também uma visão holística. Assim como data  o ensino que realizou-se segundo diretrizes estabelecidas por educadores que, das salas refrigeradas estabeleciam como seriam os conteúdos a serem transmitidos nos bancos das escolas públicas, indiferente a falta do conhecimento vivencial das realidades e dos fatores extracurriculares interferindo na capacidade de assimilação dessas crianças. Atualmente uma corrente de eminentes educadores já coloca em cheque o antagonismo das classes formadoras da nossa sociedade e a sua causa por uma educação segundo o legado do patrimônio cultural herdado do histórico familiar, indiferente a estarmos em outra conjuntura social que não pode ser arregimentada pela frieza das análises dos instrumentos científicos que constroem as planilhas de análise para o estabelecimento das ações públicas, não levando em conta as necessidades de aceitação social, o ancoramento dos valores chave como habitação, saúde, circulação e lazer.

Atualmente uma palavra poderia sintetizar tal pensamento conservador: blindagem, isto é, não desestabilizar o que está instituído por força da aceitação passiva. Somado os valores pessoais dos profissionais da equipe multidisciplinar dos projetos sociais, o empreendedorismo de alguns executivos do bem, a sociedade, o poder público e a comunidade têm-se um campo fértil para o traçado de novas possibilidades que minorem o fosso entre ricos e pobres do nosso país. Quantas e quantas são as indagações do xadrez territorial que tornou a cidade outrora maravilhosa pela amabilidade acolhedora dos seus cidadãos, pela liberdade gozadora do espírito carioca de ser, pela inspiração poética das pessoas e suas calçadas suburbanas, etc., em um estado de alerta constante pelo temor generalizado estressando o dia a dia pelas compulsões do medo de ser vitimizado pela violência sem cara e sem cor das vielas e ruas da cidade do Rio de Janeiro.  Dessa doce lembrança resta-nos a convivência com o arremedo da solidariedade entre os que se agregam aos arranjos familiares de totalidade uniparental, o poder paralelo substituindo e constituindo-se na troca de favores através de códigos próprios de consangüinidade biológica ou por consideração, pertencimento e outros valores do universo de vulnerabilidade social empurrando as famílias para a tutela do crime organizado. Tal realidade suscita questionamentos tais como: O que será para o morador da comunidade melhorar de vida? Será melhorar a sua condição na favela ou da favela? Não haverá na postura de melhorar a condição da favela uma sombra de aceitação do fracasso ao invés de investir em algo que deveria ser provisório? Como é possível justificar uma longa permanência em condição abaixo do que prescreve a OMS como aceitável para a condição humana? Confessar uma permanente situação de dependência social?

Porém, mesmo nesse universo de idiossincrasias podemos observar as pessoas dividindo a própria carência de forma eficaz em nome de valores que ultrapassam a racionalidade dos questionamentos de quem não vivencia de forma mais real esta realidade tão longe e tão perto pela sua condição de estar acontecendo na casa do vizinho na comunidade carente ao lado da nossa casa, porém quando se fala de transformações mais amplas e de caráter estrutural, onde é necessário compromisso e continuidade para a construção ou melhoria, esta união não partilha do senso comum, ficando restrita a uma minoria com representatividade ou simplesmente desaparece, o que serve de esconderijo para os tentáculos do crime organizado, que aproveitando desta incapacidade de mobilização para tecer uma rede social mais sólida, estabelece-se no fracionamento dos interesses da comunidade, oferecendo as benesses próprias de pertencimento. Com sua formação baseada na aceitação de contorno as leis e uma vista grossa para certas transgressões que são permitidas para atender uma situação de necessidade básica, locupletam-se.

Como subproduto dessa condição social temos a raiva escamoteada nas várias externações de crianças e adolescentes, sendo necessário o desenvolvimento de caminhos ou ferramentas que os auxilie no reconhecimento dos sentimentos subjacentes no “iceberg” da raiva: ao localizar os sentimentos que dão origem a raiva é possível diminuir sua intensidade e, com isso, ajudamos as partes envolvidas a transitar do papel de oponentes para “sociais” do problema, examinando-o lado a lado, em vez de bater de frente. Os sentimentos que mais comumente encontramos sob a raiva são: tristeza, mágoa, decepção, frustração, preocupação e medo. Em geral, quando mostramos à pessoa que compreendemos as razões de sua raiva, ela se acalma e a raiva se transforma em outro sentimento. No entanto, é preciso desenvolver a sensibilidade para tocar nesses sentimentos subjacentes sem melindrar a pessoa. Há quem se sinta protegido por uma carapaça guerreira porque teme expor sua dor: para essas pessoas é preferível gritar, brigar do que chorar. Procurar localizar nos sentimentos subjacentes à nossa raiva também nos ajuda a transforma-la e a proporcionar maior estabilidade emocional. A raiva limita o campo visual e nossos movimentos: a tendência é nos fixarmos numa única maneira de ver a situação e no desejo de derrotar, humilhar ou destroçar o oponente. Assumir a postura de estar sempre aprendendo a lidar com os nossos sentimentos significa acreditar que o processo do autoconhecimento e a busca da excelência pessoal jamais terminam, e que é sempre necessário procurar aumentar a aproximação entre a maneira como nos percebemos e a maneira como somos percebidos (autopercepção e heteropercepção) embora muitos conflitos da interação humana nasçam de profundas diferenças de valores, de cultura ou de estrutura de vida, a falta e a distorção da comunicação estão na raiz da maioria dos conflitos.

Mesmo que escrito a mais de uma década atrás o trabalho de pesquisa do autor atualiza-se com a proposta de novos “modus operandi” no  combate ao crime organizado estabelecido e diminuição da criminalidades nos entornos e comunidades periféricas. O estudo realizado pelo autor nas comunidades da  da  cidade de São Paulo  procura analisar deficiências da estrutura e operação das polícias do estado, em muito semelhantes as polícias estaduais,  como fatores que contribuem para o aumento da criminalidade. Algumas causas  da criminalidade são  mensionadas superficialmente, uma vez que a ênfase é sobre a análise das condições operacionais da polícia que possam previnir o crime com mais eficácia. Ao final  são propostas estratégias para a melhoria  do desempenho da polícia e coordenação de esforços para a redução da violência.

No seu trabalho de pesquisa com título: Estratégias Policiais para a redução da Violência para o  Instituto  Fernand Braudel de Economia Mundial em associação com a Fundação  Armando Alves penteados – FAAP, patrocinado pelo Grupo Pão de Acúcar,  onde lê-se o depoimento do  ex-Comissário  Chefe da  Polícia de Nova York, William Bartton, que diz: “Minha posição é pensar no crime não como um problema sociológico, mas como um problema de administração” (FILHO, 1998, p. 2)

Assim como acontece com o autoconhecimento e o autodesenvolvimento, aprimorar nossas habilidades de comunicação constitui um trabalho de vida inteira. Na comunicação, consideramos três canais principais: palavras, expressões corporais e atos. Em outras palavras, componentes verbais e não verbais. Quando há incoerência e insistência entre esses canais, o que mais rapidamente perde a credibilidade é a palavra. Saber lidar com as diferenças é sempre exercitar a capacidade de ler nas entrelinhas das mensagens enviadas pelo outro e decifrar as linguagens das condutas. Pela intrínseca relação entre o emocional e o cognitivo, os questionamentos que o atual estágio da educação nos impõe face à interrogação de ser fato ou realidade cabal do fracasso escolar instalado nas classes do ensino público quanto aos caminhos para a transmissão do saber que venha nos colocar em melhor patamar no ranking dos países em desenvolvimento e, que almeja sair dessa condição de ensino segundo valores que não podem competir com as estruturas de ensino, onde a apresentação dos conteúdos não se faz segundo as realidades do mercado competitivo da informação globalizada e suas mídias (e-learning) de ensino primeiro mundista. Tal descaminho da educação nos leva ao educador Paulo Freire e a dicotomia ler as palavras e ler o mundo. Segundo este, a impressão é que a escola está aumentando a distância entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos. Nessa dicotomia, o mundo da leitura é só mundo do processo da escolarização, um mundo fechado, isolado do mundo onde vivemos experiências sobre as quais lemos. Ao lermos palavras, a escola se torna um lugar especial, que nos ensina a ler apenas as “palavras da escola”, e não as “palavras da realidade”.

