By Luis Carlos “Rapper” Archanjo
Não há mais dúvida que a edificação de uma sociedade, efetivamente democrática, perpassa pela superação das desigualdades sociais e raciais. Pela superação do antagonismo de classes formadoras da nossa pluralidade étnica, onde a transmissão no cenário das oportunidades ainda se faz nos moldes da transferência aos “herdeiros” (Bordieu, 1998 apud GRACIANO, 2007, p. 78-83) diretos ou indiretos, onde as minorias étnicas são os legatários dos valores culturais enquanto no âmbito de suas comunidades e muitas outras colocações para essa versão pós-moderna do Brasil colônia. Segundo alguns sociólogos, a edificação de uma Nação justa, efetivamente democrática, necessita do compromisso das administrações públicas em parceria com as instituições e sociedade civil, hoje representada pelo segundo e terceiro setores. Estruturar uma sociedade democrática exige a democratização do espaço escolar, do trabalho socioeducativo do segundo e terceiro setores, o que não resume na disponibilização destes espaços condição de espaços de intervenção urbana envolvendo crianças e adolescentes para que estes não “escorreguem” para uma conduta tida como delituosa. Por isso aquelas famílias preocupada com o assédio do tráfico interessam-se em que seus filhos participem nas organizações não governamentais, associações de moradores, paróquias de igrejas e ministérios protestantes ou pentecostais como via de acesso para promover atividades culturais e laborais. As melhorias nas condições sociais, econômicas e educacionais dessas crianças e suas famílias visam produzir a satisfação da comunidade diante da sua condição de moradia em determinado bairro ou região, mesmo que, diferentemente, da intervenção do Estado com projetos de reforma urbana, recuperação de prédios e praças, saneamento básico e urbanização de favelas.
Essas intervenções no campo assistencial, educacional e de planejamento urbanístico tem como objetivo dissuadir os moradores, principalmente jovens, de cometer incivilidades, oferecendo alternativas para vida em bairros considerados de risco que podem, um dia, tornarem-se seguros quando todos colaborarem. Por erssa razão, para ser uma política criminal, essas intervenções sociais devem estar lado a lado com o policiamento local efetivo para o bem da cidade, da comunidade e dos seus habitantes. Assim uma série de projetos asistenciais e revitalização urbana que se multiplicam , voltados, direta ou indirtetamente, para o combate a violência, tomam explícita ou implicitamente, as teses da “ecologia criminal”, atualizando o antigo sentido de polícia, analisado por Foucault (2007), como política social (AUGUSTO, 2010, p.266-268). Como bem colocou o mais que brasileiro professor Darcy Ribeiro, tão somente o investimento em pessoas psicologicamente fortalecidas, socializadas a atitudes sociais positivas e cognitivamente favorecidas pode-se ter efeito positivos no combate a violência, a ignorância e em todas as condições adversas a uma sociedade justa. Todos envolvidos no trabalho socioeducativo de meninos e meninas em vulnerabilidade social têm a responsabilidade de formar cidadãos e cidadãs e, por extensão, respeita-los, levando em consideração a diversidade cultural, racial e religiosa dos mesmos.
Todos envolvidos no processo da leitura, da escrita, da transmissão de valores humanos e, enquanto seus tutores no período das atividades socioeducativas ou banco escolar, devem coibir as práticas discriminatórias ou racistas e, principalmente, devem manter a chama da possibilidade de construirmos uma sociedade que garanta visibilidade a população afro-brasileira (maioria das famílias de nossas comunidades) e promova a cidadania e a igualdade racial, alcançável por meio de uma pedagogia multicultural e interétnica.
A escola, os agentes socioeducativos devem fazer de seus ensinamentos os primeiros exercícios de construção e sedimentação da cidadania, do respeito à valorização da dignidade humana a partir de ações como:
1- Colocar em evidência programas educacionais que valorizem a contribuição de afrodescendentes na construção da sociedade brasileira.
2- Incentivar grupos de reflexão sobre as práticas docentes em interface com a temática do racismo e da discriminação racial, tendo em vista a edificação de uma pedagogia efetivamente democrática.
3- Tomar medidas necessárias para trabalhar-se os mecanismos que encadeiam as crianças das comunidades ao fracasso escolar através de ações que os tire do embotamento para a aprendizagem.
4- Apoiar esforços para materiais didáticos com conteúdos não discriminatórios e, que promovam a igualdade e a cidadania.