O outro mundo, o mundo dos fatos, o mundo da discriminação, o mundo da vida e da crise de valores não tem contato algum com os alunos na escola através das palavras que a escola exige que leiam. Você pode pensar nessa dicotomia como uma espécie de “cultura do silêncio” imposta aos estudantes. A leitura da escola mantém silêncio a respeito do mundo da experiência e o mundo da experiência é silenciado sem seu texto crítico próprio. Atualmente usa-se muito o termo transversalidade para atingir esse estágio de consciência crítica e levar aos bancos da escola os questionamentos pertinentes ao embotamento à curiosidade do saber das nossas crianças e adolescentes. No processo de novos conceitos para o estímulo ao aprendizado temos a música com a sua definição como o modo de expressar os vários sentimentos de nossa alma através do som, isto é, usar seus elementos subjacentes como: autoestima, autodisciplina, autossuperação, motivação, flexibilidade, autoquestionamento, comprometimento, sociabilidade, musicalidade, receptividade, praticidade e continuidade, auxiliando-se da leitura e da escrita para o entendimento do conhecimento musical propriamente dito, levando-se em conta alguns elementos da música como o ritmo, ponto de interseção entre a música e a atividade de educação física para as crianças em situação de risco social, para um trabalho dos elementos subjacentes e a sua aplicabilidade no papel formativo dos valores do ideal de alguns educadores como Paulo Freire e a sua leitura do mundo e Darcy Ribeiro com pessoas fortalecidas psicologicamente, socializadas a atitudes sociais positivas e cognitivamente favorecidas. Educadores como os retromencionados nos levam a uma reflexão profunda do quanto se precisa questionar os caminhos do ensino em face da violência instalada nas escolas do Rio de Janeiro. Em recente matéria do Jornal do Brasil, onde foram feitas várias reportagens a partir do título “ESCOLAS DO MEDO”.

Na matéria, o jornalista relata as intimidações quais sofrem os professores e que, muitas das vezes estas são por motivos corriqueiros. Todos esses aspectos da vida cotidiana nas áreas em situação de risco social para crianças e adolescentes acabam sendo incorporados a rotina extracurricular, levando-a a uma crise sem precedentes quanto à inversão de valores da autoridade. Os alunos estão alienados, não se concentram, não têm prazer em aprender e são ansiosos. De quem é a culpa? Segundo o psicanalista e escritor Augusto Cury, as causas principais são frutos do sistema social que estimulou de maneira assustadora os fenômenos que constroem o pensamento, sendo necessário que os educadores conheçam alguns papéis da memória e algumas áreas do processo de construção da inteligência para encontrar as ferramentas necessárias e capazes de dar uma reviravolta na educação.

Para o psicanalista, o primeiro hábito de um professor fascinante é entender a mente do aluno e procurar respostas incomuns, diferentes daquelas a que o jovem está acostumado. A televisão mostra mais de sessenta personagens por hora com as mais diferentes características de personalidade: policiais irreverentes, bandidos destemidos, pessoas divertidas, psicopatas. Essas imagens são registradas na memória e competem com a imagem dos pais e professores. Os resultados inconscientes disso são graves. Os educadores perdem a capacidade de influenciar o mundo psíquico dos jovens. Seus gestos e palavras não têm impactos emocionais e, conseqüentemente, não sofre um arquivamento privilegiado capaz de produzir milhares de outras emoções e pensamentos que estimulem o desenvolvimento da inteligência. O fenômeno da ansiedade advinda do excesso de informação denomina-se SINDROME DO PENSAMENTO ACELERADO (SPA). A ansiedade da SPA gera uma compulsão por novos estímulos, numa tentativa de alivia-la. A educação falida, a violência e a alienação social aumenta a cada dia, porque, sem perceber a escola aboliu algumas técnicas do modelo de educação do passado, que embora não fosse ideal, funcionava. Quais as causas da SPA? A primeira é o excesso de estímulo visual e sonoro produzido pela TV, e atinge frontalmente o território da emoção pelo excesso de estímulo, sejam eles bons ou péssimos. A segunda é o excesso de informações. O terceiro lugar, a paranóia do consumo e da estética, que dificulta a interiorização, isto é, uma escuta interior. Todas essas causas excitam a construção de pensamento e geram uma psicoadapatação aos estímulos da rotina diária, ou seja, uma perda do prazer pelas pequenas coisas do dia-a-dia. De acordo com pesquisas do Instituto Academia de Inteligência, no Brasil, 92% dos professores estão com três ou mais sintomas de stress e 41% com dez ou mais.

Para ensinar melhor, pais e professores deveriam conhecer o funcionamento da mente para terem consciência de que precisam ganhar primeiro o território da emoção, para depois ganhar o anfiteatro dos pensamentos e, em último lugar, conquistar os solos do consciente e inconsciente da memória que é a caixa de segredos da personalidade. De nada adianta aos educadores ler durante décadas o construtivismo de Piaget, a psicanálise de Freud, as inteligências múltiplas de Gardner, a filosofia de Platão, a arte de pensar de Vigotsky, a inteligência emocional de Goleman, mas, se não conseguem encantar, ensinar a pensar e conquistar o armazém da memória dos seus alunos, nenhum estudo terá aplicabilidade e utilidade. O uso de novas técnicas psicopedagógicas pode ser a panacéia para os males da educação a partir de um projeto de escola segundo a visão de Paulo Freire como exemplo. Porquê? Porque constituem o projeto escola da vida e podem gerar a educação dos sonhos dos sábios que revolucionaram a história da humanidade e deixaram no conjunto das suas obras o legado para a educação dos jovens dos séculos vindouros. As técnicas psicopedagógicas objetivam a educação da emoção, a educação da auto-estima, o desenvolvimento da sociabilidade, da tolerância, da segurança, do raciocínio esquemático, da capacidade de gerenciar os pensamentos nos focos de tensão, da habilidade de trabalhar perdas e frustrações, enfim, formar pensadores.

Os dados da violência no espaço físico da escola e no seu entorno foi motivo de pesquisa da Unesco em parceria com a Universidade Católica de Brasília. Segundo a pesquisadora Miriam Albramovay, as constatações dos motivos que levam às intimidações foram feitas através da pesquisa da Unesco em 113 escolas de São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Belém, Rio de Janeiro e o Distrito federal. Foram ouvidas 1.400 pessoas, entre alunos, professores, diretores e funcionários. O programa será coordenado pelo núcleo central ligado à Secretaria Municipal de Educação. Para tal estágio de ambiente escolar será necessário o esforço concentrado de todos envolvidos no processo sócio-educativos de crianças e jovens. Pelo seu papel de interlocutor direto, os professores precisam banir do seu cotidiano a sensação de andorinha solitária fazendo verão. Precisam de um canal de comunicação para externar o stress das interferências advindas das ameaças, depredações, furtos de merendas e equipamentos, agressões a usuários e funcionários, consumo e tráfico de drogas, invasões dos prédios para lazer ou prática de outros atos inflacionais. Dados recentes indicam que os acusados de tais atos de agressão à escola são via de regra: jovens ex-alunos, moradores do bairro, portanto, membros da comunidade que saem da condição de ex-alunos e passam a ser considerados pela escola como “delinqüentes” ou “elementos suspeitos’”.

Novamente somos levados à reflexão do que pregam os ilustres educadores quanto ao ambiente ideal para a sedimentação dos seus fundamentos educacionais. Segundo estes, tão somente uma sociedade fundada no conhecimento do outro e nas suas diferenças de cultura, etnia, religião, classe social, idade;  superando a desigualdade: este é o maior objetivo da educação. Para lutar por esta sociedade é preciso educar contra a barbárie, o que implica uma ética e exige uma perspectiva de formação cultural que assegure sua dimensão de experiência crítica. O que significa recuperar a história e as histórias guardadas e esquecidas, estabelecendo uma outra relação com a tradição. Colocar o presente em xeque é compreender que passado não precisaria ter sido o que foi, o presente pode ser diferente do que é e que, portanto, é possível mudar o futuro. Mesmo com a chegada das informações com a velocidade da conectividade e toda um ambiência como o aspecto tecnológico das atualizações da linguagem midiática e as ações de convivência entre o novo e o velho das tradições e do seu processo menos audiovisual em nome do meio termo da educação para as demandas de um mundo em rede e a percepção de que a tecnologia por si só não seria capaz de conter os ensinamentos com valores para sobrevivência da espécie humana, principalmente. Tal estágio de vida social exige reconhecer a opressão, a violência e a injustiça social e, ao mesmo tempo, ter capacidade de resistência e utopia de uma sociedade justa e sem descriminação de nenhuma espécie, sem exclusão e eliminação.

Como criar e educar crianças e jovens neste contexto? Este é um dos desafios do nosso tempo. Para enfrenta-lo é preciso trabalhar numa perspectiva de humanização, de resgate da experiência, da conquista da capacidade de ler o mundo, escrevendo a história coletiva, apropriando-nos das diferentes formas de produção da cultura, criando, expressando, mudando. Com experiências de educação e socialização onde se pratique a solidariedade entre crianças, jovens e adultos, onde existam laços de coletividade, elos capazes de gerar o sentido de pertencimento com reconhecimento das diferenças. Precisamos de escolas e espaços de educação capazes de fazer diferente; precisamos mostrar na mídia outros modelos de educação e outros modos de ser criança, que existem também. E que nós ocupemos nas escolas, nas ruas, nos bairros, na mídia, espaços hoje preenchidos pelo ódio, pelo desentendimento. Para que o processo de faça de forma consciente será necessário que façamos uma releitura da nossa história, não a oficial contada a partir dos fatos transcritos dos livros de historia pelos letrados ao longo dos séculos, mas sim, pela oralidade daqueles que transmitiram os fatos de quem sentiu na própria pele as práticas da sociedade dominante no passado, agora reeditado numa versão pós-moderna chamada exclusão social. Tão somente uma inversão na dinâmica social da nossa formação social com origem numa visão eurocêntrica, verticalizada e classista subjugando aqueles que foram tirados do continente africano, vendido e subjugados a mão de obra escrava do Brasil Colônia, depois alforriado e entregue a própria sorte das beira de estrada.

Tal estado de abandono foi-se transformando ao longo da nossa história até a presente data pela sua representação nas condições famélicas dos nossos entorno e periferias, perpetuando o ciclo da transferência vitalícia das oportunidades para o conjunto do processo da aprendizagem dissociada de valores humanos, onde os velhos sentimentos de não pertencimento ao quadro físico de universos distintos da dicotomia abandono/vitaliciedade levados a termo pelo processo da escolarização, mais como processo do stablishment, voltada para o entendimento da palavra (catequese) em uma leitura atualizada das realidades abissais do universo extracurricular, interferindo diretamente ou indiretamente na relação “aluno versus professor”, o que demanda uma maior ênfase nos valores do pluralismo cultural a partir de um olhar menos vesgo para os valores humanos permeando a relação sócio-educativa das salas de aula, implicando uma nova ética para a formação dos docentes para as áreas de vulnerabilidade, instrumentalizando-o com bússolas pelos caminhos de uma leitura da realidade onde está inserido este aluno, fazendo-se de maneira mais eficaz a relação “professor x aluno x comunidade” no processo da interlocução com a escola e as diretrizes do ensino através da presença de um profissional com maior sentido de autopercepção e heteropercepção para o quadro da tutela de uma grande maioria de crianças e jovens afrodescendentes nas classes escolares do ensino público, principalmente.

Que o corpo técnico-pedagógico de escolas públicas, aprioristicamente, capacitando-se de práticas humanistas revivam o fervor docente que tanto influência o meio acadêmico para as mudanças estruturais ao longo dos anos da nossa história de conquistas no âmbito dos direitos civis, indiferentes à condição humana, credo religioso, cor ou qualquer outro argumento da nossa contemporaneidade de caos urbano com a sua violência incidindo nas estatísticas de mortos e feridos, onde grande percentual são de jovens afrodescendentes com idades entre 15 e 26 anos. Que o futuro nos dê esperança do poder de mudança dos nossos jovens e, que torne política pública à necessidade de escolas e espaços de educação capazes de fazer diferente; precisamos mostrar na mídia outros modelos de educação e outros modos de ser criança que existem também. E que nos ocupemos nas escolas, ruas, bairros, na mídia, espaços hoje preenchidos pelo ódio, pelo desentendimento. Espaços onde o velho sentido de exclusão (eliminação) do outro se combinou de modo perverso com as novas técnicas de propaganda, persuasão e consumo. Que retomemos e aprofundemos a dimensão cidadã da ação educativa e cultural, desviando a atenção do ambiente escolar dos entorno e periferias para a longevidade do conhecimento, combatendo o embotamento para a aprendizagem e a sua continua realimentação do ciclo da violência e da ignorância.

Para a Psicanalista Maria Rita Kehl, vivemos em uma cultura em que o espetáculo dita as normas de cidadania, organiza as relações sociais, estabelece valores, formata as identificações. Os filmes que denunciam a miséria, a criminalidade, a violência policial é presa dessa contradição: ao tentar mostrar aquilo que a sociedade preferia ignorar, está necessariamente espetacularizando o mal. Será inevitável que todas as tentativas de denunciar a violência pela via do imaginário cinematográfico (ou televisivo) acabem provocando a identificação do público com o próprio mal que se pretende contestar? Por que a realidade do crime, transformada em espetáculo, parece criar uma aura positiva em torno da imagem do criminoso? Qual será o carisma do personagem Zé Pequeno, traficante psicopata de Cidade de deus, que faz com que um grupo de pré-adolescentes o eleja como símbolo da força, da ousadia e da radicalidade que eles desejam para si? È verdade que a violência confere poder ainda que ilegítimo, a quem faz uso dela. Impotentes diante do caos social, os adolescentes flertam com a fantasia de se tornar tão violentos (ou poderosos) quanto os bandidos que os intimidam. Finalizando a matéria, a psicanalista diz do quanto à imagem veiculada opera no imaginário daquele jovem em formação diante da televisão perguntando-se: mocinho ou bandido tanto faz. Para a autora, a ação da lente do artista na criação da sua ficção ou retratação da vida real pela sua ótica e visto como espetaculirazação do crime, independente das intenções do autor ou do cineasta, faz do criminoso o símbolo da potência que a imagem lhe confere. Potência de visibilidade. Potência de ser. Segundo ela: é necessário construir uma nova ética da imagem para da conta dessa contradição. Em nome de uma cultura de paz através dos elementos de identidade e pertencimento necessários à dinâmica para aproximação dos meninos e meninas ora no embotamento para a aprendizagem.

Comunidade, grande celeiro das tradições e a sua oralidade, porém, relegados a um segundo plano os portadores da memória das nossas comunidades deixam de cumprir com o seu legado social quando não alimentam o imaginário das crianças com o faz de conta de histórias sem violência, final feliz, estimulando-nos ao resgate da motivação contida na memória daqueles que ora questionam o desprezo dos nossos jovens pela vida, desperdiçada em ações que vão de encontro ao bom senso de quem os observa pelos becos absortos no marasmo ou no rito frenético da dinâmica do trafico de drogas e os seus produtos e subprodutos, destruindo aos pouco as poucas chances da não perpetuação do ciclo de dependência social dos pais. Usando os elementos da cultura popular pela forte presença negra na sua formação, como também atualizar alguns elementos da tradição para que não tenhamos uma defasagem das novas mídias que otimizam e auxiliam o processo sócio-educativo. O ritmo é o elemento de ligação entre a música propriamente dita, a cultura popular e o corpo em movimento, onde são trabalhados os elementos da parte motora utilizando-se do conjunto de possibilidades das realidades locais dessas crianças pela estreita ligação ao mundo percussivo, o que implica o uso de elementos da psicomotricidade pela proximidade dos objetivos de trabalhar-se o emocional e a noção do corpo usando um dos elementos da música, que é o ritmo, pois como defendem alguns autores de psicomotricista: para a criança aprender ela precisa ter todos os pré-requisitos necessários, ou seja, a prontidão psicomotora, além de um ambiente de aula apropriado e tranqüilo, propício possível à concentração e a memória, Pois consideram a criança em três aspectos fundamentais: intelectual, psicomotor e emocional. Com isso, aumenta o seu poder de transformar sentimentos e aprofundar diálogo.

Termino a minha contextualização questionando quanto aos caminhos da educação nos espaços do conflito de poderes estabelecidos no vácuo da ausência do estado, das propostas de ocupação sustentado na pacificação e os desdobramentos dessas ações na formulação de novos paradigmas da relação polícia/comunidade e o reflexo nos resultados educacionais para aquelas  regiões circunscritas pela instalação de UPPs ou pelo quadro da criminalidade e sua subjetividade impregnando o dia a dia de uma juventude na perspectiva educacional dos poucos anos de estudo, da desqualificação profissional, do desemprego e a mão-de-obra para a cadeia produtiva do tráfico de drogas necessária à acumulação de bens matérias necessários ao “simulacro de poder” para a singularidade dos seus sujeitos , nos dá uma dimensão histórico-político-social da estruturação social na ótica da formação econômica capitalista, onde o núcleo de todas as relações sociais é a relação capital/trabalho, no processo de produção. Ter explicitado isso, com minúcia e precisão, é, sem dúvida, a grande intuição e a grande contribuição da análise de Marx. Portanto, a educação está diretamente relacionada com as condições da economia, e é por isso que Gramsci insiste em que nenhuma reforma intelectual e moral pode estar desligada da reforma econômica. É por isso que a educação não faz a revolução social.