5- Produzir materiais didáticos pedagógicos que contenham afrodescendentes e que os ajude na formulação de uma autopercepção menos fragmentada.
6- Apoiar atividades artísticas e culturais que envolvam a valorização da identidade afro-brasileira e da contribuição africana no mosaico cultural brasileiro.
7- Promover espaços de reflexão sobre os critérios de avaliação escolar e sobre suas conseqüências na reprodução das desigualdades sociais e econômicas observadas entre brancos e não-brancos pela sua ingerência nos gráficos das oportunidades no mercado de trabalho excludente e suas respectivas diferenças quanto à condição étnica.
8- Promover espaços de discussão e núcleos de estudo, que produzam projetos para o desenvolvimento social dos (as) alunos (as) afro brasileiros da rede municipal de ensino.
9- Apoiar as organizações não governamentais (Ongs) que trabalhem com projetos educacionais e culturais, que promovam a permanência do (a) aluno (a) afro-brasileiro no espaço escolar. Incentivar a formação de redes de debate e discussão, onde haja a circulação de informes e dados acerca da situação econômica, social e psicológica dos (as) alunos (as) afro-brasileiros da rede municipal de ensino.
10- Incentivar a formação de redes de debate e discussão, onde, haja a circulação de informe e dados acerca da situação econômica, social e psicológica dos (as) alunos (as) afro-brasileiros da rede municipal de ensino.
Desde a muito fala-se muito do quanto os projetos sociais podem contribuir com os ensinamentos de cooperação e solidariedade para com os que estão inseridos no contexto de ações socioeducativas de uma equipe multidisciplinar com profissionais das várias áreas da interação humana a partir de uma visão das particularidades do público alvo de seu foco, levando-se em conta a parte interpretativa (particular, subjetiva, plural, experiência) para um levantamento das suas reais possibilidades, adaptando-se as realidades locais e também uma visão holística. Assim como data o ensino que realizou-se segundo diretrizes estabelecidas por educadores que, das salas refrigeradas estabeleciam como seriam os conteúdos a serem transmitidos nos bancos das escolas públicas, indiferente a falta do conhecimento vivencial das realidades e dos fatores extracurriculares interferindo na capacidade de assimilação dessas crianças. Atualmente uma corrente de eminentes educadores já coloca em cheque o antagonismo das classes formadoras da nossa sociedade e a sua causa por uma educação segundo o legado do patrimônio cultural herdado do histórico familiar, indiferente a estarmos em outra conjuntura social que não pode ser arregimentada pela frieza das análises dos instrumentos científicos que constroem as planilhas de análise para o estabelecimento das ações públicas, não levando em conta as necessidades de aceitação social, o ancoramento dos valores chave como habitação, saúde, circulação e lazer.
Atualmente uma palavra poderia sintetizar tal pensamento conservador: blindagem, isto é, não desestabilizar o que está instituído por força da aceitação passiva. Somado os valores pessoais dos profissionais da equipe multidisciplinar dos projetos sociais, o empreendedorismo de alguns executivos do bem, a sociedade, o poder público e a comunidade têm-se um campo fértil para o traçado de novas possibilidades que minorem o fosso entre ricos e pobres do nosso país. Quantas e quantas são as indagações do xadrez territorial que tornou a cidade outrora maravilhosa pela amabilidade acolhedora dos seus cidadãos, pela liberdade gozadora do espírito carioca de ser, pela inspiração poética das pessoas e suas calçadas suburbanas, etc., em um estado de alerta constante pelo temor generalizado estressando o dia a dia pelas compulsões do medo de ser vitimizado pela violência sem cara e sem cor das vielas e ruas da cidade do Rio de Janeiro. Dessa doce lembrança resta-nos a convivência com o arremedo da solidariedade entre os que se agregam aos arranjos familiares de totalidade uniparental, o poder paralelo substituindo e constituindo-se na troca de favores através de códigos próprios de consangüinidade biológica ou por consideração, pertencimento e outros valores do universo de vulnerabilidade social empurrando as famílias para a tutela do crime organizado. Tal realidade suscita questionamentos tais como: O que será para o morador da comunidade melhorar de vida? Será melhorar a sua condição na favela ou da favela? Não haverá na postura de melhorar a condição da favela uma sombra de aceitação do fracasso ao invés de investir em algo que deveria ser provisório? Como é possível justificar uma longa permanência em condição abaixo do que prescreve a OMS como aceitável para a condição humana? Confessar uma permanente situação de dependência social?