Para substanciar o pensamento de Gramsci, podemos buscar respostas nas palavras do professor e educador Demerval Saviani ao analisar, em importante trabalho, o caráter da Lei de Diretrizes e Bases (LDB/61), no livro Filosofia da Educação (Aranha, 2006, p. 88), onde, segundo Saviani: Não podemos falar em um sistema educacional brasileiro, mas sim em estrutura. A estrutura é caracterizada por ausência de planos, assistematicidade da ação, inexistência de projetos claramente expostos, ou seja, é algo que aí está, que o indivíduo deixou de fazer ou fez sem saber. Se não existe uma teoria subjacente, a ação perde a intencionalidade, a unidade e a coerência, mas não deixa de ser orientada pelos valores vigentes, expressos pelos interesses dominantes na ação silenciosa da ideologia dominante. Pois o direito, como toda elaboração da consciência humana, reflete as condições estruturais da sociedade em um determinado momento histórico, e as leis, vêm em defesa dos valores daqueles que já detêm privilégios. Por isso ao examinar uma lei, é preciso ler nas entrelinhas, analisar o contexto que se insere, para descobrir as relações de poder que se acham por trás, no processo da sua gestação (ARANHA,  2006, p. 83).

Se o atual quadro diz que a escola não é a alavanca transformadora da realidade desses jovens, principalmente, como pensavam os escolanovistas, tampouco se encontra totalmente manipulada pelo poder, como denunciam os críticos-reprodutivistas. Pergunto: A partir das suas limitações como descobrir as reais possibilidades de transformação qualitativa e quantitativa da escola, a fim de que ela possa desenvolver um discurso contra-ideológico ou contra-hegemônico a partir da formação de intelectuais orgânicos, isto é, formar pensadores inseridos no contexto da realidade periférica? 

LEITURA COMPLEMENTAR

AUGUSTO, Acácio. Para além da prisão-prédio: as periferias como campos de concentração a céu aberto. Cadernos Metropole, v. 12, n. 23,  PUC, São Paulo: jan/jun 2010.
Disponível em: http://cadernosmetropole.net/download/cm_artigos/cm23_186.pdf    Acesso em 01/01/2012

ARANHA, Maria Lucia Arruda. Filosofia da Educação. Editora Moderna, São Paulo: 2006.

COLLUCI, Maria da Glória e  TONIN, Marta Marília. Direito Humano à Alimentação Adequada e a Segurança Alimentar e Nutricional da Criança e do Adolescente.Publicação do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito, Curitiba.
Disponível em: <http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/salvador/marta_marilia

CRUZ, Cristiane Bonfim. Discussões Sobre a Relação Professor/Aluno. PUC, Rio de Janeiro: 2005.

FILHO, Jose Vicente da Silva. Estratégias Policiais para a Redução da Violência. Instituto Braudel de Economia Mundial/FAAP, São Paulo: 1998.
Disponível em: http://pt.braudel.org.br/pesquisas/arquivos/downloads/estrategias-policiais-para-reducao-da-violencia.pdf         Acesso em: 02/01/2012

GRACIANO, Sueli Cristina. Condições de (NÃO) Aprendizagem na Escola: Uma Discussão à Luz da Perspectiva Histórico-Cultural. Dissertação –  Universidade São francisco, Itatiba: 2007.
Disponível em: http://www.usf.edu.br/itatiba/mestrado/educacao/uploadAddress/Dissertacao_Sueli_Graciano[1557].pdf

KEHL, Maria Rita. A juventude como sintoma da cultura. São Paulo: 2004.
Disponível em: http://www.mariaritakehl.psc.br/conteudo.php?id=75     Acesso em: 02/01/2012

MARSIGLIA, Ana Carolina Galvão e OLIVEIRA, Celso Socorro. Aproximações Históricas e Teóricas com a Pedagogia Histórico-Crítica e sua Proposta Metodológica. Revista Educere/PUCPR: 2008.
Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/486_560.pdf
Acesso em: 21/09/2010

NOGUEIRA, Claudio M. Martins e Maria Alice. A Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu: Limites e Contribuições. Educação & Sociedade, ano XXIII, nº 78, Abril/2002.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v23n78/a03v2378.pdf     Acesso em: 14/09/2011.

REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. Proposta Metodológica para o Ensino de História da África na Educação Básica (Ensino Fundamental Maior), Disponível em
<http://www.telboni.net/visualizar.php?idt=2048036>

WELLER, Wivian. Karl Mannheim: Um pioneiro da sociologia da juventude. XIII Congresso Brasileiro de Sociologia – Sociologia da Infãncia e  Juventude, UFPE, Recife: 2007.
Disponível em: http://www.espm.br/ConhecaAESPM/CAEPM/nucleodeestudosdajuventude/Documents/Banco%20de%20Dados%20Jovens/10.%20SOCIOLOGIA%20DA%20JUVENTUDE/10.23.%20mannheim%20sobre%20sociologia%20da%20juventude.pdf                   Acesso em: 02/01/2012

Velhas Bandeiras para novas Estratégias

Posted in Educação, Violência Urbana with tags , , , , , , , , , , , , , , on setembro 18, 2009 by projetomuquecababys

By Luis Carlos “Rapper” Archanjo

A verdade é que qualquer grande livro da antiguidade, se lido corretamente, pode conter ensinamentos valiosos para o homem de todas as épocas. Com o livro a Arte da Guerra ocorre isso. É, sem dúvida, um dos maiores tratados de estratégias já escritos. Em contrapartida às informações na mega rede são tantas que existe muita desinformação embutida no meio. Isso acaba nos afastando do verdadeiro conhecimento, do princípio básico que rege todas as coisas. Temos muita informação, mas não sabemos o que fazer com ela. Não temos sabedoria. Os grandes livros do passado foram escritos por sábios, homens que podiam raciocinar com tranquilidade. Porém, alguns livros ultrapassam gerações suscitando questionamentos dos mais diversos daqueles que os leem.

O livro MACUNAÍMA de Mario de Andrade é uma daqueles livros polêmicos por tratar da identidade de um povo a partir das influências de Oswald Spengler, mesmo com todas as particularidades da formação social brasileira como muito bem construiu o mais que brasileiro Professor Darcy Ribeiro no livro O POVO BRASILEIRO. Na tentativa de descobrir a identidade brasileira através do processo de retomada cultural, os modernistas voltavam os olhos para o passado, inspirando-se no homem primitivo. Entretanto, de uma maneira independente das tendências vanguardistas européias, a volta ao primitivo representava para o Brasil a busca de raízes remotas, autenticidade na cultura, em um movimento inverso ao do modelo europeu, que rumava em busca do exótico, não familiar. O primitivo também se aproxima da criança em uma mentalidade pré-lógica, à margem da civilização capitalista, portanto a regressão para essa cultura significa muito mais o retorno à infância histórica da nação. Se para cada história existe um ciclo vital, o ciclo histórico brasileiro aparece atravessado pela civilização europeia. A alegoria para este tema no capítulo IV, “Boiúna Luna”, quando o herói perde o muiraquitã, seu amuleto da felicidade, pois este pode remontá-lo à sua raiz tropical. A partir desse momento Macunaíma precisa viajar até São Paulo, em busca do amuleto que agora estava em poder de Venceslau Pietro Pietra, que propositalmente tem um nome de origem italiana. Devido a esse detalhe, somos remetidos à posição política do artista, pois vemos retratada a crise oligárquica nacional.

A seguir um pouco  das palavras  de uma  estudiosa  das questões étnico-raciais, Regina Pahim  Pinto:

A diversidade de tipos físicos e de tradições culturais, embora tenha merecido a atenção de intelectuais que refletem sobre a nacionalidade brasileira, bem como de representante de determinados segmentos marginalizados, só mais recentemente vem se incorporando de modo mais sistemático às reflexões de estudiosos da educação. Sem a intenção de realizar um estudo abrangente sobre a articulação entre a educação e a diversidade étnico-racial no Brasil, pode-se detectar como acontecimentos importantes nesse processo, as preocupações, na década de 30, de lideranças, entre as quais, eminentes educadores, com a presença de descendentes de imigrantes do sul do país e com influência das tradições do povo africano brasileiro. Ainda que inspiradas pelo culturalismo, corrente de pensamento da Antropologia que propugna o respeito às diferenças culturais, esses intelectuais propõem ações no sentido  de anular essa diversidade, no caso, as matizes culturais italianas, alemães e africanas. Consorte (1977) cita como acontecimentos importantes essa política o plano de auxílio federal aos estados onde se apresentava a questão da nacionalização do ensino e as reflexões de intelectuais ligados ao sistema educacional sobre o papel da educação na superação da mentalidade denominada pré-lógica, então identificada a certos setores da população nos quais é grande o contingente de negros. A autora refere-se especificamente às considerações de Arthur Ramos no livro O Negro Brasileiro, publicado em 1934, contendo dados de sua pesquisa, inclusive a realizada junto ao Serviço de Higiene Mental por ele instalado nas escolas ordinárias do Distrito federal , a convite de Anísio Teixeira.

Na referida obra, Arthur Ramos afirma a necessidade de se conhecer o pensamento primitivo…para corrigi-lo e elevá-lo a etapas mais adiantadas, o que se conseguiria por meio de uma revolução educacional profunda. Segundo Consorte, embora o autor não explicite como seriam traduzidas, na prática, as ações educativas empenhadas em soltar as amarras pré-lógicas, é possível deduzir, com base no seu texto, que estarão ausentes do curriculum da escola primária daquele período quaisquer conteúdo que afirmem a presença africana em nossa formação (Consorte, 1997, p. 30). A articulação entre cultura e diversidade, por sua vez, preocupou os setores mais politizados e intelectualizados da população negra, ainda que os seus propositantes tenham variado no decorrer da história. Tomando como base o Movimento Negro que teve lugar nas cidade de São Paulo, pode-se identificar um primeiro momento, início do século, em que não se cogitava de qualquer especificidade cultural que lembrasse as origens africanas no âmbito da educação. Pelo contrário, essa particularidade chegava a ser repudiada uma vez que considerada como empecilho para a educação do segmento negro e a sua integração ao mundo dos brancos, uma das principais preocupações das lideranças negras da época. Basta olhar para a imprensa negra, porta-voz de tais movimentos, para se perceber essa posição. Valorizava-se a educação, mas a África, as tradições culturias de origem africana não eram consideradas elementos importantes no processo educacional, embora sempre houvesse um empenho em desconstruir imagens negativas do africano, processos esses muitas vezes carregados de ambiguidades, pois nos próprios escritos dos negros tais imagens também estavam presentes.

Essa posição iria se modificar paulatinamente à medida que esses grupos passam a reivindicar com mais veemência a necessidade do sistema educacional encarar a diversidade etnico-racial do seu alunado, seja sugerindo a introdução, nas disciplinas já existentes, de conteúdos que complementem o segmento negro, sua origem e especificidade cultural, sua contribuição para a sociedade brasileira, seja preconizando novas disciplinas, ou ainda defendendo uma postura pedagógica que valorize a diversidade e combata os preconceitos. Paralelamente, pode-se identificar também uma extensa ação educacional realizada por associações negras, bem como por grupos menos formais, visando a valorização das tradições africanas, cujos efeitos no nível de rendimento escolar, aceitação e reforço da identidade da população-alvo ainda precisam ser investigados. Também no âmbito das universidades percebe-se uma preocupação crescente com a diversidade cultural/racial em trabalhos que têm com fulcro a articulação da educação investigativa e segmentos raciais. Nessa linha, pode-se identificar estudos, principalmente a partir da década de 80 sobre a representação das minorias raciais e sua cultura na literatura didática e paradidática, as relações que se establecem no interior da escola, envolvendo alunos de diferentes

origens, a postura dos professores e do pessoal administrativo em relação a essas diversidades, as repercussões de tais abordagens e situações sobre os alunos das chamadas minorias.

Mário de Andrade participando de uma ótica da burguesia do café encontra em Spengler a justificativa teórica para o privilégio histórico desses grupos rurais em relação a industria de feição italiana. A aristocracia cafeeira, como pertencente ao mundo rural, portanto mais antigo, tem o direito legitimado de continuidade do ciclo histórico nacional. A incompatibilidade entre os valores da civilização européia e os da cultura brasileira também aparecem descritos no capítulo V, “Piaimã”, antes ainda da chegada do herói a São Paulo. Macunaíma suspende sua consciência folclórica na ilha de Marapatá, “Deixou-a bem na ponta de um mandacaru de dez metros, pra não ser comida pelas saúvas”. A conservação de suas raízes é impossível no centro civilizado, a solicitação da lógica anula o primitivismo. No livro A ARTE DA GUERRA PARA EXECUTIVOS, o autor Donald D. G. Kerause traça um paralelo entre as estratégias do general chinês e o mundo dos negócios de hoje. Segundo o escritor, o importante nas operações competitivas é o resultado rápido e não a atitude prolongada. Se você não tem acesso à informação pelos vários fatores da sua história socioeconômica ou educativa por falhas nos suportes de quem de dever, sua formação se faz em um treinamento ineficaz, equipamentos inadequados, falta de profissionais educadores, apoio financeiro, informação na hora certa, será derrotado pelo psicológico antes mesmo de entrar nas ações competitivas de excelência pessoal.

A partir das considerações acima, espero que os irmãos e irmãs afro-brasileiros, principalmente, quando na busca de ações que permeiam passado e futuro façam suas considerações sobre a efetividade de ações não dialéticas, mas sim, da capacidade de superação histórica em nome de redirecionar esforços e reforços dos que utopicamente ou não queiram debruçar sobre os mecanismos estruturais ou eixos de significação usados pela engenharia social “ad continium” de cânones da literatura eurocêntrica norte americana  para  sua construção e manutenção. Por esse motivo que eu prego o estudo meticuloso das engrenagens que acionam os mecanismos de permanência de tal engenharia social para permanência do status quo para reféns do discurso que tergiversa e se esvazia ou o silêncio transformado em raiva que leva a autodestruição. A ideologia e a mitologia cientificista encaram a ciência não pelo prisma do trabalho do conhecimento, mas pelo prisma dos resultados (apresentados como espetaculares e miraculosos) e sobretudo como forma de poder social e de controle do pensamento humano. Por esse motivo, aceitam a ideologia da competência, isto é, a ideia de que há, na sociedade, os que sabem e os que não sabem, que os primeiros são competentes e tem o direwito de mandar e exercer poseres, enquanto os demais são incompetentes, devendo obedecer e ser mandados. Em resumo, a sociedade deve ser regida e comandada pelos que sabem e os demais devem executar as tarefas que lhes são ordenadas. Na ilusão da neutralidade científica do passado quando na separação e distinção entre o sujeito do conhecimento e o objeto e por retirar dos objetos do conhecimento os elementos subjetivos ao escolher a orientação teórico-metodológica para obter certos resultados na definição de seu objeto de estudo, sua atividade não é neutral e nem imparcial, mas feita por escolhas precisas. Durante  muito tempo os antropólogos afirmaram que existia duas formas de de pensamentos cientificamente observáveis e com leis diferentes: o pensamento lógico racional dos civilizados (homens europeus e americanos brancos e adultos) e o pensamento pré-lógico e pré-racional dos selvagens e primitivos (africanos, índios, tribos australianas). O primeiro era considerado superior, verdadeiro, evoluído; o segundo inferior, falso, supersticioso e atrasado, cabendo aos brancos europeus “auxiliar” os selvagens primitivos a abandonar a sua cultura e adquirir uma cultura evoluída dos colonizadores, ou seja, a cultura da “tutela” que ainda subsiste na nossa temporalidade. Em outras palavras, uma ciência como a antropologia simplesmente exprimia com conceitos e teorias o poder dos dominantes e legitimava a dominação colonial. Os estudos  antropológicos do passado é um exemplo da subjetividade do pesquisador exercendo influência nos critérios definidos pela própria razão e expressam uma determinada forma de compreensão da relação do homem consigo mesmo e com os demais seres humanos, o que nos permite postular que a pesquisa científica não é neutra, mas intencional, por ser datada historicamente e por atendera determinadas necessidades construídas por grupos ou classes sociais em um contexto específico. Portanto, o racismo não é apenas uma ideologia social e política; é também uma teoria que se pretende científica, apoiada em observações, dados e leis conseguido com a biologia, a psicologia, a sociologia. É uma maneira de apresentar tais dados de maneira a transformar étnicas e culturais em naturais imutáveis e separar os seres humanos em superiores e inferiores, dando aos primeiros justificativas para explorar, dominar e mesmo exteminar os segundos. Sendo assim, beber na fonte da dissidência acadêmica é caminho consciente para desconstrução dessa engenhoca que os novos tempos de “juntos e misturados da inteligência coletiva” começa a questionar. Mudar os atores no cenário político, social, cultural e econômico hegemônico fundamentado em toda uma concepção burguesa européia para uma nova ordem cujo respeito às diferenças não nos leve a raia do “primitivismo” de atitudes absurdas da existência dos espaços de poder, de acumulação de bens repassáveis a quem de direito, da transmissão vitalícia das oportunidades, de poder de barganha do papel moeda colocando o ser humano em condições deprimentes na capacidade de autoquestionamento ante a satisfação das necessidades primárias descambadas para a ostentação.