Porém, mesmo nesse universo de idiossincrasias podemos observar as pessoas dividindo a própria carência de forma eficaz em nome de valores que ultrapassam a racionalidade dos questionamentos de quem não vivencia de forma mais real esta realidade tão longe e tão perto pela sua condição de estar acontecendo na casa do vizinho na comunidade carente ao lado da nossa casa, porém quando se fala de transformações mais amplas e de caráter estrutural, onde é necessário compromisso e continuidade para a construção ou melhoria, esta união não partilha do senso comum, ficando restrita a uma minoria com representatividade ou simplesmente desaparece, o que serve de esconderijo para os tentáculos do crime organizado, que aproveitando desta incapacidade de mobilização para tecer uma rede social mais sólida, estabelece-se no fracionamento dos interesses da comunidade, oferecendo as benesses próprias de pertencimento. Com sua formação baseada na aceitação de contorno as leis e uma vista grossa para certas transgressões que são permitidas para atender uma situação de necessidade básica, locupletam-se.
Como subproduto dessa condição social temos a raiva escamoteada nas várias externações de crianças e adolescentes, sendo necessário o desenvolvimento de caminhos ou ferramentas que os auxilie no reconhecimento dos sentimentos subjacentes no “iceberg” da raiva: ao localizar os sentimentos que dão origem a raiva é possível diminuir sua intensidade e, com isso, ajudamos as partes envolvidas a transitar do papel de oponentes para “sociais” do problema, examinando-o lado a lado, em vez de bater de frente. Os sentimentos que mais comumente encontramos sob a raiva são: tristeza, mágoa, decepção, frustração, preocupação e medo. Em geral, quando mostramos à pessoa que compreendemos as razões de sua raiva, ela se acalma e a raiva se transforma em outro sentimento. No entanto, é preciso desenvolver a sensibilidade para tocar nesses sentimentos subjacentes sem melindrar a pessoa. Há quem se sinta protegido por uma carapaça guerreira porque teme expor sua dor: para essas pessoas é preferível gritar, brigar do que chorar. Procurar localizar nos sentimentos subjacentes à nossa raiva também nos ajuda a transforma-la e a proporcionar maior estabilidade emocional. A raiva limita o campo visual e nossos movimentos: a tendência é nos fixarmos numa única maneira de ver a situação e no desejo de derrotar, humilhar ou destroçar o oponente. Assumir a postura de estar sempre aprendendo a lidar com os nossos sentimentos significa acreditar que o processo do autoconhecimento e a busca da excelência pessoal jamais terminam, e que é sempre necessário procurar aumentar a aproximação entre a maneira como nos percebemos e a maneira como somos percebidos (autopercepção e heteropercepção) embora muitos conflitos da interação humana nasçam de profundas diferenças de valores, de cultura ou de estrutura de vida, a falta e a distorção da comunicação estão na raiz da maioria dos conflitos.
Mesmo que escrito a mais de uma década atrás o trabalho de pesquisa do autor atualiza-se com a proposta de novos “modus operandi” no combate ao crime organizado estabelecido e diminuição da criminalidades nos entornos e comunidades periféricas. O estudo realizado pelo autor nas comunidades da da cidade de São Paulo procura analisar deficiências da estrutura e operação das polícias do estado, em muito semelhantes as polícias estaduais, como fatores que contribuem para o aumento da criminalidade. Algumas causas da criminalidade são mensionadas superficialmente, uma vez que a ênfase é sobre a análise das condições operacionais da polícia que possam previnir o crime com mais eficácia. Ao final são propostas estratégias para a melhoria do desempenho da polícia e coordenação de esforços para a redução da violência.