A proposta deste texto é a reflexão sobre os objetivos de negros e negras quando na busca de seus direitos como cidadãos proativos da vida nacional, saindo do segundo plano da invisibilidade histórica, eternamente, substanciada pelos cânones das ciências humanas de uma literatura em processo de desconstrução para pressupostos da supremacia hegemônica que, mesmo desqualificados pelas descobertas mais recentes das ciências da cognição para os processos da construção do conhecimento, desconsiderando toda uma concepção que deu base de sustentação aos processos civilizatórios de dominação referendados pelo empirismo de autores que pregaram a supremacia ariana do passado. Saber como o ser humano pensa, se expressa, compreende, aprende e apreende o seu entorno é não estar indiferente ao que se sabe e ao que não se sabe da capacidade de autossuperação do ser humano, é buscar respostas aos mecanismos que regem as ações consciente ou inconsciente, como também questionar do quanto os nossos jovens estão assimilando as possibilidades advindas da excelência pessoal através da educação, das concepções agregadas de pensamento ético e noções de cidadania para a uma consciência crítica pautada, também, em argumentos contra-hegemônicos e contra-ideológicos de seus intelectuais orgânicos, principalmente, pontuando os cânones das várias teorias que subvertam o discurso hegemônico e ideológico de menos valia para aqueles da diversidade étnica, político-econômica e sociocultural no silêncio das minorias para um ideal de equanimidade social com os investimentos necessários para trocas interpessoais socializantes como quis o brasileiro Darcy Ribeiro.

Acreditando que por meio de ações competitivas e conscientizadoras associadas às orientações e diretrizes intrínsecas à história cultural dos formadores do povo brasileiro amealhadas ao longo das conquistas sociais e culturais dos vários documentos constitucionais para as compensações necessárias às distorções que equidistam os caminhos de oportunidades para a chave do sucesso e gera os produtos e subprodutos da desigualdade social que ante a insensibilidade do acúmulo de bens, a prática do darwinismo social, da falta de contra-argumento daqueles da base da pirâmide para a dominação etnocêntrica habalizada em teorias de literatura que respaldam as práticas dominantes e a subserviência de dominados segundo estratégias dos vários mecanismos sutis para permanência do status quo inabalável ao longo de toda uma historicidade de questionamentos que apenas tergiversam e não transgridem os espaços de formação da mente. Pensar mudanças em tal contexto é ver na educação a força motriz para estratégias que busquem as dissidências nas mesmas fontes de informação para a formatação contra-argumentativa com capacidade de inferir   formas de trocas interpessoais mediadas pelo respeito mútuo, mesmo que nascidas embate de pontos de vistas, pois tão somente a formação de opinião capacitada para dialogar com o academicismo, principalmente, poderá suscitar novas formas dialógicas para os processos da escola como espaço de reprodução de excrecências sociais pelo que o fracasso escolar tem com a intergeracionalidade de vidas precárias e para a eterna culpabilidade dos processos que culminam no retrocessos do tecido social como variante principal para uma melhor qualidade de vida, pelo que a violência atua na percepção e na heteropercepção da pseudoconvivência  com as questões sociais e raciais. Melhorar a educação é ampliar o horizonte de oportunidades, onde  projetos pessoais não seja sinônimo do uso da representação popular para locupletar-se com antolhos insensíveis ao drama dos algozes diretos ou indiretos da pobreza como um problema insolúvel. Logicamente faz-se necessário pontuar o quanto mudança e transgressão estão em caminhos equidistantes, porém, que hora e outra se fundem no clamor de reivindicações porquanto dos ingredientes de um segmento social com o fulgor da juventude e os equipamentos socioculturais com capacidade da mobilização que leve a ruptura de ciclos históricos, mesmo que no nosso tempo do poder das mídias sociais em congregar e espraiar interesses afins.

Ressignificar conceitos cristalizados pela historicidade é buscar na cientificidade dos procedimentos adotados em pesquisas pelas várias ciências, como a antropologia, a genética e neurociência entre as muitas investigações que ancoram os paradigmas da capacidade cognitiva, principalmente, para projetos pessoais e de grupos do nosso tempo midiatizado para confontrar o empirismo daqueles que traçaram caminhos de aspectos exógenos como a fisiognomia para questionamentos da capacidade intelectual daqueles do novo mundo ante o etnocentrismo europeu quando nos primeiras conceitos e abordagens da ciência, filosofia e história, como também o jogo de interesses concomitantes aos espaços de poder delimitados pelos discursos de filósofos, historiadores e sociólogos numa verdadeira batalha de discursos rivais, que se legitimaram em tradições às vezes divergentes, às vezes convergentes, que duelaram por influência, prestígios, status e espaços institucionais ou não. Luta que, em última instância, exerce poderosa influência nas escolhas teóricas e metodológicas que acabam por definir um paradigma e, consequentemente, um regime de verdade acerca de um saber, uma dizibilidade que se pretende muitas vezes definitiva e universal, que confere visibilidade a determinados conceitos e não a outros, em outras palavras: o intricado sistema de poder que definiu verdades e inverdades nos círculos da ciência, muito especialmente da história. Afinal, a verdade em ciência como em história não é uma categoria transcendente, ela é produto das relações de poder de uma dada sociedade. No caso, o altar e pedestal da verdade estaria ancorado no discurso científico, como definiu Foucault:

O importante, creio, é que a verdade não existe fora do poder ou sem poder (…) A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças as múlitplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz circular como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distyinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneiro como se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o cargo de dizer o que funciona como verdadeiro. (…) a “verdade” é centrada na forma do discurso científico e nas instituições que a produzem.

A partir deste entendimento, podemos inferir que a verdade, tal como todos os outros conceitos e realidades sociais, são historicamente datados, constituídos e, acima de tudo, mutáveis. Foi assim com a própria “ciência histórica”, antes considerada impensável dada a concepção de ciência pautada no racionalismo cartesiano, já que sua concepção de verdade repusava na ideia de experimentação que seria objetivamente impossível na história, já que esta na medida que interroga o passado, não pode submetê-lo a tal prova, os mortos só podem se pronunciar através de documentos. Mudar o foco é pensar que tão somente a escolarização pode fornecer um norte formativo/investigativo  necessários à compreensão de mundo partir de uma visão socio-antropológica, isto é, usar  métodos de investigação científica, procura compreender e explicar as estruturas da sociedade, criar conceitos e teorias a fim de manter ou alterar as relações de poder nela existentes.  Não podemos ignorar que a comunicação, como um objeto de conhecimento, vem se constituindo e sendo constituído por diferentes autores do mais diversos campos disciplinares, mediante elaborações técnicas, investigações empíricas e invenções tecnológicas, as mais variadas, ao longo dos dois opu três últimos séculos. As questões do paradigma midiática como instrumento do pensamento social ou da “inteligência coletiva” do século XXI nos remete as questões socioantropológicas do século XIX, e que diz respeito a relação de dominação de um centro sobre a periferia. Destaque para etnocentrismo europeu e homens como Oswald Spingler e Joseph Goebbels, que através da argumentação filsófico-imagética alimentaram o nazismo e o xenofobismo a partir de obras como “O homem e a técnica” e “A decadência do Ocidente” ante ao temor da incorporação da técnicas ocidentais pelos outros povos não europeus, as “raças coloridas hostis”, que finalmente viriam a usá-las contra o próprio Ocidente.

As considerações dos parágrafos anteriores nos levam ao pensamento de Auguste Comte (1798-1857), fundador da filosofia positiva. Sua ciência positiva da sociedade, embora denominada de fisica social, com outras filosofias da sua época, inspira-se muito mais na biologia do que propriamente na física para fundamentar a sua clássica e bem conhecida, conhecimento obrigatório na formação de professores, visão da história como um progresso linear e e necessário de uma era teológica, a uma era metafísica e, desta, a uma era científica e positiva, que caracterizaria o estágio das sociedades modernas industriais. Dentro dessa concepção biográfica da história humana, que deu amparo à ideologia dominante dos impérios coloniais e marcou profundamente a etnologia da segunda metade do século XIX – exemplarmente representada pela antropologia do comteano Lucien Lévy-Bruhl (1857-1939), que escreveu sobre As funções mentais nas sociedades inferiores (1910), chegando ao conceito de “mentalidade pré-lógica” para definir A mentalidade primitiva (1922) –, os povos primitivos são vistos como “povos-crianças” que deveriam ser necessariamente tutelados pelas nações “civilizadas”, que teriam a missão de conduzi-los à “idade adulta”. Conforme comenta Mattelart (1999), dessa representação do desenvolvimento das sociedades humanas (…) emanam as primeiras formulações das teorias difusionistas: o progresso só pode atingir a periferia por meio da irradiação pelos valores do centro. Não se ignora o papel dessas teorias nas formulações, após a segunda Grande Guerra, de uma sociologia da modernização e sua concepção de “desenvolvimento”, na qual as mídias ocupam papel estratégico.

Trazer a luz a forma de como a história de dominante e dominados é contada nos compêndios que habitam a formação docente é buscar o ponto de partida nos parâmetros estabelecidos por Comte com seus métodos da “lei da causalidade”, pelo que a sua concepção de mundo foi emblemática para a relação de dominação centro-periferia; assim como contribui o movimento historiográfico dos Annales. Isso se deve fundamentalmente à importância da corrente de pensamento que fundou na constituição das ciências sociais e particularmente da sociologia, a partir de Durkheim, com todos os seus desdobramentos na produção científica no século 20, incluindo a acima mencionada “sociologia da modernização”. Contudo, esse esquema básico não tem sua “origem” no pensamento comteano e possui antecedentes importantes, que também nos interessam nesse momento. Vamos situá-los no chamado Século das Luzes e revelam-se no importante embate entre o pensamento iluminista e o pensamento romântico, em torno da noção de povo. A importância e a extensão dessa discussão ultrapassa em muito o que se poderá destilar neste breve artigo e nos obrigaria a rever as relações que vieram se construindo, desde a aurora da era moderna, entre a noção de povo e política, que historicamente oscilaram entre a ideia de buscar no povo um modo de legitimação do poder político (Maquiavel) e a idéia sempre presente do povo como uma ameaça para o poder político instituído (Hobbes). Essa ambivalência está inteiramente condensada no pensamento iluminista, que se opõe ao poder despótico em nome da vontade popular e se opõe ao povo em nome da razão. Fórmula que, segundo Martin-Barbero (2001), sintetiza o próprio funcionamento da hegemonia: A invocação do povo legitima o poder da burguesia na medida exata em que esta invocação articula sua exclusão da cultura. E é nesse movimento que se geram as categorias “do culto” e “do popular”. Isto é, do popular como in-culto, do popular designando, no momento de sua constituição em conceito, um modo específico de relação com a totalidade do social: a da negação, a de uma identidade reflexa, a daquele que se constitui não pelo que é, mas pelo que lhe falta. Definição do povo por exclusão, tanto da riqueza como do “ofício” político e da educação

Portanto, da história de ilustres, não ilustres e por meio das ações competitivas e conscientizadoras do direito de participação do negro no cenário acadêmico, a grande barreira a ser transposta, na condição de cidadão afro-brasileiro com poder de voz podemos vislumbrar as pinceladas de um novo quadro, mesmo que naife, a partir da comunicação clara – os agressivos não tentarão iniciativas erradas e aqueles que são excessivamente cautelosos não ignorarão oportunidades para vencer na vida. Tão somente pelo caminho da conscientização do aprendizado a partir dos erros e acertos dos mais de 500 anos poderemos gerenciar a sua condição de “ser participante” da visibilidade. Na busca do reconhecimento do papel das minorias na nossa cultura pluralista, com seus valores de pertencimento, etnicidade e oportunidades temos um padrão nas falas que se tergiversam em discursos que se colocados ao longo dos anos poderemos associar que temos uma mesma fala para vários momentos da história das causas negras em nome de novos rumos para os processos autodestrutivos do determinismo da miserabilidade que diuturnamente aniquila o pouco que resta de autoestima, ou no sentido inverso é a intergeracionalidade de vidas precárias com seus produtos e subprodutos como desculpa para os vários mecanismos que dispara a imunologia asséptica do psiquismo que faz  da culpabilização do outro a fuga para o autoquestionamento de sua parcela de responsabilidade por um mundo mais equânime, numa transferência que leva aos atos beligerantes que culminam na  criminalização da pobreza, entre os muitos que explicam a fenomenologia de relações interpessoais cortadas pela distribuição desigual de oportunidades que gera a conflituosa desigualdade social, a grande vilã a contaminar o nosso tecido social já deteriorado ao longo da historicidade da formação do povo brasileiro.

Deixo a luz dos irmãos e irmãs afrodescendentes do quanto seria esclarecedora uma autoavaliação do papel do racismo assimilacionista nos vários níveis da nossa cultura miscigenada e das oportunidades segundo associações paternalistas do compromisso com os valores incorporados por uma minoria que consegue passar pelo filtro ideológico e que se deixam cooptar pelo processo natural de se priorizar objetivos da realização pessoal que não podem ser justificada como militância por n motivos da sua história pessoal e daqueles que não puderam superar o quadro de abandono desde a abolição. A partir das considerações resultantes do autoquestionamento analise-a a partir da frase: “Não julgue um homem pelas suas opiniões, mas sim, pelo que ele se tornou em virtude delas”. Polêmicas à parte, quando se fala dos bastidores de tão ampla gama de artefato social, levando-se em conta os vários casuísmos no jogo de poder, pois mudanças implicam em novos jogadores no cenário das oportunidades hegemônicas que caracteriza a sociedade brasileira, onde é vedada a entrada dos desiguais de hoje. Assim sendo, aos filtrados chamo à reflexão paras novas formatações de acolhimento daqueles que possuem os atributos necessários às lentes da cooptação pelo que os pré-requisitos da escolarização ou não indiciam de ajustamento inquestionável às benesses dos patamares mais altos dos mecanismos pseudoseletores do forte sistema hierárquico e vitalício da relação entre senhor e escravo que foi sofrendo mutações ao longo do tempo, que estabelecida no Brasil colônia, veio sofrendo mutações até o Brasil da abolição.

Seus vestígios ainda estão impregnados nas práticas cotidianas e afloram a cada novo discurso, quiçá controverso pelos gráficos com as diferenças estatísticas dos salários de brancos e negros com o mesmo grau de escolaridade, a partir do pressuposto da educação, sagacidade e a inteligência do palrador hegemônico, esquecendo-se de que são tanto quanto os seus co-irmãos menos afortunados, afro-brasileiros fruto da nossa historicidade, transmitida as novas gerações em versão pós-moderna editada pelas favelas no entorno da concentração de renda, orientadas pelo mesmo espírito conservador das diferenças antagônicas enfraquecendo os valores que aglutinam todos de uma nação em prol de objetivos comuns pela vida, pelo crescimento pessoal, levando ao menor vínculo das relações de trabalho, enfraquecendo valores como o compromisso, amabilidade, a confiança e a lealdade, todos fundamentais para a consolidação do caráter, prevalecendo a famosa “Lei de Gerson”. O desenvolvimento do caráter e também da identidade depende das relações e das ligações que estabelecemos com outras pessoas e com as instituições. A identidade ou a sensação de pertencimento é um processo de construção de algo duradouro, único e distinto, isto é, é o desenvolvimento de uma narrativa coerente da vida, a criação de uma voz própria. Cria-se na prática um teatro de aparências onde habita o “homem irônico”, um ser sem ligações, que não leva a sério nem a si mesmo nem aos outros. A partir das considerações da etnicidade, hegemonia e pertencimento, não é necessário graduação em sociologia, psicologia ou outra ciência da interação humana para se chegar à conclusão do não pertencimento do papel hegemônico no quesito “educação x educando” em áreas de risco social sob a ótica das políticas públicas para a excelência pessoal dosa seus discentes, levando-se em conta os nuances da nossa história, eterno divisor de águas que separa os ideais de vida vivenciados e constituídos no campo das oportunidades para a transmissão de valores na nossa sociedade dita politicamente correta quanto à convivência das quantas raças existentes, onde, a educação enquanto elemento dos processos de ascensão social através das oportunidades pelo estudo. Então se questiona o quanto às diferenças soci-econômicas e culturais podem atuar como elemento contraproducente no processo no processo educacional pelas condições atípicas e adversas da “relação opressora x oprimida” das áreas famelizadas e sua situação de risco social para jovens negros, principalmente em idade escolar, onde o contra-argumento do poder paralelo procura eco entre os estudantes através dos vários mecanismos para a sua inserção no universo consumista dos que veiculam modismos através dos meios de comunicação em massa, refletindo nas expectativas psicopedagógicas para transmissão de valores humanos associados à transmissão de conhecimento já que não temos a mesma comunicação voltada par uma pedagogia social em massa, o que não impede a sensação do não pertencimento ao quadro extracurricular da coação velada ou frontal do entorno da área de atuação do professor, já que a escola passa a fazer parte do fluxo/refluxo das possibilidades daqueles que vêem na escola o epicentro do fluxo refluxo comunitário quando alimenta sonhos de liberdade como também converge para o seu âmago o descontentamento daqueles que a veem como um problema ao recrutamento de mão de obra quando esta atua nas pontas que empurra os seus jovens para as fileiras do tráfico.