No seu trabalho de pesquisa com título: Estratégias Policiais para a redução da Violência para o Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial em associação com a Fundação Armando Alves penteados – FAAP, patrocinado pelo Grupo Pão de Acúcar, onde lê-se o depoimento do ex-Comissário Chefe da Polícia de Nova York, William Bartton, que diz: “Minha posição é pensar no crime não como um problema sociológico, mas como um problema de administração” (FILHO, 1998, p. 2)
Assim como acontece com o autoconhecimento e o autodesenvolvimento, aprimorar nossas habilidades de comunicação constitui um trabalho de vida inteira. Na comunicação, consideramos três canais principais: palavras, expressões corporais e atos. Em outras palavras, componentes verbais e não verbais. Quando há incoerência e insistência entre esses canais, o que mais rapidamente perde a credibilidade é a palavra. Saber lidar com as diferenças é sempre exercitar a capacidade de ler nas entrelinhas das mensagens enviadas pelo outro e decifrar as linguagens das condutas. Pela intrínseca relação entre o emocional e o cognitivo, os questionamentos que o atual estágio da educação nos impõe face à interrogação de ser fato ou realidade cabal do fracasso escolar instalado nas classes do ensino público quanto aos caminhos para a transmissão do saber que venha nos colocar em melhor patamar no ranking dos países em desenvolvimento e, que almeja sair dessa condição de ensino segundo valores que não podem competir com as estruturas de ensino, onde a apresentação dos conteúdos não se faz segundo as realidades do mercado competitivo da informação globalizada e suas mídias (e-learning) de ensino primeiro mundista. Tal descaminho da educação nos leva ao educador Paulo Freire e a dicotomia ler as palavras e ler o mundo. Segundo este, a impressão é que a escola está aumentando a distância entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos. Nessa dicotomia, o mundo da leitura é só mundo do processo da escolarização, um mundo fechado, isolado do mundo onde vivemos experiências sobre as quais lemos. Ao lermos palavras, a escola se torna um lugar especial, que nos ensina a ler apenas as “palavras da escola”, e não as “palavras da realidade”.
O outro mundo, o mundo dos fatos, o mundo da discriminação, o mundo da vida e da crise de valores não tem contato algum com os alunos na escola através das palavras que a escola exige que leiam. Você pode pensar nessa dicotomia como uma espécie de “cultura do silêncio” imposta aos estudantes. A leitura da escola mantém silêncio a respeito do mundo da experiência e o mundo da experiência é silenciado sem seu texto crítico próprio. Atualmente usa-se muito o termo transversalidade para atingir esse estágio de consciência crítica e levar aos bancos da escola os questionamentos pertinentes ao embotamento à curiosidade do saber das nossas crianças e adolescentes. No processo de novos conceitos para o estímulo ao aprendizado temos a música com a sua definição como o modo de expressar os vários sentimentos de nossa alma através do som, isto é, usar seus elementos subjacentes como: autoestima, autodisciplina, autossuperação, motivação, flexibilidade, autoquestionamento, comprometimento, sociabilidade, musicalidade, receptividade, praticidade e continuidade, auxiliando-se da leitura e da escrita para o entendimento do conhecimento musical propriamente dito, levando-se em conta alguns elementos da música como o ritmo, ponto de interseção entre a música e a atividade de educação física para as crianças em situação de risco social, para um trabalho dos elementos subjacentes e a sua aplicabilidade no papel formativo dos valores do ideal de alguns educadores como Paulo Freire e a sua leitura do mundo e Darcy Ribeiro com pessoas fortalecidas psicologicamente, socializadas a atitudes sociais positivas e cognitivamente favorecidas. Educadores como os retromencionados nos levam a uma reflexão profunda do quanto se precisa questionar os caminhos do ensino em face da violência instalada nas escolas do Rio de Janeiro. Em recente matéria do Jornal do Brasil, onde foram feitas várias reportagens a partir do título “ESCOLAS DO MEDO”.
Na matéria, o jornalista relata as intimidações quais sofrem os professores e que, muitas das vezes estas são por motivos corriqueiros. Todos esses aspectos da vida cotidiana nas áreas em situação de risco social para crianças e adolescentes acabam sendo incorporados a rotina extracurricular, levando-a a uma crise sem precedentes quanto à inversão de valores da autoridade. Os alunos estão alienados, não se concentram, não têm prazer em aprender e são ansiosos. De quem é a culpa? Segundo o psicanalista e escritor Augusto Cury, as causas principais são frutos do sistema social que estimulou de maneira assustadora os fenômenos que constroem o pensamento, sendo necessário que os educadores conheçam alguns papéis da memória e algumas áreas do processo de construção da inteligência para encontrar as ferramentas necessárias e capazes de dar uma reviravolta na educação.