Com a chegada dos blogs e as mídias interativas desmistificaram-se para as discussões dos vários aspectos que alimentam a violência urbana, já que antes falar desse assunto no âmbito escolar e nos espaços de questionamento encravado nas periferias era tabu, por si só dizem do déficit de professores que se utilizam dessas ferramentas no processo de contextualização do pensamento crítico nos vários níveis da nossa educação, mesmo com a presença daqueles que foram filtrados por mérito ou qualquer outro argumento do repertório hegemônico, já que a presença de representantes saídos desta realidade é ínfimo se comparado ao quadro de representatividade hegemônica respaldada na nossa historicidade para a tutela dos afrodescendentes que busquem o conhecimento via escolar, que somados aos desinteresses que levam à evasão, a concepção precoce entre meninas em idade escolar além das tensões psicossociais interagindo no fluxo/refluxo da relação “escola x comunidade” junto ao corpo docente hegemônico nas áreas de vulnerabilidade social, debilitando cada vez mais a capacidade de reação do país pela educação. Há anos professores são orientados administrativamente a aprovar alunos que mal sabem assinar o próprio nome. Sob a espúria justificativa de que não devem ser socialmente excluídos. Porém, todos sabemos que quem os excluirá é o mercado. Serão relegados às atividades mais primárias e as de pior remuneração. Somente perceberão o engodo a que foram submetidos quando se derem conta que não possuem qualquer preparo intelectual para uma concorrência com aqueles que se formaram em escolas de excelência.

Não poucos enveredarão pelos descaminhos da sociedade ou se manterão no mercado informal. A partir das considerações acima fica a pergunta de como fica a capacidade de transmissão daqueles valores essenciais ao mundo neoliberal e ao mundo das interações político-sociais neste universo de tensões curriculares e extracurriculares deteriorando o corpo docente e discente? Isso significa que os governos deveriam ajudar as escolas a enfrentar problemas que não podem ser resolvidos pelo professor, a começar pela saúde chegando até a assistência social; filhos de famílias desestruturadas tendem a ter problemas em sala de aula. Exige-se, assim, um olhar mais sofisticado diante da educação. Como esse olhar não existe e cada repartição do governo trabalha isoladamente, o professor acaba vítima de tensões que vai muito além da sala de aula. Esse é um dos fatores que explicam o enorme absenteísmo e rápida rotatividade em escolas públicas tanto de estudantes como dos professores Assim sendo, os vários debates em nome de propostas que otimizem a relação: educador x educando do espaço intramuro das nossas escolas públicas, principalmente, é o grande desafio para os objetivos do país em busca de novos patamares do índice de desenvolvimento humano e a consequente retomada do crescimento que viabiliza novas propostas nas realidades locais inferindo uma dinâmica mais próxima da realidade da empregabilidade do mundo globalizado a partir das expectativas psicopedagógicas criadas de um quadro menos distante das realidades do universo corporativo e as atualizações automáticas, onde os entraves das “realidades locais x expectativas psicopedagógicas”, “imediatismo x preparo para excelência pessoal”, “entorno x espaço da escola”, quadro docente desatualizado das ferramentas que inserem os seus discípulos às habilidades necessárias as novas construções do saber, onde o stress da atuação em áreas de vulnerabilidade social não seja mais uma desculpa para a perpetuação de práxis tutelatórias.

Outrossim, esclareço que recente pesquisa realizada pela Unesco, concluiu-se que 54% dos profissionais da educação trabalhando na rede pública de ensino e aspirando uma melhor formação acadêmica e a ascensão social para o filho por meio da escolarização, procuraram a admissão destes no ensino privado. Dos 5000 professores entrevistados em recente pesquisa para a Unesco sobre “O Perfil dos Professores Brasileiros”, nas respostas de 82% dos profissionais dos ensinos fundamental e médio da rede pública de ensino, não abrem mão do descontentamento da opção profissional implícita na preferência pelas escolas particulares, confirmando em tese, que enquanto professor da rede público de ensino, não deseja para os seus iguais os espaços que por ordem natural reservam-se aos não iguais ou excluídos. Tal atitude soa como prova cabal do atavismo das ações de resgate do papel do mestre como cristalizador da atenção do jovem, indiferente às classes sociais de iguais ou desiguais para a realidade que os esperam e, através dessa reciprocidade capacita-los à ação coerente em nome de valores éticos e humanos onde prevaleça a ética no querer, o direito do outro, a “FÈ” no lugar do poder, o homem acima do mito, o labor do agora arestando um futuro em nome de objetivos mais nobres e comuns do restabelecimento social, do exercício da cidadania, indiferente as perspectivas negativas das praticas centenárias da tutelagem. Levando-se em consideração o percentual de profissionais da educação com preferência da rede particular de ensino em detrimento ao autoquestionamento do profissional que não confia naqueles em que se vê representado em si mesmo, fica o questionamento dos valores éticos que permeiam a relação, educador x educando no espaço intramuro da rede pública de ensino.

Portanto é natural a interrogação do quanto de engajamento e pertencimento vocacional a contexto tão adverso das suas realidades e projeções de multiplicadores do conhecimento, intermediadores de questionamentos, mentores das gerações que se sucedem e o quanto foi no passado o papel do mestre no fomento dos seus ideais, tornando-os protagonistas das convulsões que mudam a ordem social para uma sociedade que mais se aproxime dos seus pontos de vista, questionando cidadania, pertencimento, direitos e deveres a partir do estímulo do fervor docente para as suas próprias conclusões em nome de um mundo melhor. Porquê? Por falta de uma sistematização das pesquisas aferidas em campo (educador social) para serem arestadas ações para a consciência de pertencimento as realidades que alimentam o caos urbano com a sua violência sem cara e sem cor ceifando a vida de jovens negros entre 15 e 24 anos, principalmente, já que estes são o alvo preferido da bússola do crime organizado, da violência policial e de todos os indicadores do recrudescimento em níveis de números estatísticos de morte e ferimentos por armas de grosso calibre, típicas dos conflitos urbanos armados, nas emergências e ambulatórios da rede estadual e municipal de saúde, com relato de profissionais da área se especializando em atendimento de amputados e outros casos de instalação de prótese característico de vítimas de áreas com conflito armado mundo afora, indiferente a estarmos num grande centro urbano sem os elementos da guerra, da guerrilha ou outros indicadores que justifique os gráficos de morto e feridos pela violência urbana das nossas principais capitais.

Os dados da violência estabelecida em nossas metrópoles, pelos seus bolsões de pobreza, traduzem do quanto a qualidade de vida das nossas cidades tem início, meio e fim no papel da escola com intermediadora na reflexão sobre os dilemas que nosso tempo impõe, pelo seu contorno de situação emergencial, visto ser a escola o epicentro de onde irradiam os questionamentos que fornecem suporte à construção da cidadania a partir das demandas advindas dos conflitos que convergem do entorno da escola, já que falamos das encravadas nas áreas de vulnerabilidade social, traduzindo cada possibilidade de produção numa cadeia de criação e troca, onde a escola enquanto espaço de convivência das contradições sirva de pano de fundo para os questionamentos que invadem a sala de aula sem necessariamente dizer respeito às atividades curriculares previamente estabelecidas. As ações para o restabelecimento social devem ser iniciadas pela pré-escola, ensino fundamental e ensino médio em nome de uma cultura de paz onde prevaleçam os valores do homem como ser racional e social. Portanto, o seu dever é viver pela razão e controlar a rebeldia dos seus instintos. “Uma autorestrição inteligente é para o jovem tão importante quanto a liberdade de expressão”. No homem civilizado, a liberdade e a disciplina complementam-se mutuamente; só os bárbaros dão livre curso aos seus sentimentos no mesmo instante. Portanto, não deve ser consentido à criança que se exprima tal como deseja, pois, o que ela exprime pode não ser necessariamente bom. A racionalidade pode ser inata nela, mas também tem de ser educada para que seja útil para si mesma e seus semelhantes.

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