Para o psicanalista, o primeiro hábito de um professor fascinante é entender a mente do aluno e procurar respostas incomuns, diferentes daquelas a que o jovem está acostumado. A televisão mostra mais de sessenta personagens por hora com as mais diferentes características de personalidade: policiais irreverentes, bandidos destemidos, pessoas divertidas, psicopatas. Essas imagens são registradas na memória e competem com a imagem dos pais e professores. Os resultados inconscientes disso são graves. Os educadores perdem a capacidade de influenciar o mundo psíquico dos jovens. Seus gestos e palavras não têm impactos emocionais e, conseqüentemente, não sofre um arquivamento privilegiado capaz de produzir milhares de outras emoções e pensamentos que estimulem o desenvolvimento da inteligência. O fenômeno da ansiedade advinda do excesso de informação denomina-se SINDROME DO PENSAMENTO ACELERADO (SPA). A ansiedade da SPA gera uma compulsão por novos estímulos, numa tentativa de alivia-la. A educação falida, a violência e a alienação social aumenta a cada dia, porque, sem perceber a escola aboliu algumas técnicas do modelo de educação do passado, que embora não fosse ideal, funcionava. Quais as causas da SPA? A primeira é o excesso de estímulo visual e sonoro produzido pela TV, e atinge frontalmente o território da emoção pelo excesso de estímulo, sejam eles bons ou péssimos. A segunda é o excesso de informações. O terceiro lugar, a paranóia do consumo e da estética, que dificulta a interiorização, isto é, uma escuta interior. Todas essas causas excitam a construção de pensamento e geram uma psicoadapatação aos estímulos da rotina diária, ou seja, uma perda do prazer pelas pequenas coisas do dia-a-dia. De acordo com pesquisas do Instituto Academia de Inteligência, no Brasil, 92% dos professores estão com três ou mais sintomas de stress e 41% com dez ou mais.
Para ensinar melhor, pais e professores deveriam conhecer o funcionamento da mente para terem consciência de que precisam ganhar primeiro o território da emoção, para depois ganhar o anfiteatro dos pensamentos e, em último lugar, conquistar os solos do consciente e inconsciente da memória que é a caixa de segredos da personalidade. De nada adianta aos educadores ler durante décadas o construtivismo de Piaget, a psicanálise de Freud, as inteligências múltiplas de Gardner, a filosofia de Platão, a arte de pensar de Vigotsky, a inteligência emocional de Goleman, mas, se não conseguem encantar, ensinar a pensar e conquistar o armazém da memória dos seus alunos, nenhum estudo terá aplicabilidade e utilidade. O uso de novas técnicas psicopedagógicas pode ser a panacéia para os males da educação a partir de um projeto de escola segundo a visão de Paulo Freire como exemplo. Porquê? Porque constituem o projeto escola da vida e podem gerar a educação dos sonhos dos sábios que revolucionaram a história da humanidade e deixaram no conjunto das suas obras o legado para a educação dos jovens dos séculos vindouros. As técnicas psicopedagógicas objetivam a educação da emoção, a educação da auto-estima, o desenvolvimento da sociabilidade, da tolerância, da segurança, do raciocínio esquemático, da capacidade de gerenciar os pensamentos nos focos de tensão, da habilidade de trabalhar perdas e frustrações, enfim, formar pensadores.
Os dados da violência no espaço físico da escola e no seu entorno foi motivo de pesquisa da Unesco em parceria com a Universidade Católica de Brasília. Segundo a pesquisadora Miriam Albramovay, as constatações dos motivos que levam às intimidações foram feitas através da pesquisa da Unesco em 113 escolas de São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Belém, Rio de Janeiro e o Distrito federal. Foram ouvidas 1.400 pessoas, entre alunos, professores, diretores e funcionários. O programa será coordenado pelo núcleo central ligado à Secretaria Municipal de Educação. Para tal estágio de ambiente escolar será necessário o esforço concentrado de todos envolvidos no processo sócio-educativos de crianças e jovens. Pelo seu papel de interlocutor direto, os professores precisam banir do seu cotidiano a sensação de andorinha solitária fazendo verão. Precisam de um canal de comunicação para externar o stress das interferências advindas das ameaças, depredações, furtos de merendas e equipamentos, agressões a usuários e funcionários, consumo e tráfico de drogas, invasões dos prédios para lazer ou prática de outros atos inflacionais. Dados recentes indicam que os acusados de tais atos de agressão à escola são via de regra: jovens ex-alunos, moradores do bairro, portanto, membros da comunidade que saem da condição de ex-alunos e passam a ser considerados pela escola como “delinqüentes” ou “elementos suspeitos’”.
Novamente somos levados à reflexão do que pregam os ilustres educadores quanto ao ambiente ideal para a sedimentação dos seus fundamentos educacionais. Segundo estes, tão somente uma sociedade fundada no conhecimento do outro e nas suas diferenças de cultura, etnia, religião, classe social, idade; superando a desigualdade: este é o maior objetivo da educação. Para lutar por esta sociedade é preciso educar contra a barbárie, o que implica uma ética e exige uma perspectiva de formação cultural que assegure sua dimensão de experiência crítica. O que significa recuperar a história e as histórias guardadas e esquecidas, estabelecendo uma outra relação com a tradição. Colocar o presente em xeque é compreender que passado não precisaria ter sido o que foi, o presente pode ser diferente do que é e que, portanto, é possível mudar o futuro. Mesmo com a chegada das informações com a velocidade da conectividade e toda um ambiência como o aspecto tecnológico das atualizações da linguagem midiática e as ações de convivência entre o novo e o velho das tradições e do seu processo menos audiovisual em nome do meio termo da educação para as demandas de um mundo em rede e a percepção de que a tecnologia por si só não seria capaz de conter os ensinamentos com valores para sobrevivência da espécie humana, principalmente. Tal estágio de vida social exige reconhecer a opressão, a violência e a injustiça social e, ao mesmo tempo, ter capacidade de resistência e utopia de uma sociedade justa e sem descriminação de nenhuma espécie, sem exclusão e eliminação.
Como criar e educar crianças e jovens neste contexto? Este é um dos desafios do nosso tempo. Para enfrenta-lo é preciso trabalhar numa perspectiva de humanização, de resgate da experiência, da conquista da capacidade de ler o mundo, escrevendo a história coletiva, apropriando-nos das diferentes formas de produção da cultura, criando, expressando, mudando. Com experiências de educação e socialização onde se pratique a solidariedade entre crianças, jovens e adultos, onde existam laços de coletividade, elos capazes de gerar o sentido de pertencimento com reconhecimento das diferenças. Precisamos de escolas e espaços de educação capazes de fazer diferente; precisamos mostrar na mídia outros modelos de educação e outros modos de ser criança, que existem também. E que nós ocupemos nas escolas, nas ruas, nos bairros, na mídia, espaços hoje preenchidos pelo ódio, pelo desentendimento. Para que o processo de faça de forma consciente será necessário que façamos uma releitura da nossa história, não a oficial contada a partir dos fatos transcritos dos livros de historia pelos letrados ao longo dos séculos, mas sim, pela oralidade daqueles que transmitiram os fatos de quem sentiu na própria pele as práticas da sociedade dominante no passado, agora reeditado numa versão pós-moderna chamada exclusão social. Tão somente uma inversão na dinâmica social da nossa formação social com origem numa visão eurocêntrica, verticalizada e classista subjugando aqueles que foram tirados do continente africano, vendido e subjugados a mão de obra escrava do Brasil Colônia, depois alforriado e entregue a própria sorte das beira de estrada.
Tal estado de abandono foi-se transformando ao longo da nossa história até a presente data pela sua representação nas condições famélicas dos nossos entorno e periferias, perpetuando o ciclo da transferência vitalícia das oportunidades para o conjunto do processo da aprendizagem dissociada de valores humanos, onde os velhos sentimentos de não pertencimento ao quadro físico de universos distintos da dicotomia abandono/vitaliciedade levados a termo pelo processo da escolarização, mais como processo do stablishment, voltada para o entendimento da palavra (catequese) em uma leitura atualizada das realidades abissais do universo extracurricular, interferindo diretamente ou indiretamente na relação “aluno versus professor”, o que demanda uma maior ênfase nos valores do pluralismo cultural a partir de um olhar menos vesgo para os valores humanos permeando a relação sócio-educativa das salas de aula, implicando uma nova ética para a formação dos docentes para as áreas de vulnerabilidade, instrumentalizando-o com bússolas pelos caminhos de uma leitura da realidade onde está inserido este aluno, fazendo-se de maneira mais eficaz a relação “professor x aluno x comunidade” no processo da interlocução com a escola e as diretrizes do ensino através da presença de um profissional com maior sentido de autopercepção e heteropercepção para o quadro da tutela de uma grande maioria de crianças e jovens afrodescendentes nas classes escolares do ensino público, principalmente.
Que o corpo técnico-pedagógico de escolas públicas, aprioristicamente, capacitando-se de práticas humanistas revivam o fervor docente que tanto influência o meio acadêmico para as mudanças estruturais ao longo dos anos da nossa história de conquistas no âmbito dos direitos civis, indiferentes à condição humana, credo religioso, cor ou qualquer outro argumento da nossa contemporaneidade de caos urbano com a sua violência incidindo nas estatísticas de mortos e feridos, onde grande percentual são de jovens afrodescendentes com idades entre 15 e 26 anos. Que o futuro nos dê esperança do poder de mudança dos nossos jovens e, que torne política pública à necessidade de escolas e espaços de educação capazes de fazer diferente; precisamos mostrar na mídia outros modelos de educação e outros modos de ser criança que existem também. E que nos ocupemos nas escolas, ruas, bairros, na mídia, espaços hoje preenchidos pelo ódio, pelo desentendimento. Espaços onde o velho sentido de exclusão (eliminação) do outro se combinou de modo perverso com as novas técnicas de propaganda, persuasão e consumo. Que retomemos e aprofundemos a dimensão cidadã da ação educativa e cultural, desviando a atenção do ambiente escolar dos entorno e periferias para a longevidade do conhecimento, combatendo o embotamento para a aprendizagem e a sua continua realimentação do ciclo da violência e da ignorância.
Para a Psicanalista Maria Rita Kehl, vivemos em uma cultura em que o espetáculo dita as normas de cidadania, organiza as relações sociais, estabelece valores, formata as identificações. Os filmes que denunciam a miséria, a criminalidade, a violência policial é presa dessa contradição: ao tentar mostrar aquilo que a sociedade preferia ignorar, está necessariamente espetacularizando o mal. Será inevitável que todas as tentativas de denunciar a violência pela via do imaginário cinematográfico (ou televisivo) acabem provocando a identificação do público com o próprio mal que se pretende contestar? Por que a realidade do crime, transformada em espetáculo, parece criar uma aura positiva em torno da imagem do criminoso? Qual será o carisma do personagem Zé Pequeno, traficante psicopata de Cidade de deus, que faz com que um grupo de pré-adolescentes o eleja como símbolo da força, da ousadia e da radicalidade que eles desejam para si? È verdade que a violência confere poder ainda que ilegítimo, a quem faz uso dela. Impotentes diante do caos social, os adolescentes flertam com a fantasia de se tornar tão violentos (ou poderosos) quanto os bandidos que os intimidam. Finalizando a matéria, a psicanalista diz do quanto à imagem veiculada opera no imaginário daquele jovem em formação diante da televisão perguntando-se: mocinho ou bandido tanto faz. Para a autora, a ação da lente do artista na criação da sua ficção ou retratação da vida real pela sua ótica e visto como espetaculirazação do crime, independente das intenções do autor ou do cineasta, faz do criminoso o símbolo da potência que a imagem lhe confere. Potência de visibilidade. Potência de ser. Segundo ela: é necessário construir uma nova ética da imagem para da conta dessa contradição. Em nome de uma cultura de paz através dos elementos de identidade e pertencimento necessários à dinâmica para aproximação dos meninos e meninas ora no embotamento para a aprendizagem.
Comunidade, grande celeiro das tradições e a sua oralidade, porém, relegados a um segundo plano os portadores da memória das nossas comunidades deixam de cumprir com o seu legado social quando não alimentam o imaginário das crianças com o faz de conta de histórias sem violência, final feliz, estimulando-nos ao resgate da motivação contida na memória daqueles que ora questionam o desprezo dos nossos jovens pela vida, desperdiçada em ações que vão de encontro ao bom senso de quem os observa pelos becos absortos no marasmo ou no rito frenético da dinâmica do trafico de drogas e os seus produtos e subprodutos, destruindo aos pouco as poucas chances da não perpetuação do ciclo de dependência social dos pais. Usando os elementos da cultura popular pela forte presença negra na sua formação, como também atualizar alguns elementos da tradição para que não tenhamos uma defasagem das novas mídias que otimizam e auxiliam o processo sócio-educativo. O ritmo é o elemento de ligação entre a música propriamente dita, a cultura popular e o corpo em movimento, onde são trabalhados os elementos da parte motora utilizando-se do conjunto de possibilidades das realidades locais dessas crianças pela estreita ligação ao mundo percussivo, o que implica o uso de elementos da psicomotricidade pela proximidade dos objetivos de trabalhar-se o emocional e a noção do corpo usando um dos elementos da música, que é o ritmo, pois como defendem alguns autores de psicomotricista: para a criança aprender ela precisa ter todos os pré-requisitos necessários, ou seja, a prontidão psicomotora, além de um ambiente de aula apropriado e tranqüilo, propício possível à concentração e a memória, Pois consideram a criança em três aspectos fundamentais: intelectual, psicomotor e emocional. Com isso, aumenta o seu poder de transformar sentimentos e aprofundar diálogo.
Termino a minha contextualização questionando quanto aos caminhos da educação nos espaços do conflito de poderes estabelecidos no vácuo da ausência do estado, das propostas de ocupação sustentado na pacificação e os desdobramentos dessas ações na formulação de novos paradigmas da relação polícia/comunidade e o reflexo nos resultados educacionais para aquelas regiões circunscritas pela instalação de UPPs ou pelo quadro da criminalidade e sua subjetividade impregnando o dia a dia de uma juventude na perspectiva educacional dos poucos anos de estudo, da desqualificação profissional, do desemprego e a mão-de-obra para a cadeia produtiva do tráfico de drogas necessária à acumulação de bens matérias necessários ao “simulacro de poder” para a singularidade dos seus sujeitos , nos dá uma dimensão histórico-político-social da estruturação social na ótica da formação econômica capitalista, onde o núcleo de todas as relações sociais é a relação capital/trabalho, no processo de produção. Ter explicitado isso, com minúcia e precisão, é, sem dúvida, a grande intuição e a grande contribuição da análise de Marx. Portanto, a educação está diretamente relacionada com as condições da economia, e é por isso que Gramsci insiste em que nenhuma reforma intelectual e moral pode estar desligada da reforma econômica. É por isso que a educação não faz a revolução social.
Para substanciar o pensamento de Gramsci, podemos buscar respostas nas palavras do professor e educador Demerval Saviani ao analisar, em importante trabalho, o caráter da Lei de Diretrizes e Bases (LDB/61), no livro Filosofia da Educação (Aranha, 2006, p. 88), onde, segundo Saviani: Não podemos falar em um sistema educacional brasileiro, mas sim em estrutura. A estrutura é caracterizada por ausência de planos, assistematicidade da ação, inexistência de projetos claramente expostos, ou seja, é algo que aí está, que o indivíduo deixou de fazer ou fez sem saber. Se não existe uma teoria subjacente, a ação perde a intencionalidade, a unidade e a coerência, mas não deixa de ser orientada pelos valores vigentes, expressos pelos interesses dominantes na ação silenciosa da ideologia dominante. Pois o direito, como toda elaboração da consciência humana, reflete as condições estruturais da sociedade em um determinado momento histórico, e as leis, vêm em defesa dos valores daqueles que já detêm privilégios. Por isso ao examinar uma lei, é preciso ler nas entrelinhas, analisar o contexto que se insere, para descobrir as relações de poder que se acham por trás, no processo da sua gestação (ARANHA, 2006, p. 83).
Se o atual quadro diz que a escola não é a alavanca transformadora da realidade desses jovens, principalmente, como pensavam os escolanovistas, tampouco se encontra totalmente manipulada pelo poder, como denunciam os críticos-reprodutivistas. Pergunto: A partir das suas limitações como descobrir as reais possibilidades de transformação qualitativa e quantitativa da escola, a fim de que ela possa desenvolver um discurso contra-ideológico ou contra-hegemônico a partir da formação de intelectuais orgânicos, isto é, formar pensadores inseridos no contexto da realidade periférica?
LEITURA COMPLEMENTAR
AUGUSTO, Acácio. Para além da prisão-prédio: as periferias como campos de concentração a céu aberto. Cadernos Metropole, v. 12, n. 23, PUC, São Paulo: jan/jun 2010.
Disponível em: http://cadernosmetropole.net/download/cm_artigos/cm23_186.pdf Acesso em 01/01/2012
ARANHA, Maria Lucia Arruda. Filosofia da Educação. Editora Moderna, São Paulo: 2006.
COLLUCI, Maria da Glória e TONIN, Marta Marília. Direito Humano à Alimentação Adequada e a Segurança Alimentar e Nutricional da Criança e do Adolescente.Publicação do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito, Curitiba.
Disponível em: <http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/salvador/marta_marilia
CRUZ, Cristiane Bonfim. Discussões Sobre a Relação Professor/Aluno. PUC, Rio de Janeiro: 2005.
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